Clarisse Grigio
— Clarisse? — Sabrina me chamou. Eu a encaro e os seus olhos estão repletos de curiosidade e expectativa. — N-Nada. — desconversei levantando da cadeira. Era hora de ir embora ao invés de dar lugar a rumores que nada tem a ver comigo ou com a minha família — Preciso ir para casa, até amanhã meninas. Me despeço como o habitual enquanto envio uma mensagem para Nicolas, mas ele não responde. Provavelmente por estar envolvido com os assuntos do escritório de contabilidade do seu pai. Após a formatura eu consegui arrumar um trabalho como professora na escola do fundamental I, enquanto Nicolas seguiu os planos da família que é atuar como contador, dando seguimento aos negócios do seu pai que possui uma empresa de contabilidade no centro de Campos. Peço um carro no aplicativo que rapidamente chega e me deixa em frente a minha casa. Um prédio comercial de quatro apartamentos que consigo pagar dividindo as despesas com o meu irmão. Quando os nossos pais faleceram, ficamos eu e meu irmão aos cuidados do meu padrinho, porém infelizmente após a sua morte a nossa família diminuiu ainda mais restando somente eu e Gabriel. — Cheguei! — anunciei ao abrir a porta, porém como esperado, ninguém respondeu, ou seja, estou sozinha em casa. Aproveito para fazer uma faxina geral no meu quarto como também nos outros cômodos e banheiro. Minhas atividades domésticas não duram por muito tempo, pois quando se aproxima das dezessete horas estava tudo finalizado. Por fim, tomo um banho demorado e aproveito para lavar o meu cabelo. Deslizo minha mão pelo espelho do banheiro embaçado pela fumaça. Visto o meu robe azul-turquesa antes de começar o meu ritual de skin care, antes de finalizar os meus cuidados capilares. Deixo o local aquecido e no mesmo instante um pensamento invade a minha mente: os supostos rumores que ouvi mais cedo na escola. — Maninha? — escuto a voz do meu irmão me chamar e a sua voz é o suficiente para me trazer de volta a realidade — Trouxe o jantar para nós. — Gabriel acrescentou. Sorri ao encarar o tamanho das sacolas nas mãos do meu irmão, com certeza ele gastou boa parte do seu salário nessa comida, provavelmente pedindo um jantar completo para nós dois. — Você adivinhou… eu não fiz comida. — disse sorridente — Eu coloco a mesa, aproveita para tomar um banho rápido. — completei tomando as sacolas das mãos do meu irmão. Gabriel assentiu seguindo a minha sugestão. Começo a organizar a mesa para dois, colocando os itens nos pratos para servimos durante a refeição. De repente, sinto os braços do meu irmão envolvendo o meu corpo como ele normalmente faz desde a infância. — Humm… que cheirinho de carniça. — provoquei e recebi um beliscão no braço e eu faço um bico — Eu às vezes esqueço o quanto você é carinhoso igual uma mula. — provoquei alisando no meu braço o local que Gabriel beliscou por está doendo. — Você sempre me faz me arrepender de mimar você. — Gabriel retrucou. Nos sentamos um ao lado do outro e enquanto comíamos, conversamos despretensiosamente. — Como foi o parto da Juquinha? — questionei referente ao parto da bezerra que Gabriel havia comentado comigo há alguns dias. — Tranquilo. Conseguimos fazer o parto tranquilamente e o estado da mãe e do filhote foi estabilizado. — assenti — E o seu dia… vi o meu cunhado mais cedo. — Ele me disse de manhã… e o meu dia foi normal, apesar de… Hesito pela lembrança furtiva dos rumores que permanece rondando a minha mente. Quero perguntar, porém, tenho receio da resposta. — Apesar de quê? — Gabriel questionou com a sobrancelha erguida. — Bem… fiquei sabendo que aquele que o filho do senhor Cassius retornou para a fazenda, você sabe… o senhor Alfonso. — mencionei antes de ingerir o refrigerante. Gabriel assentiu revirando os olhos — É verdade? — O quê? — meu irmão rebateu sem humor. — Ahh… você sabe. — dei de ombros — Os… rumores. — Aí Deus… você também não… Clarisse. — Gabriel se levantou recolhendo o seu prato da mesa. — Como assim? — insisti diante do seu desapontamento. Normalmente eu não me inclino as fofocas, mas estranhamente esse assunto não sai da minha cabeça. — Nada, só que a Carol veio me perguntar isso antes de vir para casa e nós discutimos. — franzi o cenho surpresa. Meu irmão e minha cunhada normalmente não discutem — Não fica pensando nada estranho, eu não tenho contato com ninguém daquela família, todos os meus assuntos são com a governanta da mansão ou o administrador, o senhor Arthur. Assenti. Realmente eu não deveria ter perguntado, porém, foi mais forte do que eu. — Olha, não fica pensando nessas coisas. Nós