Sem esperar mais, fui até o armário, peguei um dos casacos que estavam pendurados ali e o vesti por cima do conjunto de pijama cinza.
A calça não era lá tão fina e eu não tinha tempo para ficar me arrumando.Não seria nada surpreendente afinal.Não tinha essa frescura com meu chefe, tanto que estava indo até seu loft às quase quatro da manhã para só o acalmar.As coisas entre nós eram naturais demais, mais do que profissionais.Só percebi que saí dirigindo sem pegar meu celular quando já estava chegando na residência de Benedict.Se o homem lá em casa tentasse contato comigo, não teria êxito.No fim, não dei muita importância para isso, e sim para a situação do meu chefe quando enfim cheguei.Bene estava sentado na frente da porta, onde disse que iria me esperar.Suas mãos estavam enroscadas nos fios de cabelo um tanto quanto longos e escuros, sua cabeça curvada quase no meio de suas pernas e de longe pude notar a camisa desabotoada, com as mangas emboladas na altura dos cotovelos.Depois de estacionar o carro de qualquer jeito, desci e caminhei com cautela até o homem que ainda parecia perdido demais em pensamentos.Ao parar em sua frente, ele levantou o olhar e me observou sem dizer nada.Estava realmente abatido, me fazendo sentir medo do que Tyler tinha em mãos que poderia destruir tudo.Porque essa era a única justificativa.Para tirar o controle de meu chefe, seu irmão teria que expor algum tipo de crime. Seria o único jeito.— O que, exatamente, ele tem? O que pode tirar a Calisto de você? — Me abaixei ficando de cócoras para olhar diretamente nos olhos intensos.Lindos olhos por sinal.O homem piscou devagar, avaliou com lentidão todo meu rosto e depois de parar em um ponto específico - minha boca - desviou o olhar parecendo se dar conta de que cometeria um erro.Sim, ele cometeria. Encarar demais não era algo válido.— São coisas do passado. Nada que eu tenha feito agora. — Suspirou exausto. — Você sabe que estou andando na linha, que não sou uma pessoa ruim.E não era mesmo.Eu não conhecia o antigo Benedict Legard, que foi preso algumas vezes, que parecia irresponsável, que era comparado diversas vezes com seu tio Jason, e que traiu o irmão.Quando cheguei na Calisto, Benedict era só Benedict.Um homem bom para seu negócio e para seus funcionários.Nunca me proporcionou dores de cabeça irreparáveis ou insuportáveis, não fez nada que seu pai pudesse se decepcionar, nem que fizesse sua mãe chorar.Então não, seu passado não era relevante.O que fez anos antes, não poderia definir tanto assim seu futuro.Nós íamos dar um jeito, como sempre demos.— Vou falar com ele e resolver isso bem rapidinho. Sabe que seu irmão quer tirar sua paz o tempo inteiro. Se ele tem algo tão ruim contra você, ele não vai soltar assim tão fácil e prejudicar todas as empresas envolvidas com o sobrenome Legard.Bene riu com desgosto.Olhou para os sapatos caros que usava, depois para o céu noturno que logo iria embora dando lugar ao sol.— Eu quebrei meu irmão em mil pedacinhos, Hope... Hora ou outra ele faria o mesmo comigo.— Pode até ser... Mas não agora. Não tão perto de um evento tão importante, nem mesmo usando a empresa para fazer isso.Meu chefe me olhou com certo conforto, talvez se dando conta de que a preocupação foi à toa.Tyler, no fundo, só estava precisando de uma grande ajuda mas como não tinha peito suficiente para pedir socorro, usava métodos mais agressivos.Provavelmente um suborno viria a seguir. Conhecia bem o homem para reconhecer que usaria todas as armas possíveis nisso.O que não dava para negar, no entanto, era que convocar uma reunião para tirar Benedict da diretoria, foi bem pesado.Com certeza o irmão mais velho estava com problemas que, custava muito admitir, mas só meu chefe conseguiria ajudar.E não, não seria a primeira vez.