5. Jogada da Rainha

Brenda

— O que está acontecendo aqui, Tereza? Por que as vozes alteradas? Algum problema? — Gregório se aproxima, falando com sua voz rouca e viril, que me deixa enlouquecida.

— Não. Nada, senhor Gregório. — Minha mãe responde, baixando o olhar submisso como sempre.

— Então por que Brenda está chorando? Uma moça tão linda como ela não deve derramar sequer uma lágrima, ainda mais no dia do seu aniversário. A não ser que seja de alegria. Não é mesmo? — Meu neném diz, segurando meu queixo com a ponta dos dedos e abrindo um sorriso encantador.

— Senhor... é que... — Minha mãe tenta falar, mas eu a interrompe, pois sabia que ela iria falar sobre a caquética da Carmen.

— Sabe o que é, nenê... Senhor Gregório... — Tento falar, mas ele me interrompe.

— Para vocês, somente Gregório. Já disse isso à sua mãe, mas ela insiste em dizer que sou o patrão e que, por essa razão, deve manter o decoro. — Ele fala sorridente, com aquela voz grossa e máscula que me desestabiliza.

— É... Infelizmente, nem todo mundo nasceu para subir de patamar — falo olhando minha mãe por cima dos ombros e secando minhas falsas lágrimas. — Mas, continuando, senh... Ou melhor, Gregório. Minha mãe estava chamando minha atenção por eu estar aqui na piscina usando este biquíni. Olhe com cuidado e me diga: o senhor vê algo de errado nele?

Pergunto, desfilando e girando diante dele, usando apenas um biquíni fio-dental vermelho-sangue. Ao olhar para seu rosto, noto sua feição mudar. Ele engole em seco, afrouxando a gravata que parece sufocá-lo naquele momento, e seu tom descontraído dá lugar ao macho predador que tanto desejo que me devore.

Seus olhos âmbar se tornam cinzentos, remetendo às minhas mais profundas fantasias sexuais. Seu desejo por me possuir é nítido, e eu, que não sou nenhuma boba, percebo isso e trato de envolver nossos corpos num abraço apertado. Esse abraço me oferece um verdadeiro presente de aniversário... Nele, posso sentir o quanto ele me deseja. Seu entusiasmo dentro daquela calça me revela isso. Notando que percebi, ele tenta disfarçar, colocando uma caixa que está em sua mão direita entre nós, separando nossos corpos de imediato. Sorrio maliciosa, deixando-o ainda mais sem graça.

— Isso é para você, Brenda. Não sei se acertei na escolha ou no tamanho. Mas, caso não seja do seu agrado, podemos trocar sem nenhum problema. — Ele diz, sorrindo e me entregando uma caixa branca retangular de grife com um laço vermelho perfeito.

— Não precisava se incomodar, senhor. Já estão fazendo coisas demais oferecendo uma festa dessas para minha filha. Não esqueça que aqui não passamos de meras empregadas. — Minha mãe novamente abre a maldita boca para enfatizar algo que sempre faz questão de lembrar: que somos inferiores e os Montreal são a realeza.

Minha vontade é estrangulá-la, mas me contenho. Quando penso em dizer algo, meu neném se adianta:

— Você sabe muito bem que tanto você quanto toda sua família são muito mais do que meros funcionários nesta casa, Tereza. Já fazem parte da nossa família, e nada mais correto do que presentear quem gostamos no dia do seu aniversário.

"Eu sabia que ele se interessava por mim e que seus olhares não eram apenas de cuidado."

"É, Brenda, logo, logo você terá o que tanto deseja, e pelo visto será muito antes do que imagina."

Penso comigo mesma, abrindo um sorriso involuntário no canto da boca.

— Sonhando acordada, Brenda? Ainda nem abriu o presente para saber se gostou e já está até sorrindo. — Sou surpreendida pela voz de Gregório, que me tira do transe.

— Ah! Estou muito feliz por tudo o que vocês têm feito por mim, e esse é o motivo do meu sorriso. Mas vou ver agora o meu presente surpresa. Tenho certeza de que, vindo de você, é perfeito para mim. — Falo, encarando-o, e nossos olhares se cruzam no mesmo instante, mas novamente ele me corta.

— Deixa que eu te ajudo, Brenda. — Ele fala, segurando a caixa com a palma das mãos, enquanto retiro o laço, olhando fixamente em seus olhos e observando cada traço, cada linha e cada detalhe do seu rosto maravilhoso, que me deixa em êxase.