não temos nada a ver com esses assuntos. — é verdade, pensei. Gabriel se afastou e começou a lavar os pratos da pia. O seu olhar cansado é um sinal de que a discussão com a minha cunhada foi séria. Permaneço no local observando o meu irmão terminar de lavar a louça. Assim que ele acaba, Gabriel se aproxima beijando minha testa e se afasta rumo ao seu quarto. Fiquei alguns minutos na sala refletindo sobre os acontecimentos, até que no final eu segui o mesmo caminho até o meu quarto. Deitada na cama, a minha mente vagou entre os pensamentos e o cansaço dominou o meu corpo. “Bip” Uma notificação chega no meu celular. Alcanço o aparelho e sorrio, é uma mensagem de Nicolas me desejando boa noite e dizendo o quanto me ama. Respondo às mensagens que surgem a seguir, até que lentamente eu me entrego ao sono eminente. Amanhã seria um novo dia e eu não deveria me deixar levar pelos rumores que não tem nada a ver comigo. O melhor a ser feito era se afastar e focar na minha vida e manter distância da família Albuquerque que sempre está envolvida com problemas e rumores hediondos. — S-Sim… é exatamente o que irei fazer. — sussurro para mim mesma antes de finalmente adormecer.Clarisse GrigioAcordo de repente com uma sensação angustiante em meu peito. Levo minhas mãos até o rosto para ter certeza que o realmente o local onde estou é real.— Foi um sonho. — digo em voz alta tentando me convencer de que as sensações ainda presentes em minha pele e em minha mente não são reais.Eu estava presa completamente absorta nas mãos de homens estranhos. Eles me levavam para um lugar muito longe e frio, eu não queria estar lá e por mais que eu quisesse gritar, eu não tinha voz para clamar por socorro.Levanto e rapidamente adentro o banheiro do meu quarto. Ligo o chuveiro deixando a água gelada cair por todo o meu corpo, lavando os meus fios longos que cobrem meus ombros como um véu.A água gélida cai sobre minha pele como pequenos cubos de gelo, levando embora consigo o medo incrustado em minha pele por conta do pesadelo vivido.Não demoro mais do que o suficiente debaixo da água, pois preciso trabalhar. Pesadelos vêm e vão, mas não posso deixar que isso atrapalhe a m
Clarisse GrigioEnquanto me perdia em pensamentos, a lascívia se infiltrou em minha mente como uma sombra indesejada, despertando uma curiosidade ardente que eu mal conseguia compreender. O meu coração palpitante se afundou no cenário à minha frente. Levo minha mão aos lábios por impulso, pensando se era assim que me sentia ao estar nos braços de Nicolas. A sensação de querer explorar o desconhecido se tornava um pensamento intrusivo, dançando entre a inocência e o desejo. Eu me perguntava como seria sentir a pele de Nicolas contra a minha, o sussurro de suas palavras carregadas de promessas e a eletricidade do seu toque incendiando todo o meu ser. Por que eu não tenho esse tipo de experiência com ele? Nós não deveríamos ter esse grau de intimidade? Será que o meu corpo não é atrativo o suficiente para Nicolas?O mero pensamento me assolou por completo.Em minha mente, uma luta interna entre o desejo reprimido e a pureza que eu tanto tentava preservar pareceu se perder por conta de
Clarisse Grigio— Clarisse! — Isabella abriu os braços correndo na minha direção. O nosso abraço foi tão prazeroso que fez parecer que nós não nos encontrávamos há anos.— Isa… eu também senti saudades. — proferi quase sem fôlego pelo seu abraço de urso.— Vem! Eu estava esperando você chegar, tenho algo para te contar… — Isa proferiu com uma voz baixa e misteriosa.— Mas… e a livraria? Só tem nós duas aqui? — Isabella assentiu caminhando até a porta do local — Amiga, mas e os seus pais? — questionei preocupada. Mesmo que a loja seja um empreendimento pessoal, não quero que ela se prejudique com a minha presença.— Relaxa amiga, a loja é minha e eu fecho quando quiser. — Isabella retrucou piscando um dos olhos.Maneio a cabeça em sinal de negação, mas isso não é o suficiente para parar Isabella Baltazar. Após virar a placa indicando — fechado para almoço! — seguimos para o interior da livraria.— Como foi a viagem até São Paulo? Conheceu o seu honorável web namorado? — perguntei cheia
