HENRY— Podemos ir a um lugar mais reservado? — minha mãe pergunta ao me ver me sentar na sala de espera.— Olha, eu não vou me distanciar da minha mulher e do meu filho, só para ouvir merda vinda de você.Me arrependo no minuto em que termino de falar, afinal de contas, ela é a minha mãe. Espero uma resposta sarcástica, porém o que vem depois disso, me pega totalmente despreparado. Ela se senta, apoia os cotovelos nos joelhos, a cabeça nas mãos e chora convulsivamente.Ah, não! Ela quer transformar o meu momento, no momento dela. Viro as costas e sigo para o quarto de Deena.— Filho... espera!Escuto as minhas costas. Paro sem olhar para trás.— Só... só me escuta um pouco, por favor!Dou mais alguns passos em direção ao quarto.— Só... me deixe me desculpar com você.Droga! Volto alguns passos e a encaro de frente.— Se desculpar sobre o quê? Sobre o casamento com Katiana? Sobre atrasar a minha felicidade, maltratar a minha mulher? Sobre o quê?— Tudo! — ela diz em um grito sufocado
DEENA— Mamãe!!! — Eve vem gritando me abraçar. Coloco as mãos na barriga, para proteger a cirurgia do choque. Assim que ela percebe, seu rostinho muda para uma expressão surpresa e frustrada. Me sinto muito mal por isso, mas a levo pela mãozinha até o sofá. Ela se senta ao meu lado, movendo o maxilar de um lado para o outro. Sei que está rangendo os dentes, sempre faz isso quando fica ansiosa.Levanto a minha blusa e abaixo um pouco o cós da calça para que ela veja.— Olha aqui, tiveram que me cortar para tirar seu irmãozinho.Ela toca de leve a marca, mas logo tira a mãozinha, como se a cicatriz a queimasse.— Cadê ele? — ela pergunta, olhando em volta. — Seu pai está trazendo. Você sabe como ele é, está tendo dificuldades com a cadeirinha.Não é verdade, é só que eu queria conversar com ela antes. Ela olha para fora, curiosa.— Enquanto eles não entram, queria te dar uma coisa. — tiro uma caixinha azul do bolso das minhas calças largas de moletom. Azul é sua cor favorita. — Vamos l
HENRYPara um dia de Outono, está bem ensolarado, Deena escolheu a data certinha. Temos os tons terrosos da estação, mas algum resquício do calor do Verão.As cadeirinhas brancas estão dispostas em duas fileiras, com uma linda passagem no meio, um tapete vermelho que leva a uma plataforma enfeitada de flores e folhas amarelas e brancas e vermelhas. A decoração foi presente das mulheres da fazenda. Claro, que eu sugeri empresas muito mais experientes, mas Deena ficou muito brava comigo em todas as vezes que abri a minha boca. Disse que o valor afetivo não tem preço. Por isso temos flores amarelas, vermelhas e brancas. Eu disse a ela que era melhor escolher um dos tons com branco, quando ela me mandou parar de ser tão Dennis, que homens da fazenda não se metem em decorações de casamento.A verdade é que não me importa as cores das plantas, desde que eu a leve para a Lua de Mel esta noite e tire o vestido dela, não importa as cores das plantas se ninguém nunca mais possa nos separar, não
DEENAClaro que eu não conseguiria fazer uma viagem de lua de mel tranquilamente, sabendo que meu bebê de dois meses estaria tão longe de mim, por isso, escolhemos um resort a quatro horas de distância da fazenda, o que também foi muito difícil de aceitar, mas Henry me prometeu que deixaria um helicóptero a disposição, em caso de urgência.O lugar é um paraíso de tranquilidade, bem do jeito que eu gosto, só que no litoral. Da grande varanda que sai das portas de vidro da suíte presidencial, posso ver o mar em toda a sua bravura e imponência, o céu todo em azul Royal.— No que está pensando, meu amor? — Henry diz enlaçando a minha cintura e me aconchegando com o calor do seu corpo as minhas costas.— Só na beleza que é tudo isso... queria que Eve pudesse ver isso também.— Eve vai ter todo o tempo do mundo para vir aqui, mas hoje, Boneca, somos só eu e você.Me afasto dele, para o encarar.— Nós também vamos ter todo o tempo do mundo.— Você não me quer? — ele choraminga.É claro que eu
