DEENAClaro que eu não conseguiria fazer uma viagem de lua de mel tranquilamente, sabendo que meu bebê de dois meses estaria tão longe de mim, por isso, escolhemos um resort a quatro horas de distância da fazenda, o que também foi muito difícil de aceitar, mas Henry me prometeu que deixaria um helicóptero a disposição, em caso de urgência.O lugar é um paraíso de tranquilidade, bem do jeito que eu gosto, só que no litoral. Da grande varanda que sai das portas de vidro da suíte presidencial, posso ver o mar em toda a sua bravura e imponência, o céu todo em azul Royal.— No que está pensando, meu amor? — Henry diz enlaçando a minha cintura e me aconchegando com o calor do seu corpo as minhas costas.— Só na beleza que é tudo isso... queria que Eve pudesse ver isso também.— Eve vai ter todo o tempo do mundo para vir aqui, mas hoje, Boneca, somos só eu e você.Me afasto dele, para o encarar.— Nós também vamos ter todo o tempo do mundo.— Você não me quer? — ele choraminga.É claro que eu
DEENA— Isso mesmo, meu amor, cave mais! — digo para minha filhinha Eve, enquanto a ajudo a abrir espaço na terra para plantarmos uma batata.— Assim, mamãe? — ela pergunta com a mãozinha no ar, apertando a terra úmida entre os dedos. Sorrio afirmando com um movimento de cabeça.— Isso mesmo, querida. Agora vamos colocar essa batata velha para dormir aqui e cobri-la com toda essa terra que tiramos. — vou dizendo enquanto minhas mãos trabalham. Eve bate com as mãozinhas sobre a terra várias vezes animadamente, ela ama plantar e eu amo vê-la assim, tão feliz.Olhar para ela tão contente me dá ainda mais certeza de que eu fiz a escolha certa ao vir para Red Springs. Aqui, Anton não pode me encontrar.Eve tem três anos e é a coisa mais linda da minha vida, pena ela ser fruto de uma relação tão conturbada.Conheci Anton quando trabalhava em um supermercado em New Jersey, eu tinha dezessete anos e ele vinte e dois. Ele me prometeu tantas coisas que pensei que ele realmente fosse o príncipe
HENRY— Está falando comigo? — pergunto a mulher de cabelos loiros, sujos e desgrenhados a minha frente. Por que aquela mulher coberta de terra estava falando comigo como se me conhecesse? Ela abre a boca, mas não ouço som nenhum sair dos seus lábios.— Sr. Henry Denis, essa é a senhorita Deena Hoyth e ela vai acompanhá-lo durante o cumprimento de sua sentença. Todos os dias, das seis da manhã às duas da tarde. — a assistente comunica, já passando entre nós dois para nos deixar.Me dirijo a escrivaninha e me sento a cadeira mais próxima. A loira continua em pé, em choque, junto a porta.— Bom dia... — começo para que repita o seu nome. Não é que eu não tenha ouvido, é só que eu quero saber como ela prefere ser chamada.— Deena. — responde sem olhar para mim.— Então, Deena... o que eu tenho que fazer por aqui?— Muitas coisas. — ela diz saindo pela porta. Me levanto para segui-la, mas ela sai correndo. Que mulher maluca! O que eu estou pensando? Todas as mulheres são doidas! Por isso
DEENA Boneca? Quem ele pensa que é? E como não pôde se lembrar de mim, mesmo depois de me ver arrumada? “De onde nos conhecemos Boneca?”Com quantas mulheres ele já dormiu na vida, para não se lembrar que já me teve em seus braços?Nos conhecemos na academia, quer dizer: eu o conheci na academia. Que azar o meu! Ele não fazia exercício nenhum, só ficava conversando com as pessoas e “cantando” as meninas. No início eu revirava os olhos, era apenas mais um convencido. Acontece que em uma noitada dessas, em uma boate, eu o conheci de verdade, quer dizer: ele me conheceu, nunca havia me notado na academia.Me ofereceu um drink, dançou comigo, disse coisas bonitas, o clima esquentou e fomos para a casa dele. Estávamos bêbados e não conversamos sobre praticamente nada, apenas “nos pegamos” quase a noite toda e, assim que os primeiros raios da manhã invadiram o quarto eu “me mandei”. Fui embora o mais rápido que pude. Não queria ter que contar sobre nada muito profundo, como por exemplo: q
