Durval Montreal Levanto-me da cadeira e a coloco no lugar. Vou até o purificador, bebo um pouco d’água, tentando me acalmar. Olho para a mesa de jantar — já está toda preparada. Mas como consigo pensar em comer com toda essa situação?Jamais colocaria em risco a vida de quem amo, e muito menos encobriria os erros de alguém, mesmo que se trate do meu próprio filho... ou da minha irmã.Fico algum tempo na cozinha, pensativo, até perceber Maria se aproximando, assustada, com o telefone nas mãos. Ela me abraça apertado, e logo pergunto:— O que houve, meu amor? Por que está tão nervosa?— Acabei de receber uma ligação da Tereza, mãe da Brenda — diz ela, ofegante.— Aconteceu alguma coisa com eles? — questiono, preocupado com o estado de saúde de Ramon.— Ramon teve alta hoje... está bem, na medida do possível.— Por que "na medida do possível"? — pergunto, sentindo um aperto no peito.— Porque a Brenda acaba de ser presa, acusada de tentativa de homicídio contra Carmen e Jorge.— Mas iss
Delegacia — Rubens Paiva— Sinta-se à vontade na sua nova casa, madame. Peço desculpas por não ser o palácio ou a mansão a que está acostumada. Mas é bom ir se adaptando, porque, ao que tudo indica, será sua moradia por muito tempo — diz Garcia com ironia, olhando para Brenda, sentada à sua frente, com o semblante sereno.— É melhor ir com calma, detetive. Enquanto não houver provas concretas contra minha cliente, esta prisão é considerada arbitrária — afirmo, sério.— Não sei que prova mais o senhor quer para aceitar a culpa da sua cliente pelos crimes de tentativa de homicídio. Sem falar no envolvimento com o tráfico de drogas. Não é mesmo, senhorita Ortiz? — provoca Garcia, e o interrompo de imediato:— Ainda aguardamos fatos concretos que provem sua culpa, Garcia. E sobre o carregamento de cápsulas de cocaína em nome da Montreal Laticínios, este documento que apresento anula de imediato qualquer ligação da minha cliente com essa irregularidade — digo, entregando o papel em suas mã
Rubens PaivaFico algum tempo conversando com Brenda e, enfim, consigo conhecer melhor a mulher por quem o meu amigo se apaixonou. Realmente, ela comete muitos erros... mas quem nunca os cometeu, não é mesmo? O que mais me toca — e muda completamente minha opinião sobre ela — é quando ouço que sua transformação tem origem no amor. Um sentimento puro, verdadeiro, despertado por Gregório desde o primeiro olhar.Isso me faz pensar e acreditar que, apesar de o mundo estar tão destruído, ainda existe esperança. Esperança de sermos felizes, de recomeçarmos. E quem sabe... talvez, dessa vez, eu também consiga? Ao que tudo indica, minha anja confeiteira continuará solteira. Duvido muito que ela insista em se casar com aquele canalha depois que descobrir que ele não passa de um maldito estuprador. Talvez seja o momento certo para aceitar seu convite... uma fatia de torta, um cappuccino?Pittore bate à porta, tirando-me dos devaneios. Ele me entrega o celular de Gregório e informa que ele ainda
Rubens Paiva Fico parado diante daquele monumento de mulher, uma verdadeira escultura viva, que continua me olhando, aguardando uma resposta. Ela está tão linda e perfeita naquele vestido floral que me perco completamente em meus pensamentos. Meu coração acelera, e sinto meu corpo enrijecer com sua presença. Tento disfarçar o encantamento, mas é impossível. Diante de mim está a única mulher que conseguiu mexer comigo no primeiro instante em que nos vimos.Ainda estou boquiaberto, quase babando como um idiota. Mas, então, ouço sirenes. Balanço a cabeça, tentando colocar minhas ideias no lugar e percebo onde estou. Para todos os efeitos, Isabel ainda é uma mulher comprometida — e jamais me olharia com outros olhos. Pelo menos, até descobrir quem é o lixo que lhe jurava amor eterno poucas horas atrás.Olho para minha anja, buscando palavras que, pela primeira vez na vida, me fogem. Nem mesmo diante dos tribunais estive tão nervoso como agora. Respiro fundo e tento responder à sua pergun
