Brenda— Não? Como assim? — pergunto, intrigada, olhando para sua mão.— Chegou também este envelope timbrado. Aparentemente, tem algo além de uma mera carta, pois senti um certo peso ao pegá-lo. Vou deixar aqui em cima da cômoda caso deseje saber do que se trata — diz ele, colocando o envelope branco, tamanho A4, sobre a cômoda.— Tudo bem. Agora pode ir.João beija minha mão, como sempre faz, e sai do quarto, fechando a porta. Aproximo-me da cômoda onde ele deixou a correspondência e, ao segurá-la, sinto um aperto no peito. Ao ver o remetente, algumas lágrimas insistem em se formar, mas respiro fundo, impedindo que qualquer fagulha de sentimento se aposse dos meus pensamentos — e muito menos chegue próximo do meu coração.Sentimentos só servem para atrapalhar a vida. Em nenhum momento posso desviar do meu caminho ou dos meus objetivos: tornar-me uma mulher poderosa, impiedosa, altiva, temida e respeitada por todos. Portanto, essa merda de lembranças não me ajuda em absolutamente nad
Brenda OrtizOuvir Gregório me defender na frente de todos é como tocar o céu e voltar. E ver os olhares furiosos da minha mãe e de Jorge é a melhor parte.Para ser sincera, Gregório me pega de surpresa com essa atitude. Eu imaginava que ainda teria trabalho para chegar ao ponto de tê-lo me defendendo. Mas, para minha alegria, tudo está caminhando melhor do que o esperado. Pelo jeito como ele me olha e se aproxima, sei que já está mais do que fisgado. Meu corpo estremece, e um fogo me consome só de imaginar o seu junto ao meu.Descemos a escada e chegamos ao jardim, onde a festa em comemoração ao meu aniversário acontece.Várias mesas estão distribuídas pelo jardim sofisticado da mansão Montreal, todas cobertas por toalhas de cetim e cobre-manchas nas cores branca e bordô. As cadeiras acolchoadas trazem minhas iniciais bordadas na parte de trás.No centro do jardim, há uma pista de dança iluminada por refletores, luzes de LED e um canhão de fumaça. Um DJ toca diversos estilos musicais
Brenda Ortiz Como um ímã, Gregório se aproxima cada vez mais dos meus lábios. Estou a ponto de me render àquele momento, mas uma voz sussurra em meu ouvido, lembrando-me de que devo recuar e não esquecer meus objetivos. Quando percebo que ele está prestes a me beijar, viro o rosto para o lado oposto. Mas Gregório, insatisfeito, encosta sua barba no meu pescoço, fazendo-me arrepiar ao ouvir seu sussurro. — Sei que não deveria, mas estou encantado por você, Brenda. Você me fascina. — Por favor, senhor... Sou uma empregada. — Finjo pudor, algo que desde os meus quinze anos já não sei o significado. — Shh... Não continue. Você sabe muito bem que não é e jamais será uma empregada nesta casa. — Ele insiste em se aproximar. — Mas é assim que todos me consideram. Olhe ao seu redor, todos estão nos observando como se estivéssemos cometendo um pecado mortal por estarmos dançando. — Falo, abaixando o olhar, mas Gregório ergue meu rosto com a ponta dos dedos, forçando-me a encará-lo novament
Brenda OrtizAfasto-me em direção à piscina e pouco me importo se minha mãe está aborrecida comigo depois do que me ouviu dizer à desgraçada da Isadora. Para início de conversa, eu é que deveria estar chateada pelo fato de ela ter trazido meu pai e a Alma justamente hoje, com a casa repleta de convidados, sem sequer me avisar. Parece que fez isso propositalmente, com a única intenção de me ofender e mostrar qual é o meu lugar aqui. Se ela pensa que vou correr ao seu encontro para tentar me redimir, está muito enganada.Deixarei a poeira baixar e, com o passar dos dias, amansarei a fera, como sempre fiz durante todos esses anos. Com todo o carinho do mundo, a farei compreender que tudo não passou de uma mera brincadeira e, consequentemente, serei absolvida pela Madre Teresa de Calcutá.Porque é isso que minha mãe sempre significou para mim: uma mulher imaculada que deveria ter doado sua juventude a um convento. Lá, sim, seria o lugar ideal para que realizasse todas as suas boas ações,
