Gregório Ainda na sala de reuniões Permaneço nesta sala imensa, sentado nesta poltrona, me sentindo um verdadeiro otário. Um fantoche, manipulado por essas malditas pessoas durante tempo demais. Carmen continua sentada, me observando. Está prestes a começar a contar toda a história quando a porta da sala se abre. Mantenho-me na mesma posição, sem esboçar qualquer reação. Percebo alguém se aproximando com alguns papéis na mão, parando ao lado de Carmen. Ergo os olhos e, ao encarar o rosto da pessoa, mal acredito no que vejo. É Jorge. Completamente diferente da última vez em que o vi. Está impecável, vestindo calça social risca de giz, camisa branca de mangas longas com abotoaduras nos punhos, sapatos de couro marrom combinando com o cinto. Cabelo e barba bem cuidados. À minha frente está um homem feito — não o moleque mimado que afundou na bebida para fugir da própria realidade. Carmen começa a assinar alguns documentos. Jorge sequer olha na minha direção. — Como você está, Jorge
Gregório Volto meu olhar para Carmen, que bebe seu café tranquilamente, como se nada estivesse acontecendo. Aproximo-me da sua mesa e me sento na poltrona à sua frente. Sem pensar duas vezes, disparo a pergunta que está entalada na minha garganta desde que ela começou a mostrar quem realmente é.— Jorge e Durval já se entenderam?— Sim. Eles se encontraram há poucos dias no hospital. Ambos estavam internados em estado grave, mas, por um milagre — ou ironia do destino —, sobreviveram... para a minha desgraça.— Como assim, para a sua desgraça? Não está feliz por seu irmão e seu sobrinho estarem recuperados? — pergunto, boquiaberto com sua frieza.— Não! Eles vivos, e ainda por cima unidos, representam um grande problema tanto pra mim quanto pros meus planos com seu padrinho Estêvão — ela fala do meu padrinho como se ele ainda estivesse vivo.Mas, por mim, que continue pensando assim. É melhor que ninguém descubra tudo o que aconteceu na ilha — e, principalmente, que deixamos dois corp
Gregório— Pois bem... continuando... — diz ela, levantando-se e caminhando em círculos, o que só aumenta meu ódio enquanto a acompanho com o olhar.— Os gêmeos eram perfeitos para os planos de vingança e justiça de Estêvão. Percebendo isso, ele encontra uma maneira singular de se apossar deles. Mas, para isso, precisa se livrar de um peso morto que o impede de prosseguir: a mulher de Carlo... Ou seja... a mãe dos gêmeos.Estêvão resolve a situação de forma rápida, simples e muito prática. Como você bem sabe, entre mafiosos existe a famosa vendetta, e Estêvão aproveita os diversos inimigos que sempre teve para arquitetar a morte da sua mãe como se fosse um atentado inimigo, uma vingança da máfia. Seu pai, Carlo, entra em desespero ao perder a mulher que ama e se vê sozinho, cuidando de duas crianças pequenas. É aí que tudo se encaixa. Chegam os Fontana — conhecidos do seu padrinho, muito bem pagos por ele para cuidarem de vocês. Carlo, desesperado, torna-se presa fácil para um homem a
Rubens Paiva (Amigo e Advogado de Gregório)Assim que recebo a ligação da Olga, entro no carro e saio dirigindo como um louco para chegar o quanto antes à empresa. Meu irmão precisa da minha ajuda, e não posso deixá-lo na mão justo agora. Sempre estivemos um ao lado do outro, em todos os momentos — bons ou ruins. E será assim até o fim das nossas vidas.Em poucos minutos, estaciono o carro de qualquer maneira na entrada do prédio. Saio correndo em direção ao elevador, que, por sorte, está chegando naquele exato momento. Entro, aperto o botão do último andar e imploro aos céus para que chegue o mais rápido possível. Meu telefone toca, e ao olhar o visor, vejo que é o número do Carlo.— Não vou atender agora. Do jeito que estou nervoso, posso acabar contando o que aconteceu com o Gregório e colocando todo mundo em perigo — penso, enfiando o celular no bolso sem sequer finalizar a chamada, para que ele ache que não percebi.O elevador para, e assim que a porta se abre, saio em disparada
