Capítulo 05

"Vou me atrasar. Tenha paciência." Foi a mensagem que enviei para Benedict.

E que ele tivesse muita paciência.

Fazia quarenta minutos que eu estava do outro lado da cidade, na empresa de Tyler, apenas esperando que ele me atendesse.

O único jeito de resolver as coisas de forma rápida, era fazer tudo com agilidade e sem enrolação. Tyler tinha que ser colocado contra a parede para que eu começasse a agir e impedir que a diretoria fosse tirada de Benedict.

Não que isso fosse uma ameaça real, porém, nem mesmo riscos nós deveríamos correr.

Permaneci batendo os saltos no piso brilhante enquanto aguardava ser chamada.

Além de ser um idiota de patente maior, Tyler me fez esperar por ele na recepção, como se eu fosse qualquer pessoa.

E no caso, deveria dar mais valor visto que quem estava prestes a resolver seu problema era eu.

Mas não. Com o homem tudo era uma grande brincadeira quando ele queria.

Podia ser muito competente como CEO, mas como pessoa ele não me agradava.

— Senhorita Lisbon, ele te espera na sala de reuniões — Gwen, a linda secretária, falou de modo amigável, sorrindo simpática como sempre.

Agradeci apenas com um aceno de cabeça e apressei meus passos para chegar até a famosa sala da Revista Hayans.

Que tudo ali era deslumbrante eu sabia, mas a sala de reuniões tinha um charme a mais.

Ao entrar sem nem bater, vi o homem parado de costas para mim e de frente para a paisagem da cidade.

Tyler tinha os braços cruzados rente ao peito e a postura de dono da porra toda estava ali.

Bem típico da maioria dos Legards. Todos eles tinham a imponência exalando de seus poros.

— Achei que você não viria — disse, se virando para enfim me dar o vislumbre de seu lindo rosto.

Bati a porta pesada para nos manter fechados e sozinhos.

Respirei fundo e me preparei para lidar com ele.

Fácil nunca era.

O sorriso debochado de Tyler era parecido ao extremo com o de Bene.

Os dois eram a fuça um do outro. A única coisa que os distinguia por completo era a personalidade, e as tatuagens.

E claro, nos sorrisos do mais velho eu sempre conseguia ver um pingo de malícia, onde nos de Bene eram cordialidade.

— Me diga logo o que você tem, e o que você quer. — Fui direta, sem formalidades ou educação.

Tyler aumentou o sorriso e deu alguns poucos passos para se aproximar da enorme mesa no centro da sala.

— É por isso que o Benedict não te trocaria por nada. Você é durona, e ele ama mulheres que não abaixam a cabeça para ninguém. — Colocou os dedos sobre uma pasta que estava sobre a mesa e praticamente a arremessou, fazendo-a deslizar até a ponta contrária do móvel, onde eu estava.

Não me importei com sua fala. Ignorei como fazia com quase tudo o que ele dizia.

Peguei a pasta preta e a abri para ver seu conteúdo e entender a gravidade das coisas.

Algumas fotos eram o que tinha ali.

Fotos de Bene com o cabelo longo passando dos ombros, sentado em uma poltrona vermelha enquanto duas garotas estavam ao seu lado o beijando no pescoço e mais uma, abaixada entre suas pernas.

Não haveria nada demais naquilo além de um tipo de sexo grupal, se...

— Quantos anos elas tinham? — perguntei baixinho.

— Dezesseis... As três.

Porra!

Podiam ser fotos antigas, o que não mudava o fato de ter uma menina de dezesseis anos fazendo sexo oral em um cara maior de idade e alguns péssimos anos mais velho.

Um cara com sobrenome de peso e uma responsabilidade mais pesada ainda.

Merda.

Por que é que Benedict nunca conseguiu segurar o pau dentro das calças?

— Idiota — resmunguei enquanto via que a cada foto as coisas iam piorando.

Bene transou com as três garotas, tive essa confirmação pelos registros fotográficos, e isso seria realmente péssimo se fosse descoberto pela mídia, ou até mesmo só pela mãe deles.

Chloe Clinton não era uma mulher fácil, nem mesmo tolerava coisas do tipo.

— Tantas mulheres no mundo e ele foi logo escolher as que não eram pra ele — falou mais recordando coisas do passado dos dois, do que se referindo às meninas menores de idade.

Suspirei, guardando todo aquele material pornográfico na pasta.

Voltei meu olhar para Tyler e ele gesticulou para que eu me sentasse junto a ele.

Não queria, mas fiz porque teria que negociar.

— O que você quer que ele faça para não divulgar isso?

Direta. Com Tyler, sempre.

— É algo muito simples. — Sorriu tranquilo. — Carl Terris me proibiu, judicialmente, de publicar qualquer coisa sobre ele na minha revista.

— Ele fez isso porque você publicou mentiras que poderiam ter destruído o império dele — lembrei.

— O responsável por publicar aquela notícia já foi demitido e punido. Não foi minha culpa por completo — justificou. — Agora, pensa comigo... O Carl é um dos homens mais bem sucedidos do mundo e eu não posso falar nada sobre ele na Hayans. Tem noção de quanto isso é prejudicial à nós?

— Nós? — questionei em tom de divertimento. — Por que quando você precisa de ajuda, a sua empresa passa a fazer parte do conjunto como um todo?

— Porque ela interfere no status e no financeiro de todas as outras — disse calmo.

Certo. Isso não era uma mentira.

— E o que seu irmão tem a ver com isso?

— O Benedict — frisou o nome, não aceitando a palavra "irmão" —, foi melhor amigo do Carl na universidade. Então, quero que ele convença o amigo a permitir que a Hayans volte a publicar coisas sobre ele, e sobre a empresa dele.

Só isso?

— Sério? Você convocou uma reunião para tentar tirar o cargo do Benedict, só pra ele ter uma conversa com um melhor amigo? — perguntei desconfiada. — Por que é que não acredito em você?

— Sobre a reunião... eu sinceramente, acho que o Benedict não está dando conta de conduzir a Calisto. E eu sei que você vai dizer que não estou lá vendo todo o esforço do meu querido irmão, mas ainda assim continuo pensando que o Benedict não vai ser suficiente para o que a diretoria de lá exige.

O modo como Tyler falou, não foi falso ou provocativo.

Ele parecia estar preocupado de verdade com o futuro da empresa, e eu concordei por dois segundos.

— Só vamos começar a agir se você retirar esse pedido de reunião e confessar que fez essa convocação apenas para provocar o Benedict. Caso contrário, vocês dois vão falir todos os negócios e decepcionar os seus pais. Por que acredite em mim, só vou entrar nesse seu joguinho se eu puder agir segura por conta própria. Essas fotos já são uma arma mirada para a minha cabeça até o fim do jogo. E só isso. Desfaça essa coisa de tomar a diretoria, e então começamos a te ajudar.

Relaxei o corpo e a postura depois de soltar as palavras e Tyler sorriu satisfeito.

— Tudo bem. Vou dar um jeito nisso. Mas vocês têm só duas semanas para convencer o Carl, porque a Hayans tem que publicar tudo sobre a festa anual que ele e a mulher dão. Aquilo é um dos maiores eventos do ano para a alta sociedade, e a Hayans tem que ter total acesso à ele.

Claro! O jantar anual para os casais mais famosos e ricos do país.

Famosos não nas telinhas do cinema ou no mundo da música, apesar de também tê-los lá, mas famosos no ramo dos outros negócios.

Era "O" evento, e tinha todas as revistas do país querendo cobrir.

— Assim que tivermos a confirmação, te aviso. — Me levantei, pegando a pasta para levá-la comigo, mesmo sabendo que ele tinha outras mil cópias daquelas fotos.

Tyler também se levantou e aproximou-se em passos lentos e calmos.

— Sabe, ainda acho que você não deveria trabalhar com o Benedict, e sim comigo. Tenho certeza que seríamos uma dupla muito melhor.

— Agradeço a milésima proposta de emprego, mas estou bem ao lado do seu irmão, e não é porque ele te traiu, que eu vou trair ele com você.

Tyler sorriu, mas dessa vez havia uma certa tristeza.

Talvez eu não devesse entrar em assuntos que não me diziam respeito.

— Você é boa demais para alguém como ele. Só espero que perceba isso antes que ele destrua e acabe com você, como fez com todas as outras pessoas que passaram pela vida dele.

Revirei os olhos e sem nem me despedir, saí da sala de reuniões deixando o idiota falando com as paredes.

Tínhamos até um bom tempo para resolver a situação de Tyler, mas quanto mais rápido fizéssemos, melhor.

Com passos rápidos fui em direção ao elevador e antes que apertasse o botão para chamá-lo até o andar, a porta se abriu revelando o lindo homem que me deixou sozinha mais cedo.

Josh arregalou os olhos e ficou um tanto constrangido.

Depois, olhou para a pasta em minhas mãos e voltou a encarar meu rosto, confuso.

Frequentar a Hayans não era algo que eu fazia nem quando ainda éramos namorados.

A porta ameaçou fechar e nós dois colocamos o braço juntos para impedir.

Meu ex namorado então saiu, passando ao meu lado quase tocando seu corpo no meu, e eu entrei, apertando o "T" para chegar ao térreo e sair da empresa o mais rápido possível.

Antes que a porta se fechasse por completo, o homem me olhou por cima dos ombros uma última vez.

Eu quase deixei que algumas lágrimas caíssem, mas Josh fez uma escolha para sua vida dali em diante, e eu não estaria mais nela.

Sendo assim, engoliria toda a dor no peito e daria prosseguimento à minha vida também sem ele.

Dentre todas as escolhas que poderia fazer, escolhi permanecer na Calisto, ao lado de Benedict, tendo meu sucesso profissional e minha total independência sem precisar de homem nenhum.

Como sempre foi.

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