Gregório MontrealAlgum tempo depoisPermaneço próximo a Carmen, tentando compreender o que está acontecendo. A justificativa de Cristóvão não me convence, e acredito que exista um motivo maior para ela estar agindo de maneira tão estranha.De repente, ouço batidas na porta. É Cristóvão, vindo buscar a maleta que esqueceu sobre a poltrona ao lado da cama de Carmen.Afasto-me um pouco e o puxo para perto da janela.— O que está acontecendo, Cristóvão? Por que ela está desse jeito? — murmuro, para que Carmen não ouça.— Deve ser uma consequência da pancada que sofreu. Mas só teremos um diagnóstico preciso depois de todos os exames — responde, sério.Fico pensativo.— Relaxa, Gregório. Quanto mais louca essa mulher estiver, melhor para você. Já pensou na possibilidade de essa velhota ser internada numa clínica psiquiátrica? O caminho ficaria livre para você.Fulmino Cristóvão com o olhar. Somos idênticos fisicamente, mas completamente diferentes em essência. Cristóvão é objetivo, desapeg
BrendaAs horas passam, e o dia ensolarado dá lugar a uma noite iluminada, simplesmente perfeita. Eu me debruço na janela do meu quarto, vestindo apenas um roupão branco de algodão, sem nada por baixo, e observo cada detalhe da minha festa de aniversário, que, por sinal, está impecável. Minha alegria e felicidade são evidentes. Esta é a primeira festa de aniversário de verdade que tenho em toda a minha vida. Desde que me conheço por gente, meus aniversários nunca passaram de um bolo de fubá em cima da mesa, com algumas velas que mais pareciam ter sido retiradas de um funeral ou do altar de uma igreja.Mas hoje tudo está diferente. Pouco a pouco, estou triunfando e conquistando tudo o que tanto desejo e, principalmente, mereço. Só falta ter ao meu lado o meu neném, mas isso muito em breve vou conseguir. Não demorará para essa caquética cair de uma só vez.Preciso ser habilidosa, inteligente, fria e, acima de tudo, paciente para alcançar o que quero.Com a ajuda do João, o meu escravo,
Brenda OrtizSaio do banheiro vestindo um roupão de algodão branco. Sento-me na minha cadeira acolchoada, que, pelo requinte e pelos detalhes em ouro, mais parece um trono de uma verdadeira rainha.De pé, diante do espelho, observo cada centímetro do meu corpo e admiro a perfeição em forma de mulher bem à minha frente. Logo em seguida, fecho os olhos e me entrego às mãos de Clóvis, meu cabeleireiro e o único a quem confiaria meus lindos cabelos sem hesitar.Encosto a cabeça na poltrona, e ele inicia seu trabalho.— Confio em você, Clóvis. Não me decepcione — digo, observando-o através do espelho.Ele sorri discretamente, segura meus cabelos e murmura:— Jamais decepcionaria uma beleza como a sua.Aproxima-se um pouco mais e, com cuidado, acrescenta:— Minha cara, é um privilégio cuidar de uma mulher tão bela e perfeita como você.Seguro sua mão e sorrio, agradecida pelo elogio.— Eu não esperava menos de um homem inteligente como você.Agora, de olhos fechados, me entrego às mãos dele
Gregório MontrealEstou checando minha arma para a porra da reunião de logo mais, quando, de repente, tenho uma visita inesperada no meu quarto.Sempre fui cauteloso, trancando a porta ao entrar e sair, mas, pelo que aconteceu com a Carmen hoje e com toda essa agitação por conta do aniversário da Brenda, acabo esquecendo. Agora me encontro nessa situação de merda, obrigado a dar satisfações a um fedelho como o Jorge, que, por sinal, se sente muito homem para me encarar com tamanha altivez.Termino o que estou fazendo e, por precaução, guardo a arma novamente no cofre.Continuo me arrumando para participar um pouco da comemoração, mesmo que seja apenas para marcar presença, porque não tenho animação ou motivo para festejar.Minha vontade é sumir desse lugar de uma vez, deixando toda essa gente de merda para trás. Mas, como sempre fui um sentimental do caralho, jamais teria coragem de fazer isso, principalmente depois de tudo o que aconteceu com a Carmen. Nunca a amei, mas, com o tempo,
