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CAPÍTULO 5: MARÉ DE POSSIBILIDADES

Clarisse Grigio

Acordo de repente com uma sensação angustiante em meu peito. Levo minhas mãos até o rosto para ter certeza que o realmente o local onde estou é real.

— Foi um sonho. — digo em voz alta tentando me convencer de que as sensações ainda presentes em minha pele e em minha mente não são reais.

Eu estava presa completamente absorta nas mãos de homens estranhos. Eles me levavam para um lugar muito longe e frio, eu não queria estar lá e por mais que eu quisesse gritar, eu não tinha voz para clamar por socorro.

Levanto e rapidamente adentro o banheiro do meu quarto. Ligo o chuveiro deixando a água gelada cair por todo o meu corpo, lavando os meus fios longos que cobrem meus ombros como um véu.

A água gélida cai sobre minha pele como pequenos cubos de gelo, levando embora consigo o medo incrustado em minha pele por conta do pesadelo vivido.

Não demoro mais do que o suficiente debaixo da água, pois preciso trabalhar. Pesadelos vêm e vão, mas não posso deixar que isso atrapalhe a minha rotina ou domine os meus pensamentos.

Visto uma calça preta, meu par de botas cinza cano alto e uma blusa social azul-marinho.

Penteio os meus fios deixando que eles sequem ao ar livre. Aplico o meu perfume de cereja favorito do Boticário, presente de aniversário de namoro do meu amado.

Pego minha bolsa e abro a porta me surpreendendo com as vozes trazidas pelo vento.

As vozes masculinas vindas do corredor só podem ser do meu noivo e do meu irmão. Porém, estranho que Nicolas não tenha vindo ao meu quarto me acordar.

Mesmo que nós dois não tenhamos intimidade, o meu irmão e eu não implicamos com os nossos noivos em nossos quartos. 

Afasto os pensamentos sabotadores da minha mente e caminho lentamente pelo corredor rumo a cozinha tentando absorver o conteúdo da conversa dos dois, porém falho miseravelmente ao pisar com força no piso que liga o corredor a cozinha.

— Amor! — Nicolas exclamou abrindo os braços em seguida.

Caminhei na sua direção retribuindo o seu carinho. Nossos lábios se tocaram rapidamente em um beijo casto, sem língua.

Por mais que fosse comum ver o meu irmão e a minha cunhada quase se engolindo no café, comigo era diferente. Fazer algumas coisas com o Nicolas já era constrangedor e na frente do meu irmão, seria totalmente impossível!

— Sobre o que estavam conversando? — questionei fingindo normalidade. Me sentei ao lado de Nicolas enquanto me servia o café.

— Nada. — Gabriel respondeu dando um gole na sua bebida. Assenti não querendo insistir no assunto.

Seguimos o café da manhã os três juntos até que meu irmão foi o primeiro a partir. Ele ainda queria falar com Carol antes do expediente dela no salão começar, então partiu.

Nicolas e eu finalizamos a refeição logo em seguida e meu noivo me acompanhou em seu carro até o meu trabalho.

Durante o caminho entre a conversa informal e pequenas carícias me peguei pensando na minha cunhada e em toda a fofoca.

Lembro-me de ter ouvido algo sobre o assassinato a queima-roupa cometido por Alfonso contra o seu filho recém-nascido e a sua esposa já noite do nascimento da criança. Fora o que os jornais anunciaram, os rumores sempre acrescentaram informações em toda a história.

Depois do incidente, Alfonso Albuquerque partiu de Campos e nunca mais se ouviram notícias sobre ele e agora, de repente, ele retorna como se tivesse ressurgido dos mortos, trazendo consigo fofoca e muita especulação.

— Clarisse? — Nick chamou minha atenção, respondi beijando o dorso da sua mão sobre a minha — Está perdida em pensamentos?

— Um pouco. — respondi com sinceridade — Estou pensando em uma fofoca que ouvi ontem das meninas da escola.

— Que fofoca?

— Ah… uma bobagem sobre Alfonso Albuquerque e orgias.

— Era isso? Eu ouvi algo sobre o escritório. Acredito que boa parte é especulação, mas não duvido que possa ser verdade.

