HENRY
A princípio não entendo a pergunto da menina, mas logo que olho para Deena percebo que se trata de sua filha. Eu sei que vocês vão me julgar, mas tenho que falar. “Pegar” mulher com filho é complicado. Por isso, minha reação imediata é se afastar enquanto ela diz:
— Não, querida. Que ideia é essa? — ela parece muito nervosa e gagueja para a pequena, relanceando o olhar de mim para ela.
— Vocês estavam de mãos dadas que nem namorados. — a pequenina replica de um jeito muito engraçado. Sorrio. Espero que ela diga alguma coisa, porém ela não sabe o que dizer. Abre e fecha a boca várias vezes, mas nenhuma palavra sai dela.
— Na verdade... — me abaixo para olhar nos olhos dela. — Sua mãe é minha chefe e eu não deveria ter pegado na mão dela. Você pode me perdoar por isso?
Ela suspira tristemente. Meneia a cabeça afirmativamente enquanto a mãe segue com ela para a mesa.
Me levanto pensando que o problema já está resolvido, quando vejo a pequenina cabeça loira correndo em minha direção. Assim que me alcança, faz um sinal com a mão para que me abaixe. Assim que eu o faço, ela cochicha na minha orelha:
— Se você quiser ser meu novo papai é só prometer para ela que vai cuidar bem de nós duas, tá?
Sinto meu estômago doer. Ela realmente me quer como pai dela? É muito pequena para saber o quanto passo longe de uma figura paterna. Por alguns segundos fico como a mãe dela, sem saber o que dizer e como responder.
— Sinto muito, sr. Denis. — escuto a voz cortante de Deena, acima de mim e quando nossos olhos se encontram ela diz: — Não vai mais acontecer. Vou conversar com ela. E penso que é a última vez que os vejo naquele dia.
...
Almoçou com sua filha quase do outro lado do galpão, bem fora das minhas vistas e quando passou por mim, fingiu não ter me visto. Nas duas horas restantes de trabalho duro na fazenda, quem me orientou foi Koren, um senhor ruivo de poucas palavras.
O rosto daquela criança não me sai da mente. Por que ela precisa tanto de uma figura paterna em sua vida, a ponto de me querer como o seu pai? Quer dizer, ela nem sabe se eu sou legal, se eu gosto de crianças... Sei lá, eu poderia ser um chato rabugento, ou pior, um monstro.
Eu nem sei o que um pai faz. Meu pai só trabalhava e, definitivamente eu não faço isso. Só nos víamos na hora do jantar e ele, sempre com aquela expressão séria, perguntava:
— Me conte, filho. O que você aprendeu na escola?
Então, eu começava a discorrer sobre as matérias, das quais ele me interpelava sempre, —porque ele sempre sabia de tudo, né? — e eu como o garoto que odiava estudar, respondia sempre gaguejando muito.
Definitivamente eu não quero ser um pai assim, até uns minutos atrás eu não queria ser pai de jeito nenhum, então por que estou cogitando isso agora?
— O que ainda está fazendo aqui, sr. Denis? — a voz autoritária da sra. Welma Paterson me arranca dos meus pensamentos.
— Eu, eu... só estou dando um tempo. — respondo incerto.
— Suas calças estão rasgadas. — ela me informa friamente.
— Eu sei. Me desculpe! Amanhã venho com as calças certas para o tipo de trabalho.
— Espero que sim. Amanhã vamos receber uma grande carga de doação de roupas e mantimentos. Todos precisaremos estar preparados para isso. — terminando o anúncio, ela simplesmente se vira e sai andando. Como uma pessoa como essa dedica a vida a caridade? Tem coisas que eu não entendo e nunca vou entender.
Estou absorto em meus pensamentos, quando sinto alguém se aproximar. Ao erguer os olhos, vejo uma mulher baixinha e magra de calcas jeans largas e camiseta branca, com os cabelos loiros presos em um coque acima da cabeça. Logo penso em como eu gostaria de desmanchá-lo enquanto a beijo. Pigarreio, enquanto ela para com os braços cruzados.
— O que você quer? Por que ainda está aqui?
Espero que mais este capítulo os encontre bem. Muito obrigada por ter chegado até aqui. Gostou deste capítulo? Deixe seu comentário e sua sugestão sobre o que você espera encontrar por aqui.