DEENA— Isso mesmo, meu amor, cave mais! — digo para minha filhinha Eve, enquanto a ajudo a abrir espaço na terra para plantarmos uma batata.— Assim, mamãe? — ela pergunta com a mãozinha no ar, apertando a terra úmida entre os dedos. Sorrio afirmando com um movimento de cabeça.— Isso mesmo, querida. Agora vamos colocar essa batata velha para dormir aqui e cobri-la com toda essa terra que tiramos. — vou dizendo enquanto minhas mãos trabalham. Eve bate com as mãozinhas sobre a terra várias vezes animadamente, ela ama plantar e eu amo vê-la assim, tão feliz.Olhar para ela tão contente me dá ainda mais certeza de que eu fiz a escolha certa ao vir para Red Springs. Aqui, Anton não pode me encontrar.Eve tem três anos e é a coisa mais linda da minha vida, pena ela ser fruto de uma relação tão conturbada.Conheci Anton quando trabalhava em um supermercado em New Jersey, eu tinha dezessete anos e ele vinte e dois. Ele me prometeu tantas coisas que pensei que ele realmente fosse o príncipe
HENRY— Está falando comigo? — pergunto a mulher de cabelos loiros, sujos e desgrenhados a minha frente. Por que aquela mulher coberta de terra estava falando comigo como se me conhecesse? Ela abre a boca, mas não ouço som nenhum sair dos seus lábios.— Sr. Henry Denis, essa é a senhorita Deena Hoyth e ela vai acompanhá-lo durante o cumprimento de sua sentença. Todos os dias, das seis da manhã às duas da tarde. — a assistente comunica, já passando entre nós dois para nos deixar.Me dirijo a escrivaninha e me sento a cadeira mais próxima. A loira continua em pé, em choque, junto a porta.— Bom dia... — começo para que repita o seu nome. Não é que eu não tenha ouvido, é só que eu quero saber como ela prefere ser chamada.— Deena. — responde sem olhar para mim.— Então, Deena... o que eu tenho que fazer por aqui?— Muitas coisas. — ela diz saindo pela porta. Me levanto para segui-la, mas ela sai correndo. Que mulher maluca! O que eu estou pensando? Todas as mulheres são doidas! Por isso
DEENA Boneca? Quem ele pensa que é? E como não pôde se lembrar de mim, mesmo depois de me ver arrumada? “De onde nos conhecemos Boneca?”Com quantas mulheres ele já dormiu na vida, para não se lembrar que já me teve em seus braços?Nos conhecemos na academia, quer dizer: eu o conheci na academia. Que azar o meu! Ele não fazia exercício nenhum, só ficava conversando com as pessoas e “cantando” as meninas. No início eu revirava os olhos, era apenas mais um convencido. Acontece que em uma noitada dessas, em uma boate, eu o conheci de verdade, quer dizer: ele me conheceu, nunca havia me notado na academia.Me ofereceu um drink, dançou comigo, disse coisas bonitas, o clima esquentou e fomos para a casa dele. Estávamos bêbados e não conversamos sobre praticamente nada, apenas “nos pegamos” quase a noite toda e, assim que os primeiros raios da manhã invadiram o quarto eu “me mandei”. Fui embora o mais rápido que pude. Não queria ter que contar sobre nada muito profundo, como por exemplo: q
HENRYTá na cara que essa Gata está na minha. Hoje, olhando naqueles olhos enormes e azuis, tive certeza que a conheço, me segurei para não beijar aquela boca gostosa, não preciso de mais problemas com a justiça, ela é responsável por mim, deve ter alguma lei contra isso. Mas, “cara”, ela é muito bonita, depois que toda essa “droga” de Serviço Comunitário acabar, com certeza vou chamá-la para sair.— Você é muito devagar! — ela diz irritada me levando a uma espécie de celeiro. Para irritá-la, caminho ainda mais devagar.— Bom dia! — escuto uma voz jovial passando rapidamente por mim.— Bom dia, Levi! — Deena responde. Ele para a frente dela. Ele é um rapaz de cabelos compridos, presos em um rabo baixo, está muito sujo, mas está muito perto da minha garota. Acelero o passo, quero saber quem ele é.— Ah, você chegou? — ela pergunta assinando algo em uma prancheta. — Obrigada, Levi. Entregue esse papel para o pastor Jhon da St. Peter.— Ok. — ele responde já se encaminhando para o outro