Brenda
Continuo deitada de frente para a piscina, aproveitando o meu momento. Tudo está perfeito, até que o portão principal da mansão se abre, e por ele entra o meu neném, fazendo-me arrepiar por completo, além, é claro, de fazer a minha lindinha pulsar de desejo. Baixo os meus óculos de sol na posição meia-lua e, enquanto tenho os pensamentos mais pervertidos deste universo, ouço uma voz próxima ao meu ouvido que me faz perder o sorriso no ato. — Brenda! O que pensa que está fazendo deitada nessa espreguiçadeira como se fosse a dona desta casa, logo depois do acidente da dona Carmen? Responda, menina! — minha mãe chega com aquela voz de quem nunca está a favor de nada do que eu faço. — Bom dia para a senhora também, mamãe! Ainda não sou a dona, mas em breve isso vai mudar! Me aguarde, mamãe... Me aguarde. — Sorrio. — E quanto a essa senhora, não estou sabendo de nada. O que houve desta vez? Ela perdeu o horário no cabeleireiro? Ou foi à clínica de estética para fazer recauchutagem? — respondo sarcástica, levantando da espreguiçadeira, tirando meus óculos. Quando caminho em direção à piscina para cair na água, minha mãe me segura pelo braço, tentando me impedir. — Como pode ser tão abusada desse jeito com uma pessoa tão bondosa quanto a dona Carmen? Ela sofreu uma queda e está desacordada no quarto. Não é possível que você não tenha visto nada, Brenda? Puxo meu braço de volta e me faço de desentendida. — Não estou sabendo de absolutamente nada, mamãe, e, por favor, me deixe em paz pelo menos no dia do meu aniversário. Será que isso é pedir muito? — falo, encarando-a impaciente. — Outra coisa que está muito errada é essa festa exclusiva para você, que sequer faz parte desta família. Até hoje não consigo entender como seu nome foi parar naquele testamento. — Não é porque a senhora não me ama que as outras pessoas agem da mesma maneira, mamãe. Todos nesta casa gostam de mim e se sentem felizes com a minha presença. Mas a senhora, não. Sempre preferiu minhas irmãs a mim. Sempre ofereceu o que era melhor a elas primeiro, e eu sempre tive que me contentar com as migalhas. Nem mesmo o seu carinho eu tive, mamãe, e hoje se queixa de ter outras pessoas. — Tento me afastar, porém, outra vez ela segura meu braço com força, impedindo-me de caminhar. — Isso é o que você diz. Mas sempre te tratei tão bem quanto suas irmãs. Só que você é diferente delas, sempre renegou nossa vida, nossa condição financeira e sempre quis mais e mais. Por esse motivo, trouxe você para a cidade e deixei suas irmãs na fazenda junto ao seu pai. E como me arrependo de ter lhe deixado aqui nesta casa, tudo por culpa daquilo que lhe aconteceu. Meu sangue sobe, perco a paciência e me altero de vez. — Cale-se, mamãe! Alguém pode lhe ouvir, e não quero que ninguém saiba nada sobre o meu passado. — Ela aperta meu braço com mais força. — Me solta! — grito, tentando me desvencilhar dela. — A senhora pensa que ainda sou aquela menina ingînua e boboca do interior que fazia tudo o que os outros ordenavam? Acorde para a vida, mamãe! Já sou uma mulher! E dona do meu próprio destino! — falo, sem tirar os olhos do carro do meu neném. — Você é uma deslumbrada que pensa que, por ter sido criada dentro da mansão, dormindo e vivendo como se fosse uma Montreal, realmente se tornou uma deles. Nunca concordei com esse tratamento que o senhor Vicente te deu e até hoje não compreendo o porquê de todo esse cuidado com você. Mas fui contrariada por todos quando dizia isso, pelo seu pai e até pela falecida dona Aurora, que lhe tratava como se fosse uma neta. — Ela fala com pesar na voz ao relembrar da defunta, enquanto reviro os olhos impaciente. — Aceite que todos aqui me amam, mamãe, e sabem me valorizar. Eles não são como a senhora, que tem o dever de me tratar como mereço por ter o meu sangue, mas, em vez disso, tenta a todo custo arruinar a minha vida. — Falo emotiva, fingindo desapontamento, e ela acaba caindo como sempre. — Eu te amo, minha filha... Sempre vou te amar... Porém, amo a minha Brenda... amo aquela menina doce e ingînua que brincava no campo, que colhia amoras, flores e sorria inocentemente ao olhar os pássaros. Essa sim eu amo e sempre amarei. — Ela me faz lembrar de um passado amargo e doloroso que tento esquecer há anos. — A senhora amava a boboca, estúpida e sonhadora da Dinha. Aquela imbecil