DEENADepois da confusão do almoço, evito me aproximar, bem como ter qualquer contato visual com ele. Que papel ridículo pegar a minha mão daquele jeito, na frente de todo mundo e, principalmente na frente de Eve! Fico me perguntando agora, como eu vou tirar essa visão da cabecinha dela, que já está tão confusa, achando que estou procurando um pai para ela, e pior, que eu tenha escolhido o mais irresponsável da face da terra, depois do pai biológico dela, claro!A questão é que agora eu terei que ter ainda mais cuidado com a porcaria dos meus sentimentos quando estou perto dele, e mais, ser muito mais resistente as suas aproximações.É pensando nisso que caminho para a casa principal, quando vejo a sra. Paterson conversando com Henry. Por um momento paro e penso em fugir, entretanto, precisávamos conversar sobre o que aconteceu na estrebaria e sobre Eve.Quando estou a uma distância segura, paro e cruzo os braços. Olho no relógio: São mais de quatro horas da tarde, não era para ele es
HENRY“Se a Gata já estava difícil, agora se tornou intocável.”Penso ao vê-la se afastando, sem nem olhar para trás. Tudo bem! Eu só preciso acabar essa d***a de Serviço Comunitário e voltar para a minha vida. Sinto o celular vibrar no meu bolso traseiro. É uma mensagem de Otto, meu motorista.“Estou aqui”Uma parte minha quer ir embora para nunca mais voltar e é esta parte que estou ouvindo agora, enquanto caminho a passos duros para o carro, resmungando comigo mesmo por ser tão i****a, mas ao avistar o banco a porta do escritório, me lembro de como nos colamos um ao outro, quando ela me içou de lá. Então a raiva se torna arrependimento. Não deveria ter dito aquelas coisas para Deena, ser mãe solteira deve ser uma “barra pesada”, eu não queria magoá-la... ou queria?Sim, é claro que eu queria! Quando estou com ela, quero irritá-la, tirá-la do sério, abaixar aquele nariz empinado, só que depois, tudo o que eu quero é puxá-la para mim pelos cabelos e beijar aquela boca gostosa que ela
DEENA— Um Babaca, isso é o que ele é! — digo andando de um lado para o outro entre a pia e a pequena ilha, enquanto Judith e Lana me encaram bebericando de seus sucos de laranja, se entreolhando de vez em quando. — Disse que não fica com mulheres que tem filhos, ele nem consegue dizer a palavra MÃE!Paro de falar as encarando, esperando que comentem algo, mas elas continuam olhando para minha cara, completamente inexpressivas.— Vocês não vão dizer nada? — digo espalmando as mãos sobre a madeira clara da ilha. As duas se entreolham pela última vez e Lana pousa seu copo sobre a madeira.— Querida, você não está exagerando um pouco? Afinal, o que ele significa para você? Para começar, isto nem deveria estar acontecendo.Lana tem a calma e o acolhimento de uma mãe, nunca se exalta. É uma morena de altura mediana, que não aparenta em nada a idade que tem: 30 anos e mentalmente parece ter 50.Tateio com a mão direita a procura do encosto da banqueta, assim que a encontro, deslizo o meu tr
HENRYO que fazer em uma situação dessas? A menina está tão carente de pai que me colocou nesse lugar, que eu não faço a mínima ideia de como sair, ou melhor, como dizer: “Sai fora, menina. Eu não sou seu pai.”Quem conseguiria? Claro que não quero reforçar a estranheza de toda essa situação, dando a ideia de que aceito este papel, mas como dizer que não aceito sem feri-la. Cara! As coisas já são tão difíceis quando lidamos com adultos, mas Eve é apenas uma criança. O que será que deve ter acontecido na vida destas duas para que esta figura seja tão desejada pela menina e tão inexistente para Deena. Quero muito perguntar, quero muito saber mais sobre elas.Quando me dou conta, a garotinha está esperneando e estendendo os bracinhos em minha direção. Não consigo apenas observar essa cena, vou até as duas e pego a menina, que grata, abraça o meu pescoço. Tento acalmá-la, mesmo com os protestos da mãe e decido que vou acompanhá-las.Vejo que a loira se atrapalha toda para pegar todas aque
