Capítulo 3 Naja

“Água benta não pode te ajudar

Mil exércitos não podem me impedir de entrar

Eu não quero seu dinheiro, eu não quero sua coroa Eu vim para incendiar o seu reino”

O jantar em família havia se tornado um verdadeiro desastre. Liguei

o som enquanto dirigia pela orla do Guaíba. O Maserati preto atraía os olhares dos corredores noturnos, que se exercitavam por ali.

— Sail, Awolnation — disse em voz alta, ativando o Napster por

comando de voz.

"Isso ainda irá se complicar muito mais, Beto pode pensar que tem

o controle de toda situação, mas a verdade é que Emma já estava

decidida", pensei, me lembrando de minha mãe ignorando o surto de Beto

e levando as crianças para a sala. Eu admirava a personalidade de minha

mãe, podia compará-la a um imenso lago com águas turvas e

aparentemente calmas, mas um passo em falso e seria tragado

facilmente, sem volta. Beto, exatamente o oposto, tempestuoso e

inconstante, a ilusão do controle era sua arma mais poderosa e por mais que estivessem casados a quarenta anos ele não poderia admitir, era orgulhoso de mais...

***

— Eu cuidarei de Beto, o senhor pode descansar, ficarei ao seu

lado — confortou Emma enquanto segurava delicadamente a mão do

sogro. — Acha que irei permitir que dilapide o único patrimônio que ainda

lhe resta? Demorou quase um ano, mas os chás que a judia imunda lhe

trazia eram especiais, querido sogro. Nunca mais abrirá essa boca podre

para humilhar mais ninguém. Beto se formará este ano, é uma bênção

que não estará lá para tripudiar, lamentar o casamento de seu único filho

com uma judia. Iremos embora dessa terra m*****a.

Os olhos de Hugh ainda estavam perdidos em um vazio, alheios às

confissões da nora, que sorria. Emma olhou em seu relógio de pulso,

faltavam poucos minutos para que Beto chegasse.

— Com sua licença irei preparar o jantar para o seu filho.

Emma usava um vestido branco na altura dos joelhos e sapatilhas

da mesma cor, seus cabelos quase negros estavam presos em um coque

bem alinhado. Passou a mão sobre a roupa e conferiu seu reflexo no

espelho ao lado da cama do sogro.

A mesa foi posta para duas pessoas com ovos mexidos e bacon

frito crocante, como seu querido Beto gostava. Ela sentou em uma poltrona na sala de estar, ao lado da janela e apanhou a Bíblia. "Essa é uma ficção maravilhosa", pensou e sorriu ao abrir em uma página sobre o Apocalipse. O som de um carro atraiu sua atenção, ela espiou pela cortina, não era o opala cinza de Beto, mas sim uma Maverick preta, dirigida por uma jovem loira com cabelo chanel, usando uma blusa justa marcando o contorno dos seios. Beto estava ao seu lado, rindo como uma criança.

Emma desabou na poltrona como se levasse um golpe físico,

sentiu o peito apertado, cobriu o rosto com as mãos trêmulas,

envergonhada e irada. Sua vontade era ir até lá e confrontá-los. Como

você pode, procurando alguém para agradar aos gostos de seu querido

papai? Sentiu os olhos marejados. Olhou, mais uma vez, no relógio,

cronometrando quanto tempo ficariam ali. Filho da mãe, eu me sacrifico

por nós e é isso que recebo? Ele saiu do carro ainda sorrindo, carregava o

blazer em uma mão e a pasta na outra.

Por que ele está sem casaco? Já haviam se passado cinco

minutos. A jovem loira acenou e seguiu em frente. Beto atravessou a rua e

destrancou a cerca de madeira.

"Controle", pensou ela, correu em direção à porta e abriu para o

noivo, surpreendendo-o, que sorria ao vê-la se aproximar. Emma foi ao

seu encontro, atirando-se em seus braços.

— Ah, que saudade, estas semanas se arrastaram! — resmungou

ainda agarrada em seu peito.

— É verdade, mas foram por uma boa causa. Com papai em casa

preciso me dedicar ao curso e a farmácia.