HENRYTá na cara que essa Gata está na minha. Hoje, olhando naqueles olhos enormes e azuis, tive certeza que a conheço, me segurei para não beijar aquela boca gostosa, não preciso de mais problemas com a justiça, ela é responsável por mim, deve ter alguma lei contra isso. Mas, “cara”, ela é muito bonita, depois que toda essa “droga” de Serviço Comunitário acabar, com certeza vou chamá-la para sair.— Você é muito devagar! — ela diz irritada me levando a uma espécie de celeiro. Para irritá-la, caminho ainda mais devagar.— Bom dia! — escuto uma voz jovial passando rapidamente por mim.— Bom dia, Levi! — Deena responde. Ele para a frente dela. Ele é um rapaz de cabelos compridos, presos em um rabo baixo, está muito sujo, mas está muito perto da minha garota. Acelero o passo, quero saber quem ele é.— Ah, você chegou? — ela pergunta assinando algo em uma prancheta. — Obrigada, Levi. Entregue esse papel para o pastor Jhon da St. Peter.— Ok. — ele responde já se encaminhando para o outro
DEENAApós algumas trocas de farpas chegamos ao estábulo, onde Joyce, a veterinária da fazenda tenta acalmar Raio de sol, um cavalo cor de chocolate, com a crina mais linda de toda a fazenda, preta, um pouco frisada, com algumas tranças. Raio de Sol, como o próprio nome diz, não é um cavalo arisco, por isso, logo vejo que há algo errado.— O que foi? O que está acontecendo? — pergunto, me aproximando.— Cuidado! — Joyce me adverte. — Não chegue muito perto. Ele está com dor.— Por quê?— Está com uma ferida muito infeccionada na pata que eu preciso tratar. Acho que vou ter que colocá-lo para dormir.Enquanto conversamos, nem percebemos que Henry se aproxima do cavalo. Só nos damos conta disso, quando o cavalo se aquieta.— Você é tão lindo! O que há de errado com você? — escuto ele sussurrar para o cavalo estendendo a mão para que ele possa cheirar. Então, olho para Henry e tudo o que vejo é doçura, nem parece o folgado que tem se mostrado a vida toda. — Olha, amigo, precisamos cuida
HENRYA princípio não entendo a pergunto da menina, mas logo que olho para Deena percebo que se trata de sua filha. Eu sei que vocês vão me julgar, mas tenho que falar. “Pegar” mulher com filho é complicado. Por isso, minha reação imediata é se afastar enquanto ela diz:— Não, querida. Que ideia é essa? — ela parece muito nervosa e gagueja para a pequena, relanceando o olhar de mim para ela.— Vocês estavam de mãos dadas que nem namorados. — a pequenina replica de um jeito muito engraçado. Sorrio. Espero que ela diga alguma coisa, porém ela não sabe o que dizer. Abre e fecha a boca várias vezes, mas nenhuma palavra sai dela.— Na verdade... — me abaixo para olhar nos olhos dela. — Sua mãe é minha chefe e eu não deveria ter pegado na mão dela. Você pode me perdoar por isso?Ela suspira tristemente. Meneia a cabeça afirmativamente enquanto a mãe segue com ela para a mesa.Me levanto pensando que o problema já está resolvido, quando vejo a pequenina cabeça loira correndo em minha direção.
DEENADepois da confusão do almoço, evito me aproximar, bem como ter qualquer contato visual com ele. Que papel ridículo pegar a minha mão daquele jeito, na frente de todo mundo e, principalmente na frente de Eve! Fico me perguntando agora, como eu vou tirar essa visão da cabecinha dela, que já está tão confusa, achando que estou procurando um pai para ela, e pior, que eu tenha escolhido o mais irresponsável da face da terra, depois do pai biológico dela, claro!A questão é que agora eu terei que ter ainda mais cuidado com a porcaria dos meus sentimentos quando estou perto dele, e mais, ser muito mais resistente as suas aproximações.É pensando nisso que caminho para a casa principal, quando vejo a sra. Paterson conversando com Henry. Por um momento paro e penso em fugir, entretanto, precisávamos conversar sobre o que aconteceu na estrebaria e sobre Eve.Quando estou a uma distância segura, paro e cruzo os braços. Olho no relógio: São mais de quatro horas da tarde, não era para ele es