Brenda Ortiz Durante todo esse tempo na delegacia, meu único pensamento é sair o quanto antes daqui para correr até o hospital e ficar ao lado do Gregório. A falta de notícias me enlouquece. E, para piorar, preciso enfrentar todo o meu passado de uma só vez. A volta do Alessandro traz uma avalanche de recordações e, principalmente, me faz questionar como pude cometer tantos erros por ter me deixado levar pelo ódio que sentia por ele. Mas sei que tudo o que fiz também nasce do sentimento de impotência que me domina quando descubro que estou grávida, depois de ser violentada de forma tão brutal.Eu só tinha quinze anos, e tive minha infância e adolescência roubadas de uma maneira imoral. Eu o amava. Na minha inocência, acredito que ele seja o homem da minha vida. Aquele a quem eu entregaria minha pureza e todo o meu amor. Sonho com a minha primeira vez acontecendo depois do nosso casamento. Mas tudo não passa de um sonho, de uma ilusão. E quando conheço sua verdadeira face, já é tarde
BrendaUma semana depois...Hoje completa exatamente uma semana que estou trancafiada nesta cela, sem nenhuma expectativa de quando vou sair daqui e, menos ainda, qual será o meu destino.Rubens, junto com Celso, continua tentando encontrar uma brecha na legislação para que eu possa deixar este lugar ou, ao menos, conseguir uma prisão domiciliar.Confesso que meu maior desespero não é ser privada da liberdade, mas estar longe do Gregório neste momento tão difícil e delicado pelo qual ele está passando.Através de Rubens e Carlo, recebo notícias do meu amor. Sei que ele sobrevive à cirurgia — que foi bastante delicada. Agora está no quarto, recebendo todos os cuidados necessários para sua recuperação, mas não para de perguntar por mim um minuto sequer. Carlo repete que estou em casa e que, por motivos de segurança, não posso sair. Segundo ele, Gregório acredita nessa versão, mas eu sei que ele é muito desconfiado. Com certeza percebe que algo está errado. Eu jamais aceitaria ficar naqu
GregórioNo hospitalNão sei por quanto tempo fico desacordado, mas isso pouco importa agora. Tudo o que quero é ver a minha Brenda. Estou louco de saudades dela e não vejo a hora de nos casarmos e ficarmos juntos para sempre.Amo essa mulher demais. Ficar longe dela é como não estar vivo. Quando estamos separados, sinto como se uma parte de mim estivesse faltando. Perco o foco, não consigo pensar em mais nada além dela.Estou deitado em uma cama, recebendo medicação pela veia. Tento levantar a cabeça, mas tudo dói... braços, pernas, tórax. Parece que fui atropelado por um tanque de guerra ou que levei uma rajada de tiros, de tanta dor que sinto.Com muito esforço, consigo erguer um pouco a cabeça. Ao olhar para o lado, vejo meu pai dormindo numa poltrona. Observo-o por alguns instantes e volto a deitar. Uma avalanche de recordações invade minha mente, e entre elas, a gratidão. Sim... Apesar de tudo o que passo para chegar até aqui, sinto-me grato e um homem de sorte. Cresço cercado p
GregórioOlho para a porta e não acredito no que vejo... parada diante de mim está ela. A assassina. A psicopata. Carmen, sorridente e soberba como sempre. O que não consigo entender é como ainda está solta depois de confessar todas as suas monstruosidades. Será que a gravação falhou e ninguém conseguiu ouvir sua confissão? Ou talvez algo tenha acontecido com meu celular e ele não chegou às mãos do Rubens?Ainda absorto em meus pensamentos, observo atentamente seus passos na minha direção. Ela tenta se aproximar da cama onde estou sentado, mas seguro firme seu braço e a encaro com fúria.— O que faz aqui, Carmen? Você deveria estar atrás das grades de uma penitenciária de segurança máxima. Ordinária! Psicopata! — grito, apertando com força seu braço. Ela se solta rapidamente e se afasta.— Filho, por favor... acalme-se. Isso não faz bem à sua recuperação — diz meu pai, aproximando-se e afastando Carmen de mim.— É isso mesmo que você deseja para a mulher que foi sua esposa por tantos