Dirigi até meu apartamento em tempo recorde, e ao chegar, me deparei com algo que não pensei em ver jamais.
Meu estômago doeu e não foi só pela fome.Um medo e um incômodo se fez presente quando meus olhos viram aquilo.O homem de cabelos claros e corpo atlético estava com duas caixas grandes cheias perto de si, uma delas ainda aberta sobre a mesa da cozinha enquanto ele terminava de guardar uma de suas jaquetas preferidas ali.— O que está fazendo? — Bati a porta forte para que notasse minha presença na sala.Meu namorado me olhou com aparente desprezo, quase fazendo uma ânsia de vômito ao me ver.Ele voltou sua atenção para a caixa e se empenhou em fechá-la, fingindo que eu não estava me juntando a ele em nosso apartamento.Fingindo que minha existência não tinha importância alguma.Ah, mas ele não ia agir dessa forma comigo. Não mesmo!— Josh, por que está arrumando suas coisas? Eu só estava trabalhando, você sabe disso, sabe que não tem motivos pra ir embora — continuei com os argumentos óbvios.Caminhei até ele um tanto agitada, tentando tocar suas mãos para pará-lo mas o homem se afastou antes que eu o tocasse.Seus braços praticamente foram levantados para o alto, apenas para que eu não fosse capaz de lhe tocar.Filho da puta!— Trabalhando, Hope? — riu com desgosto. — Você saiu às três e trinta sete para se encontrar com seu chefe, sem me dizer nada, sem me dar nenhum tipo de explicação, só me deixando sozinho mais uma vez nesse apartamento. De madrugada, Hope. Para se encontrar com Benedict Legard, o cara mais sacana que eu já conheci. Quer que eu acredite que você estava trabalhando?Joshua quase chorou ao proferir as palavras.Estava mal, e estava convicto.Isso me machucou, porque sabia que estava machucando ele também.Quis dizer qualquer coisa para confortar e contrariar seus pensamentos, mas ele tinha razão em estar chateado.Eu tinha errado, mais uma vez.E não deveria culpar ninguém, mas os Legards e seus problemas agora se faziam o MEU maior problema.— Você precisa confiar em mim. Estávamos só trabalhando. Qual é a dificuldade em acreditar? — Quase me ajoelhei para clamar por um pingo de confiança.— Confiar em você? — Balançou a cabeça em negação e continuou com seu riso de desgosto. — Tudo que vem fazendo nesses últimos meses é mentir pra mim, esconder as coisas, e me trocar pelo Benedict. Você prefere estar com ele a estar com seu parceiro... Confiança é tudo que você destruiu entre nós.Não! Trabalhar com Bene não poderia ser a mesma coisa que destruir confiança.Não tinha nada a ver.— Está me culpando por você permanecer distante durante vinte dias do mês e nunca estar disposto a fazer o que eu quero? — Paciência começou a evaporar.Josh não tinha esse direito enorme de fechar os olhos para tudo ao redor.Novamente dizendo, ninguém deveria levar culpa, mas eram situações e situações.Tudo deveria ser colocado na balança. Não só os meus passos em falso.— Está dizendo que fica com o Benedict porque ele faz as coisas que você quer? — respondeu, questionando com certo nojo na voz.Abri a boca e pensei em responder várias coisas.Ele estava totalmente errado e enganado sobre o "ficar" com Benedict.Nós trabalhávamos juntos, e só isso.Tentar insinuar qualquer outra coisa era super injusto. Joshua não poderia ser tão baixo a ponto de questionar minha fidelidade.Bom, ele conseguiu atingir um ponto complicado.Agora, infelizmente, teríamos que lidar com minha raiva.— Eu estou dizendo que tem razão em ir embora daqui — proferi palavras que me quebraram inteira. — Se não pode confiar na sua própria mulher, então não merece nem sequer o meu respeito. Porque se você acha que eu seria capaz de te trair com o meu chefe, então você não é mais o homem que eu conheci e que amei.Foi difícil dizer cada letra que formaram as palavras, dando vida e voz às falas, mas foi proferido em bom som.Josh pareceu sentir bem o peso do que eu disse, e pareceu refletir sobre.— Eu não posso competir com alguém como ele. — Tentou de modo inútil justificar.— Isso não é uma competição e eu não sou um tipo de prêmio... Se é o que você quer, então vá embora agora e faça todo o possível para não retornar à minha vida. Porque você sabe que não sou alguém que gosta de segundas chances.Eu não fiquei ali.Não fiquei esperando uma resposta ou um ato de retrocesso.Se era o que Joshua queria, então não seria eu quem o impediria de fazer.Estava exausta de continuar com a desconfiança, mas o que mais me incomodou foi saber que ele me via como um objeto a ser disputado.Não era assim.Bene nem sequer me olhava de tal modo.Como então Josh poderia imaginar que meu chefe tomaria seu lugar?O que fiz a seguir foi tomar um banho, colocar um terno e sair do quarto.Joshua e suas coisas não estavam ali quando apareci na sala, só o seu cheiro ainda permaneceu no ambiente.Por uma última vez, puxei o ar mais forte e me recordei dos bons momentos que tivemos juntos.