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CAPÍTULO 2: COBIÇA DOS TEUS OLHOS (2)

Clarisse Grigio

Adentro o quarto com o misto de sentimentos conflitantes em meu coração. No momento que o juiz de paz declarou que Alfonso e eu estávamos casados, quis que um abismo fosse aberto debaixo dos meus pés.

Como se a ansiedade não fosse suficiente, precisava me preparar para a consumação do casamento.

Deslizei as alças do vestido sem dificuldade pelos meus braços. Mesmo que agora o ideal fosse receber ajuda, não é de uma pessoa para me despir que necessito e pelo contrário, preciso de forças para seguir adiante.

Encaro o anel de diamantes no meu anelar e o peso desse objeto faz o meu coração pesar. Não era dessa maneira que planejava encerrar esta noite, não, era para Nicolas e eu estávamos embarcando em uma viagem de lua de mel para Fernando de Noronha, mas agora, preciso encarar minha nova realidade. Nisto preciso focar de agora em diante.

— Se acalme Clarisse… tudo dará certo! — digo em voz alta tentando me convencer que Nicolas agora é passado, mesmo que os meus planos fossem ser sua esposa, agora estou oficialmente casada com Alfonso e quando a notícia vier a público, duvido que Nicolas ou as outras pessoas entendam. Porém, não há mais nada que possa ser feito.

Dizer essas palavras em voz alta me dão força para terminar de me desfazer o vestido de noiva que parece ter perdido a magia e brilho que tanto projetei neles. Mesmo que jamais esqueça esse momento, o tecido segue tendo um dia pertencido a minha mãe, por isso dobro com carinho e coloco-o no banco do banheiro.

Deslizo o robe lilás pelo meu corpo e amarro o laço diligentemente enquanto minha mente divaga. Com os olhos fixos no céu, reflito sobre a vulnerabilidade da vida. Suspiro pesadamente e sinto o desejo de imortalizar aquele momento de calmaria, porém uma fragrância no local chama minha atenção. Por reflexo, viro o meu rosto e trombo a face com algo firme, porém, macio.

— Humm. — murmurei ao sentir o peitoral de Alfonso rente a minha face. 

Suas mãos seguram com firmeza minha cintura e sinto a eletricidade percorrer todo o meu corpo. Pelo desconforto, desvio o olhar engolindo seco e murmuro:

— Você chegou antes do combinado. — retruquei.

Após a cerimônia consegui trocar algumas palavras com meu irmão, mas Gabriel não respondia minhas perguntas. Porém, como havia prometido, uma equipe de médicos surgiu deslocando o seu corpo para um dos quartos de hóspedes da mansão onde ele receberia tratamento. 

“Não há motivos para se preocupar, Clarisse. Gabriel ficará bem!” — tento convencer a mim mesma. Mesmo que o meu coração esteja aflito, ironicamente confiarei nas palavras ditas pelos médicos.

Alfonso se mantém em silêncio e se afasta caminhando até próximo da porta onde se serve de uma bebida que parece ser vinho. Agora que ele está distante, posso observar o seu corpo por completo. Vestindo um robe preto com detalhes bordados nas bordas do tecido com linha branca, posso contemplar sua silhueta masculina. Seus cabelos densos e lisos como obsidiana estão parcialmente úmidos, assim como sua pele levemente bronzeada escorrem gotículas de água por sua pele.

Abraço meu corpo quando Alfonso se aproxima novamente com dois copos em suas mãos. Sua atitude silenciosa, nada hostil e dissimuladamente carismática me causa irritação. Onde está aquele sorriso debochado e arrogante? Meu coração palpita pela ansiedade e meu rosto arde ganhando uma tonalidade avermelhada.

— Beba. — Alfonso sugeriu erguendo o copo na altura da minha boca. Umedeço os meus lábios e decido aceitar. Viro o conteúdo do copo contra meus lábios de uma vez e o líquido desliza pela minha garganta fazendo me sentir estranha, mas não de uma forma negativa.

— O-Obrigada. — sussurrei entregando o copo para Alfonso. Observo meu marido se afastar e voltar rapidamente. Cortando o espaço entre nós, Alfonso me encara prendendo o meu corpo entre ele e a cômoda atrás de mim. Uma brisa gélida entra pela janela da varanda do quarto onde estamos, aumentando a atmosfera tensa e excitante entre nós que mantemos os nossos olhos fixos um no outro.

— Está nervosa? — sua voz soou como um enigma, mesmo desejando mentir, não fiz.

— Um pouco… — sussurrei fitando seus lábios grossos e rosados umedecendo pela ponta da sua língua. Oscilando entre seus lábios e olhos, respirei fundo recuperando o fôlego — Quero consumar o nosso casamento. — ofeguei — A palpitação no meu peito está me torturando, assim como a tensão no meu ventre… eu só quero que esse formigamento acabe logo. — confesso esfregando minhas coxas uma na outra.

Um sorriso sutil surgiu nos lábios de Alfonso, ele se aproximou cortando o espaço entre nossos corpos. Conforme o seu corpo se moveu eu quis perguntar o significado do seu sorriso, porém desisti preferindo fitar os movimentos do seu corpo.

— Tem certeza disso? — Alfonso retrucou deslizando os dedos pelos meus fios. Sua canhota deslizou pela minha coluna envolvendo minha cintura com possessividade — Tem certeza que não está nervosa? — Alfonso beijou meu ombro e se afastou para me encarar — Posso me mostrar um homem extremamente paciente se for necessário. Posso te tratar com carinho e beijar seus pés se você pedir. Basta que você peça… Clarisse. 

Como Alfonso distribuiu as palavras, fez meu corpo eriçar e minha mente embalar no ritmo da sua voz rouca e arrebatadora. Se antes o meu corpo formigou de desejo, agora estremeço com o seu sussurro rouco rente os seus lábios nos meus.

— Faça isso. — implorei completamente entregue em seus braços fortes. O seu cheiro inundou minhas narinas nublando minha mente pelo desejo. Sedento pelo toque da minha pele, o seu rosto deslizou por todo o meu corpo conforme suas mãos dedilharam minha pele.

— Está confiante a este ponto? Interessante. — Alfonso provocou. O encarei.

— Estou. — minha resposta fez o seu sorriso aumentar. Suas mãos deslizaram pela lateral do meu rosto e emaranhavam-se no interior do meu cabelo. O movimento não se resumiu em aprofundar os dedos na raiz do meu couro cabeludo, como também aproximar os nossos rostos até Alfonso selar os seus lábios com os meus.

O ato não correspondeu às minhas expectativas, pelo contrário, as superou.

Seu beijo foi como o despertar de uma explosão de sensações que eu não estava preparada para sentir. Cada toque de seus lábios nos meus parecia dissolver as barreiras que eu havia construído e momentaneamente, o mundo ao nosso redor desapareceu. 

As dúvidas que me atormentavam, o peso do anel em meu dedo, a culpa e a dor que eu carregava se tornaram insignificantes diante da intensidade daquela conexão. Por hora, me entregaria ao momento sem me importar com as possíveis consequências na minha vida e no meu coração.

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