Beto jogou o casaco no ombro e entraram de mãos dadas em

casa. — Hum, comida feita, casa arrumada, sinto como se já fôssemos

casados — elogiou, a beijando na testa. — E como está papai?

Sentaram-se à mesa, ela serviu uma porção generosa de comida e

um copo de suco natural de laranja, extremamente gelado.

— Ele está muito melhor, essa semana despertou, conversamos, o

ajudei a se levantar algumas vezes para que pegasse sol. Ele dormiu há

poucos minutos — respondeu com o rosto apoiado sobre as mãos, atenta

aos movimentos de Beto. A camisa que ele usava estava com o primeiro

botão aberto e a gravata grafite com o nó mais frouxo.

Ao final da refeição, ele estava satisfeito, espreguiçou-se na

cadeira e bocejou.

— Vou subir e tomar um banho. À noite, se você quiser, podemos

sair e ir no cinema, no caminho passei pelo drive-in e havia um pôster do

novo lançamento Tubarão, daquele diretor que você gosta. Spielberg

alguma coisa.

— Steven Spielberg — ela corrigiu, enquanto retirava os pratos. —

Mas acho melhor você descansar hoje. Pode subir, que já levo suas

roupas e toalhas.

Beto levantou e roçou a mão nos ombros da noiva.

— Como você está gelada, está se sentindo bem?

Ela assentiu, encarando-o, seus olhos verdes eram

desconcertantes, “Por quê?”, pensou tentando não demonstrar sua

irritação. “Você é meu até o fim e hoje saberá disso”. Ela o observou subir

as escadas e entrar no banheiro, ao vê-lo fechar a porta foi até o bar e

serviu uma dose de whisky, sentiu a bebida descer como fogo pela

garganta, forte e amargo. Assim que seu corpo aquiesceu, serviu o copo,mais uma vez, até a borda, bebendo em seguida. Sedenta, aquilo serviria momentaneamente para anestesiar sua ira.

Emma foi até o quarto do sogro. À primeira vista, ele parecia estar

olhando para ela e sorrindo. Judia imunda, acha que meu filho irá se casar

com você, aquela loira irá tomar seu lugar em breve. A voz trêmula e

debochada do sogro invadiu sua mente.

— Calado! — ordenou entredentes, mordeu o lábio com força, mas

não sentiu dor alguma, enquanto sentiu o sangue descer pelo canto do

lábio. — Deixe-me arrumar seu travesseiro, para que possa ficar mais

confortável. Apanhou uma almofada florida que adornava a poltrona ao

lado da cama e posicionou sobre o rosto do sogro, depois pressionou com

força, o corpo fraco de Beto estremeceu, seus dedos esticaram-se, ele

estava em agonia e, por fim, a resistência cessou. — Diga um olá para a

Besta quando chegar no seu inferno — sussurrou em seu ouvido, então

largou a almofada no mesmo lugar.

— Amor, a toalha! — gritou o noivo ainda no banheiro.

Hora do óbito, vinte horas. Conferiu no relógio e saiu. Em uma

cômoda de mogno ao lado da porta do banheiro, algumas pilhas de

toalhas estavam organizadas em rolo, apanhou uma e entregou ao noivo,

que lhe entregou a pilha de roupas sujas em um cesto pequeno cesto de

vime.

— Obrigado, querida — agradeceu fechando a porta.

Emma segurou o cesto com a mão esquerda, enquanto revirou as

roupas, até encontrar a camisa de linho, ela aproximou-a do rosto, e

inspirou. Aquele odor almiscarado causou lhe náuseas. Largou a camisa

no mesmo instante e apanhou a gravata, com passos firmes o aguardou

no quarto ao lado da cama.

Beto entrou no quarto, enrolado na toalha preta, seu corpo esguio,

ainda molhado do banho, os cabelos loiros penteados para trás, inegavelmente atraente.

— Deite-se, por favor. Vou aproveitar que está com o corpo fresco

para uma massagem relaxante. — Sua voz era calma, e doce, mas ainda

segurava a gravata nas mãos.

Beto concordou de imediato.

