Machucou a patinha?

HENRY

Tá na cara que essa Gata está na minha. Hoje, olhando naqueles olhos enormes e azuis, tive certeza que a conheço, me segurei para não beijar aquela boca gostosa, não preciso de mais problemas com a justiça, ela é responsável por mim, deve ter alguma lei contra isso. Mas, “cara”, ela é muito bonita, depois que toda essa “droga” de Serviço Comunitário acabar, com certeza vou chamá-la para sair.

— Você é muito devagar! — ela diz irritada me levando a uma espécie de celeiro. Para irritá-la, caminho ainda mais devagar.

— Bom dia! — escuto uma voz jovial passando rapidamente por mim.

— Bom dia, Levi! — Deena responde. Ele para a frente dela. Ele é um rapaz de cabelos compridos, presos em um rabo baixo, está muito sujo, mas está muito perto da minha garota. Acelero o passo, quero saber quem ele é.

— Ah, você chegou? — ela pergunta assinando algo em uma prancheta. — Obrigada, Levi. Entregue esse papel para o pastor Jhon da St. Peter.

— Ok. — ele responde já se encaminhando para o outro lado.

— Quem é? — pergunto curioso.

— Levi, não ouviu quando o cumprimentei? — redarguiu impaciente. — Bom, você vai pegar as caixas de abóboras e levar lá para o estacionamento, é onde as igrejas vem pegar os donativos. — olho para as caixas empilhadas boquiaberto, eram muitas! — escuta, Gata... — tão logo ouviu que a chamei de gata, virou-se para mim, me fuzilando com o olhar. — Quero dizer, srta. Hoyth. Quem vai me ajudar a fazer isso?

Deena me encara parecendo confusa.

— São muitas e, olha... eu nunca fiz um serviço pesado assim, posso até machucar a as minhas costas. — ela sorri sarcástica.

— Pense nas suas costas quando pensar em fazer algo que seja contra a lei da próxima vez, porque você vai carregar, sim, tudo isso sozinho. — após essas palavras duras, bufa e sai do celeiro me deixando sozinho com aquele mundo de caixas de abóboras.

Me encaminho para pegar as primeiras que estão no chão e, quando me abaixo para pegar uma delas, percebo que a calça me segura, não consigo chegar até a caixa porque não consigo me abaixar direito. Ela tem razão, não sei escolher uma roupa de trabalho. Olho para trás e vejo uns dez “caras” me olhando e rindo. Levi está no meio deles.

— Vocês não vão me ajudar? — pergunto com um tom de irritação. Eles gargalham.

— É você que veio para nos ajudar. — dispara o mais velho. — Vai lá “Mauricinho”, você consegue. — ele diz em meio a uma gargalhada antes da turba se dispersar.

                                                                                         ...

Como todos disseram, eu consegui mesmo. O que não conseguiu foi a minha calça que se rasgou nos joelhos e no meio das minhas pernas, e de um azul muito claro passou para marrom, devido a toda terra que tem por toda essa porcaria de fazenda. Irritar a Gata é muito divertido, mas eu não fui feito para isso, não. Com o dinheiro que minha família tem, nunca precisei trabalhar e talvez, nunca precisarei.

Claro que meu pai me força a ir para a empresa, ao menos duas vezes por semana. Ele diz que eu tenho que aprender como se leva os negócios e, sempre que estou lá, tento aprender alguma coisa. Só que eu preferiria não ter que ir. Gosto de ficar na academia de dia e ir para as baladas de noite, beber e me divertir, mesmo que esteja ficando velho para isso. Tenho 28 anos. Quase todos os meus amigos da mesma idade já estão se ajeitando na vida, se casando, confirmando as suas carreiras e, por isso sempre me comparam com eles, mas eu prefiro me divertir. Se eu posso, qual é o problema?

Há um pouco de feno a porta do celeiro, deixo-me cair sobre ele, estou exausto, olho no relógio, são onze horas, nem é hora do almoço ainda! Não aguento mais nada e ainda tenho até as duas.

A claridade do dia ofusca meus olhos e os fecho por um momento.

— Sr. Denis?! — queria que fosse a voz da minha gata, mas parecia de ser de uma mulher muito mais velha. Era uma voz rouca e arranhada. Abro os olhos e ponho a mão sobre os olhos para enxergá-la melhor. Era uma senhora um pouco acima do peso, portando uma expressão terrível em seu rosto, seu olhar era lancinante e autoritário. Endireito-me sobre o feno. Sinto-me pego por uma das minhas professoras do ginásio.

— Sim. Me desculpe! Só estou descansando um pouquinho, já estou voltando ao trabalho.

— Eu espero que sim, sr. Denis ou vou ter que passar essa situação para a srta. Madders.

— Não. Por favor! Só estava descansando por menos de cinco minutos, já estou voltando ao trabalho. — digo me levantando. Da mesma forma que a senhora surgiu, desapareceu sem dizer nada. Olho em volta, não sei nem por onde começar.

— Hey! — chamo um dos mais velhos, parece ser latino. — Pode me ajudar? O que eu posso fazer agora? — ele ri de mim, na minha cara e depois de alguns segundos me estende a mão.

— Sou Leon. Muito prazer! Olha, acredito que os cavalos estejam precisando de cuidados, hoje é dia de troca de ferraduras.

— O que é isso? — pergunto confuso.

— Ferraduras?

— Não. — sorrio sem graça. — Não sabia que tinham que ser trocadas.

— Bom... é um cuidado, porque embaixo do casco tem a carne do animal e o veterinário tem que cuidar para não dar feridas e essas coisas...

Finjo que entendi e pergunto a direção em que devo ir para chegar no estábulo. No caminho, percebo que as botas estão machucando meus pés, no calcanhar e no dedinho, por isso, começo a mancar.

— Machucou a patinha, Garanhão? — escuto as minhas costas. Era ela. Deena.

— Há... há! — digo sarcástico.

— Veio trocar suas ferraduras?

— Não, Srta. Hoyth! Vim garantir que as suas estejam prontas.

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