Última vez.Peguei a chave do carro e de minha sala na empresa, saindo logo de casa para não me atrasar.Por dentro, tudo parecia começar a desmoronar.Por fora, eu era Hope Lisbon, uma mulher imbatível e inabalável, que daria um jeito em Tyler Legard antes que ele fizesse merdas que não tinham nada a ver com minha vida pessoal, mas que a afetava muito.Era hora de bater de frente com um dos meus maiores pesadelos, além da minha mãe, e tinha que estar com a cabeça no lugar para não me deixar levar pelo jeito de Tyler.Ele que não tentasse acabar com o que restou da minha pouca paciência.Não ia gostar de me ver mais irritada do que eu já estava."Vou me atrasar. Tenha paciência." Foi a mensagem que enviei para Benedict.E que ele tivesse muita paciência.Fazia quarenta minutos que eu estava do outro lado da cidade, na empresa de Tyler, apenas esperando que ele me atendesse.O único jeito de resolver as coisas de forma rápida, era fazer tudo com agilidade e sem enrolação. Tyler tinha que ser colocado contra a parede para que eu começasse a agir e impedir que a diretoria fosse tirada de Benedict.Não que isso fosse uma ameaça real, porém, nem mesmo riscos nós deveríamos correr.Permaneci batendo os saltos no piso brilhante enquanto aguardava ser chamada. Além de ser um idiota de patente maior, Tyler me fez esperar por ele na recepção, como se eu fosse qualquer pessoa. E no caso, deveria dar mais valor visto que quem estava prestes a resolver seu problema era eu.Mas não. Com o homem tudo era uma grande brincadeira quando ele queria. Podia ser muito competente como CEO, mas como pessoa ele não me agradava.— Senhorita Lisbon,
Caos.A sede das Joalherias Calisto estava um caos.Havia tantas pessoas circulando pelo andar principal que eu quase não consegui chegar no setor desejado. O gestor, o diretor, toda a assessoria, os designers, e todo o marketing estavam caminhando de um lado para o outro, com papéis nas mãos, com caixinhas que portavam jóias, e com mais mil coisas que eu nem sequer gostaria de pensar.A pré-exposição daria um trabalhão, podia sentir isso logo de cara.— Ah, Hope. Aí está você! — Carly se aproximou com um bocado de papéis. — Os novos designs chegaram e o Benedict disse que você precisa aprovar cada um deles.Franzi as sobrancelhas ao ouvir o que a moça disse.— Eu?— Sim. Ele disse que se não houver aprovação da sua parte, os modelos não poderão ser desenvolvidos nem apresentados na pré-exposição — contou com ingenuidade.— Certo. E onde está o responsável designado para fazer isso? Aquele que decidimos na reunião? — Cruzei os braços já querendo gritar para ela não me encher com cois
— Você não está falando sério, não é? Você não pode ter transado com todas as mulheres que pertenciam aos homens que conviviam com você.Isso era totalmente inacreditável. Ele não podia estar falando sério! Por mais que no fundo eu não conseguisse duvidar de verdade de uma informação assim.Benedict suspirou pesado e continuou com cara de bosta.— Sim. Eu transei com a namorada do meu melhor amigo. E sim, eu sei que sou um otário.Por Loki! Nem o deus da trapaça era tão baixo.— Você já passou por um psiquiatra? Já pensou em fazer algum tratamento? Porque sinceramente, você deve ter problemas sérios relacionados à sexo com mulheres que pertencem a pessoas que se importam com você.Meu chefe lançou um olhar feio, repreendendo minha fala.Não abaixei a cabeça. Estava certa de que ele só podia ser doido. Outra explicação para fazer tanta merda não parecia existir.— Eu já disse várias vezes que tinha um caráter de merda no passado, o que não significa que acho lindo tudo o que já fiz