— Vamos resolver isso juntos, certo? — perguntou baixinho.— Eu estou aqui, não estou? — Sorri pequeno. — Às quatro da manhã, morrendo de sono, com uma dor de cabeça horrível, eu estou aqui. E se não fosse pra resolver essa questão em até vinte e quatro horas, seria perda de tempo, e você sabe como eu odeio coisas que me fazem perder tempo.Ele enfim sorriu, se levantando e me fazendo o acompanhar no processo.Parados frente a frente, constatei que éramos uma dupla incrível.Eu sempre estava ali para Benedict e ele não pensava duas vezes quando eu precisava de sua ajuda.Mas parados frente a frente, minha mente voou para meu apartamento, no décimo segundo andar do prédio, no meu lar e no meu colchão.Ele não me perdoaria mais uma vez.Meus horários flexíveis eram o maior motivo de nossas brigas, e se por acaso meu namorado acordasse para beber água durante a noite, não me encontraria lá nem voltaria novamente ao meu apartamento.É, eu tinha uma vida simples mas gostava de complicá-la.— Vamos entrar e descansar um pouco? — sugeriu. — Esse vai ser um longo dia e temos que estar preparados para falar como Tyler.— Não teremos não. Apenas eu irei resolver essa situação, sem sua companhia. Porque tenho certeza que sua presença não vai ajudar em nada. Seu irmão só vai querer deixar as coisas piores.Era um fato. Bene sabia que sim.— Tudo bem, mas vamos entrar um pouco. Você já está aqui mesmo, e tem roupas suas lá dentro.Dessa vez não foi muito um pedido, foi mais uma ordem.Ele se virou e aproximou-se da porta tirando as chaves do bolso.Até a visão daquele homem de costas era terrível.Benedict tinha um rosto maravilhoso, olhos cativantes e uma boca que causava desejo em metade das funcionárias e funcionários da empresa.Aqueles ombros largos só completavam sua beleza, e talvez fosse por isso que meu namorado tinha tanto ciúmes de me ver perto dele.Insegurança.Benedict Legard com certeza causava insegurança em meu namorado, no entanto, não havia nenhum motivo vindo da minha parte para isso.Fidelidade era tudo o que eu mais prezava em um relacionamento.Acompanhando Bene, entrei no loft e aguardei até que a porta estivesse fechada.Tudo ali estava muito arrumado e cheiroso, denunciando que a funcionária que fazia a limpeza havia passado pelo imóvel mais cedo.— Vou tomar um banho — informou ao deixar as chaves, carteira e celular, encima da mesa de centro na sala de estar. — A cama é toda sua se quiser.Sem mais, subiu a escada e foi para o segundo piso onde se localizava o único quarto e um banheiro.No piso inferior, onde só havia a grande sala, uma cozinha, e um lavabo, caminhei até o sofá de veludo preto, tirei o casaco e pantufas deixando meu corpo despencar no estofado macio em seguida.Tinha pouquíssimo tempo para descansar, e faria isso antes de bolar um plano para convencer Tyler a não continuar com a tentativa de tomar a Calisto de seu irmão.O único problema, foi que eu não sabia e muito menos imaginava até onde esse plano chegaria, e quais seriam as enormes consequências dele.Afinal, era Tyler Legard, e ele sim poderia ser descrito como um um homem mau.Lindo, poderoso, egocêntrico, e mau.Eu amava respirar ar puro, sentir a brisa da manhã tocando meu rosto, me deixar levar apenas pelos sons das árvores chacoalhando e dos pássaros cantando, era o meu calmante natural.Fazia isso com tanta frequência para fugir do caos, para me ver longe dos problemas, e esse era o único jeito de encontrar uma fonte de paz dentro de mim mesma, porque um ponto fora era inexistente, sempre foi depois que ele foi embora.Fechei os olhos e senti a brisa acariciar minha face, abraçar meu corpo, e me trazer as melhores sensações do mundo. Aquilo era tudo o que eu mais queria fazer. Estar no silêncio, em contato com a natureza, fugindo de um mundo turbulento… Não tinha como desejar mais.— Hope? Abri os olhos e virando minha cabeça, vi Benedict se aproximando apenas de calça jeans, sem camisa, com os cabelos bagunçados e a barba sem aparar.Era terrível e insano vê-lo daquele jeito.Não respondi ao seu chamado, apenas encarei por tempo demais seu abdômen e sua boca, sempre intercalando o olh
