INSUPORTÁVEL

 Passadas duas horas e meia em confinamento, a bebê finalmente estava adormecida e havia largado o seio. 

— É mãe? 

— Fui, por oito minutos e bem, minha bebê não resistiu às complicações do parto. — Catherine disse, tocando pela primeira vez no assunto em oito meses. 

 Havia engravidado próximo a formatura da faculdade e passou por muitos julgamentos e perdas, mas não era alguém de se render facilmente. Quatro meses após o parto, voltou a fazer o curso, os estágios e se dedicou até conseguir o cargo em que estava. Era tudo muito recente e poucos sabiam sobre sua situação. 

— Ela estava com fome. — Cat não quis dizer nada mais sobre si e voltou-se para Cloe em seus braços.

— É a primeira vez que a vejo dormir desta forma tão profunda. — Ele comentou escorando na bancada de mármore.

— A Sra. Lúcia estava preparando uma mamadeira antes de tudo isso acontecer, então por curiosidade, a mãe não pode alimentá-la?

— A curiosidade matou o gato Srta. Ashton. 

— Bom, só gostaria de entender…

— Sobre a mãe das meninas… não estamos mais juntos a algum tempo. E agora tenho a guarda de todas elas. — Se resumiu a dizer. 

— Entendo. — Catherine falou sem forçá-lo a detalhes.

Não muito distante dos últimos segundos de conversa, Gabriel, o irmão mais novo do CEO b**e à porta e avisa que tentará abrir a força fazendo com que Jonathan pense no que fazer com respeito a Catherine Ashton.

 Não queria que mais membros da família a vissem tão exposta quanto ele naquele momento. Então pensando rápido, retirou a blusa social que vestia e a vestiu apressadamente em Catherine. 

 Sem poder tirar a filha do colo da jovem mulher e a blusa sendo tão grande perto do corpo minúsculo da produtora, ele optou por abotoar por cima da bebê, quase como uma capa. 

— Ai! — Ela exclamou enquanto ele terminava de abotoar a blusa sobre elas. 

— O quê foi? Te machuquei?

— Não, na verdade Cloe acordou e voltou a mamar. 

— Sinto muito pelo trabalho que a minha filha está dando. — Ele disse olhando nos olhos de Cat. 

— Não tem o quê se desculpar. — Catherine lhe disse, dando seu sorriso mais gentil.

— Irmão, vá pra longe da porta! — Gritou Gabriel do lado de fora. 

 Com dois, três e quatro chutes, a porta enfim se abriu.

 Gabriel adentrou o banheiro de queixo caído ao ver o irmão sem camisa abraçado a uma mulher que vestia sua camisa social.

— Ôpa, achei que tivesse dito que você estava preso e não que você e uma mulher estavam presos. — Gabriel enfatizou o final " e uma mulher", surpreso por descobrir o irmão naquelas condições.

— Não é uma, são duas.

— Como é?! — Gabriel arregalou os olhos e procurou a segunda mulher dentro do banheiro. 

— Sua sobrinha está dormindo nos braços de Catherine. — Jonathan revelou ao irmão, pulando as formalidades sobre a produtora. 

 Estava mais cansado naquelas últimas quase três horas enclausurados, do que em um dia inteiro de seu pai o falando na cabeça.

— Suba e chame Gabriela, eu disse que era pra você pegar uma blusa emprestada dela. 

— Então era pra isso que você queria? — As coisas começaram a fazer sentido para Gabriel. 

— Vai continuar ai me interrogando ou vai fazer o que pedi?

— Oh, claro, eu vou indo. — Gabriel disse, por fim desaparecendo do banheiro. 

 O irmão do CEO partiu para pegar a blusa, porém as filhas surgiram a porta acompanhadas da governanta. 

— Pai, como foi que ficou preso com a Cat? — Agnês o questionou curiosa. 

— Eu faço as perguntas aqui mocinha. — Ele deixou Catherine e saiu do banheiro, indo abraçar Agnês. — Por que ainda não foi dormir?

— Você sempre lê histórias pra gente e não conseguimos dormir sem você.

— Certo, me dê dez minutos e já vou subir pra ler. 

— Tá pai! — Agnês beijou a bochecha do maior e pegou na mão de Beatriz a levando para o quarto.

 Descendo as escadarias vinha os gêmeos, Gabriel e Gabriela. Ambos cochichando algo entre eles e rindo nitidamente da cara do irmão mais velho.

 — Eu trouxe a blusa que pediram. — Gabriela disse com um sorrisinho insinuante para Jonathan.

— Não sei o que Gabriel te disse, mas não é o que estão imaginando. — O mais velho explicou.

— Nós não pensamos nada de errado, irmão. — A irmã riu, e então partiu para dar um "oi" para Catherine. — Trouxe uma blusa cunhada. 

— Cunhada? — Cat sentiu a pressão cair. 

— Chega de brincadeiras. — Jonathan exigiu. 

 Os gêmeos se retiraram. A governanta entrou no banheiro para falar com Catherine e ele pensou se deveria impedir.

— Eu ajudo Catherine a se vestir. — Ele disse entrando na frente de Lúcia que imediatamente o entendeu mal.

— Não é o que está pensando Sra. Lúcia. — Cat disse.

— Eu não pensei em nada querida. Mas que bom que leva jeito com as crianças. 

 O comentário aleatório, não era tão aleatório assim. Catherine a tinha entendido e fez que não com a cabeça.

 A governanta saiu de vista e Jonathan colocou a porta de volta em seu lugar encostada. Partiu levando a blusa até Catherine, quem se encontrava praticamente atrás do box do banheiro, para não pisar nos cacos de vidro vindos da parte de cima da porta, onde havia um detalhe em cristal como se tivesse a função de uma janela de luz. 

 Ele se aproximou, posicionando-se a frente dela desabotoando a camisa social, e encontrando a imagem de um seio farto, mas pequeno alimentando a filha que estava nos braços dela. 

— Me dê ela, se não ficará difícil pra você se vestir. 

 Catherine nunca amamentou de verdade ou muito menos o fez em público, então dar o peito a uma criança estava se descobrindo ser algo muito mais incômodo e ao mesmo tempo lindo, do que ela jamais imaginou . Porém a aquela cena ela também jamais pensou que deveria adicionar detalhes como o fato da criança não ser a sua e o chefe a acompanhando naquele momento, não ser seu marido, parente ou amigo. 

 Uma loucura completa que a causou um enrubescimento instantâneo só de pensar. 

— Pode me dar ela? — O chefe a perguntou, esticando os braços para tomar a filha. 

— Mas e se ela chorar?

— Quer alimentá-la pra sempre? — Ele perguntou rindo de Catherine. — Então sim, é claro que ela vai chorar. 

 Sem muita paciência com que gastar com o CEO, Catherine retirou Cloe com cuidado do seio e a entregou ao pai. Vestiu a blusa emprestada de Gabriela e saiu do banheiro. 

— Já enviou os papéis aos chineses?

— Claro. — O CEO confirmou, saindo do banheiro também. 

— Ótimo, então estou indo. — Catherine partiu para a sala de estar logo depois das escadas. 

 Agarrando suas coisas e se despedindo de Lúcia, não se importou que fosse uma e cinquenta da madrugada, chamou um táxi em seu aplicativo e preferiu esperar na tempestade. 

— "Quer alimentá-la pra sempre?" — Imitava a pergunta de Jonathan. — Ele poderia ter dito obrigada, ou nem mesmo nada, mas não. Jonathan Cohen é um grosso.

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