Ao abrir a caixa, meus olhos brilham com o que vejo. Nela, há um par de sandálias luxuosas e um vestido deslumbrante, justamente na cor vermelha que tanto amo, o que me faz sorrir instantaneamente.

Lhe dou um abraço apertado em agradecimento, pegando-o de surpresa, mas ele retribui carinhosamente. Dessa vez, sinto algo diferente em sua cintura. Parece ser uma arma ou algo semelhante. Finjo não perceber, pois talvez isso me seja útil mais adiante.

Saio do abraço, e nossos olhares se encontram mais uma vez, agora mostrando desejo. Mas disfarço, colocando o vestido na frente do meu corpo para que ele opine se está bonito ou não.

— Realmente, ele ficou...

Quando Gregório vai falar, somos interrompidos por João, que me olha de lado. Logo desvio o olhar, já compreendendo do que se trata.

— Senhor... Senhor... — ele diz um pouco afobado.

— O que houve, João? Por que está nervoso desse jeito? — Gregório pergunta.

— A dona Carmem sofreu um acidente na cozinha e a levamos para o quarto. Ela ainda está desacordada. — João finge aflição.

— Meu Deus... Há quanto tempo isso aconteceu? Por que não me avisaram? Já chamaram o meu irmão Cristóvão? — Gregório pergunta, aparentando preocupação.

— Sim, senhor. Ele já está a caminho — João responde.

— Vamos logo, João! Se algo acontecer com Carmem, eu não vou me perdoar. Onde está Jorge? — Ao ouvir isso, fico paralisada.

"Como ele pode se preocupar tanto com uma velha como aquela? Isso não pode ser verdade. Ele não pode amar aquela megera. Gregório é meu e de mais ninguém."

Mesmo furiosa, fico em silêncio. Naquele momento, essa é a minha melhor arma.

— Ele saiu, senhor, e ainda não sabe de nada. — João continua dando explicações.

— Tereza, tente localizar Jorge e comunique o que houve com a mãe dele. — Gregório ordena, e minha mãe me olha satisfeita, como se tentasse provar algo.

— Sim, senhor. Imediatamente. — Minha mãe responde.

— Vamos, João! — Gregório diz nervoso, saindo em disparada para o interior da mansão sem ao menos olhar para trás.

Guardo o vestido dentro da caixa e coloco a tampa com força, fechando-a. Respiro fundo, tentando colocar as ideias no lugar e desejando que minha jogada tenha dado certo, para que finalmente aquela caquética tenha partido dessa para melhor.

Sentada à beira da piscina, admiro toda a decoração do jardim para a festa de logo mais à noite. De repente, ouço a voz da minha mãe com todo o seu sarcasmo de sempre:

— Viu só, minha filha, como ele ama a esposa e ficou angustiado ao saber que ela sofreu um acidente doméstico? Por mais que tente, nunca passaremos de meras empregadas nessa família. — Ela tenta se aproximar de mim, mas eu me esquivo.

— Veremos por quanto tempo dura esse amor. Tudo vai mudar quando ele conhecer uma mulher de verdade. — Falo convicta.

— Quem, por exemplo? — Ela pergunta curiosa.

— Logo terá a sua resposta, mamãe. — Respondo sem olhar para trás.

— Minha filha, desista de seus objetivos de se tornar uma Montreal o quanto antes, pois, se depender de mim, eles nunca acontecerão. Não permitirei que uma de minhas filhas se torne uma perdida.

Agora a encaro e, sem pestanejar, falo:

— Nunca fui e nunca serei uma perdida, mamãe. Apenas corro atrás do que desejo e, aqui nessa mansão, já encontrei.

— Tereza... Tereza... Me ajude aqui, por favor. — Graças aos céus, João chama minha mãe, que sai em disparada.

Porém, antes de sair totalmente, lhe digo:

— Vai lá, mamãe, e continue servindo de tapete para essa família. Mas não espere que eu faça o mesmo, pois, se tem algo que não nasci para ser, é serva. Eu nasci para ser servida.

Ela sai sem dizer sequer uma palavra, e permaneço ali curtindo a minha tarde à beira da piscina, aguardando somente a notícia de que poderia preparar o meu pretinho básico para o tão esperado funeral da caquética e, é claro, a notícia de que o caminho estava livre para que a verdadeira rainha e senhora dessa casa pudesse realmente brilhar.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App