Dirigi até meu apartamento em tempo recorde, e ao chegar, me deparei com algo que não pensei em ver jamais. Meu estômago doeu e não foi só pela fome. Um medo e um incômodo se fez presente quando meus olhos viram aquilo.O homem de cabelos claros e corpo atlético estava com duas caixas grandes cheias perto de si, uma delas ainda aberta sobre a mesa da cozinha enquanto ele terminava de guardar uma de suas jaquetas preferidas ali.— O que está fazendo? — Bati a porta forte para que notasse minha presença na sala.Meu namorado me olhou com aparente desprezo, quase fazendo uma ânsia de vômito ao me ver. Ele voltou sua atenção para a caixa e se empenhou em fechá-la, fingindo que eu não estava me juntando a ele em nosso apartamento. Fingindo que minha existência não tinha importância alguma.Ah, mas ele não ia agir dessa forma comigo. Não mesmo!— Josh, por que está arrumando suas coisas? Eu só estava trabalhando, você sabe disso, sabe que não tem motivos pra ir embora — continuei com os
"Vou me atrasar. Tenha paciência." Foi a mensagem que enviei para Benedict.E que ele tivesse muita paciência.Fazia quarenta minutos que eu estava do outro lado da cidade, na empresa de Tyler, apenas esperando que ele me atendesse.O único jeito de resolver as coisas de forma rápida, era fazer tudo com agilidade e sem enrolação. Tyler tinha que ser colocado contra a parede para que eu começasse a agir e impedir que a diretoria fosse tirada de Benedict.Não que isso fosse uma ameaça real, porém, nem mesmo riscos nós deveríamos correr.Permaneci batendo os saltos no piso brilhante enquanto aguardava ser chamada. Além de ser um idiota de patente maior, Tyler me fez esperar por ele na recepção, como se eu fosse qualquer pessoa. E no caso, deveria dar mais valor visto que quem estava prestes a resolver seu problema era eu.Mas não. Com o homem tudo era uma grande brincadeira quando ele queria. Podia ser muito competente como CEO, mas como pessoa ele não me agradava.— Senhorita Lisbon,
Caos.A sede das Joalherias Calisto estava um caos.Havia tantas pessoas circulando pelo andar principal que eu quase não consegui chegar no setor desejado. O gestor, o diretor, toda a assessoria, os designers, e todo o marketing estavam caminhando de um lado para o outro, com papéis nas mãos, com caixinhas que portavam jóias, e com mais mil coisas que eu nem sequer gostaria de pensar.A pré-exposição daria um trabalhão, podia sentir isso logo de cara.— Ah, Hope. Aí está você! — Carly se aproximou com um bocado de papéis. — Os novos designs chegaram e o Benedict disse que você precisa aprovar cada um deles.Franzi as sobrancelhas ao ouvir o que a moça disse.— Eu?— Sim. Ele disse que se não houver aprovação da sua parte, os modelos não poderão ser desenvolvidos nem apresentados na pré-exposição — contou com ingenuidade.— Certo. E onde está o responsável designado para fazer isso? Aquele que decidimos na reunião? — Cruzei os braços já querendo gritar para ela não me encher com cois