— Li muito essa semana que esteve trabalhando e estudando... O

corpo humano é uma máquina realmente perfeita, sabia? Me fascina.

Tudo interligado — explicava ela ajoelhando-se sobre o colchão e

erguendo os braços do noivo acima da cabeça. — Dependendo dos

pontos que forem estimulados, os reflexos irradiam-se pelo corpo inteiro.

É por isso que ficará assim, imobilizado.

Ele ouvia cada palavra ainda confuso com as intenções da noiva.

Conferiu antes de descer da cama que o nó estava firme e os

pulsos presos. Parou ao lado da cômoda e começou a desabotoar o

vestido. Arremessou-o contra o rosto dele e sorriu.

— Esta é sua cor preferida, certo? — indagou exibindo a nova

lingerie preta.

Ele sorriu. Emma virou-se de costas, apanhou o cinto e um frasco

sobre o móvel, pousou o cinto sobre a cama e subiu sobre Beto, abriu o

frasco de vidro vermelho e derramou algumas gotas perfumadas do óleo

sobre o corpo, o abdômen se contraiu, pingou mais algumas gotas sobre

os braços e peitoral, então iniciou a massagem com movimentos firmes,

porém delicados, a essência de morango inundou o quarto à medida que

ela o acariciava.

— Hum... isto é maravilhoso — gemeu ele. — Por que você não me

solta para que eu possa te massagear também?

— Shhh! — Gesticulou com o indicador. — Seja obediente e abra a

boca.

Mais uma vez, ele obedeceu divertindo-se com a dominatrix à sua

frente. Com delicadeza amordaçou-o com o vestido, abafando qualquer

som que ele tentasse emitir. Ainda montada, sentiu seu membro mais

rígido debaixo da toalha. Afastou-se para o lado e descobriu-o, ereto e

firme como ela o sentira, acariciou seus testículos com as unhas com

leves arranhões.

Aquilo o estava enlouquecendo, ela jamais havia visto aquele brilho

intenso em seu olhar. No final das contas tudo se resumia a sexo, mas

sexo nada tinha a ver com amor e sexo, era sobre poder.

— O primeiro beijo. — Anunciou enquanto segurava o membro com

firmeza pela primeira vez. — Você é meu, não é?

Beto balançou a cabeça em sinal de afirmação. Satisfeita com a

resposta, iniciou beijos em sua virilha até chegar ao rígido membro, o óleo

que usara para massageá-lo havia deixado um leve sabor de morango. O

“beijo” intenso foi delicioso, até senti-lo duro em seus lábios, a ponto de

não aguentar. Sentindo que ele estava prestes a gozar, ela interrompeu o

beijo e montou novamente sobre ele, o cinto de couro marrom estava em

suas mãos.

— Minha primeira vez será muito especial, certo, querido, vai ser

gentil comigo? — indagou enquanto posicionava a ponta do grosso

membro pela lateral da calcinha, esfregando em seu sexo úmido e macio.

— Sente como eu o quero?

Novamente, ele concordou freneticamente. Tão excitada quanto

ele, a tortura começou, ele precisava aprender. Emma dobrou o cinto segurando-o pelas pontas e com um movimento rápido desferiu a primeira cintada em seu peito, marcas vermelhas subiram sob a pele instantaneamente.

— Eu o desejo, quero que me invada e me possua por completo,

serei sua se jurares que será somente meu — confessou enquanto

posicionava o cinto em volta do pescoço de Beto passando uma das

pontas pela fivela, satisfeita com a coleira improvisada, tirou de sua boca

parte do vestido que ainda o amordaçava.

— Eu juro — implorou.

Extasiada com sua submissão, ela permitiu que ele a penetrasse,

seu membro grosso deslizou lentamente pela quente e molhada entrada

apertada. Ela ditou o ritmo, iniciando um movimento lento e constante, à

medida que a dor cessou ela aumentou a intensidade e força enquanto o

sufocava com o cinto, em um êxtase enlouquecedor gozaram juntos.

Emma afrouxou o cinto e deitou-se ao lado de Beto, que sorria satisfeito.

