Clarisse Grigio
Acordo de repente com uma sensação angustiante em meu peito. Levo minhas mãos até o rosto para ter certeza que o realmente o local onde estou é real. — Foi um sonho. — digo em voz alta tentando me convencer de que as sensações ainda presentes em minha pele e em minha mente não são reais. Eu estava presa completamente absorta nas mãos de homens estranhos. Eles me levavam para um lugar muito longe e frio, eu não queria estar lá e por mais que eu quisesse gritar, eu não tinha voz para clamar por socorro. Levanto e rapidamente adentro o banheiro do meu quarto. Ligo o chuveiro deixando a água gelada cair por todo o meu corpo, lavando os meus fios longos que cobrem meus ombros como um véu. A água gélida cai sobre minha pele como pequenos cubos de gelo, levando embora consigo o medo incrustado em minha pele por conta do pesadelo vivido. Não demoro mais do que o suficiente debaixo da água, pois preciso trabalhar. Pesadelos vêm e vão, mas não posso deixar que isso atrapalhe a minha rotina ou domine os meus pensamentos. Visto uma calça preta, meu par de botas cinza cano alto e uma blusa social azul-marinho. Penteio os meus fios deixando que eles sequem ao ar livre. Aplico o meu perfume de cereja favorito do Boticário, presente de aniversário de namoro do meu amado. Pego minha bolsa e abro a porta me surpreendendo com as vozes trazidas pelo vento. As vozes masculinas vindas do corredor só podem ser do meu noivo e do meu irmão. Porém, estranho que Nicolas não tenha vindo ao meu quarto me acordar. Mesmo que nós dois não tenhamos intimidade, o meu irmão e eu não implicamos com os nossos noivos em nossos quartos. Afasto os pensamentos sabotadores da minha mente e caminho lentamente pelo corredor rumo a cozinha tentando absorver o conteúdo da conversa dos dois, porém falho miseravelmente ao pisar com força no piso que liga o corredor a cozinha. — Amor! — Nicolas exclamou abrindo os braços em seguida. Caminhei na sua direção retribuindo o seu carinho. Nossos lábios se tocaram rapidamente em um beijo casto, sem língua. Por mais que fosse comum ver o meu irmão e a minha cunhada quase se engolindo no café, comigo era diferente. Fazer algumas coisas com o Nicolas já era constrangedor e na frente do meu irmão, seria totalmente impossível! — Sobre o que estavam conversando? — questionei fingindo normalidade. Me sentei ao lado de Nicolas enquanto me servia o café. — Nada. — Gabriel respondeu dando um gole na sua bebida. Assenti não querendo insistir no assunto. Seguimos o café da manhã os três juntos até que meu irmão foi o primeiro a partir. Ele ainda queria falar com Carol antes do expediente dela no salão começar, então partiu. Nicolas e eu finalizamos a refeição logo em seguida e meu noivo me acompanhou em seu carro até o meu trabalho. Durante o caminho entre a conversa informal e pequenas carícias me peguei pensando na minha cunhada e em toda a fofoca. Lembro-me de ter ouvido algo sobre o assassinato a queima-roupa cometido por Alfonso contra o seu filho recém-nascido e a sua esposa já noite do nascimento da criança. Fora o que os jornais anunciaram, os rumores sempre acrescentaram informações em toda a história. Depois do incidente, Alfonso Albuquerque partiu de Campos e nunca mais se ouviram notícias sobre ele e agora, de repente, ele retorna como se tivesse ressurgido dos mortos, trazendo consigo fofoca e muita especulação. — Clarisse? — Nick chamou minha atenção, respondi beijando o dorso da sua mão sobre a minha — Está perdida em pensamentos? — Um pouco. — respondi com sinceridade — Estou pensando em uma fofoca que ouvi ontem das meninas da escola. — Que fofoca? — Ah… uma bobagem sobre Alfonso Albuquerque e orgias. — Era isso? Eu ouvi algo sobre o escritório. Acredito que boa parte é especulação, mas não duvido que possa ser verdade. — Porque diz isso? — retruquei curiosa. Nicolas não