Capítulo 02

Sem esperar mais, fui até o armário, peguei um dos casacos que estavam pendurados ali e o vesti por cima do conjunto de pijama cinza.

A calça não era lá tão fina e eu não tinha tempo para ficar me arrumando.

Não seria nada surpreendente afinal.

Não tinha essa frescura com meu chefe, tanto que estava indo até seu loft às quase quatro da manhã para só o acalmar.

As coisas entre nós eram naturais demais, mais do que profissionais.

Só percebi que saí dirigindo sem pegar meu celular quando já estava chegando na residência de Benedict.

Se o homem lá em casa tentasse contato comigo, não teria êxito.

No fim, não dei muita importância para isso, e sim para a situação do meu chefe quando enfim cheguei.

Bene estava sentado na frente da porta, onde disse que iria me esperar.

Suas mãos estavam enroscadas nos fios de cabelo um tanto quanto longos e escuros, sua cabeça curvada quase no meio de suas pernas e de longe pude notar a camisa desabotoada, com as mangas emboladas na altura dos cotovelos.

Depois de estacionar o carro de qualquer jeito, desci e caminhei com cautela até o homem que ainda parecia perdido demais em pensamentos.

Ao parar em sua frente, ele levantou o olhar e me observou sem dizer nada.

Estava realmente abatido, me fazendo sentir medo do que Tyler tinha em mãos que poderia destruir tudo.

Porque essa era a única justificativa.

Para tirar o controle de meu chefe, seu irmão teria que expor algum tipo de crime. Seria o único jeito.

— O que, exatamente, ele tem? O que pode tirar a Calisto de você? — Me abaixei ficando de cócoras para olhar diretamente nos olhos intensos.

Lindos olhos por sinal.

O homem piscou devagar, avaliou com lentidão todo meu rosto e depois de parar em um ponto específico - minha boca - desviou o olhar parecendo se dar conta de que cometeria um erro.

Sim, ele cometeria. Encarar demais não era algo válido.

— São coisas do passado. Nada que eu tenha feito agora. — Suspirou exausto. — Você sabe que estou andando na linha, que não sou uma pessoa ruim.

E não era mesmo.

Eu não conhecia o antigo Benedict Legard, que foi preso algumas vezes, que parecia irresponsável, que era comparado diversas vezes com seu tio Jason, e que traiu o irmão.

Quando cheguei na Calisto, Benedict era só Benedict.

Um homem bom para seu negócio e para seus funcionários.

Nunca me proporcionou dores de cabeça irreparáveis ou insuportáveis, não fez nada que seu pai pudesse se decepcionar, nem que fizesse sua mãe chorar.

Então não, seu passado não era relevante.

O que fez anos antes, não poderia definir tanto assim seu futuro.

Nós íamos dar um jeito, como sempre demos.

— Vou falar com ele e resolver isso bem rapidinho. Sabe que seu irmão quer tirar sua paz o tempo inteiro. Se ele tem algo tão ruim contra você, ele não vai soltar assim tão fácil e prejudicar todas as empresas envolvidas com o sobrenome Legard.

Bene riu com desgosto.

Olhou para os sapatos caros que usava, depois para o céu noturno que logo iria embora dando lugar ao sol.

— Eu quebrei meu irmão em mil pedacinhos, Hope... Hora ou outra ele faria o mesmo comigo.

— Pode até ser... Mas não agora. Não tão perto de um evento tão importante, nem mesmo usando a empresa para fazer isso.

Meu chefe me olhou com certo conforto, talvez se dando conta de que a preocupação foi à toa.

Tyler, no fundo, só estava precisando de uma grande ajuda mas como não tinha peito suficiente para pedir socorro, usava métodos mais agressivos.

Provavelmente um suborno viria a seguir. Conhecia bem o homem para reconhecer que usaria todas as armas possíveis nisso.

O que não dava para negar, no entanto, era que convocar uma reunião para tirar Benedict da diretoria, foi bem pesado.

Com certeza o irmão mais velho estava com problemas que, custava muito admitir, mas só meu chefe conseguiria ajudar.

E não, não seria a primeira vez.

— Vamos resolver isso juntos, certo? — perguntou baixinho.

— Eu estou aqui, não estou? — Sorri pequeno. — Às quatro da manhã, morrendo de sono, com uma dor de cabeça horrível, eu estou aqui. E se não fosse pra resolver essa questão em até vinte e quatro horas, seria perda de tempo, e você sabe como eu odeio coisas que me fazem perder tempo.

Ele enfim sorriu, se levantando e me fazendo o acompanhar no processo.

Parados frente a frente, constatei que éramos uma dupla incrível.

Eu sempre estava ali para Benedict e ele não pensava duas vezes quando eu precisava de sua ajuda.

Mas parados frente a frente, minha mente voou para meu apartamento, no décimo segundo andar do prédio, no meu lar e no meu colchão.

Ele não me perdoaria mais uma vez.

Meus horários flexíveis eram o maior motivo de nossas brigas, e se por acaso meu namorado acordasse para beber água durante a noite, não me encontraria lá nem voltaria novamente ao meu apartamento.

É, eu tinha uma vida simples mas gostava de complicá-la.

— Vamos entrar e descansar um pouco? — sugeriu. — Esse vai ser um longo dia e temos que estar preparados para falar como Tyler.

— Não teremos não. Apenas eu irei resolver essa situação, sem sua companhia. Porque tenho certeza que sua presença não vai ajudar em nada. Seu irmão só vai querer deixar as coisas piores.

Era um fato. Bene sabia que sim.

— Tudo bem, mas vamos entrar um pouco. Você já está aqui mesmo, e tem roupas suas lá dentro.

Dessa vez não foi muito um pedido, foi mais uma ordem.

Ele se virou e aproximou-se da porta tirando as chaves do bolso.

Até a visão daquele homem de costas era terrível.

Benedict tinha um rosto maravilhoso, olhos cativantes e uma boca que causava desejo em metade das funcionárias e funcionários da empresa.

Aqueles ombros largos só completavam sua beleza, e talvez fosse por isso que meu namorado tinha tanto ciúmes de me ver perto dele.

Insegurança.

Benedict Legard com certeza causava insegurança em meu namorado, no entanto, não havia nenhum motivo vindo da minha parte para isso.

Fidelidade era tudo o que eu mais prezava em um relacionamento.

Acompanhando Bene, entrei no loft e aguardei até que a porta estivesse fechada.

Tudo ali estava muito arrumado e cheiroso, denunciando que a funcionária que fazia a limpeza havia passado pelo imóvel mais cedo.

— Vou tomar um banho — informou ao deixar as chaves, carteira e celular, encima da mesa de centro na sala de estar. — A cama é toda sua se quiser.

Sem mais, subiu a escada e foi para o segundo piso onde se localizava o único quarto e um banheiro.

No piso inferior, onde só havia a grande sala, uma cozinha, e um lavabo, caminhei até o sofá de veludo preto, tirei o casaco e pantufas deixando meu corpo despencar no estofado macio em seguida.

Tinha pouquíssimo tempo para descansar, e faria isso antes de bolar um plano para convencer Tyler a não continuar com a tentativa de tomar a Calisto de seu irmão.

O único problema, foi que eu não sabia e muito menos imaginava até onde esse plano chegaria, e quais seriam as enormes consequências dele.

Afinal, era Tyler Legard, e ele sim poderia ser descrito como um um homem mau.

Lindo, poderoso, egocêntrico, e mau.

Capítulos gratis disponibles en la App >

Capítulos relacionados

Último capítulo