Ainda sentado ao lado da colega de ensino médio, Jonathan a ouviu sem qualquer expressão evidente. Fitava também a esposa que o observava como quem não queria nada escorada no batente da porta da cozinha, a um pequeno corredor de distância da sala. No fundo sabia que não poderia brigar com ela. Catherine já tinha perdido tanto. Sua única família e força eram ele e as crianças, se eles se fossem antes dela, com toda a certeza esta estaria desolada. Então interrompendo a chance de Zoe tentar o convencer, ele se rende. — Tudo bem. — O quê? Não, espera. O quê está dizendo? — A doutora estava confusa. — Pode dizer a elas que vou fazer os exames em sua clínica e que farei o check-up semestral também. — Ele diz firmemente, parecendo decidido. — Por que tão de repente? — Zoe estava tentando entender, pois o Jonathan Cohen de quinze anos atrás jamais daria o braço a perder.— Eu ignorei a preocupação dela, achei que não tínhamos que nos preocupar no início, mas agora nossa relação é t
[ No mesmo dia, pela noite. ] — Tem certeza do que quer fazer? — Eu tenho. — Catherine respondeu a Jonathan. O marido então continuou cavando debaixo do salgueiro no jardim. Quando o buraco já estava a quase trinta centímetros de profundidade e não tendo o risco de ser levado para cima com a passagem da chuva, Catherine se aproximou jogando dentro do espaço, sua jóia mais apreciada. A esposa enterrava a correntinha de sua primeira filha, Christine. Com a ajuda de Jonathan, a mesma se ajoelhou na grama próxima do buraco e com as próprias mãos o tapou se despedindo. — Filha, é hora da mamãe enterrar a dor do passado, mas eu nunca vou te esquecer, vai estar sempre em minhas memórias mais bonitas de quando te carreguei dentro de mim. — Ela diz em despedida. Novamente com o apoio do marido, ela se levanta, com quatro meses de gravidez as coisas já não são tão fáceis de fazer sem perder o equilíbrio. As lágrimas antes de dor, agora escorrem de seus olhos como se lavassem-na por
O tempo voa, e é ainda mais difícil vê-lo passar com calma quando se tem uma família grande para se cuidar. A ansiedade pela vinda da bebê estava presente não somente no casal como também nos amigos e familiares. Catherine cumpriria nove meses em breve e agora se encontrava com trinta e oito semanas. A brincadeira para decidir qual o nome da pequena que viria já estava em andamento. Jonathan havia tido a ideia de que cada membro da família, assim como as amigas do casal, escolhessem um nome e depois com os sete nomes mais votados eles passaram para a escolha de um dia da semana para cada nome. Se a bebê nascesse em uma segunda-feira, se chamaria Clara. Se fosse em uma terça-feira seria Esther. Em uma quarta-feira, Bianca. Na quinta Melinda. Caso nascesse na sexta-feira, Eduarda. Se a preguiçosa decidisse pelo sábado, chamaria-se Valentina ou para o caso de que caísse em um domingo, seu nome seria Maitê. — Não é justo, o nome que eu escolhi cai num domingo. Nunca conheci ningué
— Primeiro de tudo, você não disse a elas um milhão de vezes, nos reclamos e explicamos a elas no máximo três vezes e desde então elas não têm espalhado mais nada pelos cantos desta casa Jonathan. — Catherine começou corrigindo o marido. — Em segundo, não devia descontar suas frustrações nas crianças. Esta com raiva? Bata na parede. — Terminou de me dar a lição Catherine?! — Não, não terminei Jonathan!— E o que mais tem pra me dizer? Por que ao contrário de todos nessa casa, eu não tenho muito mais do que seis horas para dormir, tomar banho, trocar de roupa e estar na empresa novamente daqui a pouco! — Jonathan desquitava em Catherine sem se importar que a esposa não tivesse nada a ver com seus problemas.— Sabe o quê, querido?! — O quê Catherine?! — Ele perguntou já de pé, contendo a raiva à medida que esfregava a cara de irritação pelo sono.— Vai ter menos tempo ainda pra dormir hoje. — Ela sorri irônica, e em seguida o expulsa por seu comportamento. — O macaco, foi Jorge quem