RUBENSNo hospital— Por que a trouxe, Carlo? Isso é muito perigoso — pergunto, olhando ao redor para ver se há algum policial nos observando.— Tentei impedi-la, Rubens, mas foi impossível. Ela o ama e, mais uma vez, ameaçou matar um de nós se não a trouxéssemos — Carlo responde, enquanto Brenda me encara séria.— Você, hein? Está achando que é uma mafiosa, dona encrenca? — falo, e ela dá de ombros, como se não se importasse com nada além do Gregório.— Como ele está? O que aconteceu com o Gregório, Rubens? — Carlo pergunta, aflito.— Ele levou um tiro nas costas e o estado é gravíssimo. Precisa de uma transfusão de sangue urgente, mas aqui não há do tipo dele. Por isso te liguei na hora — explico, e ele responde de imediato:— Eu tenho o mesmo tipo sanguíneo.— Então venha comigo, vou levá-lo até o médico responsável para iniciar o procedimento — digo, já caminhando para a sala. Carlo me segura e pergunta:— Quem atirou no meu filho?— Foi o Jorge. Não sei exatamente o que aconteceu
MOMENTOS ANTES DE BRENDA CHEGAR Ramon Ortiz (Pai de Brenda) — No quarto do Hospital— Não teve nenhuma notícia da nossa menina Tereza? — Ramon pergunta terminando de fechar os botões da sua camisa de mangas curtas na cor azul, pois havia acabado de receber alta do hospital— Não Ramon! Perguntei à pouco para Maria e ela também não sabe de nada. Precisamos continuar tendo fé que ela esteja bem meu velho. — Tereza responde fechando a bolsa — Com certeza está foragida ainda. Também depois de todas as imundices que ela fez é melhor que nunca mais aparecesse e sumisse de vez das nossas vidas. — Alma fala com rancor da irmã — Não fale assim da sua irmã. Desejar o mal do próximo é um grande pecado diante de Deus minha filha. Não foi essa educação que sua mãe e eu lhe demos. — Ramon adverte olhando a filha sem acreditar no que ouviu— Pecado maior do que Brenda fez papai... isso é impossível. — Alma fala cruzando os braços ressentida — Minha filha não julgue sua irmã. Todos somos humanos
Brenda Ortiz Abraço meu pai apertado por um longo tempo. As palavras saem entre soluços:— Me perdoa por tudo, papai... Eu imploro, me perdoa... Sei que errei muito, mas eu não sou uma assassina, papai... Eu não sou...Choro como uma criança nos braços dele.— Eu sei, minha menina... Sei que você não fez nada do que estão te acusando. Ninguém vai conseguir apagar você da lembrança do meu coração. Eu te amo, minha filha! — ele diz, acariciando meu rosto, beijando minha testa e me abraçando mais uma vez, com toda a força.— Eu cometi tantos erros, papai... Abandonei minha filha, enganei o Gregorio... Mas já tô tentando consertar tudo. Não vejo a hora desse inferno acabar.— Eu sei, minha filha. Fica tranquila, tudo vai se resolver — ele fala, passando a mão no meu cabelo.Olho bem nos olhos dele.— Como o senhor tá, papai?— Tô muito bem, minha filha. Não foi dessa vez que o Senhor me levou pro lado dele — ele responde com aquele jeitinho brincalhão de sempre.Dou uma risada entre as l
Horas DepoisBúziosCasa de Durval— Estamos esperando a chegada de alguém, Durval? — pergunta Maria.— Que eu saiba, não, amor. Celso está no escritório, ao telefone. Zoe está na sala brincando com as bonecas, e Isabel foi até a confeitaria trabalhar com aquele sujeitinho de merda. Nosso almoço será só amanhã. — respondo, olhando para ela enquanto termino um copo de limonada.— Então é melhor ver quem chegou. Ouvi o barulho de um carro parando bem em frente ao portão. E como somos novos por aqui, nem tivemos tempo de conhecer os vizinhos. — diz Maria, levantando-se preocupada. Tento tranquilizá-la.— Fique calma, meu amor. Eu vou lá ver o que está acontecendo. Só não se estresse, isso pode fazer mal para o Durvalzinho. — falo, beijando-a antes de calçar os chinelos e seguir até o portão de entrada.— Cuidado, amor! Nunca se sabe o que pode acontecer. — alerta Maria, ainda apreensiva.Olho pelas câmeras de segurança e vejo um carro branco parado em frente à casa. Observo o motorista d