hesitou nenhuma vez em sua resposta. — Porque é o que parece. Eu não vi o senhor Albuquerque uma única vez, mas já lidei com o seu representante. Ele é um homem polido que exala elegância, não duvido que Alfonso seja assim como o Dom, seu padrinho. — assenti — Porém, não fique pensando sobre isso. Não quero que você fique se perturbando com esses rumores. — Eu sei, não irei me perturbar com esse assunto. Na verdade, eu só fiquei curiosa pelo que as meninas mencionaram… mas nãoé nada de relevante. Acho que esse assunto ficou na minha cabeça pela forma que as meninas comentaram sobre. Deve ser isso. — É verdade. Mesmo assim, não quero minha garota perdida em pensamentos sobre um criminoso qualquer. — mamei a cabeça em negação. — É, talvez... mas eu não diria que ele é alguém comum. Muito pelo contrário. — Nicolas me encarou — Pelo que vejo Alfonso Albuquerque pode ser muitas coisas, contudo ele está longe de ser alguém comum. — Nicolas me encarou com o veículo estacionado em frente a escola. Inclinei na direção do meu noivo beijando os seus lábios — Mas vamos esquecer esse assunto e nos concentrarmos no nosso casamento. — completei e pude sentir o sorriso se formar nos lábios de Nicolas durante o nosso selar de lábios. — Gosto dessa ideia. — sorrimos com as nossas testas unidas. — Eu te amo. — suspirei me afastando do meu noivo. Nicolas assentiu e nós com muito custo nos despedimos. Caminhei da calçada até o interior da escola com o pensamento em Nicolas. Em breve estaremos casados, finalmente seremos marido e mulher. — CLARISSE! — Sabrina gritou o meu nome me tirando dos meus devaneios — VOCÊ PRECISA VIR COMIGO! Minha colega segurou meu pulso com firmeza enquanto me puxava pela instituição. Fiquei sem atender e até pensei em questionar, mas desisti tamanho o empenho em me locomover para onde quer que fosse. — Vocês chegaram! — Gabriella deu um gritinho agudo. — M-Mas… — minhas palavras foram cortadas pela euforia das minhas colegas em me arrastar para onde quer que fosse o tal lugar. A minha voz falhou no momento em que um vídeo começa a rodar diante dos meus olhos. A música sensual embalando diversos corpos nus debaixo da luz neon me deixa sem palavras. É possível contar oito pessoas em cena, mas duvido que essa seja a quantidade total de pessoas. De repente os corpos que apenas se esfregavam, começam a compartilhar de contato físico íntimo e bruto. — Ér… me-meninas… — Shh! — Luana fez final com o indicador sobre os lábios e eu me calei, voltando os olhos para o cenário diante dos meus olhos. “AHHH!” “VENHAM RAPA-ZES.... AH-HH! ISSO....” “M-MAIS… AH-H!” “P-POR F-FAVOR... M-MAIS... ASSIM... OH!”Os gemidos masculinos e femininos se misturaram. Eu completo silêncio, encarei a filmagem diante dos meus olhos. Isso é sexo? — minha mente me bombardeou de pensamentos. Eu não sou uma completa freira, mas eu sempre imaginei que o momento seria algo mais contido como uma bela melodia, delicada com sussurros de amor. Mas a cena diante dos meus olhos me mostram outra perspectiva. Estou espantada, mas não consigo me desviar do que estou presenciando. É normal que os corpos estejam tão expostos dessa maneira? Talvez… muitas perguntas sondavam a minha mente naquele momento. O barulho dos corpos se chocando me constrangia, mas, ao mesmo tempo, eu não desejava desviar a minha face. Meu rosto queimava como se as brasas estivessem em minha pele, mas em nenhum momento ousei desviar do cenário à minha frente. Diante de tanta lascívia e promiscuidade. Diversos corpos deslizavam por diante a tela, contudo, havia um corpo em especial que a minha mente ansiava em conhecer.Clarisse GrigioEnquanto me perdia em pensamentos, a lascívia se infiltrou em minha mente como uma sombra indesejada, despertando uma curiosidade ardente que eu mal conseguia compreender. O meu coração palpitante se afundou no cenário à minha frente. Levo minha mão aos lábios por impulso, pensando se era assim que me sentia ao estar nos braços de Nicolas. A sensação de querer explorar o desconhecido se tornava um pensamento intrusivo, dançando entre a inocência e o desejo. Eu me perguntava como seria sentir a pele de Nicolas contra a minha, o sussurro de suas palavras carregadas de promessas e a eletricidade do seu toque incendiando todo o meu ser. Por que eu não tenho esse tipo de experiência com ele? Nós não deveríamos ter esse grau de intimidade? Será que o meu corpo não é atrativo o suficiente para Nicolas?O mero pensamento me assolou por completo.Em minha mente, uma luta interna entre o desejo reprimido e a pureza que eu tanto tentava preservar pareceu se perder por conta de
Clarisse Grigio— Clarisse! — Isabella abriu os braços correndo na minha direção. O nosso abraço foi tão prazeroso que fez parecer que nós não nos encontrávamos há anos.— Isa… eu também senti saudades. — proferi quase sem fôlego pelo seu abraço de urso.— Vem! Eu estava esperando você chegar, tenho algo para te contar… — Isa proferiu com uma voz baixa e misteriosa.— Mas… e a livraria? Só tem nós duas aqui? — Isabella assentiu caminhando até a porta do local — Amiga, mas e os seus pais? — questionei preocupada. Mesmo que a loja seja um empreendimento pessoal, não quero que ela se prejudique com a minha presença.— Relaxa amiga, a loja é minha e eu fecho quando quiser. — Isabella retrucou piscando um dos olhos.Maneio a cabeça em sinal de negação, mas isso não é o suficiente para parar Isabella Baltazar. Após virar a placa indicando — fechado para almoço! — seguimos para o interior da livraria.— Como foi a viagem até São Paulo? Conheceu o seu honorável web namorado? — perguntei cheia
Alfonso AlbuquerqueCom um olhar desdenhoso, me encosto na parede, observando a cena diante de mim como um espectador entediado em um teatro de excessos.A atmosfera pulsa com a energia frenética dos corpos se entrelaçando, mas para mim, tudo não passa de um espetáculo repetitivo e previsível. A minha arrogância transborda em cada movimento, como se a minha simples presença fosse suficiente para elevar a banalidade da presente orgia a algo mais intrigante.Enquanto os gemidos e risos ecoam ao meu redor, eu me sento como um príncipe em um reino de plebeus, alheio à entrega desenfreada que me cerca, pois estou perdido em meus próprios pensamentos sobre o que realmente tem valor.Atravesso os corpos ao meu entorno, conforme caminho rumo a varanda do térreo. A lua resplandecente reina diante da noite profunda e estrelada. O céu em sua profundidade esconde a verdade escondida nas mentes dos meros mortais durante o crepúsculo.— Senhor. — a voz de Rys me desperta dos meus devaneios — Devo e
Clarisse GrigioA escuridão envolvia o meu corpo como um denso manto, e eu estava perdida em um pesadelo que parecia se estender para sempre. Corria por um corredor interminável, cada passo mais pesado que o anterior, enquanto a sensação de que alguém me seguia se tornava cada vez mais opressiva. Densas lágrimas escorrem por todo o meu rosto conforme o eco de passos atrás de mim ressoava em meus ouvidos e uma onda de pânico se arrasta pela minha espinha. O ar estava denso, quase impenetrável e o meu coração batia descompassado, como se quisesse escapar do meu peito. Eu olhava para trás, mas a escuridão parecia engolir tudo, impossibilitando ver quem — ou o que — estava me perseguindo. Então, de repente, um barulho ensurdecedor cortou a névoa do meu sonho, como um trovão em um céu claro. Meu corpo estremeceu, e eu acordei com um sobressalto, o coração ainda acelerado, enquanto o eco do estrondo reverberava em minha mente. O som vinha da sala, uma batida forte e insistente que me fez s