A chegada no hospital foi marcada por gritos. Eram duas da madrugada, o percusso em velocidade reduzida tinha se perdurado por mais de quarenta minutos e a feito se zangar ainda duas vezes mais, até mesmo sem motivos. A última pessoa que Catherine queria ver a sua frente era seu marido. — Você fez isso comigo! — Ela disse gritando de dor enquanto apertava sua mão durante uma das contrações.— Eu sei Cat, eu sei. Mas você da conta. — Ele responde a encorajando. — Eu acho que não do… De repente Catherine desata a chorar e nenhuma das enfermeiras, nem comentários do marido cessam as lágrimas. A médica obstetra conhecida cruza com eles no correr e por fim consegue ao menos tranquilizá-la sobre os procedimentos e como tudo ocorreria. Ouvi-la também deixava Jonathan mais calmo e de repente as brigas e a expulsão de mais cedo já não tinham espaço nos pensamentos de Catherine. Ela o abraçava fortemente depois de ter sido examinada, e um novo assunto entrava em pauta.— Você não va
Se meter em problemas nunca exigiu muito esforço por parte de Catherine Ashton, coisa que aos três anos todos achavam engraçado, e o "porém" veio apenas aos vinte e três. Duas décadas depois, a quantidade e a intensidade com que os problemas chegavam até ela era de deixar até mesmo um cara calvo de cabelo em pé. Mas nada se compara ao que estão por ler agora, e aqui começa o "era um vez" desta incrível jovem mulher. [ Sexta-feira, treze de maio ] Praticamente duas horas adiantada, Catherine – ou Cat, como frequentemente era chamada pelos mais próximos – subia as escadarias rumo ao terraço. Na porta de saída, se via claramente uma placa proibindo a ida de qualquer funcionário não autorizado e como a ótima insolente que era, sorriu ao cruzar para o lado de fora, como se quebrar as regras lhe desse mais energia do que seu café da manhã. — Bom dia pra mim! — Gritou rodopiando no terraço. Correndo direto ao parapeito, ela olhou a cidade que agora se parecia a casas de bon
Pegar um táxi não foi difícil, porém chegar à mansão dos Cohen pareceu uma tarefa impossível com a tempestade de neve repentina assolando a capital. A viagem que duraria vinte minutos com o pouco tráfego nas vias principais, tomou mais de quarenta e cinco minutos, mas ao menos chegaram. — É aqui, senhorita. — Avisou o taxista, estacionado frente a casa castelar. — Obrigada. Descendo do táxi, Catherine normalmente tomaria alguns segundos se impressionando com a visão da mansão a sua frente, mas não naquela noite, não com os seus ossos congelando. Tremendo, ela tocou o interfone, torcendo que alguém a respondesse logo em seguida. — Estou aqui para pegar a assinatura do CEO Cohen, são papéis urgentes. — Disse próxima ao interfone. — Tudo bem, é só apresentar a identificação pra câmera. Levantando o crachá do pescoço, ela o mostrou para o segurança através da câmera e em seguida teve o portão destrancado. O segurança, Adom – como o nome gravado na plaquinha do uniforme s
— Olá, Srta. Ashton. — Ele a cumprimentava de volta. Se entre olhavam a distância e antes que algo mais pudesse ser dito, Catherine se lembrou do motivo inicial de estar ali. — Trouxe um contrato importante, Vanessa não estava bem, então vim trazer em seu lugar. — Certo e onde estão os papéis? — Ele a questionou, não os vendo na cozinha. — Estão sobre a mesa de centro na sala, Jonathan. — A governanta o respondeu. — Obrigada Lúcia. — Ele agradeceu e se retirou. Para nada foi uma conversa longa, mas por algum motivo ela sentia como se ele a pressionasse com o olhar e por algum tempo prendeu a respiração sem perceber. — O quê essa garota tem? — Lúcia perguntou ao ver o quanto Cloe puxava a blusa de Catherine. A pergunta tirou Cat do mundo da lua e trouxe de volta oxigênio aos seus pulmões, mas apenas depois de quase ter todos os botões até o busto arrebentados, foi que percebeu o quê a bebê havia feito. Ela se preocupou de que Cloe estivesse atrás do cheiro de leite.