DEENANão acredito que me deixei levar novamente! Estou tão confusa, e esse comportamento de Eve é tão preocupante. Se pelo menos Anton se comportasse como um pai eu poderia dizer a verdade a ela, mas ele não se importa nem um pouco com ela, nunca fez questão de ser apresentado como tal. Não sei o que fazer, não posso deixar que ela se envolva com esse i****a dessa forma, basta eu, nesse papel ridículo! O que há comigo? Sou mãe, não posso me derreter dessa forma.Como estamos no Outono, o dia está bem frio, por isso, caminho para o escritório envolvendo meu corpo com os braços. De longe posso ver cinco homens que me esperam para assinarem as entregas. Hoje o trabalho é interno, terei que catalogar entregas e carregamentos, definir para onde vai cada coisa e etc.Normalmente, não gosto muito deste trabalho, mas acho que hoje vem muito bem a calhar. Pelo menos, não terei que olhar para a cara do Sr. Denis.— Bom dia, meninos! Vamos entrar! — cumprimento amigavelmente. — Querem café? — p
DEENA— Por que a surpresa? Você não pode simplesmente pegar a minha filha e sumir. — ele diz com um riso sarcástico. Sinto-me vencida, minhas forças parecem se esvair.— Desde quando sabe que estou aqui?— Uns dois meses. — ele responde puxando a cadeira, provocando um arranhado estridente, para se sentar.— E por que só agora? — respondo me levantando para deixar claro que ele não é bem-vindo.—Você sabe, querida.— Não me chame de querida.— Você sabe que eu tenho esse problema com o j*go...Interrompo seu discurso com uma gargalhada alta e irônica.— Por que está rindo? É difícil para mim, conviver com esse ví*io...— Vá direto ao ponto. O que você quer?Ele umedece os lábios, se endireita na cadeira e lança-me um olhar suplicante. É tão ridículo que me faz revirar os olhos.— Eu tive que pegar dinheiro com agiotas e... eles vão me cobrar e... eles podem acabar comigo, amor.— Eu não sou nada sua, nem quero ser. Nos divorciamos há muito tempo. — o encaro de frente, continuo entrede
HENRYEu queria ter partido a cara dele em mil pedaços, mas como Welma me lembrou, não posso ter mais problemas com a justiça. Talvez terei, porque Koren acaba de chamar a polícia.Deena permanece encolhida, em posição fetal no pequeno sofá de dois lugares da sala da recepção do escritório. Está transtornada, cabelos desgrenhados e rosto vermelho. Ainda tem as marcas das mãos dele pelos braços, em um impulso de raiva vou para fora, quero matá-lo.— Eu vou te matar! — ameaço em alto e bom som, quando sou detido por Koren e Levi. Juro que vejo a sombra de um sorriso passar pelo rosto daquele crápula. — Seu covarde!— Por que não cumpre a sua ameaça agora? Daqui a pouco os tiras estarão aqui. Você pode fugir, ou como você é “melhor” que eu, pode confessar.Me atiro em sua direção com os braços estendidos, porém sou empurrado para dentro da saleta. Welma fecha a porta atrás de si. Leon está lá fora vigiando aquele covarde, enquanto a polícia não chega. Escuto soluços atrás de mim e quando
DEENAEstou angustiada, ando de um lado para o outro, me sinto culpada. Pobre Henry! Nada tem a ver com a minha vida e foi levado. Esfrego o meu rosto, quente de preocupação. Aperto a ponte do meu nariz e olho para o teto.— Acalme-se! Você é que é a vítima, esqueceu? — Lana diz, pegando minha mão e fechando meus dedos em volta de um copo de água, que viro todo na minha boca. — Não esqueça que o Sr. Denis é muito rico e pode pagar quantos advogados forem necessários.Me desespero ainda mais, ao pensar na minha filha. Ele ameaçou tirá-la de mim. Ele sempre faz isso... Me culpo, me culpo sim, por ter escolhido um cafajeste como ele para ser meu marido, no que eu estava pensando?Soluço desesperadamente, logo percebo os braços de Lana, minha melhor amiga, me envolverem.— Shhh! — sibila acariciando meus cabelos. — Vai ficar tudo bem.— Não vai, Lana! Nunca fica. Ele sempre me encontra... — digo entre soluços.No mesmo instante, a porta é aberta e escuto os passinhos apressados de Eve se a