que ainda sonhava com um princípe encantado. Mas isso deixo para minhas irmãs, Alma e Margarida, que ainda têm a pureza nos olhos. Infelizmente, para mim, isso não existe mais. A vida é dura, mamãe, e ela me tornou e me obrigou a ser quem sou. A senhora, mais do que ninguém, sabe muito bem disso. — Viro o olhar um pouco estremecida para a piscina, a fim de não demonstrar vulnerabilidade. — Essa mulher que hoje completa vinte e cinco anos não é minha filha. É uma interesseira, uma descarada capaz de tudo para conseguir seus objetivos — ela afirma, como se desconfiasse de algo, e isso me causa espanto. — Não sei do que a senhora está falando — finjo inocência e mudo o foco da conversa. — Realmente, não me ama e nunca me amou como filha, pois, se sentisse algo por mim, não me ofenderia dessa maneira e muito menos me acusaria de infâmias como essas. Logo eu, mamãe, que sempre quis ajudar os mais necessitados. Seu Vicente, dona Aurora e todos nesta casa são testemunhas do meu empenho em ajudá-los em suas necessidades — falo tranquilamente, demonstrando sinceridade, mas gargalhando por dentro. — Você pode enganar as pessoas que vivem nesta casa, mas a mim, nunca vai iludir. Pensa que não percebo como trata dona Carmen? E o jeito como se insinua para Jorge? Pensa que sou cega, que não vi como Alice saiu desta casa aos prantos enquanto Jorge ainda tentava se recompor com as roupas amassadas? — ela fala friamente, olhando-me nos olhos, e eu me mantenho firme como nunca. Essa não é a hora nem o momento de fraquejar. — Carmen sempre me odiou porque sou perfeita, linda e amada por todos. Não tenho culpa de ser como sou, mamãe. Por acaso, somos culpados por Deus oferecer beleza para uns e monstruosidade para outros? — digo e solto uma gargalhada. — Cale-se! — sinto um tapa arder no meu rosto e um puxão no braço que faz meu óculos cair no chão, além do meu coque se soltar, fazendo meus cabelos caírem em cascata, balançando de um lado para o outro e me deixando furiosa. — NUNCA! OUÇA BEM... NUNCA MAIS OUSE TOCAR NO MEU ROSTO, MAMÃE! — falo friamente, trincando o maxilar e segurando firme seu pulso, encarando-a no fundo de seus olhos castanhos, que estão com as pupilas dilatadas diante da minha reação. — NINGUÉM VAI IMPEDIR MEUS PLANOS, NEM MESMO A SENHORA. ENTENDEU? — falo firme, e minha voz sai mais alta do que eu gostaria. — O que pretende fazer comigo, Brenda? Vai me matar? — com lágrimas nos olhos, ela faz a mesma pergunta que a megera da Carmen fez minutos atrás. — Não chegarei a tanto. Mas experimente atrapalhar meus planos, e a senhora terá sua resposta... MAMÃE! — falo, soltando seu braço, e ouço uma voz bem atrás de nós que faz meu coração disparar. ---Brenda — O que está acontecendo aqui, Tereza? Por que as vozes alteradas? Algum problema? — Gregório se aproxima, falando com sua voz rouca e viril, que me deixa enlouquecida. — Não. Nada, senhor Gregório. — Minha mãe responde, baixando o olhar submisso como sempre. — Então por que Brenda está chorando? Uma moça tão linda como ela não deve derramar sequer uma lágrima, ainda mais no dia do seu aniversário. A não ser que seja de alegria. Não é mesmo? — Meu neném diz, segurando meu queixo com a ponta dos dedos e abrindo um sorriso encantador. — Senhor... é que... — Minha mãe tenta falar, mas eu a interrompe, pois sabia que ela iria falar sobre a caquética da Carmen. — Sabe o que é, nenê... Senhor Gregório... — Tento falar, mas ele me interrompe. — Para vocês, somente Gregório. Já disse isso à sua mãe, mas ela insiste em dizer que sou o patrão e que, por essa razão, deve manter o decoro. — Ele fala sorridente, com aquela voz grossa e máscula que me desestabiliza. — É... Infelizmente
Parece que hoje é o dia dos contratempos e tropeços. Primeiro, nada sai como o esperado nos negócios e, quando chego em casa, me deparo com aquela visão perturbadora da Brenda na piscina. Logo em seguida, minha mulher resolve se acidentar dentro da própria casa.Será que é pedir muito que use calçados antiderrapantes nessa maldita mansão?Será que ela não percebe que já é uma mulher de idade avançada e que acidentes domésticos podem acontecer a qualquer momento?Porca puttana!(Que merda!)O que não somos capazes de fazer para manter um padrão de vida digno e evitar que nossa família se envolva em um escândalo?Literalmente, somos capazes de tudo, até mesmo casar com uma mulher como Carmen Montreal.Subo os degraus da escada e não consigo tirar aquela imagem da minha cabeça. Como uma mulher pode ser tão linda quanto Brenda? Chega a ser pecado uma perfeição dessas existir no mundo. O mais incrível é que nunca soube que tenha tido um romance com alguém. Isso é muito estranho, pois uma m