Brenda OrtizAlguns instantes antes de sair do quartoTudo corre às mil maravilhas. Estou feliz, deslumbrante e simplesmente esplêndida, como deve ser no meu dia.Olho-me no espelho, admirando esta bela obra da natureza: eu. Fico encantada com o que vejo.Este corte de cabelo ficou perfeito, dando-me um ar mais ousado. Aquele cabelo longo deixava-me ingênua demais, e, até algum tempo atrás, isso tinha grande serventia. Mas agora meus planos são outros. Chega de esconder quem realmente sou. Meu momento de brilhar está próximo e, do jeito que estou, minha próxima vítima enlouquecerá diante dessa mudança.Borrifo algumas gotas de perfume francês no pescoço e nos pulsos, fazendo a fragrância se espalhar pelo meu corpo e deixando um aroma exótico e sensual.Admiro-me uma última vez diante do espelho e estou prestes a sair do quarto quando João, depois de acompanhar Clóvis até a saída, surpreende-me com uma ideia inesperada.— Por que não encontramos um jeito de o patrão ser o primeiro a ve
Brenda— Não? Como assim? — pergunto, intrigada, olhando para sua mão.— Chegou também este envelope timbrado. Aparentemente, tem algo além de uma mera carta, pois senti um certo peso ao pegá-lo. Vou deixar aqui em cima da cômoda caso deseje saber do que se trata — diz ele, colocando o envelope branco, tamanho A4, sobre a cômoda.— Tudo bem. Agora pode ir.João beija minha mão, como sempre faz, e sai do quarto, fechando a porta. Aproximo-me da cômoda onde ele deixou a correspondência e, ao segurá-la, sinto um aperto no peito. Ao ver o remetente, algumas lágrimas insistem em se formar, mas respiro fundo, impedindo que qualquer fagulha de sentimento se aposse dos meus pensamentos — e muito menos chegue próximo do meu coração.Sentimentos só servem para atrapalhar a vida. Em nenhum momento posso desviar do meu caminho ou dos meus objetivos: tornar-me uma mulher poderosa, impiedosa, altiva, temida e respeitada por todos. Portanto, essa merda de lembranças não me ajuda em absolutamente nad
Brenda OrtizOuvir Gregório me defender na frente de todos é como tocar o céu e voltar. E ver os olhares furiosos da minha mãe e de Jorge é a melhor parte.Para ser sincera, Gregório me pega de surpresa com essa atitude. Eu imaginava que ainda teria trabalho para chegar ao ponto de tê-lo me defendendo. Mas, para minha alegria, tudo está caminhando melhor do que o esperado. Pelo jeito como ele me olha e se aproxima, sei que já está mais do que fisgado. Meu corpo estremece, e um fogo me consome só de imaginar o seu junto ao meu.Descemos a escada e chegamos ao jardim, onde a festa em comemoração ao meu aniversário acontece.Várias mesas estão distribuídas pelo jardim sofisticado da mansão Montreal, todas cobertas por toalhas de cetim e cobre-manchas nas cores branca e bordô. As cadeiras acolchoadas trazem minhas iniciais bordadas na parte de trás.No centro do jardim, há uma pista de dança iluminada por refletores, luzes de LED e um canhão de fumaça. Um DJ toca diversos estilos musicais
Brenda Ortiz Como um ímã, Gregório se aproxima cada vez mais dos meus lábios. Estou a ponto de me render àquele momento, mas uma voz sussurra em meu ouvido, lembrando-me de que devo recuar e não esquecer meus objetivos. Quando percebo que ele está prestes a me beijar, viro o rosto para o lado oposto. Mas Gregório, insatisfeito, encosta sua barba no meu pescoço, fazendo-me arrepiar ao ouvir seu sussurro. — Sei que não deveria, mas estou encantado por você, Brenda. Você me fascina. — Por favor, senhor... Sou uma empregada. — Finjo pudor, algo que desde os meus quinze anos já não sei o significado. — Shh... Não continue. Você sabe muito bem que não é e jamais será uma empregada nesta casa. — Ele insiste em se aproximar. — Mas é assim que todos me consideram. Olhe ao seu redor, todos estão nos observando como se estivéssemos cometendo um pecado mortal por estarmos dançando. — Falo, abaixando o olhar, mas Gregório ergue meu rosto com a ponta dos dedos, forçando-me a encará-lo novament