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CAPÍTULO 4: VESTÍGIOS DO TEU NOME

Clarisse Grigio

— Clarisse? — Sabrina me chamou. Eu a encaro e os seus olhos estão repletos de curiosidade e expectativa.

— N-Nada. — desconversei levantando da cadeira. Era hora de ir embora ao invés de dar lugar a rumores que nada tem a ver comigo ou com a minha família — Preciso ir para casa, até amanhã meninas.

Me despeço como o habitual enquanto envio uma mensagem para Nicolas, mas ele não responde. Provavelmente por estar envolvido com os assuntos do escritório de contabilidade do seu pai.

Após a formatura eu consegui arrumar um trabalho como professora na escola do fundamental I, enquanto Nicolas seguiu os planos da família que é atuar como contador, dando seguimento aos negócios do seu pai que possui uma empresa de contabilidade no centro de Campos.

Peço um carro no aplicativo que rapidamente chega e me deixa em frente a minha casa. Um prédio comercial de quatro apartamentos que consigo pagar dividindo as despesas com o meu irmão.

Quando os nossos pais faleceram, ficamos eu e meu irmão aos cuidados do meu padrinho, porém infelizmente após a sua morte a nossa família diminuiu ainda mais restando somente eu e Gabriel.

— Cheguei! — anunciei ao abrir a porta, porém como esperado, ninguém respondeu, ou seja, estou sozinha em casa. 

Aproveito para fazer uma faxina geral no meu quarto como também nos outros cômodos e banheiro. Minhas atividades domésticas não duram por muito tempo, pois quando se aproxima das dezessete horas estava tudo finalizado. Por fim, tomo um banho demorado e aproveito para lavar o meu cabelo.

Deslizo minha mão pelo espelho do banheiro embaçado pela fumaça. Visto o meu robe azul-turquesa antes de começar o meu ritual de skin care, antes de finalizar os meus cuidados capilares.

Deixo o local aquecido e no mesmo instante um pensamento invade a minha mente: os supostos rumores que ouvi mais cedo na escola.

— Maninha? — escuto a voz do meu irmão me chamar e a sua voz é o suficiente para me trazer de volta a realidade — Trouxe o jantar para nós. — Gabriel acrescentou.

Sorri ao encarar o tamanho das sacolas nas mãos do meu irmão, com certeza ele gastou boa parte do seu salário nessa comida, provavelmente pedindo um jantar completo para nós dois.

— Você adivinhou… eu não fiz comida. — disse sorridente — Eu coloco a mesa, aproveita para tomar um banho rápido. — completei tomando as sacolas das mãos do meu irmão. Gabriel assentiu seguindo a minha sugestão.

Começo a organizar a mesa para dois, colocando os itens nos pratos para servimos durante a refeição. De repente, sinto os braços do meu irmão envolvendo o meu corpo como ele normalmente faz desde a infância.

— Humm… que cheirinho de carniça. — provoquei e recebi um beliscão no braço e eu faço um bico — Eu às vezes esqueço o quanto você é carinhoso igual uma mula. — provoquei alisando no meu braço o local que Gabriel beliscou por está doendo.

— Você sempre me faz me arrepender de mimar você. — Gabriel retrucou.

Nos sentamos um ao lado do outro e enquanto comíamos, conversamos despretensiosamente.

— Como foi o parto da Juquinha? — questionei referente ao parto da bezerra que Gabriel havia comentado comigo há alguns dias.

— Tranquilo. Conseguimos fazer o parto tranquilamente e o estado da mãe e do filhote foi estabilizado. — assenti — E o seu dia… vi o meu cunhado mais cedo.

— Ele me disse de manhã… e o meu dia foi normal, apesar de…

Hesito pela lembrança furtiva dos rumores que permanece rondando a minha mente. Quero perguntar, porém, tenho receio da resposta.

— Apesar de quê? — Gabriel questionou com a sobrancelha erguida.

— Bem… fiquei sabendo que aquele que o filho do senhor Cassius retornou para a fazenda, você sabe… o senhor Alfonso. — mencionei antes de ingerir o refrigerante. Gabriel assentiu revirando os olhos — É verdade?

— O quê? — meu irmão rebateu sem humor.

— Ahh… você sabe. — dei de ombros — Os… rumores.

— Aí Deus… você também não… Clarisse. — Gabriel se levantou recolhendo o seu prato da mesa.

— Como assim? — insisti diante do seu desapontamento.

Normalmente eu não me inclino as fofocas, mas estranhamente esse assunto não sai da minha cabeça. 

— Nada, só que a Carol veio me perguntar isso antes de vir para casa e nós discutimos. — franzi o cenho surpresa. Meu irmão e minha cunhada normalmente não discutem — Não fica pensando nada estranho, eu não tenho contato com ninguém daquela família, todos os meus assuntos são com a governanta da mansão ou o administrador, o senhor Arthur.

Assenti. Realmente eu não deveria ter perguntado, porém, foi mais forte do que eu.

— Olha, não fica pensando nessas coisas. Nós não temos nada a ver com esses assuntos. — é verdade, pensei. 

Gabriel se afastou e começou a lavar os pratos da pia.

O seu olhar cansado é um sinal de que a discussão com a minha cunhada foi séria.

Permaneço no local observando o meu irmão terminar de lavar a louça. Assim que ele acaba, Gabriel se aproxima beijando minha testa e se afasta rumo ao seu quarto.

Fiquei alguns minutos na sala refletindo sobre os acontecimentos, até que no final eu segui o mesmo caminho até o meu quarto.

Deitada na cama, a minha mente vagou entre os pensamentos e o cansaço dominou o meu corpo.

Bip

Uma notificação chega no meu celular. 

Alcanço o aparelho e sorrio, é uma mensagem de Nicolas me desejando boa noite e dizendo o quanto me ama.

Respondo às mensagens que surgem a seguir, até que lentamente eu me entrego ao sono eminente. 

Amanhã seria um novo dia e eu não deveria me deixar levar pelos rumores que não tem nada a ver comigo. O melhor a ser feito era se afastar e focar na minha vida e manter distância da família Albuquerque que sempre está envolvida com problemas e rumores hediondos.

— S-Sim… é exatamente o que irei fazer. — sussurro para mim mesma antes de finalmente adormecer.

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