Gregório — Horas antes da viagem ao Brasil— Tem certeza de que é isso mesmo que vai fazer, meu filho? — meu pai pergunta, fitando-me fixamente enquanto fuma seu charuto.— Sim. Não posso permitir que Brenda seja presa e sofra dentro de uma prisão. O senhor me conhece melhor do que ninguém e sabe que nunca deixaria outra pessoa pagar pelos erros que eu cometi — respondo, olhando para o mar à nossa frente.— Mas ela também comete muitos crimes, Gregório. Não será tão fácil apagar tudo isso perante a justiça. Ainda mais se tratando de um oficial incorruptível como Garcia — diz Rubens, e o encaro com raiva por insinuar a possibilidade de Brenda ser presa.— Sei muito bem disso, Rubens. Mas você é meu amigo há anos, me conhece, e sabe como penso em relação às mulheres.Respondo enquanto apoio as mãos na mureta, sentindo o vento do mar bater no meu rosto e trazer sensações tão intensas que nem consigo explicar.— Com respeito a uma em especial, não é? — Rubens provoca, me olhando. Viro o r
Horas depois...Rio de Janeiro, BrasilGregórioDetesto mentir ou omitir algo das pessoas que amo. Mas, neste caso, é necessário. Se eu abrisse a boca, com certeza ela me impediria de tomar essa atitude e colocar meus planos em ação.Agora estamos aqui, abraçados, nos acariciando depois de longas horas fazendo amor de todas as formas possíveis dentro deste jatinho. Quanto mais eu a amo, quanto mais a devoro, mais desejo ter em minhas mãos cada parte do seu corpo delicioso. Nunca imaginei que diria ou sentiria algo assim, mas posso afirmar com toda a certeza: Brenda é a mulher da minha vida. Ao lado dela quero viver todos os dias que me restarem... sejam bons ou não tão agradáveis assim. Não existe outra pessoa com quem eu queira compartilhar tudo, senão ela.O avião enfim pousa. O momento de nos distanciarmos se aproxima, mesmo que por pouco tempo. Sei que será um período curto, mas já é suficiente para me deixar à beira da loucura, em crises constantes de abstinência por não tê-la ao
Gregório Empresa Montreal Encaro Carmen e mal consigo acreditar no que vejo. Meses atrás, ela havia perdido a lucidez e também a visão. Os médicos foram categóricos ao dizer que o caso era gravíssimo, que a recuperação seria impossível. E agora, diante de mim, está uma mulher imponente, dona absoluta da situação. Ela não se parece em nada com aquela Carmen destruída de tempos atrás. O que não consigo entender é como ela se recupera tão rapidamente. Será que Carmen nunca esteve doente? Será que tudo não passou de um fingimento? Mas por quê? Qual seria o motivo para mentir e enganar a todos dessa forma? Com certeza ela contou com ajuda. Mas quem se prestaria a participar de uma farsa dessas e ainda se tornaria seu cúmplice? Sou arrancado dos pensamentos pelo som da porta se fechando. Olga se retira. Volto meu olhar para Carmen. Ela está vestida como uma verdadeira executiva, impecável, como no dia em que a conheci. Seu olhar altivo percorre todo o meu corpo, me analisa com frieza,
No cartório Sempre fui um cara sossegado, até meio pacato. Nunca curti badalações nem exposições desnecessárias. Termino os estudos, viro um advogado renomado e dou continuidade ao legado do meu pai. Tudo corre perfeitamente enquanto vivo nos Estados Unidos, mas basta eu voltar pro Brasil — e ainda por cima reencontrar o Gregório — pra minha vida virar de cabeça pra baixo. Nunca vi um sujeito se meter em tantos problemas por causa da família quanto o Gregório. Ele é um cara sem igual, fora de série. Um amigão! Mas, por outro lado, é sentimental demais com quem ama — e quando tá apaixonado, fica ainda pior. Já resolvo muita treta pra ele: carga ilícita, tráfico, liberação de documento livre de imposto... Mas nada se compara ao caos que vira agora que ele se enrola com essa mulher. Desde que se dá conta de que ama a Brenda, minha vida vira um inferno, e tenho que me virar pra consertar as merdas que a querida dele apronta. Agora estou aqui, no cartório, pra anular essa maldita procu