Alfonso AlbuquerqueCom um olhar desdenhoso, me encosto na parede, observando a cena diante de mim como um espectador entediado em um teatro de excessos.A atmosfera pulsa com a energia frenética dos corpos se entrelaçando, mas para mim, tudo não passa de um espetáculo repetitivo e previsível. A minha arrogância transborda em cada movimento, como se a minha simples presença fosse suficiente para elevar a banalidade da presente orgia a algo mais intrigante.Enquanto os gemidos e risos ecoam ao meu redor, eu me sento como um príncipe em um reino de plebeus, alheio à entrega desenfreada que me cerca, pois estou perdido em meus próprios pensamentos sobre o que realmente tem valor.Atravesso os corpos ao meu entorno, conforme caminho rumo a varanda do térreo. A lua resplandecente reina diante da noite profunda e estrelada. O céu em sua profundidade esconde a verdade escondida nas mentes dos meros mortais durante o crepúsculo.— Senhor. — a voz de Rys me desperta dos meus devaneios — Devo e
Clarisse GrigioA escuridão envolvia o meu corpo como um denso manto, e eu estava perdida em um pesadelo que parecia se estender para sempre. Corria por um corredor interminável, cada passo mais pesado que o anterior, enquanto a sensação de que alguém me seguia se tornava cada vez mais opressiva. Densas lágrimas escorrem por todo o meu rosto conforme o eco de passos atrás de mim ressoava em meus ouvidos e uma onda de pânico se arrasta pela minha espinha. O ar estava denso, quase impenetrável e o meu coração batia descompassado, como se quisesse escapar do meu peito. Eu olhava para trás, mas a escuridão parecia engolir tudo, impossibilitando ver quem — ou o que — estava me perseguindo. Então, de repente, um barulho ensurdecedor cortou a névoa do meu sonho, como um trovão em um céu claro. Meu corpo estremeceu, e eu acordei com um sobressalto, o coração ainda acelerado, enquanto o eco do estrondo reverberava em minha mente. O som vinha da sala, uma batida forte e insistente que me fez s
Nicolas AbreuO relógio na parede marcava os últimos minutos do meu expediente, e a luz suave do pôr do sol filtrava-se pelas persianas, lançando sombras longas sobre a mesa de trabalho. O cheiro do café frio ainda pairava no ar, misturado ao odor de papéis amarelados e a leve essência de notas de contabilidade, que sempre me lembravam dos dias intermináveis passados naquele escritório. Olhei em volta, observando o caos organizado de relatórios e formulários que dominavam minha mesa, cada um deles representando horas de trabalho árduo e a pressão constante de atender às expectativas do meu pai. Era um ambiente que, embora familiar, começava a se sentir sufocante, como se as paredes estivessem se fechando ao meu redor. A ideia de deixar tudo isso para trás me fazia sentir uma mistura de alívio e culpa; enquanto muitos sonhavam em herdar o legado da família, eu ansiava por algo diferente, algo que me permitisse respirar livremente. Com um último olhar para a tela do computador, onde as
Clarisse Grigio Minha cabeça parece que a qualquer momento será arrancada por um algoz ou submergirei mar adentro, contanto, nenhuma dessas brilhantes possibilidades aconteceriam.— Cara… tô morrendo de dor de cabeça. — Gabriel resmunga sentado na mesa da cozinha. Os meus olhos se fixam na minha própria caneca de café, sem querer encarar ambos diante de mim.— Tem remédio na pia do banheiro. — digo sem tirar os dedos do meu celular. Gabriel se levanta levando sua xícara consigo, deixando para trás Nicolas e eu que nos mantivemos em silêncio.Depois da noite passada, foi impossível adormecer e agora, preciso encarar outro dia de trabalho. Seus olhos avermelhados não passam despercebidos por mim, mesmo que de soslaio eu o tenha reparado, não tenho coragem para iniciar qualquer diálogo ou muito menos perguntar qualquer coisa.Um longo silêncio pairou sobre nós. Nunca estivemos em uma situação como essa, contudo, hoje estamos sentindo o gosto amargo e a sensação cruel desta situação des
Clarisse Grigio— Por que você está tão desanimada hoje? — Isabella questiona enquanto almoçamos no interior da loja. Dou de ombros não querendo entrar em detalhes no assunto — Nicolas — com ela.Minha amiga suspirou revirando o macarrão em seu prato.No momento, tudo que menos desejo é pensar em Nicolas e nas suas palavras sobre a minha indagação.— Hello… terra chamando Clarisse. — Isa chama a minha atenção. Eu a encaro enquanto ergo um garfo significativo com massa em minha boca — Vai me dizer ou não o que está rolando? Dou de ombros fingindo não entender a sua pergunta. Isabella para de se alimentar, cruzando os dedos ela apoia os cotovelos na mesa.— O que foi? — pergunto enquanto mastigava o macarrão. Isa ergue a sobrancelha esquerda em sinal de desafio. Inquieta, ela umedece os lábios enquanto me encarava intensamente.— Você está me escondendo alguma coisa Clarisse Isabour da Fonseca Grigio. — reviro os olhos enquanto escuto o meu nome ser proferido, pois detesto quando pron