Brenda
— O que está acontecendo aqui, Tereza? Por que as vozes alteradas? Algum problema? — Gregório se aproxima, falando com sua voz rouca e viril, que me deixa enlouquecida. — Não. Nada, senhor Gregório. — Minha mãe responde, baixando o olhar submisso como sempre. — Então por que Brenda está chorando? Uma moça tão linda como ela não deve derramar sequer uma lágrima, ainda mais no dia do seu aniversário. A não ser que seja de alegria. Não é mesmo? — Meu neném diz, segurando meu queixo com a ponta dos dedos e abrindo um sorriso encantador. — Senhor... é que... — Minha mãe tenta falar, mas eu a interrompe, pois sabia que ela iria falar sobre a caquética da Carmen. — Sabe o que é, nenê... Senhor Gregório... — Tento falar, mas ele me interrompe. — Para vocês, somente Gregório. Já disse isso à sua mãe, mas ela insiste em dizer que sou o patrão e que, por essa razão, deve manter o decoro. — Ele fala sorridente, com aquela voz grossa e máscula que me desestabiliza. — É... Infelizmente, nem todo mundo nasceu para subir de patamar — falo olhando minha mãe por cima dos ombros e secando minhas falsas lágrimas. — Mas, continuando, senh... Ou melhor, Gregório. Minha mãe estava chamando minha atenção por eu estar aqui na piscina usando este biquíni. Olhe com cuidado e me diga: o senhor vê algo de errado nele? Pergunto, desfilando e girando diante dele, usando apenas um biquíni fio-dental vermelho-sangue. Ao olhar para seu rosto, noto sua feição mudar. Ele engole em seco, afrouxando a gravata que parece sufocá-lo naquele momento, e seu tom descontraído dá lugar ao macho predador que tanto desejo que me devore. Seus olhos âmbar se tornam cinzentos, remetendo às minhas mais profundas fantasias sexuais. Seu desejo por me possuir é nítido, e eu, que não sou nenhuma boba, percebo isso e trato de envolver nossos corpos num abraço apertado. Esse abraço me oferece um verdadeiro presente de aniversário... Nele, posso sentir o quanto ele me deseja. Seu entusiasmo dentro daquela calça me revela isso. Notando que percebi, ele tenta disfarçar, colocando uma caixa que está em sua mão direita entre nós, separando nossos corpos de imediato. Sorrio maliciosa, deixando-o ainda mais sem graça. — Isso é para você, Brenda. Não sei se acertei na escolha ou no tamanho. Mas, caso não seja do seu agrado, podemos trocar sem nenhum problema. — Ele diz, sorrindo e me entregando uma caixa branca retangular de grife com um laço vermelho perfeito. — Não precisava se incomodar, senhor. Já estão fazendo coisas demais oferecendo uma festa dessas para minha filha. Não esqueça que aqui não passamos de meras empregadas. — Minha mãe novamente abre a maldita boca para enfatizar algo que sempre faz questão de lembrar: que somos inferiores e os Montreal são a realeza. Minha vontade é estrangulá-la, mas me contenho. Quando penso em dizer algo, meu neném se adianta: — Você sabe muito bem que tanto você quanto toda sua família são muito mais do que meros funcionários nesta casa, Tereza. Já fazem parte da nossa família, e nada mais correto do que presentear quem gostamos no dia do seu aniversário. "Eu sabia que ele se interessava por mim e que seus olhares não eram apenas de cuidado." "É, Brenda, logo, logo você terá o que tanto deseja, e pelo visto será muito antes do que imagina." Penso comigo mesma, abrindo um sorriso involuntário no canto da boca. — Sonhando acordada, Brenda? Ainda nem abriu o presente para saber se gostou e já está até sorrindo. — Sou surpreendida pela voz de Gregório, que me tira do transe. — Ah! Estou muito feliz por tudo o que vocês têm feito por mim, e esse é o motivo do meu sorriso. Mas vou ver agora o meu presente surpresa. Tenho certeza de que, vindo de você, é perfeito para mim. — Falo, encarando-o, e nossos olhares se cruzam no mesmo instante, mas novamente ele me corta. — Deixa que eu te ajudo, Brenda. — Ele fala, segurando a caixa com a palma das mãos, enquanto retiro o laço, olhando fixamente em seus olhos e observando cada