Depois de três dias andando em círculos eu tomei uma decisão.Usamos todos os números disponíveis na empresa para falar com Carl Terris, mas com nenhum deles tivemos êxito já que o homem se recusava a falar conosco. Então, tive que bolar um plano.Benedict tentou marcar uma reunião. Lauren tentou dez minutos do tempo do homem. Eu tentei uma frase. E nada. Ele não quis saber de nada referente à Hayans e à Calisto, então tive que apelar e usar meu lado mais persistente.Precisei entrar em contato com umas três pessoas para enfim saber onde Carl estava, e quando descobri que tinha uma reunião com possíveis investidores em um de seus hotéis, fui para a porta do estabelecimento o esperar.Ele tinha que dar uma chance ao meu chefe. Só uma. Nós precisávamos dela, não tinha como ser de outra forma.Fiquei parada por talvez duas horas, apenas aguardando o momento certo. Entrar no hotel não era o mais indicado visto que ele havia evitado até as minhas tentativas, então teria que aguardar
A tentativa de manter tudo em ordem na Calisto não estava tendo muito êxito. Nós tínhamos poucos dias para terminar os preparativos pois a pré-exposição aconteceria muito em breve. Era um evento importante, sempre foi desde que a tia de Benedict o fez ser memorável, então não podia deixar passar nenhum detalhe mal resolvido.Quando cheguei na empresa para dar a ótima notícia para Benedict, todos os presentes estavam na mesma correria de dias atrás, e aquela desordem me encheu de angústia. Contudo, colocaria ordem na bagunça depois que anunciasse minha conquista para meu chefe. Uma coisa de cada vez e então tudo ia se resolvendo.— Boa tarde, senhorita Lisbon — Lauren desejou, simpática.— Boa tarde! O Benedict ainda está aqui?— O dia em que ele sair cedo dessa empresa, algo de muito errado vai estar acontecendo. — Riu do fato. Eu também.Sem bater, abri a porta e encontrei meu chefe rodeado de papéis em cima da mesa, e cara de poucos amigos. Os olhos claros deixaram de encarar u
— É maravilhoso, Benedict! — Constatação óbvia. O que me preocupava é o que viria a seguir, porque eu sabia que tinha mais. — Pensei em colocar o diamante vermelho ao invés de outra gema... O que acha?Olhei para meu chefe pensando se ele estava ficando louco., mas no fundo, era muito óbvio que essa loucura ele ia cometer com gosto. Essa insanidade não me assustava tanto quanto eu aparentava.O meu pensamento era que, o diamante vermelho não poderia sair do cofre apenas para uma exposição. Toda a fama da Calisto era baseada nele, em uma das gemas mais caras e mais preciosas do mundo. Um dos diamantes mais raros de se encontrar. Tanto que autênticos, eram poucos existentes, e o mais bem avaliado do mundo pertencia à Benedict.Se ele anunciasse sobre a exposição do diamante, teríamos que triplicar a segurança e nos preparar para outra enxurrada de ofertas para a aquisição da jóia que ele jurou não vender nunca. Madson, sua tia materna, lhe deu apenas com a condição de que ele jam
Se você tem alguém a quem chama de melhor amiga, precisa entender que se quiser apenas respirar, tem que contar a ela.Eu não contei. Não disse nada sobre o término com Joshua há dias atrás e não falei sobre a bagunça que estava minha vida. Isso foi motivo de um surto, de irritação, de gritos histéricos, mas também de alegria. Até porque, Arti odiava meu ex e nunca escondeu isso. Não tinha um motivo sólido para esse tal ódio existir então eu pensava ser apenas por ciúmes de mim.Não tinha como negar que após Josh entrar na minha vida, passei a ficar mais tempo longe da minha melhor amiga. Acontece. O tempo dele era limitado e o meu também, juntando isso, eu tinha pouco tempo para quem realmente importava.— E então ele disse que não confiava em mim, e sendo sincera, se ele não tinha logo a porra da confiança então que fosse pra casa do caralho com aquele jeito todo amoroso e aquela boca maravilhosa. — Deixei o corpo cair no sofá em um completo desânimo e óbvio que Arti notou.— V
Ri do argumento usado por Arti mas fiz isso sem muita emoção, visto que, se alguma coisa saísse fora dos eixos, eu realmente seria uma sem teto. E pior, teria que tirar o sustento de não sei aonde para me manter estável e também, manter minha mãe o mais longe possível. Não tinha o direito de sequer me dar ao luxo de perder o emprego. — Podemos marcar alguma coisa para depois da exposição? — perguntei já saindo à procura da minha bolsa.— Só se você me der um convite especial para a degustação — disse referindo-se ao evento próximo.— Está reservado desde o início — informei o óbvio. Era claro que eu não deixaria minha amiga de fora do evento que eu ajudei cinquenta por cento a realizar. — Nos vemos em breve!Capturei a bolsa em cima da mesa e sem muita enrolação, voltei até Arti, dei um beijo em sua testa e me apressei para sair. Tinha pouco tempo e muita coisa para pensar. Os saltos voltaram a torturar meus pés, o batom voltou a pintar meus lábios, e o beijo que minha amiga jogo