DEENA
Após algumas trocas de farpas chegamos ao estábulo, onde Joyce, a veterinária da fazenda tenta acalmar Raio de sol, um cavalo cor de chocolate, com a crina mais linda de toda a fazenda, preta, um pouco frisada, com algumas tranças. Raio de Sol, como o próprio nome diz, não é um cavalo arisco, por isso, logo vejo que há algo errado.
— O que foi? O que está acontecendo? — pergunto, me aproximando.
— Cuidado! — Joyce me adverte. — Não chegue muito perto. Ele está com dor.
— Por quê?
— Está com uma ferida muito infeccionada na pata que eu preciso tratar. Acho que vou ter que colocá-lo para dormir.
Enquanto conversamos, nem percebemos que Henry se aproxima do cavalo. Só nos damos conta disso, quando o cavalo se aquieta.
— Você é tão lindo! O que há de errado com você? — escuto ele sussurrar para o cavalo estendendo a mão para que ele possa cheirar. Então, olho para Henry e tudo o que vejo é doçura, nem parece o folgado que tem se mostrado a vida toda. — Olha, amigo, precisamos cuidar de você. Eu sei. Está doendo, não está? Isso não deve ser nada agradável.
— Continue. Está funcionando. — a veterinária o incentiva.
Ele tenta tocar no animal, mas ele recua com um relincho baixo.
— Não quer que eu te toque? Ok! Quer continuar conversando?
Ele tenta novamente, bem lentamente. Dessa vez, Raio de Sol permite o toque de carinho, mesmo reclamando um pouco, por causa do procedimento que está sendo feito em sua pata.
— Pobrezinho! Já vai terminar.
Enquanto ele faz carinho na crina e no corpo do cavalo, seus olhos encontram os meus, ele sorri gentilmente e eu fico sem graça. Troco o apoio do pé e pigarreio. Sinto as bochechas esquentarem, Com certeza estou vermelha.
— Pronto! — Joyce declara se levantando. Só então, encara Henry.
Seu rosto demonstra que gosta do que vê e ela também. Joyce é muito bonita, ruiva, toda malhada e está perfeita, mesmo de legging e jaleco. Não gosto da forma como estão se olhando.
— Joyce, este é o Sr. Denis. Está cumprindo pena fazendo Serviços comunitários aqui na fazenda. — declaro em alto e bom som.
— Cumprindo pena? — ela pergunta, tentando disfarçar seu espanto.
— Foi só uma briga de bar. — ele diz impaciente e um pouco irritado, demonstrando não ter gostado nada de me ouvir dizer apenas uma verdade.
Nos olhamos desafiadores e quando a ruiva percebe, se afasta.
— Bom, por hoje é só. Qualquer coisa, me liguem. — ela diz antes de nos deixar. Ameaço fazer o mesmo, mas sinto a mão de Henry segurando o meu braço. Tento me desvencilhar, mas ele não me solta, tento novamente e sou puxada para a parede de madeira. Ele não está tão próximo, mas consigo sentir o calor de seu corpo e seu cheiro, uma mistura de suor e perfume, não muito agradável. Respiro fundo, receosa com o que ele pretende fazer.
— Você ficou com ciúmes da doutora, não foi?
— Você está maluco! — digo, tentando sair pela lateral, mas suas mãos seguram meus ombros firmemente e seu rosto se aproxima do meu. “Alerta vermelho Deena, cai fora!” digo para mim mesma, porém meu corpo não se move. Sua boca se aproxima da minha e consigo sentir o seu hálito quente. Prendo a respiração e fecho os olhos.
Quando seus lábios encontram os meus, tenho um sobressalto, que o faz se afastar um pouco. Abro meus olhos e vejo que há fogo nos dele, que passeiam da minha boca para meus olhos seguidamente. Sua mão aperta e puxa minha cintura, para ele. Percebendo que me derreto ao seu toque, puxa-me com força, tomando a minha boca com voracidade, sua outra mão agarra os cabelos da minha nuca e seu corpo colide e se cola ao meu, pressionando-me contra a madeira, que balança um pouco.
