Bom dia, meu novo papai!
Bom dia, meu novo papai!
Por: Raquel Giordano
Você, aqui?!

DEENA

— Isso mesmo, meu amor, cave mais! — digo para minha filhinha Eve, enquanto a ajudo a abrir espaço na terra para plantarmos uma batata.

— Assim, mamãe? — ela pergunta com a mãozinha no ar, apertando a terra úmida entre os dedos. Sorrio afirmando com um movimento de cabeça.

— Isso mesmo, querida. Agora vamos colocar essa batata velha para dormir aqui e cobri-la com toda essa terra que tiramos. — vou dizendo enquanto minhas mãos trabalham. Eve b**e com as mãozinhas sobre a terra várias vezes animadamente, ela ama plantar e eu amo vê-la assim, tão feliz.

Olhar para ela tão contente me dá ainda mais certeza de que eu fiz a escolha certa ao vir para Red Springs. Aqui, Anton não pode me encontrar.

Eve tem três anos e é a coisa mais linda da minha vida, pena ela ser fruto de uma relação tão conturbada.

Conheci Anton quando trabalhava em um supermercado em New Jersey, eu tinha dezessete anos e ele vinte e dois. Ele me prometeu tantas coisas que pensei que ele realmente fosse o príncipe da minha vida.  Pagava todas as contas quando saíamos, abria a porta do carro, me cobria de elogios e sempre dizia que me amava. Dentro de um ano nos casamos e fomos morar em uma pequena casa, quando os problemas começaram: ele saiu do emprego e começou a passar o dia inteiro em bares. Sempre que eu me irritava ele dizia que iria melhorar, que aquilo era passageiro e que ele poderia ser diferente. Eram tantas súplicas que, no fim, eu aceitava. Até que um dia, descobri que ele, não só gastava todo o dinheiro que eu colocava em casa, como passava o dia me traindo. Decidi que iria embora, peguei todas as minhas coisas e fui para a casa de meus pais, não poderia mais aceitar aquela vida.

Não foi nada fácil! Ele ia até a frente da casa de meus pais e ficava gritando e chutando a porta até que chamássemos a polícia. Foi desgastante para todos nós e no fim, não aguentava mais minha mãe dizendo que eu deveria voltar com o meu marido porque aos olhos de Deus seríamos sempre casados, por isso, com o apoio de uma velha amiga, consegui alugar uma casa. Qual não foi a minha surpresa, ao descobrir, dois meses depois que eu estava grávida de Eve.

— Mamãe, será que a gente pode plantar um papai, assim, que nem essa batata? — a voz de minha filha me arranca de minhas lembranças.

Ela não sabe que Anton é o pai dela, mesmo já o tendo visto várias vezes. Ele sabe que é pai dela, mas nunca se interessou e nem interagiu com ela como um pai deveria fazer. E eu, tampouco me importo. Todas as vezes que apareceu depois de saber sobre Eve foi para me chantagear dizendo que pegaria a guarda dela na justiça ou implorar por ajuda financeira para pagar suas dívidas de jogos. Eu não aguentava mais, precisava de ar. Foi então que fiquei sabendo da Fazenda Paterson em Red Springs, onde eu poderia morar em troca do meu trabalho.

Retiro a luva grossa e imunda com que revolvia a terra, suspiro e retiro delicadamente uma mechinha de cabelo do rosto dela.

— Eve, não é assim que funciona. — respondo.

— Então, como é que é? — pergunta com seus grandes olhos azuis cheios de expectativas.  Movo-me desconfortável, penso um pouco.

—Bem... a mamãe teria que encontrar um homem que fosse bom com a gente, namorá-lo e conhecê-lo muito bem e, isso pode demorar muito tempo.

A pequena faz um muxoxo e se levanta batendo as mãozinhas na jardineira jeans, claramente decepcionada. Alcanço sua mãozinha em acalento.

— Então faça isso logo, mamãe. Daqui a pouco já serei grande e não vou precisar mais. — dizendo isso vira as costas e sai correndo em direção a nossa casa.

Respiro fundo, me sentindo frustrada. Sempre me sentia assim quando Eve me pedia um pai. Queria poder realizar o seu desejo, mas como eu poderia fazer isso, sendo que estava tão machucada? As vezes eu saio para curtir com as minhas amigas e acabo ficando com alguém, mas é sempre momentâneo, não estou pronta para um relacionamento. E se eu escolher errado novamente? Agora é diferente, eu tenho uma filha e não posso decepcioná-la ainda mais.

— Senhorita, Hoyth! — escuto, as minhas costas, a voz da gerente da fazenda me chamar. Era uma das cinco senhoras Paterson, Welma Paterson é uma mulher de meia idade e está sempre séria, por isso me levanto rapidamente espalmando minhas mãos pela calça jeans para tirar a terra e me volto para ela. — Senhorita Hoyth, — ela começa arfando um pouco por ter vindo correndo. E, sim. Eu sou Deena Hoyth. — você sabe como estamos tão ocupados com as igrejas vindo buscar as... — parou um pouco para respirar novamente.

— Doações. — completo.

— Sim, querida. Por isso, não estou podendo atender, ficarei no estoque o dia todo. Tem uma assistente social lá no escritório, pode atender para mim?

— Eu estou imunda sra. Paterson. — fingindo não me ouvir, volta para o caminho de onde veio. Bato um pouco mais as minhas roupas, o que de nada adianta, porque estou quase igual a batata que acabamos de plantar.

Chegando ao escritório vejo uma moça de terninho com uma pasta na mão, cabelos pretos bem presos em um coque e maquiada. Me encara de cima a baixo, denotando uma certa repulsa em seu olhar. Penso em estender a mão em um cumprimento, mas depois de sua reação, enfio as mãos nos bolsos da calça jeans larga.

— Bom dia! — digo educadamente.

— Bom dia! Você é uma das Paterson? — me questiona séria.

— Não, sou assistente de Welma Paterson. — Minto. — Vamos entrar?

Espero que ela entre e se acomode, antes de fazer o mesmo atrás da velha escrivaninha de madeira clara.

— Sou Cloe Madder, assistente social. Eu vim até aqui pelo sr. Henry Denis. — assinto com a cabeça para que prossiga. — Ele vai cumprir a pena dele com Serviço Comunitário e eu vou precisar dos dados de quem vai acompanhá-lo.

Sinto meu sangue esquentar e congelar. Um criminoso na fazenda?

— Eu preciso saber se ele é perigoso, você sabe, há crianças na fazenda.

Ela respira fundo e revira os olhos.

— Não o traríamos para cá se fosse perigoso. Você pode me passar seus dados? Eu não tenho o dia todo.

Que mulherzinha irritante! Tenho vontade de mandar para que volte de onde veio, porém ela é uma autoridade. Pego os documentos de sua mão e os preencho rapidamente atirando-os de volta para ela em seguida. Ela percebe minha irritação e se levanta. Abro a porta do escritório para que ela saia, mas o que acontece é que dou de cara com um homem alto de barba e cabelos escuros. Olho bem para aqueles olhos verdes. Eu os conheço. NÃO!

— Você, aqui?!

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo