REENCONTRO

 Pegar um táxi não foi difícil, porém chegar à mansão dos Cohen pareceu uma tarefa impossível com a tempestade de neve repentina assolando a capital. 

 A viagem que duraria vinte minutos com o pouco tráfego nas vias principais, tomou mais de quarenta e cinco minutos, mas ao menos chegaram. 

— É aqui, senhorita. — Avisou o taxista, estacionado frente a casa castelar.

— Obrigada. 

 Descendo do táxi, Catherine normalmente tomaria alguns segundos se impressionando com a visão da mansão a sua frente, mas não naquela noite, não com os seus ossos congelando. 

 Tremendo, ela tocou o interfone, torcendo que alguém a respondesse logo em seguida.

— Estou aqui para pegar a assinatura do CEO Cohen, são papéis urgentes. — Disse próxima ao interfone.

— Tudo bem, é só apresentar a identificação pra câmera. 

 Levantando o crachá do pescoço, ela o mostrou para o segurança através da câmera e em seguida teve o portão destrancado.

 O segurança, Adom – como o nome gravado na plaquinha do uniforme sugeria – a levou por uma caminhada até as escadas da porta principal da mansão e depois de apresentá-la a Lúcia, a governanta, deixou que a mulher guiasse Catherine até o patrão. 

 — Entre, eu não mordo. — A senhora de aparentes sessenta e poucos anos disse brincando. 

— Obrigada. — Cat agradeceu, dando seus primeiros passos dentro de um lugar em que o ar cheirava a dinheiro e a…. — Bolo de chocolate. — Ela identificou em voz alta.

— Poxa, tem um bom olfato. 

— Nem tanto, mas bolo e tortas de chocolate são meus pontos fracos. — Ela confessou.

— Bom, o Sr. Cohen está em uma reunião de família no andar de cima. Enquanto isso, por que não vem comigo à cozinha provar um pedaço? 

— Eu posso mesmo?

— Claro. — Lúcia, sorriu ao ver o brilho nos olhos da jovem. — Venha comigo. 

  Na cozinha, Lúcia ficou feliz em servir Catherine com dois pedaços de bolo generosos e uma porção de cauda extra sobre cada um. Notou que de fato a jovem era fanática do chocolate. 

 Ambas estavam começando a puxar assunto até serem interrompidas pelo choro de uma criança no hall de entrada. A governanta imediatamente correu da cozinha até a entrada da casa e atrás dela correu Catherine. 

 Ao chegar à porta, Catherine conheceu as duas senhoritas da mansão e que mais tarde foram apresentadas como filhas do CEO. 

— Mas o senhor Jorge Cohen não tem apenas os gêmeos maiores de idade e um filho de trinta e poucos que estava vivendo na Suíça?

— Sim, mas há algumas semanas o Sr. Jorge ficou debilitado após uma cirurgia de emergência do coração e o filho veio para assumir temporariamente o lugar dele. — Explicou, Lúcia.

 Depois de acalmar as meninas, Lúcia tentou entender o que estavam tentando dizer. As garotas falavam alemão e pouco português. 

— Tudo bem, Lúcia, eu posso ajudar. — Catherine disse, se abaixando a altura das meninas.

 Ela perguntou a mais nova sobre qual seria seu nome no idioma alemão e ficou feliz quando obteve a resposta da garota. 

— Lindo nome, gosto de Beatriz. — Ela comentou com Lúcia. 

 Voltou-se para a garotinha e conversou um pouco mais, até que finalmente soube o por que das lágrimas no rosto da pequena. Era que ela havia ouvido o avô discutir com o pai, sobre pegar a guarda das netas. 

 Dizendo para ela não se preocupar, Cat a abraçou e pegou a menor no colo, a carregando para cozinha e oferecendo a mão para que a mais velha que estava em silêncio viesse junto.  

— Como conseguiu essa proeza? 

— Nunca achei que um intercâmbio de oito meses na Alemanha fosse me servir pra este dia. — Catherine sorriu, se lembrando que participou do mochilão apenas para se enturmar com o restante da turma do ensino médio.

 Elas se sentaram na mesa da cozinha, e como somente Cat as entendia, se ofereceu para servir as meninas no lugar de Lúcia. 

 — Perguntaram se tem leite, não gostam de suco de laranja.

— Ah, claro. — Lúcia disse, recordando uma situação que teve com as pequenas quando passou a tarde fazendo-as tentar comer algo e nem mesmo tocaram no suco. — Está na porta esquerda da geladeira.

 Após deixá-las confortavelmente comendo, Catherine quis puxar assunto com a mais velha, que no mesmo momento se apresentou como Agnes. 

— Fala nosso idioma muito bem. 

— Falo um pouco na verdade, isso é porque papai me ensinou, Beatriz é nova na família. — Agnês, falava enquanto espetava seu pedaço de bolo com o garfo, sem colocá-lo mesmo na boca. — Ouvi o vovô dizer que se o papai não se casar com a Srta. Deschamps, vai deserdá-lo. O que isso significa? 

— Significa que o vovô só está chateado com o seu pai, mas não tem que se preocupar. — Catherine acariciou o topo de sua cabeça e esperou que a garota não pensasse mais a respeito. 

 Mais tarde, depois de ambas limparem os pratos, Lúcia desapareceu da cozinha e reapareceu logo depois trazendo consigo a coisa mais fofa que havia visto em toda a sua vida. 

— Esta é Cloe, nossa pequena boneca. — Lúcia apresentou a bebê, que não possuía mais do que três meses, mas já tinha toda a beleza de uma vida em seus olhos. 

— Estes olhos… — Catherine comentou, como se já os tivesse visto em algum lugar.

— Quer segurá-la? Preciso fazer a mamadeira. 

— Quero sim. — Cat esticou os braços, pegando a coisinha pequena do colo da governanta. 

 Perfeita. Era a única palavra capaz de descrever a bebê em seus braços. 

 E por um instante, se perguntou se a sua também seria como aquela.

— Chega de pensar no passado. — Murmurou para si mesma enxugando uma pequena lágrima que se formou na linha d'água dos olhos.

 Enquanto Lúcia se distribuía pela cozinha pegando a mamadeira, fórmulas e quantas coisas mais precisasse, Catherine a observava. 

 As meninas coloriam em seus cadernos de desenho sobre a mesa e Cat dirigia toda a sua atenção a Cloe. 

 Os cabelos da pequena eram similares à cor das penas de um corvo, escorridos e em contraste com a pele branca leitosa lhe davam um ar de "branca de neve". Mas as características a fizeram compará-la ainda mais ao estranho no terraço e com a curiosidade latente decidiu perguntar. 

 — Sra. Lúcia, por acaso o pai delas seria…

— Eu. — A mesma voz masculina conhecida a fez virar a cabeça para o lado e conferir a resposta.

 Engolindo em seco, Cat se levantou da cadeira em que estava sentada e com a filha do CEO nos braços o cumprimentou:

— Olá. 

  

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