O enlaço com meus braços, enquanto seus lábios deslizam pelo meu pescoço e meu colo. Arfo quando uma de suas mãos encontra o meu traseiro e o aperta, para em seguida deslizar pela minha coxa, a erguendo para o seu quadril. Sinto que vou cair, porque minha única perna que está no chão parece uma gelatina. Percebendo, a solta e me segura. Me apoio em seus ombros enquanto seus lábios voltam a encontrar os meus e suas mãos passeiam pelas minhas costas, me puxando para ele. Estou quase perdendo os sentidos, quando Raio de Sol relincha alto.
Nos afastamos assustados e ofegantes.
Não consigo olhar para ele, não consigo acreditar no que acabamos de fazer.
— Olha... Isso foi errado de tantas formas... — começo.
— Eu sei. Me desculpe! — ele diz em voz baixa e rouca.
Tento me organizar, arrumando os fios de cabelo fora do lugar e as minhas roupas tortas. Ele apenas se vira para a baia respirando fundo. Aproveito que ele não está olhando para escapar o mais rápido que posso. Após caminhar alguns passos, escuto ele gritar:
— Eu sei de onde nos conhecemos! — paro um pouco, mas não me volto para ele. Meu coração está disparado e todos os tipos de alarmes possíveis estão soando em minha mente e em meu corpo. Lágrimas assomam meus olhos. Percebo pelo farfalhar da grama que ele está se aproximando. Não posso ficar aqui, corro o mais rápido que posso, mesmo sem saber para onde estou indo.
...
Chego em casa transtornada e corro para o chuveiro. Giro o registro até o fim, colocando a água no jato mais forte e, consequentemente mais frio. Entro de roupa e tudo, enquanto deixo que as lágrimas rolem como um rio. Só quero chorar e nem sei por que, começo a achar que estou exagerando e mesmo assim não consigo me controlar. Vou tirando as roupas aos poucos para terminar o banho e quando desligo o chuveiro, escuto o som estridente do sino do almoço. Subitamente, dou um tapa na minha testa e outro no meu rosto, como eu pude me deixar levar assim? Agora teria que encontrá-lo no galpão para almoçar. Não estava pronta para isso e para completar, era o dia em que Eve almoça comigo. Acabo de me lembrar que Henry nem sabe que tenho uma filha.
...
— Mamãe, a Judith disse que tem pudim de sobremesa. Posso comer ele primeiro?
— O quê? — pergunto distraída.
— O pudim.
— O que tem o pudim? — pergunto novamente, procurando Henry entre os funcionários da fazenda.
— Posso comer ele primeiro?
— Pode. — respondo sem saber exatamente sobre o que era aquela permissão.
— Obaaaa! — ela diz se desvencilhando da minha mão e correndo para o buffet. Continuo procurando Henry para que não corra o risco de esbarrar com ele e respiro aliviada por não vê-lo em lugar algum.
— Deena, precisamos conversar. — a voz grave as minhas costas me sobressalta. Não quero me virar para o encarar, nem preciso, quando me dou conta, ele já está a minha frente. Pigarreio.
— Eu sei. Mas não pode ser agora, nem aqui.
Ele olha em volta, para depois segurar minha mão, me fazendo arregalar os olhos.
— Oi. Você é meu novo papai? — escutamos a voz infantil de Eve. Me desvencilho da mão dele, imediatamente. Sem saber o que fazer, ele força um sorriso para ela.