Nicolas AbreuO relógio na parede marcava os últimos minutos do meu expediente, e a luz suave do pôr do sol filtrava-se pelas persianas, lançando sombras longas sobre a mesa de trabalho. O cheiro do café frio ainda pairava no ar, misturado ao odor de papéis amarelados e a leve essência de notas de contabilidade, que sempre me lembravam dos dias intermináveis passados naquele escritório. Olhei em volta, observando o caos organizado de relatórios e formulários que dominavam minha mesa, cada um deles representando horas de trabalho árduo e a pressão constante de atender às expectativas do meu pai. Era um ambiente que, embora familiar, começava a se sentir sufocante, como se as paredes estivessem se fechando ao meu redor. A ideia de deixar tudo isso para trás me fazia sentir uma mistura de alívio e culpa; enquanto muitos sonhavam em herdar o legado da família, eu ansiava por algo diferente, algo que me permitisse respirar livremente. Com um último olhar para a tela do computador, onde as
Clarisse Grigio Minha cabeça parece que a qualquer momento será arrancada por um algoz ou submergirei mar adentro, contanto, nenhuma dessas brilhantes possibilidades aconteceriam.— Cara… tô morrendo de dor de cabeça. — Gabriel resmunga sentado na mesa da cozinha. Os meus olhos se fixam na minha própria caneca de café, sem querer encarar ambos diante de mim.— Tem remédio na pia do banheiro. — digo sem tirar os dedos do meu celular. Gabriel se levanta levando sua xícara consigo, deixando para trás Nicolas e eu que nos mantivemos em silêncio.Depois da noite passada, foi impossível adormecer e agora, preciso encarar outro dia de trabalho. Seus olhos avermelhados não passam despercebidos por mim, mesmo que de soslaio eu o tenha reparado, não tenho coragem para iniciar qualquer diálogo ou muito menos perguntar qualquer coisa.Um longo silêncio pairou sobre nós. Nunca estivemos em uma situação como essa, contudo, hoje estamos sentindo o gosto amargo e a sensação cruel desta situação des
Clarisse Grigio— Por que você está tão desanimada hoje? — Isabella questiona enquanto almoçamos no interior da loja. Dou de ombros não querendo entrar em detalhes no assunto — Nicolas — com ela.Minha amiga suspirou revirando o macarrão em seu prato.No momento, tudo que menos desejo é pensar em Nicolas e nas suas palavras sobre a minha indagação.— Hello… terra chamando Clarisse. — Isa chama a minha atenção. Eu a encaro enquanto ergo um garfo significativo com massa em minha boca — Vai me dizer ou não o que está rolando? Dou de ombros fingindo não entender a sua pergunta. Isabella para de se alimentar, cruzando os dedos ela apoia os cotovelos na mesa.— O que foi? — pergunto enquanto mastigava o macarrão. Isa ergue a sobrancelha esquerda em sinal de desafio. Inquieta, ela umedece os lábios enquanto me encarava intensamente.— Você está me escondendo alguma coisa Clarisse Isabour da Fonseca Grigio. — reviro os olhos enquanto escuto o meu nome ser proferido, pois detesto quando pron
Clarisse Grigio“O nosso momento deve ser especial.” — Nicolas fez uma pausa para umedecer os lábios — “Eu não queria que um momento tão especial acontecesse trivialmente.”Exatamente, Nicolas tinha razão no seu argumento. Conforme as suas palavras se formavam, a minha mente refletia em plena concordância. Ainda assim, aparentemente aquelas respostas possuíam um significado oculto que eu não consegui identificar. Ou talvez, seja algo da minha mente conflituosa.“Estamos tão perto… não vamos nos precipitar logo agora que estamos prestes a nos casar. Eu te amo Clarisse e isso nunca irá mudar.” — Nicolas suspirou empurrando os fios da sua franja para trás. O sinal da escola havia tocado, mas o nosso diálogo estava longe de terminar.“Eu sei… ainda assim, me senti humilhada.” — murmurei recolhendo os meus pertences do seu veículo.“Sou o único culpado da provocação… eu te instiguei agindo precipitadamente e depois parti. Não pense que eu não sinta desejo por você, porque sinto e muito, m