Clarisse GrigioSuspiro fundo tentando controlar os batimentos do meu peito.Assim como Luana, o meu rosto ficou rente ao piso, porém não entrou em atrito.Meus olhos vacilaram em busca do sentido para aquele estado, porém não foi nada simples de se encontrar resposta. Apesar da recepção do hotel ficar aberta vinte e quatro horas, as luzes da entrada se encontravam parcialmente acesas, esse detalhe ainda foi possível captar pelos meus olhos semi abertos.— Por gentileza, venha comigo, senhorita. — escutei a voz masculina ressoar no meu ouvido direito. Por mais que desejasse seguir aquela voz que levou minha amiga, não consegui me mover.— Por que não me levou também? — murmurei apoiando as mãos no piso da calçada à minha frente e me calei. Uma respiração quente e intensa fez contato com a pele exposta da minha nuca.Engulo seco tentando conter a ansiedade e o desejo de correr.Quem estava me mantendo naquela posição? Pensei, sentindo novamente a respiração quente na minha pele.— Não
Clarisse GrigioAlguns dias haviam se passado e quando finalmente nos demos conta, já estávamos de volta a Campos dos Goytacazes.— Crianças, todos formem uma fila. — exclamei para os meus alunos que obedeceram ao meu comando.Depois daquela noite, minha mente se manteve ansiosa pelas lembranças conturbadas daquele momento. O que de fato havia acontecido? Poucas são as memórias das palavras trocadas com Alfonso, a única coisa que me lembro com clareza foi dos seus olhos sobre os meus, a sua respiração ofegante rente a pele do meu rosto e os seus lábios deslizando pela minha bochecha.No começo, pensei que tudo não passava de um delírio, mas com o passar dos dias, tive certeza que era realidade. Porém, não tive oportunidade de confrontá-lo, tendo em vista que na manhã seguinte as meninas haviam comentado que Alfonso Albuquerque havia partido do hotel algumas horas antes do meu despertar.Sendo sincera comigo mesma, foi um alívio, por entre nos não haverá nada. Contudo, gostaria de conf
Clarisse GrigioQuando Nicolas me mandou aquela mensagem sobre “precisamos conversar” um milhão de possibilidades apontaram em minha mente. A primeira delas foi a respeito do que aconteceu em Petrópolis, mesmo que eu tenha consciência de que não ocorreu nada de fato, esse assunto me deixou muito perturbada com o sentimento de traição incrustado em meu coração.Durante toda a minha vida, amei apenas um homem e sigo sendo fiel a esse relacionamento, mas agora, por conta de fatores que fugiram do meu controle, me sinto uma traidora. Indigna de continuar com esse relacionamento!— Tenha calma, Clarisse. — digo a mim mesma, tentando acalmar meu coração que palpita descontroladamente. Fixo os meus olhos na taça de vinho na minha frente e ingiro o conteúdo por completo pela minha garganta com um único gole. Mesmo que faltem alguns minutos para que Nicolas siga para o local, me sinto ansiosa como se fosse ser aberto a qualquer momento um abismo debaixo dos meus pés.— Clarisse. A voz de Nico
Clarisse GrigioApós relatar em detalhes tudo que aconteceu a Nicolas, sinto um alívio automático em meu peito, apesar da tensão palpável do ar entre nós.— Isso é tudo? — Nicolas questiona após longos minutos de silêncio.— Sim. — assenti de cabeça baixa, aguardando sua fúria contra mim.Mesmo que durante todos esses anos só tenha conhecido a face gentil e pacífica, não seria surpresa que, ainda que não tenha ocorrido nada de concreto, Nicolas tenha o direito de me proferir ofensas e se sentir traído.Nunca foi minha intenção omitir qualquer coisa dele com segundas intenções, pelo contrário, só desejava que o interesse efêmero de Alfonso desaparecesse e tudo retornasse ao normal. Porém, ao contrário de tudo que havia previsto, Nicolas me surpreendeu, envolvendo o meu corpo em um abraço forte e acolhedor, que me cobriu com toda a sombra aconchegante e quente do seu corpo.O impacto das suas ações me atingiu fortemente e minha mente lutou para entender o que estava acontecendo. Mais um
Clarisse GrigioMeu coração palpitante junto em meio a consciência da situação começou a se infiltrar lentamente na minha mente.O aroma predominante do local desconhecido misturava-se a uma sensação de apreensão. O toque macio do lençol em contato com a minha pele não me fez sentir aquela sensação aconchegante previsível, pelo contrário, o ar gélido do tecido em meus braços desnudos me lembrava da cruel realidade que me oprimia. Tentei me mover, porém, meu corpo não respondia como deveria. Minhas pernas pareciam feitas de chumbo e meus braços, ímãs de ferro.De repente as lembranças do rapto invadiram minha mente eletrizando todo o meu corpo.— CLARISSE! — a voz de Nicolas gritando em plenos pulmões fez o meu corpo retesar. Buscando forças de um lugar desconhecido consigo encolher as pernas e me abraçar.Agora, quando posso visualizar melhor ao meu redor, percebo estar em um lugar conhecido. Esse é um dos quartos da mansão Albuquerque, não havia dúvida.— Ele cumpriu a sua promessa.
Clarisse GrigioNo princípio custei a acreditar, contudo, isso realmente estava acontecendo? Encarei a mão solitária de Alfonso repousando no ar enquanto aguardava a minha resposta.“Prometo acompanhar você até o altar” — refleti sem desviar os meus olhos do seu par de safiras que apesar da tonalidade, para mim, os seus olhos se assemelham a ondas durante uma tempestade em alto mar.Levo algum tempo para decidir qual seria a melhor decisão a se tomar naquele momento, pois, independente da minha escolha nenhuma das alternativas era favorável e se tratando de Alfonso, não havia segurança de que no final, o resultado seria satisfatório para mim.Respiro fundo e apertei o tecido do vestido em meus dedos.— Que garantia tenho que você vai cumprir com sua palavra? — questionei por impulso, Alfonso sorriu torto.— A sua única garantia é a minha palavra e como disse, sou um homem que cumpre suas promessas. — Alfonso retrucou. Seus músculos da face se contraem enquanto engulo seco tentando ava
Clarisse GrigioAdentro o quarto com o misto de sentimentos conflitantes em meu coração. No momento que o juiz de paz declarou que Alfonso e eu estávamos casados, quis que um abismo fosse aberto debaixo dos meus pés.Como se a ansiedade não fosse suficiente, precisava me preparar para a consumação do casamento.Deslizei as alças do vestido sem dificuldade pelos meus braços. Mesmo que agora o ideal fosse receber ajuda, não é de uma pessoa para me despir que necessito e pelo contrário, preciso de forças para seguir adiante.Encaro o anel de diamantes no meu anelar e o peso desse objeto faz o meu coração pesar. Não era dessa maneira que planejava encerrar esta noite, não, era para Nicolas e eu estávamos embarcando em uma viagem de lua de mel para Fernando de Noronha, mas agora, preciso encarar minha nova realidade. Nisto preciso focar de agora em diante.— Se acalme Clarisse… tudo dará certo! — digo em voz alta tentando me convencer que Nicolas agora é passado, mesmo que os meus planos f
[ALGUNS MESES ANTES]Clarisse GrigioAmanheceu nublado como no dia anterior. Por um instante posso desfrutar dessa sensação refrescante antes de retornar a rotina. Com os meus olhos fechados, aprecio os segundos, antes que eu retorne para a minha programação original.A brisa aconchegante que vem do corredor esvoaça os meus fios que caem como cascata em meus ombros. Por impulso, pego uma das minhas mechas e as levo até o nariz, um ato simples que sempre me faz pensar no meu amado, Nicolas.— Crianças, o intervalo terminou! — escuto uma voz bem distante, provavelmente da coordenadora do turno da manhã anunciando o final do recreio das crianças. Sorrio pensando nos pequenos que sempre retorcem a face em frustração e volto a caminhar pelo local.Cumprimento algumas crianças que me reconhecem enquanto sigo o meu caminho rumo a sala dos professores. Porém, antes que eu consiga girar a esquerda observo uma movimentação estranha, como um vulto alguns metros à minha frente.Impulsionada pela