Na manhã seguinte, o dia amanheceu chuvoso e abafado, Beto

despertou com o som do granizo caindo sobre o telhado, Emma ainda

dormia tranquilamente ao seu lado. Afastou uma pequena mecha do

cabelo que caía sobre o rosto. Veio-lhe à mente a primeira vez que se

conheceram...

Beto decidira abrir a farmácia no primeiro dia do ano, mesmo seu

pai insistindo que seria apenas correr riscos desnecessários, pois mesmo

vivendo em uma cidade pacata, aquele não era um dos melhores bairros

do Maine. Quase tudo correu como seu pai previra, nem sequer uma alma

passou pelo local, durante horas ele ficou ali imerso no último adeus a

Sherlock Holmes, livro que ganhara de Natal de sua mãe.

Emma entrou às pressas, assustada, olhando para trás vendo se

não havia sido seguida, suas mãos estavam trêmulas.— Me ajude, por favor. — Soluçou ela. — Eles tentaram... — Mas

não conseguia continuar a frase. Cobria os seios com os braços na frente do corpo, parte de seu vestido havia sido rasgado, deixando à mostra um sutiã rosa claro.

De imediato, o jovem tirou o jaleco branco e a cobriu, foi até a

porta, mas já não havia ninguém na rua.

— Tudo bem, não vou deixar que ninguém a machuque. Você está

segura agora. — Confortou a jovem. — Vou chamar a polícia.

— Não, por favor, se eu os denunciar virão atrás de mim —

suplicou ainda em pânico.

A garota indefesa que conhecera há um ano havia desaparecido na

noite anterior, selvagem e feroz de uma maneira que jamais havia visto

em qualquer outra com quem já estivera, passou a mão sobre o corte que

a cintada havia feito em seu peito, sentiu uma leve ardência. Beto decidiu

preparar o café da manhã, queria surpreendê-la. Levantou com cuidado, e

vestiu o robe aveludado marrom e saiu.

— Papai? — Beto bateu na porta do quarto e abriu em seguida.

Seu pai estava imóvel sobre o leito, chegou mais perto.

— Papai?! Já é tarde — insistiu, mas um silêncio mórbido invadiu

sua mente, ele se ajoelhou ao lado da cama e tocou sua mão, rígida e fria.

Beto sentiu o estômago embrulhar, estava só. Não conseguiu

conter as lágrimas.

— Me desculpe por não estar aqui. — Soluçou ele.

Emma entrou no quarto, agachou-se ao lado da cama e o abraçou.

Ela o consolou, abraçando-lhe com força, então chorou.

As semanas seguintes foram difíceis, Beto Pipermen caiu em depressão profunda, assim como o pai quando perdeu a esposa, a diferença é que ela lutaria por ele. Beto saiu do quarto apenas no dia do enterro do pai, não emitiu uma única palavra, ao retornar para casa, deitou na cama onde o encontrou sem vida. Emma tocou os negócios enquanto o noivo permanecia em luto, administrou as duas farmácias que eram o sustento da família. Passado um mês, ela entrou no quarto como

um furacão.

— Beto levante-se, eu preciso que tome um banho e se vista —

ordenou ela, enquanto puxava uma grande mala de baixo da cama.

Ele a ignorou e manteve-se em silêncio. Emma sentou ao seu lado

e segurou em sua mão. Beto estava mais magro, com a barba loira dias

por fazer.

— Só vou falar uma vez, a mala está aqui. Você tem duas opções:

segue adiante e luta ao meu lado para começarmos nossa família em um

novo lugar, ou definha e nunca mais nos verá, me refiro a mim e a nosso

filho. — Sua voz era firme e controlada. — Durante esses dias recebi

propostas de compra das duas farmácias de seu pai. Com este dinheiro,

você pode abrir o seu próprio laboratório.

Beto estendeu a mão e pousou sobre o ventre de Emma.

— Ele se chamará Robert. — Com os olhos marejados, um

sentimento de esperança surgiu. — Robert Pipermen.

Os dois se abraçaram e juntos iniciaram um império como Emma

Weiss planejara.

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