traço, cada linha e cada detalhe do seu rosto maravilhoso, que me deixa em êxase. Ao abrir a caixa, meus olhos brilham com o que vejo. Nela, há um par de sandálias luxuosas e um vestido deslumbrante, justamente na cor vermelha que tanto amo, o que me faz sorrir instantaneamente. Lhe dou um abraço apertado em agradecimento, pegando-o de surpresa, mas ele retribui carinhosamente. Dessa vez, sinto algo diferente em sua cintura. Parece ser uma arma ou algo semelhante. Finjo não perceber, pois talvez isso me seja útil mais adiante. Saio do abraço, e nossos olhares se encontram mais uma vez, agora mostrando desejo. Mas disfarço, colocando o vestido na frente do meu corpo para que ele opine se está bonito ou não. — Realmente, ele ficou... Quando Gregório vai falar, somos interrompidos por João, que me olha de lado. Logo desvio o olhar, já compreendendo do que se trata. — Senhor... Senhor... — ele diz um pouco afobado. — O que houve, João? Por que está nervoso desse jeito? — Gregório pergunta. — A dona Carmem sofreu um acidente na cozinha e a levamos para o quarto. Ela ainda está desacordada. — João finge aflição. — Meu Deus... Há quanto tempo isso aconteceu? Por que não me avisaram? Já chamaram o meu irmão Cristóvão? — Gregório pergunta, aparentando preocupação. — Sim, senhor. Ele já está a caminho — João responde. — Vamos logo, João! Se algo acontecer com Carmem, eu não vou me perdoar. Onde está Jorge? — Ao ouvir isso, fico paralisada. "Como ele pode se preocupar tanto com uma velha como aquela? Isso não pode ser verdade. Ele não pode amar aquela megera. Gregório é meu e de mais ninguém." Mesmo furiosa, fico em silêncio. Naquele momento, essa é a minha melhor arma. — Ele saiu, senhor, e ainda não sabe de nada. — João continua dando explicações. — Tereza, tente localizar Jorge e comunique o que houve com a mãe dele. — Gregório ordena, e minha mãe me olha satisfeita, como se tentasse provar algo. — Sim, senhor. Imediatamente. — Minha mãe responde. — Vamos, João! — Gregório diz nervoso, saindo em disparada para o interior da mansão sem ao menos olhar para trás. Guardo o vestido dentro da caixa e coloco a tampa com força, fechando-a. Respiro fundo, tentando colocar as ideias no lugar e desejando que minha jogada tenha dado certo, para que finalmente aquela caquética tenha partido dessa para melhor. Sentada à beira da piscina, admiro toda a decoração do jardim para a festa de logo mais à noite. De repente, ouço a voz da minha mãe com todo o seu sarcasmo de sempre: — Viu só, minha filha, como ele ama a esposa e ficou angustiado ao saber que ela sofreu um acidente doméstico? Por mais que tente, nunca passaremos de meras empregadas nessa família. — Ela tenta se aproximar de mim, mas eu me esquivo. — Veremos por quanto tempo dura esse amor. Tudo vai mudar quando ele conhecer uma mulher de verdade. — Falo convicta. — Quem, por exemplo? — Ela pergunta curiosa. — Logo terá a sua resposta, mamãe. — Respondo sem olhar para trás. — Minha filha, desista de seus objetivos de se tornar uma Montreal o quanto antes, pois, se depender de mim, eles nunca acontecerão. Não permitirei que uma de minhas filhas se torne uma perdida. Agora a encaro e, sem pestanejar, falo: — Nunca fui e nunca serei uma perdida, mamãe. Apenas corro atrás do que desejo e, aqui nessa mansão, já encontrei. — Tereza... Tereza... Me ajude aqui, por favor. — Graças aos céus, João chama minha mãe, que sai em disparada. Porém, antes de sair totalmente, lhe digo: — Vai lá, mamãe, e continue servindo de tapete para essa família. Mas não espere que eu faça o mesmo, pois, se tem algo que não nasci para ser, é serva. Eu nasci para ser servida. Ela sai sem dizer sequer uma palavra, e permaneço ali curtindo a minha tarde à beira da piscina, aguardando somente a notícia de que poderia preparar o meu pretinho básico para o tão esperado funeral da caquética e, é claro, a notícia de que o caminho estava livre para que a verdadeira rainha e senhora dessa casa pudesse realmente brilhar.Parece que hoje é o dia dos contratempos e tropeços. Primeiro, nada sai como o esperado nos negócios e, quando chego em casa, me deparo com aquela visão perturbadora da Brenda na piscina. Logo em seguida, minha mulher resolve se acidentar dentro da própria casa.Será que é pedir muito que use calçados antiderrapantes nessa maldita mansão?Será que ela não percebe que já é uma mulher de idade avançada e que acidentes domésticos podem acontecer a qualquer momento?Porca puttana!