BrendaCom a voz sombria e arrastada Cristovão falava:— Eu te desejo, Brenda, desde o primeiro dia em que te vi nesta casa. Você é a mulher perfeita para estar ao meu lado e me ajudar nos meus planos de conseguir toda a fortuna dos Montreal — diz Cristóvão, e um frio percorre minha espinha.Isso deveria me interessar, afinal, é o que também desejo. Mas acontece exatamente o contrário. Sua proposta me causa receio, medo e um pavor nunca sentido. Eu precisava me livrar desse sujeito, caso contrário teria muitos problemas.— Você está louco se pensa que vou cair nesse seu joguinho sujo e aceitar essa proposta imunda — retruco, nervosa, tentando me soltar, mas ele aperta ainda mais meu braço, fazendo meus olhos se encherem de lágrimas pela dor.— Gregório nunca será o homem ideal para você. Meu irmãozinho sempre foi fraco, um sentimental patético. Uma mulher como você nasceu para viver e triunfar ao lado de um homem de fibra.— Como, quem? Você? — debochei.— Exatamente. E não finja que
Gregório Montreal Estou ao telefone com meu padrinho, discutindo a reunião de logo mais com todos os membros da organização, quando João se aproxima apressado. — Senhor Gregório, a dona Carmen está alterada no quarto, ameaçando destruir tudo se eu não viesse chamá-lo. Termino a ligação rapidamente e entro na mansão, subindo direto para o quarto de Carmen. Assim que abro a porta, encontro-a desesperada, debatendo-se na cama e gritando que seu corpo está repleto de percevejos. Olho para João, que, assim como eu, está espantado diante da situação, sem saber o que fazer. Aproximo-me de Carmen, tentando acalmá-la, mas ela continua agitada e, de repente, me empurra com força. — Você é um inimigo! — grita, aterrorizada. — Veio me fazer mal, me matar! — Carmen, olhe para mim... Sei que ainda não consegue enxergar, mas toque meu rosto e sinta. Sou eu, Gregório, seu marido. Não se lembra? — digo, segurando seu braço e buscando seu olhar, que parece cada vez mais perdido. — NÃO! Você foi
Gregório MontrealCoço a cabeça, tentando me controlar para não perder as estribeiras e piorar ainda mais a situação. Quando faço um gesto para me levantar da cama, Carmen começa a rasgar a própria roupa, gritando que está cheia de bichos percorrendo seu corpo e que eles vão matá-la se continuar vestida.Ramon tenta segurá-la, mas ela o empurra com tanta força que ele perde o equilíbrio, bate a cabeça no móvel de madeira ao lado da cama e cai no chão, desmaiando na mesma hora.— Misericórdia! Ramon?! — Tereza grita, ajoelhando-se diante do corpo do marido e percebendo uma poça de sangue ao redor da cabeça dele.— Ai, meu Jesus Cristinho! Ele morreu, gente?! — João coloca as mãos sobre a cabeça, andando de um lado para o outro, sem saber o que fazer.Perco a paciência de vez e grito:— SAIA DAQUI, JOÃO, E VÁ PROCURAR AJUDA... AGORA!— Mas, senhor... Quem eu devo chamar? A casa está cheia de convidados, e se alguém souber que dona Carmen está assim, seria um verdadeiro escândalo! Olhe s
GregórioQuando olho, noto que é Brenda quem está desmaiada. Corro ao seu encontro, perguntando de imediato:— O que houve com ela, Cristóvão? — minha voz sai aflita, meu coração acelerado.— Não sei, irmãozinho. Estávamos conversando e bebendo champanhe quando, de repente, ela desmaiou — diz ele, frio e cínico, me fazendo desconfiar de imediato de sua atitude.— Assim, do nada? — olho para ele, desconfiado, mas Cristóvão mantém a mesma expressão cínica de sempre.— Sim, irmãozinho. Do nada! Ou você acha que dopei sua protegida? — responde ironicamente, me fazendo ferver de raiva.— Isso veremos depois, imbecil. Me dê Brenda, vou colocá-la no quarto. Agora vá cuidar de Ramon, que está caído no quarto da Carmen — digo, retirando Brenda dos braços dele. Seu corpo quente e macio encosta no meu, causando um arrepio imediato. Mas logo perco o foco com o susto de Cristóvão ao ver a destruição no quarto.— Eita porra! Que furacão passou por aqui, irmãozinho? Está tudo destruído, e ouço os gr