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CAPÍTULO 3: A BRISA DE UM FUTURO VINDOURO

[ALGUNS MESES ANTES]

Clarisse Grigio

Amanheceu nublado como no dia anterior. Por um instante posso desfrutar dessa sensação refrescante antes de retornar a rotina. Com os meus olhos fechados, aprecio os segundos, antes que eu retorne para a minha programação original.

A brisa aconchegante que vem do corredor esvoaça os meus fios que caem como cascata em meus ombros. Por impulso, pego uma das minhas mechas e as levo até o nariz, um ato simples que sempre me faz pensar no meu amado, Nicolas.

— Crianças, o intervalo terminou! — escuto uma voz bem distante, provavelmente da coordenadora do turno da manhã anunciando o final do recreio das crianças. Sorrio pensando nos pequenos que sempre retorcem a face em frustração e volto a caminhar pelo local.

Cumprimento algumas crianças que me reconhecem enquanto sigo o meu caminho rumo a sala dos professores. Porém, antes que eu consiga girar a esquerda observo uma movimentação estranha, como um vulto alguns metros à minha frente.

Impulsionada pela obrigação e curiosidade, sigo adiante para verificar o significado daquela movimentação estranha até que encontro o significado da questão inicial. 

Observando as duas meninas que sorriem na minha direção, endureço o meu olhar para com elas.

— Maria Eduarda e Mirela, o que acham que estão fazendo? — exclamei com seriedade. Apesar de amar a minha profissão existem situações que precisamos ser firmes e esse com certeza era um desses momentos cujo precisamos repreender com sabedoria.

As duas crianças de quatro anos sorriem travessas uma para outra e ao invés de me responder, elas correm. Uma para cada direção, o que não me surpreendeu.

— O que vocês estão fazendo nessa sala vazia? — questionei severamente — Não é permitido matar aula meninas, vamos agora mesmo para a sala de vocês. O recreio já acabou! — adverti.

Observei as crianças correndo e antes que eu pudesse agir, as duas colidem com a diretora Ana Paula.

— TIA ANA PAULA! — as duas garotas choramingam em uníssono.

Neguei com a cabeça diante da cena dramática das duas. 

Giro os calcanhares para retornar ao meu caminho e logo me encontro com minhas colegas dialogando animadamente.

— Oi, Clarisse, bom dia! — Sabrina me cumprimentou no momento que surgi a porta. As outras professoras me cumprimentam logo em seguida. 

Sorrio retribuindo a saudação calorosa das mesmas. Todas me tratam com muito carinho e sou muito feliz nessa escola.

Mesmo que não sejamos amigas, felizmente todas nós somos colegas e é extremamente agradável a nossa relação profissional, diferente de quando trabalhei como auxiliar na recepção da biblioteca municipal, onde muitas das mulheres me ignoravam e eu sofri assédio do diretor da instituição.

Comparado ao cenário anterior, eu estou nos céus e aspiro trabalhar nessa escola como professora por muitos anos até a minha aposentadoria.

— Já ficou sabendo? — Gabriella perguntou chamando a minha atenção. Encarei a minha colega de trabalho um pouco perdida no assunto por estar concentrada nas mensagens do meu celular que trocava com Nicolas. Dei de ombros dando a entender não saber sobre o assunto. Gabriella sorriu bebericando seu café e continuou — Não acredito que você ainda não saiba.

— Sobre? — perguntei levemente curiosa.

— Sobre o retorno enigmático do nosso assassino. — o tom dramático na voz de Gabi me fez rir, pois foi muito engraçado — Alfonso Albuquerque. — Gabriella completou rindo em seguida.

Ainda que eu não seja uma entusiasta sobre fofocas da cidade, ouvir esse nome gera um misto de sentimentos no meu peito. A curiosidade preencheu a minha mente e em silêncio, eu tento lembrar sobre o que conheço a respeito do mesmo: Alfonso Albuquerque.

Muitos rumores giram em torno dessa história por detrás de Alfonso, contudo nunca tive interesse em aprofundar-me nesse assunto. Tudo que sei a respeito é que há alguns anos atrás, logo após o nascimento do filho de Alfonso ele assassinou não somente o bebê como também a ex-esposa.

Entretanto, tudo isso é somente boato, pois a informação oficial é de que a criança e a mãe faleceram por conta de complicações no parto.

Na época em que as coisas aconteceram eu ainda era criança e mesmo após alguns anos, nunca tive interesse em saber sobre essas fofocas. A última vez que me lembrei desse assunto foi quando o meu irmão conseguiu uma vaga de trabalho efetiva como veterinário na fazenda Albuquerque.

— Clarisse… e então? — Luana me chamou ao mesmo que me encarou com curiosidade.

— Então o quê? — retruquei conferindo os itens na minha bolsa. Luana e Gabriella se entreolharam com a sombra da malícia em seus olhos antes de me encarar novamente — O seu irmão trabalha na fazenda, não é mesmo? Com certeza ele deve saber sobre alguma coisa desse assunto, não é possível ser tudo fofoca. Afinal é como dizem: tudo tem um fundo de verdade.

Assenti dando de ombros.

— É verdade que as festas são regadas a drogas e orgias? — Sabrina insistiu.

— O-Oi… c-como assim? — neguei com a cabeça — Que tipo de pergunta são essas meninas? Orgias? — sussurrei sem antes olhar para os lados, com medo da diretora aparecer de repente.

— Eu sabia que ela não sabia de nada. — Gabriella ralhou com Luana. Eu as observei completamente perdida e ruborizada pela possibilidade. Mesmo com dezenove anos eu nunca aprofundei sexualmente a relação com Nicolas.

Somos namorados desde a infância e quando chegamos aos quatorze começamos a namorar de fato, porém até hoje nunca fizemos nada além de amassos mais intensos. Mas não posso negar que a simples menção da palavra — orgia — fez a minha mente ferver. Imaginar o cenário de corpos sucumbindo à luxúria explodiu em minha mente, fazendo o meu coração palpitar.

— E-Eu… não sei do que estão falando. Isso com certeza é fofoca e mesmo que fosse verdade, Gabriel não comentaria nada comigo. Eu e meu irmão não temos esse tipo de assunto. — respondi por fim. De soslaio acompanhei Luana, Gabriella e Sabrina conversarem animadas.

Eu quis perguntar sobre o que exatamente elas estavam falando, porém, não foi necessário.

— Fiquei sabendo que desde que o nosso assassino de esposas retornou… ocorrem festas na mansão da fazenda. Os convidados são diversos… atores, atrizes e políticos frequentam a mansão praticando todo o tipo de promiscuidade. — com os lábios transbordando de desejo, Luana se debruçou sobre a mesa e as outras meninas sorriram. Finjo não estar interessada enquanto elas continuam murmurando, mas é impossível me manter distante enquanto elas aprofundam a conversa.

Chicotes, algemas e sexo grupal? Que absurdo! 

— Será que Gabriel sabe algo? — penso em voz alta. Não, se isso fosse verdade, o meu irmão saberia algo desse assunto, mas ele é apaixonado pela minha cunhada… e ele não faria nada que pudesse chatear a minha cunhada. Certo?

Os pensamentos intrusivos dominam a minha mente.

— Clarisse?

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