— Porque diz isso? — retruquei curiosa. Nicolas não hesitou nenhuma vez em sua resposta.

— Porque é o que parece. Eu não vi o senhor Albuquerque uma única vez, mas já lidei com o seu representante. Ele é um homem polido que exala elegância, não duvido que Alfonso seja assim como o Dom, seu padrinho. — assenti — Porém, não fique pensando sobre isso. Não quero que você fique se perturbando com esses rumores.

— Eu sei, não irei me perturbar com esse assunto. Na verdade, eu só fiquei curiosa pelo que as meninas mencionaram… mas nãoé nada de relevante. Acho que esse assunto ficou na minha cabeça pela forma que as meninas comentaram sobre. Deve ser isso.

— É verdade. Mesmo assim, não quero minha garota perdida em pensamentos sobre um criminoso qualquer. — mamei a cabeça em negação.

— É, talvez... mas eu não diria que ele é alguém comum. Muito pelo contrário. — Nicolas me encarou — Pelo que vejo Alfonso Albuquerque pode ser muitas coisas, contudo ele está longe de ser alguém comum. — Nicolas me encarou com o veículo estacionado em frente a escola. Inclinei na direção do meu noivo beijando os seus lábios — Mas vamos esquecer esse assunto e nos concentrarmos no nosso casamento. — completei e pude sentir o sorriso se formar nos lábios de Nicolas durante o nosso selar de lábios.

— Gosto dessa ideia. — sorrimos com as nossas testas unidas.

— Eu te amo. — suspirei me afastando do meu noivo. Nicolas assentiu e nós com muito custo nos despedimos.

Caminhei da calçada até o interior da escola com o pensamento em Nicolas. Em breve estaremos casados, finalmente seremos marido e mulher.

— CLARISSE! — Sabrina gritou o meu nome me tirando dos meus devaneios — VOCÊ PRECISA VIR COMIGO!

Minha colega segurou meu pulso com firmeza enquanto me puxava pela instituição. Fiquei sem atender e até pensei em questionar, mas desisti tamanho o empenho em me locomover para onde quer que fosse.

— Vocês chegaram! — Gabriella deu um gritinho agudo.

— M-Mas… — minhas palavras foram cortadas pela euforia das minhas colegas em me arrastar para onde quer que fosse o tal lugar.

A minha voz falhou no momento em que um vídeo começa a rodar diante dos meus olhos.

A música sensual embalando diversos corpos nus debaixo da luz neon me deixa sem palavras. É possível contar oito pessoas em cena, mas duvido que essa seja a quantidade total de pessoas.

De repente os corpos que apenas se esfregavam, começam a compartilhar de contato físico íntimo e bruto.

— Ér… me-meninas…

— Shh! — Luana fez final com o indicador sobre os lábios e eu me calei, voltando os olhos para o cenário diante dos meus olhos.

“AHHH!”

“VENHAM RAPA-ZES.... AH-HH! ISSO....”

“M-MAIS… AH-H!”

“P-POR F-FAVOR... M-MAIS... ASSIM... OH!”

Os gemidos masculinos e femininos se misturaram.

Eu completo silêncio, encarei a filmagem diante dos meus olhos.

Isso é sexo? — minha mente me bombardeou de pensamentos. Eu não sou uma completa freira, mas eu sempre imaginei que o momento seria algo mais contido como uma bela melodia, delicada com sussurros de amor. Mas a cena diante dos meus olhos me mostram outra perspectiva. Estou espantada, mas não consigo me desviar do que estou presenciando.

É normal que os corpos estejam tão expostos dessa maneira? Talvez… muitas perguntas sondavam a minha mente naquele momento.

O barulho dos corpos se chocando me constrangia, mas, ao mesmo tempo, eu não desejava desviar a minha face. Meu rosto queimava como se as brasas estivessem em minha pele, mas em nenhum momento ousei desviar do cenário à minha frente.

Diante de tanta lascívia e promiscuidade. Diversos corpos deslizavam por diante a tela, contudo, havia um corpo em especial que a minha mente ansiava em conhecer.

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