(Que merda!)O que não somos capazes de fazer para manter um padrão de vida digno e evitar que nossa família se envolva em um escândalo?Literalmente, somos capazes de tudo, até mesmo casar com uma mulher como Carmen Montreal.Subo os degraus da escada e não consigo tirar aquela imagem da minha cabeça. Como uma mulher pode ser tão linda quanto Brenda? Chega a ser pecado uma perfeição dessas existir no mundo. O mais incrível é que nunca soube que tenha tido um romance com alguém. Isso é muito estranho, pois uma m
Gregório Montreal — Já te disse para não falar assim da Brenda, cara. Respeite a garota. Ela nunca teve nenhum namorado. — Eu o adverti. — Só falta me dizer que um mulherão daqueles é virgem. — Ele comenta surpreso. — Pode ser, cara. Nunca a vi com ninguém. Ela sempre estuda e volta direto para casa depois da faculdade. Quem sabe, realmente, ela... — Sou interrompido pela gargalhada do meu irmão. — Ah, não! Puta que pariu, Gregório. Se liga, irmãozinho! Já se deixou levar pela ninfeta? Onde que uma mulher daquelas ainda seria virgem? Você só pode estar delirando. No máximo, ela está procurando algum otário que caia na sua rede e a sustente pelo resto da vida. Ou será que ela já encontrou? — Ele me encara com malícia, e meu sangue ferve com a insinuação. — Termina logo esse serviço, porra! E para de encher minha paciência com essas merdas. Não é para isso que te pago todo mês! Falo, tomado pela raiva, enquanto me afasto e encosto na janela do quarto. Cristóvão continua seu trabal
Gregório MontrealAlgum tempo depoisPermaneço próximo a Carmen, tentando compreender o que está acontecendo. A justificativa de Cristóvão não me convence, e acredito que exista um motivo maior para ela estar agindo de maneira tão estranha.De repente, ouço batidas na porta. É Cristóvão, vindo buscar a maleta que esqueceu sobre a poltrona ao lado da cama de Carmen.Afasto-me um pouco e o puxo para perto da janela.— O que está acontecendo, Cristóvão? Por que ela está desse jeito? — murmuro, para que Carmen não ouça.— Deve ser uma consequência da pancada que sofreu. Mas só teremos um diagnóstico preciso depois de todos os exames — responde, sério.Fico pensativo.— Relaxa, Gregório. Quanto mais louca essa mulher estiver, melhor para você. Já pensou na possibilidade de essa velhota ser internada numa clínica psiquiátrica? O caminho ficaria livre para você.Fulmino Cristóvão com o olhar. Somos idênticos fisicamente, mas completamente diferentes em essência. Cristóvão é objetivo, desapeg
BrendaAs horas passam, e o dia ensolarado dá lugar a uma noite iluminada, simplesmente perfeita. Eu me debruço na janela do meu quarto, vestindo apenas um roupão branco de algodão, sem nada por baixo, e observo cada detalhe da minha festa de aniversário, que, por sinal, está impecável. Minha alegria e felicidade são evidentes. Esta é a primeira festa de aniversário de verdade que tenho em toda a minha vida. Desde que me conheço por gente, meus aniversários nunca passaram de um bolo de fubá em cima da mesa, com algumas velas que mais pareciam ter sido retiradas de um funeral ou do altar de uma igreja.Mas hoje tudo está diferente. Pouco a pouco, estou triunfando e conquistando tudo o que tanto desejo e, principalmente, mereço. Só falta ter ao meu lado o meu neném, mas isso muito em breve vou conseguir. Não demorará para essa caquética cair de uma só vez.Preciso ser habilidosa, inteligente, fria e, acima de tudo, paciente para alcançar o que quero.Com a ajuda do João, o meu escravo,