HENRYA princípio não entendo a pergunto da menina, mas logo que olho para Deena percebo que se trata de sua filha. Eu sei que vocês vão me julgar, mas tenho que falar. “Pegar” mulher com filho é complicado. Por isso, minha reação imediata é se afastar enquanto ela diz:— Não, querida. Que ideia é essa? — ela parece muito nervosa e gagueja para a pequena, relanceando o olhar de mim para ela.— Vocês estavam de mãos dadas que nem namorados. — a pequenina replica de um jeito muito engraçado. Sorrio. Espero que ela diga alguma coisa, porém ela não sabe o que dizer. Abre e fecha a boca várias vezes, mas nenhuma palavra sai dela.— Na verdade... — me abaixo para olhar nos olhos dela. — Sua mãe é minha chefe e eu não deveria ter pegado na mão dela. Você pode me perdoar por isso?Ela suspira tristemente. Meneia a cabeça afirmativamente enquanto a mãe segue com ela para a mesa.Me levanto pensando que o problema já está resolvido, quando vejo a pequenina cabeça loira correndo em minha direção.
DEENADepois da confusão do almoço, evito me aproximar, bem como ter qualquer contato visual com ele. Que papel ridículo pegar a minha mão daquele jeito, na frente de todo mundo e, principalmente na frente de Eve! Fico me perguntando agora, como eu vou tirar essa visão da cabecinha dela, que já está tão confusa, achando que estou procurando um pai para ela, e pior, que eu tenha escolhido o mais irresponsável da face da terra, depois do pai biológico dela, claro!A questão é que agora eu terei que ter ainda mais cuidado com a porcaria dos meus sentimentos quando estou perto dele, e mais, ser muito mais resistente as suas aproximações.É pensando nisso que caminho para a casa principal, quando vejo a sra. Paterson conversando com Henry. Por um momento paro e penso em fugir, entretanto, precisávamos conversar sobre o que aconteceu na estrebaria e sobre Eve.Quando estou a uma distância segura, paro e cruzo os braços. Olho no relógio: São mais de quatro horas da tarde, não era para ele es
HENRY“Se a Gata já estava difícil, agora se tornou intocável.”Penso ao vê-la se afastando, sem nem olhar para trás. Tudo bem! Eu só preciso acabar essa d***a de Serviço Comunitário e voltar para a minha vida. Sinto o celular vibrar no meu bolso traseiro. É uma mensagem de Otto, meu motorista.“Estou aqui”Uma parte minha quer ir embora para nunca mais voltar e é esta parte que estou ouvindo agora, enquanto caminho a passos duros para o carro, resmungando comigo mesmo por ser tão i****a, mas ao avistar o banco a porta do escritório, me lembro de como nos colamos um ao outro, quando ela me içou de lá. Então a raiva se torna arrependimento. Não deveria ter dito aquelas coisas para Deena, ser mãe solteira deve ser uma “barra pesada”, eu não queria magoá-la... ou queria?Sim, é claro que eu queria! Quando estou com ela, quero irritá-la, tirá-la do sério, abaixar aquele nariz empinado, só que depois, tudo o que eu quero é puxá-la para mim pelos cabelos e beijar aquela boca gostosa que ela
DEENA— Um Babaca, isso é o que ele é! — digo andando de um lado para o outro entre a pia e a pequena ilha, enquanto Judith e Lana me encaram bebericando de seus sucos de laranja, se entreolhando de vez em quando. — Disse que não fica com mulheres que tem filhos, ele nem consegue dizer a palavra MÃE!Paro de falar as encarando, esperando que comentem algo, mas elas continuam olhando para minha cara, completamente inexpressivas.— Vocês não vão dizer nada? — digo espalmando as mãos sobre a madeira clara da ilha. As duas se entreolham pela última vez e Lana pousa seu copo sobre a madeira.— Querida, você não está exagerando um pouco? Afinal, o que ele significa para você? Para começar, isto nem deveria estar acontecendo.Lana tem a calma e o acolhimento de uma mãe, nunca se exalta. É uma morena de altura mediana, que não aparenta em nada a idade que tem: 30 anos e mentalmente parece ter 50.Tateio com a mão direita a procura do encosto da banqueta, assim que a encontro, deslizo o meu tr
