4. Máscaras Caídas

Brenda

Continuo deitada de frente para a piscina, aproveitando o meu momento. Tudo está perfeito, até que o portão principal da mansão se abre, e por ele entra o meu neném, fazendo-me arrepiar por completo, além, é claro, de fazer a minha lindinha pulsar de desejo.

Baixo os meus óculos de sol na posição meia-lua e, enquanto tenho os pensamentos mais pervertidos deste universo, ouço uma voz próxima ao meu ouvido que me faz perder o sorriso no ato.

— Brenda! O que pensa que está fazendo deitada nessa espreguiçadeira como se fosse a dona desta casa, logo depois do acidente da dona Carmen? Responda, menina! — minha mãe chega com aquela voz de quem nunca está a favor de nada do que eu faço.

— Bom dia para a senhora também, mamãe! Ainda não sou a dona, mas em breve isso vai mudar! Me aguarde, mamãe... Me aguarde. — Sorrio. — E quanto a essa senhora, não estou sabendo de nada. O que houve desta vez? Ela perdeu o horário no cabeleireiro? Ou foi à clínica de estética para fazer recauchutagem? — respondo sarcástica, levantando da espreguiçadeira, tirando meus óculos. Quando caminho em direção à piscina para cair na água, minha mãe me segura pelo braço, tentando me impedir.

— Como pode ser tão abusada desse jeito com uma pessoa tão bondosa quanto a dona Carmen? Ela sofreu uma queda e está desacordada no quarto. Não é possível que você não tenha visto nada, Brenda?

Puxo meu braço de volta e me faço de desentendida.

— Não estou sabendo de absolutamente nada, mamãe, e, por favor, me deixe em paz pelo menos no dia do meu aniversário. Será que isso é pedir muito? — falo, encarando-a impaciente.

— Outra coisa que está muito errada é essa festa exclusiva para você, que sequer faz parte desta família. Até hoje não consigo entender como seu nome foi parar naquele testamento.

— Não é porque a senhora não me ama que as outras pessoas agem da mesma maneira, mamãe. Todos nesta casa gostam de mim e se sentem felizes com a minha presença. Mas a senhora, não. Sempre preferiu minhas irmãs a mim. Sempre ofereceu o que era melhor a elas primeiro, e eu sempre tive que me contentar com as migalhas. Nem mesmo o seu carinho eu tive, mamãe, e hoje se queixa de ter outras pessoas. — Tento me afastar, porém, outra vez ela segura meu braço com força, impedindo-me de caminhar.

— Isso é o que você diz. Mas sempre te tratei tão bem quanto suas irmãs. Só que você é diferente delas, sempre renegou nossa vida, nossa condição financeira e sempre quis mais e mais. Por esse motivo, trouxe você para a cidade e deixei suas irmãs na fazenda junto ao seu pai. E como me arrependo de ter lhe deixado aqui nesta casa, tudo por culpa daquilo que lhe aconteceu.

Meu sangue sobe, perco a paciência e me altero de vez.

— Cale-se, mamãe! Alguém pode lhe ouvir, e não quero que ninguém saiba nada sobre o meu passado. — Ela aperta meu braço com mais força. — Me solta! — grito, tentando me desvencilhar dela. — A senhora pensa que ainda sou aquela menina ingînua e boboca do interior que fazia tudo o que os outros ordenavam? Acorde para a vida, mamãe! Já sou uma mulher! E dona do meu próprio destino! — falo, sem tirar os olhos do carro do meu neném.

— Você é uma deslumbrada que pensa que, por ter sido criada dentro da mansão, dormindo e vivendo como se fosse uma Montreal, realmente se tornou uma deles. Nunca concordei com esse tratamento que o senhor Vicente te deu e até hoje não compreendo o porquê de todo esse cuidado com você. Mas fui contrariada por todos quando dizia isso, pelo seu pai e até pela falecida dona Aurora, que lhe tratava como se fosse uma neta. — Ela fala com pesar na voz ao relembrar da defunta, enquanto reviro os olhos impaciente.

— Aceite que todos aqui me amam, mamãe, e sabem me valorizar. Eles não são como a senhora, que tem o dever de me tratar como mereço por ter o meu sangue, mas, em vez disso, tenta a todo custo arruinar a minha vida. — Falo emotiva, fingindo desapontamento, e ela acaba caindo como sempre.

— Eu te amo, minha filha... Sempre vou te amar... Porém, amo a minha Brenda... amo aquela menina doce e ingînua que brincava no campo, que colhia amoras, flores e sorria inocentemente ao olhar os pássaros. Essa sim eu amo e sempre amarei. — Ela me faz lembrar de um passado amargo e doloroso que tento esquecer há anos.

— A senhora amava a boboca, estúpida e sonhadora da Dinha. Aquela imbecil que ainda sonhava com um princípe encantado. Mas isso deixo para minhas irmãs, Alma e Margarida, que ainda têm a pureza nos olhos. Infelizmente, para mim, isso não existe mais. A vida é dura, mamãe, e ela me tornou e me obrigou a ser quem sou. A senhora, mais do que ninguém, sabe muito bem disso. — Viro o olhar um pouco estremecida para a piscina, a fim de não demonstrar vulnerabilidade.

— Essa mulher que hoje completa vinte e cinco anos não é minha filha. É uma interesseira, uma descarada capaz de tudo para conseguir seus objetivos — ela afirma, como se desconfiasse de algo, e isso me causa espanto.

— Não sei do que a senhora está falando — finjo inocência e mudo o foco da conversa. — Realmente, não me ama e nunca me amou como filha, pois, se sentisse algo por mim, não me ofenderia dessa maneira e muito menos me acusaria de infâmias como essas. Logo eu, mamãe, que sempre quis ajudar os mais necessitados. Seu Vicente, dona Aurora e todos nesta casa são testemunhas do meu empenho em ajudá-los em suas necessidades — falo tranquilamente, demonstrando sinceridade, mas gargalhando por dentro.

— Você pode enganar as pessoas que vivem nesta casa, mas a mim, nunca vai iludir. Pensa que não percebo como trata dona Carmen? E o jeito como se insinua para Jorge? Pensa que sou cega, que não vi como Alice saiu desta casa aos prantos enquanto Jorge ainda tentava se recompor com as roupas amassadas? — ela fala friamente, olhando-me nos olhos, e eu me mantenho firme como nunca. Essa não é a hora nem o momento de fraquejar.

— Carmen sempre me odiou porque sou perfeita, linda e amada por todos. Não tenho culpa de ser como sou, mamãe. Por acaso, somos culpados por Deus oferecer beleza para uns e monstruosidade para outros? — digo e solto uma gargalhada.

— Cale-se! — sinto um tapa arder no meu rosto e um puxão no braço que faz meu óculos cair no chão, além do meu coque se soltar, fazendo meus cabelos caírem em cascata, balançando de um lado para o outro e me deixando furiosa.

— NUNCA! OUÇA BEM... NUNCA MAIS OUSE TOCAR NO MEU ROSTO, MAMÃE! — falo friamente, trincando o maxilar e segurando firme seu pulso, encarando-a no fundo de seus olhos castanhos, que estão com as pupilas dilatadas diante da minha reação. — NINGUÉM VAI IMPEDIR MEUS PLANOS, NEM MESMO A SENHORA. ENTENDEU? — falo firme, e minha voz sai mais alta do que eu gostaria.

— O que pretende fazer comigo, Brenda? Vai me matar? — com lágrimas nos olhos, ela faz a mesma pergunta que a megera da Carmen fez minutos atrás.

— Não chegarei a tanto. Mas experimente atrapalhar meus planos, e a senhora terá sua resposta... MAMÃE! — falo, soltando seu braço, e ouço uma voz bem atrás de nós que faz meu coração disparar.

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