Gregório Montreal — Já te disse para não falar assim da Brenda, cara. Respeite a garota. Ela nunca teve nenhum namorado. — Eu o adverti. — Só falta me dizer que um mulherão daqueles é virgem. — Ele comenta surpreso. — Pode ser, cara. Nunca a vi com ninguém. Ela sempre estuda e volta direto para casa depois da faculdade. Quem sabe, realmente, ela... — Sou interrompido pela gargalhada do meu irmão. — Ah, não! Puta que pariu, Gregório. Se liga, irmãozinho! Já se deixou levar pela ninfeta? Onde que uma mulher daquelas ainda seria virgem? Você só pode estar delirando. No máximo, ela está procurando algum otário que caia na sua rede e a sustente pelo resto da vida. Ou será que ela já encontrou? — Ele me encara com malícia, e meu sangue ferve com a insinuação. — Termina logo esse serviço, porra! E para de encher minha paciência com essas merdas. Não é para isso que te pago todo mês! Falo, tomado pela raiva, enquanto me afasto e encosto na janela do quarto. Cristóvão continua seu trabal
Jardins | São Paulo 25 de dezembro de 2022.Brenda Ortiz Raios de sol transpassam pelas cortinas de linho brancas esvoaçantes e invadem o meu quarto magistral, todo decorado com tons de vermelho e branco, mostrando que mais uma manhã radiante dá início a um dia simplesmente perfeito. Justamente o dia do meu aniversário de vinte e cinco anos. Por sorte ou ironia do destino, nasço na mesma data do menino Jesus. Consequentemente, isso me transforma em uma pessoa imaculada para alguns e profana para outros. Ou melhor dizendo, para outra. Mais claramente na língua da megera Carmen, a digníssima primeira-dama da família Montreal. Mas, na realidade, nunca passa de uma esposa caquética do delicioso Greguizinho... do meu neném... Pois é assim que o chamo nos meus sonhos mais quentes. E vou confessar que, durante essa noite e madrugada, tenho um dos melhores sonhos de toda a minha vida. Um sonho capaz de me fazer delirar e ter espasmos diversas vezes sem nem ao menos ter sido tocada por
BrendaRespiro fundo, sentindo o corpo leve depois de chegar ao ápice naquele vibrador, como se ele tivesse vida própria. Espreguiço-me no maravilhoso lençol egípcio e decidi me levantar da cama para tomar um bom banho de banheira. Limpo o vibrador e o guardo na gaveta com chave. Mas, antes, caminho até a janela, abro as cortinas e me espreguiço novamente, completamente nua diante dos raios de sol.Ligo o som ambiente e, ao clicar na minha playlist, toca a música que amo: " La Descarada". E, pra variar, a letra é a minha cara, né!?Abro as saídas de água quente, coloco alguns sais de banho, faço um coque frouxo no cabelo, deixando-o acima da cabeça, e entro na banheira de mármore italiano cor âmbar, me deliciando naquele banho maravilhoso. Fecho as saídas de água e começo a cantarolar minha canção. Já passava das dez da manhã, e eu ainda nem tomei café. Porém, isso pouco importa. Quanto menos eu como, menos engordo e muito mais gostosa fico para enlouquecer todos à minha volta.Perman
BrendaDesço os longos degraus da escada flutuante e caminho até a cozinha, pegando uma fruta. Olho em volta daquele gigantesco cômodo, todo revestido com pastilhas de vidro nas cores marfim e branco, sentindo uma certa alegria ao pensar que, muito em breve, tudo isso e muito mais me pertencerá.Dou uma mordida na suculenta maçã e mastigo tranquilamente, deliciando-me com o sabor adocicado que somente uma fruta de qualidade pode proporcionar. Por um milagre, a casa está silenciosa como há muito tempo não via."Será que, enfim, encontraram algo melhor para fazer do que bisbilhotar a vida uns dos outros?"Penso enquanto abro o refrigerador de inox, pego um iogurte desnatado e o abro calmamente, adicionando algumas granolas retiradas de um pote de cristal disposto no tampo de granito do armário aéreo acima da pia.Puxo uma banqueta branca junto à ilha e me sento. Vagarosamente, começo a comer o iogurte e, quando estou na última colherada, sinto alguém se aproximar. Um perfume cítrico inc