Brenda OrtizSaio do banheiro vestindo um roupão de algodão branco. Sento-me na minha cadeira acolchoada, que, pelo requinte e pelos detalhes em ouro, mais parece um trono de uma verdadeira rainha.De pé, diante do espelho, observo cada centímetro do meu corpo e admiro a perfeição em forma de mulher bem à minha frente. Logo em seguida, fecho os olhos e me entrego às mãos de Clóvis, meu cabeleireiro e o único a quem confiaria meus lindos cabelos sem hesitar.Encosto a cabeça na poltrona, e ele inicia seu trabalho.— Confio em você, Clóvis. Não me decepcione — digo, observando-o através do espelho.Ele sorri discretamente, segura meus cabelos e murmura:— Jamais decepcionaria uma beleza como a sua.Aproxima-se um pouco mais e, com cuidado, acrescenta:— Minha cara, é um privilégio cuidar de uma mulher tão bela e perfeita como você.Seguro sua mão e sorrio, agradecida pelo elogio.— Eu não esperava menos de um homem inteligente como você.Agora, de olhos fechados, me entrego às mãos dele
Gregório MontrealEstou checando minha arma para a porra da reunião de logo mais, quando, de repente, tenho uma visita inesperada no meu quarto.Sempre fui cauteloso, trancando a porta ao entrar e sair, mas, pelo que aconteceu com a Carmen hoje e com toda essa agitação por conta do aniversário da Brenda, acabo esquecendo. Agora me encontro nessa situação de merda, obrigado a dar satisfações a um fedelho como o Jorge, que, por sinal, se sente muito homem para me encarar com tamanha altivez.Termino o que estou fazendo e, por precaução, guardo a arma novamente no cofre.Continuo me arrumando para participar um pouco da comemoração, mesmo que seja apenas para marcar presença, porque não tenho animação ou motivo para festejar.Minha vontade é sumir desse lugar de uma vez, deixando toda essa gente de merda para trás. Mas, como sempre fui um sentimental do caralho, jamais teria coragem de fazer isso, principalmente depois de tudo o que aconteceu com a Carmen. Nunca a amei, mas, com o tempo,
Brenda OrtizAlguns instantes antes de sair do quartoTudo corre às mil maravilhas. Estou feliz, deslumbrante e simplesmente esplêndida, como deve ser no meu dia.Olho-me no espelho, admirando esta bela obra da natureza: eu. Fico encantada com o que vejo.Este corte de cabelo ficou perfeito, dando-me um ar mais ousado. Aquele cabelo longo deixava-me ingênua demais, e, até algum tempo atrás, isso tinha grande serventia. Mas agora meus planos são outros. Chega de esconder quem realmente sou. Meu momento de brilhar está próximo e, do jeito que estou, minha próxima vítima enlouquecerá diante dessa mudança.Borrifo algumas gotas de perfume francês no pescoço e nos pulsos, fazendo a fragrância se espalhar pelo meu corpo e deixando um aroma exótico e sensual.Admiro-me uma última vez diante do espelho e estou prestes a sair do quarto quando João, depois de acompanhar Clóvis até a saída, surpreende-me com uma ideia inesperada.— Por que não encontramos um jeito de o patrão ser o primeiro a ve
Brenda— Não? Como assim? — pergunto, intrigada, olhando para sua mão.— Chegou também este envelope timbrado. Aparentemente, tem algo além de uma mera carta, pois senti um certo peso ao pegá-lo. Vou deixar aqui em cima da cômoda caso deseje saber do que se trata — diz ele, colocando o envelope branco, tamanho A4, sobre a cômoda.— Tudo bem. Agora pode ir.João beija minha mão, como sempre faz, e sai do quarto, fechando a porta. Aproximo-me da cômoda onde ele deixou a correspondência e, ao segurá-la, sinto um aperto no peito. Ao ver o remetente, algumas lágrimas insistem em se formar, mas respiro fundo, impedindo que qualquer fagulha de sentimento se aposse dos meus pensamentos — e muito menos chegue próximo do meu coração.Sentimentos só servem para atrapalhar a vida. Em nenhum momento posso desviar do meu caminho ou dos meus objetivos: tornar-me uma mulher poderosa, impiedosa, altiva, temida e respeitada por todos. Portanto, essa merda de lembranças não me ajuda em absolutamente nad