— Você não está falando sério, não é? Você não pode ter transado com todas as mulheres que pertenciam aos homens que conviviam com você.Isso era totalmente inacreditável. Ele não podia estar falando sério! Por mais que no fundo eu não conseguisse duvidar de verdade de uma informação assim.Benedict suspirou pesado e continuou com cara de bosta.— Sim. Eu transei com a namorada do meu melhor amigo. E sim, eu sei que sou um otário.Por Loki! Nem o deus da trapaça era tão baixo.— Você já passou por um psiquiatra? Já pensou em fazer algum tratamento? Porque sinceramente, você deve ter problemas sérios relacionados à sexo com mulheres que pertencem a pessoas que se importam com você.Meu chefe lançou um olhar feio, repreendendo minha fala.Não abaixei a cabeça. Estava certa de que ele só podia ser doido. Outra explicação para fazer tanta merda não parecia existir.— Eu já disse várias vezes que tinha um caráter de merda no passado, o que não significa que acho lindo tudo o que já fiz
Depois de três dias andando em círculos eu tomei uma decisão.Usamos todos os números disponíveis na empresa para falar com Carl Terris, mas com nenhum deles tivemos êxito já que o homem se recusava a falar conosco. Então, tive que bolar um plano.Benedict tentou marcar uma reunião. Lauren tentou dez minutos do tempo do homem. Eu tentei uma frase. E nada. Ele não quis saber de nada referente à Hayans e à Calisto, então tive que apelar e usar meu lado mais persistente.Precisei entrar em contato com umas três pessoas para enfim saber onde Carl estava, e quando descobri que tinha uma reunião com possíveis investidores em um de seus hotéis, fui para a porta do estabelecimento o esperar.Ele tinha que dar uma chance ao meu chefe. Só uma. Nós precisávamos dela, não tinha como ser de outra forma.Fiquei parada por talvez duas horas, apenas aguardando o momento certo. Entrar no hotel não era o mais indicado visto que ele havia evitado até as minhas tentativas, então teria que aguardar
A tentativa de manter tudo em ordem na Calisto não estava tendo muito êxito. Nós tínhamos poucos dias para terminar os preparativos pois a pré-exposição aconteceria muito em breve. Era um evento importante, sempre foi desde que a tia de Benedict o fez ser memorável, então não podia deixar passar nenhum detalhe mal resolvido.Quando cheguei na empresa para dar a ótima notícia para Benedict, todos os presentes estavam na mesma correria de dias atrás, e aquela desordem me encheu de angústia. Contudo, colocaria ordem na bagunça depois que anunciasse minha conquista para meu chefe. Uma coisa de cada vez e então tudo ia se resolvendo.— Boa tarde, senhorita Lisbon — Lauren desejou, simpática.— Boa tarde! O Benedict ainda está aqui?— O dia em que ele sair cedo dessa empresa, algo de muito errado vai estar acontecendo. — Riu do fato. Eu também.Sem bater, abri a porta e encontrei meu chefe rodeado de papéis em cima da mesa, e cara de poucos amigos. Os olhos claros deixaram de encarar u
— É maravilhoso, Benedict! — Constatação óbvia. O que me preocupava é o que viria a seguir, porque eu sabia que tinha mais. — Pensei em colocar o diamante vermelho ao invés de outra gema... O que acha?Olhei para meu chefe pensando se ele estava ficando louco., mas no fundo, era muito óbvio que essa loucura ele ia cometer com gosto. Essa insanidade não me assustava tanto quanto eu aparentava.O meu pensamento era que, o diamante vermelho não poderia sair do cofre apenas para uma exposição. Toda a fama da Calisto era baseada nele, em uma das gemas mais caras e mais preciosas do mundo. Um dos diamantes mais raros de se encontrar. Tanto que autênticos, eram poucos existentes, e o mais bem avaliado do mundo pertencia à Benedict.Se ele anunciasse sobre a exposição do diamante, teríamos que triplicar a segurança e nos preparar para outra enxurrada de ofertas para a aquisição da jóia que ele jurou não vender nunca. Madson, sua tia materna, lhe deu apenas com a condição de que ele jam