KESIA MUNIZ — Tchau. Até daqui a pouco. — Abracei mais uma vez meu pequeno e lhe dei vários beijinhos no rosto. Observei os dois irem em direção a um carro cinza, com dois outros de escolta. Passaram pelo portão de ferro e sumiram de vista. Parada na porta principal, notei o imenso jardim com árvores de copas altas, uma piscina grande, grama verdinha, muitas flores, fontes, bancos de concreto. Um parque particular, lugar muito lindo. Nesses três dias que passei aqui, ainda não tinha parado para ver o exterior da mansão. Alguns homens fortemente armados e de preto andavam de um lado para o outro perto do portão e dos muros, olhando tudo atentos. Mas em momento algum, vi nenhum deles me dirigir o olhar. Por isso o Fellipo nem se preocupa que eu possa fugir. Respirei fundo, pensando na minha família, louca de vontade de ligar para saber como eles estavam, se o maníaco tinha ido à minha casa fazer algo de ruim. Virei as costas e fechei a porta. Caminhei com cuidado pela ca
KESIA MUNIZ Acordei do meu transe e cessei os movimentos, olhei para baixo. O rosto dele, não estava tão horrível assim, os lábios sangravam, o supercilio, o nariz, o olho... e só. Minhas mãos estavam esfoladas pela falta da luva. Mas não era nada que eu nunca tivesse experimentado antes. — Merda. — Praguejei levantando de cima do garoto. — Nossa... — ouvi ele sussurrar com a mão no nariz tentando estancar o sangue ainda deitado no chão. Os caras me olhavam com espanto. — Essa será a melhor Dama de todas. — Um deles disse baixo. Olhei em volta tentando achar quem tinha falado aquilo. Mas não consegui. Eu uma Dama? Dama do que diabos? Cada dia que passava ali, minha mente criava uma dúvida, que só se acumulava a outras. Virei para Olavo que ainda estava no chão. Estendi minha mão menos fodida. — Amigos? — demandei assim que ele a segurou e levantou com ajuda. — Depois de me dar uma surrar dessa ainda tem coragem de dizer isso? — resmungou enquanto o auxiliava a
KESIA MUNIZ Joguinhos psicológicos. — Não. A culpa é sua, que é um psicopata. — Eu não quero discutir com você. Aceita ou não? Fervi de raiva. — Me responda umas perguntas antes. E eu irei com você para Milão. — Propus tentando virar essa porcaria de jogo. — Pergunte. Não prometo responder. Revirei os olhos. — Você é realmente o pai do filho da Tolita? — Tolita? — repetiu surpreso. Merda. Deixei escapar. — Desculpa. É Lolita. Responda. Ele coçou a barba pensativo. — Não sei. Por isso ela ainda está aqui. — E se for? — senti meu peito apertar. — Não é da sua conta Kesia. — De repente ficou tenso. Será que ele teria que se casar com ela? — Só quero que saiba que só porquê talvez terá um filho com ela, não.quer dizer que tem que se casar. — Murmurei baixo. Não sei porquê senti vontade de lhe apresentar uma saída. Que eu aposto que ele sabe muito bem. Ele sorriu inclinando o corpo, acariciou minha bochecha com a mão enquanto mirava minhas íris. — Você não quer que eu ca
KESIA MUNIZ — Também te amo meu bebê. — Beijei a bochechinha dele e entramos. — Uau! — Encantou-se. A biblioteca era enorme, com prateleiras de livros que ia do piso até perto do teto. Deixei ele no chão e me aproximei de um sofá cinza sentando. — Escolha um livro e traz aqui. — Pedi. Ele sorriu e correu pela biblioteca procurando um colorido que chamasse sua atenção. — Esse mãe! Quero esse. — Dizia balançando no alto um livro pequeno com a "Bela e a Fera" na capa. Não sou contra contos de fadas. Porém não eram as histórias que costumava ouvir quando criança, meu pai lia documentários sobre grandes lutadores de MMA, eu e meus irmãos dormíamos sonhando em um dia fazer história como eles. Ter sido criada cercada de homens é diferente, minhas roupas são influência disso, as vezes eu vestia as camisas e bermudas do meu irmão gêmeo ou dos mais velhos que não serviam mais neles. Minhas brincadeiras nunca eram de boneca ou casinha, sempre de polícia e ladrão, skate, pipa, e