HENRYO que fazer em uma situação dessas? A menina está tão carente de pai que me colocou nesse lugar, que eu não faço a mínima ideia de como sair, ou melhor, como dizer: “Sai fora, menina. Eu não sou seu pai.”Quem conseguiria? Claro que não quero reforçar a estranheza de toda essa situação, dando a ideia de que aceito este papel, mas como dizer que não aceito sem feri-la. Cara! As coisas já são tão difíceis quando lidamos com adultos, mas Eve é apenas uma criança. O que será que deve ter acontecido na vida destas duas para que esta figura seja tão desejada pela menina e tão inexistente para Deena. Quero muito perguntar, quero muito saber mais sobre elas.Quando me dou conta, a garotinha está esperneando e estendendo os bracinhos em minha direção. Não consigo apenas observar essa cena, vou até as duas e pego a menina, que grata, abraça o meu pescoço. Tento acalmá-la, mesmo com os protestos da mãe e decido que vou acompanhá-las.Vejo que a loira se atrapalha toda para pegar todas aque
DEENANão acredito que me deixei levar novamente! Estou tão confusa, e esse comportamento de Eve é tão preocupante. Se pelo menos Anton se comportasse como um pai eu poderia dizer a verdade a ela, mas ele não se importa nem um pouco com ela, nunca fez questão de ser apresentado como tal. Não sei o que fazer, não posso deixar que ela se envolva com esse i****a dessa forma, basta eu, nesse papel ridículo! O que há comigo? Sou mãe, não posso me derreter dessa forma.Como estamos no Outono, o dia está bem frio, por isso, caminho para o escritório envolvendo meu corpo com os braços. De longe posso ver cinco homens que me esperam para assinarem as entregas. Hoje o trabalho é interno, terei que catalogar entregas e carregamentos, definir para onde vai cada coisa e etc.Normalmente, não gosto muito deste trabalho, mas acho que hoje vem muito bem a calhar. Pelo menos, não terei que olhar para a cara do Sr. Denis.— Bom dia, meninos! Vamos entrar! — cumprimento amigavelmente. — Querem café? — p
DEENA— Por que a surpresa? Você não pode simplesmente pegar a minha filha e sumir. — ele diz com um riso sarcástico. Sinto-me vencida, minhas forças parecem se esvair.— Desde quando sabe que estou aqui?— Uns dois meses. — ele responde puxando a cadeira, provocando um arranhado estridente, para se sentar.— E por que só agora? — respondo me levantando para deixar claro que ele não é bem-vindo.—Você sabe, querida.— Não me chame de querida.— Você sabe que eu tenho esse problema com o j*go...Interrompo seu discurso com uma gargalhada alta e irônica.— Por que está rindo? É difícil para mim, conviver com esse ví*io...— Vá direto ao ponto. O que você quer?Ele umedece os lábios, se endireita na cadeira e lança-me um olhar suplicante. É tão ridículo que me faz revirar os olhos.— Eu tive que pegar dinheiro com agiotas e... eles vão me cobrar e... eles podem acabar comigo, amor.— Eu não sou nada sua, nem quero ser. Nos divorciamos há muito tempo. — o encaro de frente, continuo entrede
HENRYEu queria ter partido a cara dele em mil pedaços, mas como Welma me lembrou, não posso ter mais problemas com a justiça. Talvez terei, porque Koren acaba de chamar a polícia.Deena permanece encolhida, em posição fetal no pequeno sofá de dois lugares da sala da recepção do escritório. Está transtornada, cabelos desgrenhados e rosto vermelho. Ainda tem as marcas das mãos dele pelos braços, em um impulso de raiva vou para fora, quero matá-lo.— Eu vou te matar! — ameaço em alto e bom som, quando sou detido por Koren e Levi. Juro que vejo a sombra de um sorriso passar pelo rosto daquele crápula. — Seu covarde!— Por que não cumpre a sua ameaça agora? Daqui a pouco os tiras estarão aqui. Você pode fugir, ou como você é “melhor” que eu, pode confessar.Me atiro em sua direção com os braços estendidos, porém sou empurrado para dentro da saleta. Welma fecha a porta atrás de si. Leon está lá fora vigiando aquele covarde, enquanto a polícia não chega. Escuto soluços atrás de mim e quando