Rubens Paiva — Acalme-se! Essas coisas acontecem. Não se preocupe com isso. É só eu tirar o paletó que nem vai parecer que algo aconteceu. Levo para a lavanderia, e lá eles resolvem a mancha de café — digo, guardando o celular no bolso e apoiando a pasta no chão. — Ai, que vergonha, meu Deus! Sou muito desastrada, e quando fico nervosa, tudo piora — diz ela, realmente envergonhada. — Pra mim, você é perfeita de qualquer maneira — falo, encarando-a feito um bobo boquiaberto. — Desculpa! Mas... o que disse? — pergunta ela, com o rosto corado, ficando ainda mais perfeita. — Disse que você não é desastrada. E que incidentes acontecem. Me chamo Rubens... Rubens Paiva... à sua disposição — digo, estendendo a mão. Ela a aperta com firmeza. — Isabel Gutierrez... — responde, e ao tocar sua mão, sinto uma corrente elétrica atravessar meu corpo, despertando sensações que nunca experimentei. Nos olhamos fixamente. Me perco naqueles olhos cor de mel que me levam ao paraíso sem que eu saia
Gregório Ainda na sala de reuniões Permaneço nesta sala imensa, sentado nesta poltrona, me sentindo um verdadeiro otário. Um fantoche, manipulado por essas malditas pessoas durante tempo demais. Carmen continua sentada, me observando. Está prestes a começar a contar toda a história quando a porta da sala se abre. Mantenho-me na mesma posição, sem esboçar qualquer reação. Percebo alguém se aproximando com alguns papéis na mão, parando ao lado de Carmen. Ergo os olhos e, ao encarar o rosto da pessoa, mal acredito no que vejo. É Jorge. Completamente diferente da última vez em que o vi. Está impecável, vestindo calça social risca de giz, camisa branca de mangas longas com abotoaduras nos punhos, sapatos de couro marrom combinando com o cinto. Cabelo e barba bem cuidados. À minha frente está um homem feito — não o moleque mimado que afundou na bebida para fugir da própria realidade. Carmen começa a assinar alguns documentos. Jorge sequer olha na minha direção. — Como você está, Jorge
Gregório Volto meu olhar para Carmen, que bebe seu café tranquilamente, como se nada estivesse acontecendo. Aproximo-me da sua mesa e me sento na poltrona à sua frente. Sem pensar duas vezes, disparo a pergunta que está entalada na minha garganta desde que ela começou a mostrar quem realmente é.— Jorge e Durval já se entenderam?— Sim. Eles se encontraram há poucos dias no hospital. Ambos estavam internados em estado grave, mas, por um milagre — ou ironia do destino —, sobreviveram... para a minha desgraça.— Como assim, para a sua desgraça? Não está feliz por seu irmão e seu sobrinho estarem recuperados? — pergunto, boquiaberto com sua frieza.— Não! Eles vivos, e ainda por cima unidos, representam um grande problema tanto pra mim quanto pros meus planos com seu padrinho Estêvão — ela fala do meu padrinho como se ele ainda estivesse vivo.Mas, por mim, que continue pensando assim. É melhor que ninguém descubra tudo o que aconteceu na ilha — e, principalmente, que deixamos dois corp
Gregório— Pois bem... continuando... — diz ela, levantando-se e caminhando em círculos, o que só aumenta meu ódio enquanto a acompanho com o olhar.— Os gêmeos eram perfeitos para os planos de vingança e justiça de Estêvão. Percebendo isso, ele encontra uma maneira singular de se apossar deles. Mas, para isso, precisa se livrar de um peso morto que o impede de prosseguir: a mulher de Carlo... Ou seja... a mãe dos gêmeos.Estêvão resolve a situação de forma rápida, simples e muito prática. Como você bem sabe, entre mafiosos existe a famosa vendetta, e Estêvão aproveita os diversos inimigos que sempre teve para arquitetar a morte da sua mãe como se fosse um atentado inimigo, uma vingança da máfia. Seu pai, Carlo, entra em desespero ao perder a mulher que ama e se vê sozinho, cuidando de duas crianças pequenas. É aí que tudo se encaixa. Chegam os Fontana — conhecidos do seu padrinho, muito bem pagos por ele para cuidarem de vocês. Carlo, desesperado, torna-se presa fácil para um homem a