KESIA MUNIZ Na manhã seguinte, não tinha ideia de que roupas levar. Na dúvida, enfiei na mala as mais simples possíveis. E caso alguém nos veja juntos, vão pensar que sou uma empregada. Melhor assim, aí não vou estar sujando a imagem dele. Ninguém vai achar que sou algo a mais, até porquê, sirvo apenas como um brinquedinho, que ele gosta de manipular, e pior que consegue. Em uma mala separada, arrumei roupas para o Angelo. Tomei banho, fiz o mesmo com o mocinho que ainda estava mole de sono. O tempo estava frio, dava para ver pela janela de vidro do quarto a neblina densa sem chuva. Vesti uma calça jeans preta, coturnos igualmente pretos, blusa na cor vinho de mangas longas feita de lã quentinha. Penteei com os dedos o cabelo de lado. No pequeno vesti uma calça jeans preta, botas, camisa e casaco de moletom azul claro. Quase oito da manhã, Frances apareceu no quarto e me ajudou com as malas. — Frances, não se preocupe. Seu sobrinho está a salvo. — Quis esclarecer enquant
KESIA MUNIZ — Chegamos. Pode descansar no hotel se quiser. Olhei para meu filho que estava em seu colo, acordado. Ele tinha um sorriso tão lindo no rosto. — Mamãe! O papai prometeu que quando chegar em casa, vou ganhar um cavalinho! — cantarolou alegre. Levantei e encarei o Fellipo séria. — Para de prometer coisas ao MEU filho. — Murmurei entre dentes. — Para de ser estraga prazer. Eu gosto do garoto, e vou dar tudo que me pedir. — Rebateu. Mordo a língua tentando não dar corda. — Depois conversamos. — Tomei o Angelo, saindo com ele. Uma fila de seguranças com roupas pretas estava perfeitamente alinhada ao lado da saída do avião. Engoli em seco e continuei. Fellipo passou na minha frente e abriu novamente a porta para entrarmos e nos acomodei. — Por que você e sua casa são mais vigiados que o BBB? — Sem conseguir conter minha curiosidade questionei. O ouvi se agitar desconfortável no banco traseiro do carro luxuoso. — Tenho inimigos. — Respondeu curto.
KESIA MUNIZ — Shi, você não quer que o menino acorde, não é? — Alegou. Olhei para meu pequeno que dormia cansado da viagem. Respirei fundo e me aconcheguei na cama, tendo certeza de estar afastada o máximo dele, o fato de a cama ser grande facilitava. Estava sendo impossível dormir. As ideias de como tentar tirar algo dele fluíam como rio na mente. — Precisamos conversar. Sobre algumas coisas... — Comecei insegura. Ele permaneceu em silêncio esperando eu prosseguir. Vamos lá Kesia seja esperta. — Primeiro, não se preocupe quanto a coisa que o Angelo inventou de chama-lo de pai. Vou conversar com ele amanhã mesmo. — Silêncio de novo. Será que dormiu mesmo? — Não. O garoto pode me chamar de pai. Foi a minha vez de ficar calada, achei que ele tivessepermitido só por pena, Angelo estava chorando ao fazer tal pedido. — E então. Era só isso? — Ele continuou, a voz rouca e baixa. Sexy de mais. — Quero propor uma trégua. Já que vou ter que ficar com você até meu proble
KESIA MUNIZ — Bruta. — Choramingou. — Está aqui as sapatilhas. Pedi para trazê-las com urgência. — Entregou uma caixa dourada e retangular. Sem cerimonia, abri a caixa e uma sapatilha delicada apareceu, tamanho 38. Que foi? Eu não sou uma Cinderela, no máximo uma Grizelda. A sapatilha era tão princesinha que quase desisto de usar, mas trato é trato, procuro sempre honrar minha palavra. Ele me ajudou a calçar. — Pronto. Você está linda. Simples como uma pombinha. — Sorriu largamente. Ouvimos a porta abrir. De repente, me senti tão nervosa, meu cérebro em branco e o coração a mil. Devagar, virei para vê-lo, vestido de smoking todo preto, sapatos de couro brilhante. — Você... — minha voz se perdeu, a raiva se esvaiu água a baixo. Ele está tão lindo. O cabelo molhado e penteado pra trás, barba aparada e bem feita. — Mamãe! — Angelo gritou correndo na minha direção — Ah que Deus grego. — Léo sussurrou no meu ouvido. Aliviada, peguei meu filho no colo. — Ai que