A pequena cidade parecia um palco em constante murmúrio. As conversas nos mercados e nos bares giravam em torno dos assassinatos, mas o tom não era de preocupação genuína, e sim de curiosidade mórbida. A falta de simpatia pelas vítimas fazia com que o burburinho tivesse um tom quase cínico. Era como se os moradores preferissem tratar os crimes como histórias de terror contadas ao anoitecer, e não como tragédias reais.No entanto, na delegacia, a atmosfera era completamente diferente. Peter e sua equipe estavam mergulhados na análise do caso. Havia detalhes demais para ignorar e lacunas que precisavam ser preenchidas.— Não é que eles não se importem — Álvaro comentou durante a reunião matinal. — É que, para eles, essa pessoa está fazendo o que ninguém teve coragem de fazer.Peter não respondeu. Ele entendia o raciocínio, mas isso não diminuía sua preocupação. O perfil do assassino era meticuloso e, em muitos sentidos, assustador. Ele sabia que, quanto mais sucesso a pessoa tivesse, ma
A noite havia se transformado em algo mais do que uma simples diversão. O ambiente em torno de Aurora e Peter estava carregado de algo que ambos sentiam, mas ainda não nomeavam. Eles se entreolharam enquanto a música ainda ecoava pela rua, mas foi o silêncio crescente entre eles que realmente falou. Não era mais sobre o que diziam, mas o que estava por vir.Chegaram à casa de Peter e, assim que a porta se fechou atrás deles, o calor que se espalhou no ar parecia palpável. Aurora, ainda ofegante, não tirou os olhos de Peter, que a observava com a intensidade de quem sabia exatamente o que queria. Max correu ao redor deles, mas isso foi apenas um detalhe passageiro. O que importava ali era a proximidade crescente entre os dois.Peter tomou a iniciativa, puxando-a para mais perto, e ela não hesitou, não tinha motivos. O toque dele era firme, mas não agressivo, como se tivesse total controle sobre a situação. Mas Aurora sabia que, naquele momento, não havia controle. Ela se entregava, se
O por do sol já abraçava a cidade quando Peter recebeu a ligação.— Temos outro corpo.O terceiro assassinato solidificava um padrão. A vítima era um empresário local, dono de uma imobiliária, envolvido em polêmicas e fraudes. Muitos o consideravam manipulador, outros o chamavam de predador financeiro. Mas, independentemente da reputação, alguém decidira que ele merecia morrer.A cena do crime, em um galpão abandonado, seguiu o mesmo padrão: estrangulamento, corpo posicionado cuidadosamente e a assinatura do assassino — uma rosa vermelha sobre o peito.Peter sentiu um arrepio frio na espinha. Era metódico. Precisão cirúrgica.— Isso não é um crime impulsivo. — comentou, enquanto estudava a cena.Álvaro, ao lado dele, assentiu.— É organizado. O assassino tem controle sobre o local e a vítima. Sem sinais de luta, sem vestígios.Peter olhou para a rosa.— E essa maldita assinatura…A equipe começou a traçar um perfil mais sólido:Método: Drogas, direto, silencioso, exige proximidade.As
Aurora, era uma presença forte e acolhedora que vinha ocupando a mente de Peter de maneira constante. Mas havia algo que antes o impedia de se entregar completamente. Algo que, na verdade, ele carregava consigo há anos e que nunca havia sido verdadeiramente confrontado.Era o passado, um passado que ele mantinha guardado, trancado, temendo que qualquer lembrança o fizesse perder o controle. Mas o afeto crescente por Aurora o estava forçando a olhar para aquilo que ele tentava evitar.Clara e Luna. As lembranças de Clara e Luna haviam se tornado uma parte dolorosa e inseparável de Peter. A morte delas não era algo que ele poderia simplesmente deixar para trás. Clara, com seu sorriso brincalhão e jeito protetor, sempre foi a irmã que o acompanhava em todos os momentos, desde a infância até aquele ponto sombrio de sua vida. Luna, com seu olhar terno e sua risada suave, era o tipo de mulher que ele acreditava ser sua alma gêmea. Juntas, as duas formavam um laço que parecia inquebrável. E
Aviso de Gatilho:A presente obra contém cenas explícitas de violência, tortura, e atos de agressão física e psicológica. As descrições detalhadas de assassinatos, crimes violentos, e o uso de termos policiais podem ser perturbadoras e são exploradas de forma crua e gráfica ao longo da narrativa. Tais cenas visam mostrar a intensidade do enredo e as complexidades psicológicas dos personagens, mas é fundamental que os leitores estejam cientes de que essas representações podem ser desconfortáveis para algumas pessoas.A trama também lida com temas sensíveis, como manipulação psicológica, traumas não resolvidos, e relações destrutivas. Esses elementos, apesar de essenciais para o desenvolvimento da história e do conflito dos personagens, podem tocar em experiências pessoais dolorosas ou reviver memórias traumáticas para aqueles que já vivenciaram situações semelhantes. É importante que o leitor seja avisado de antemão para que possa tomar uma decisão consciente sobre a continuidade da le
O som dos saltos de Rose reverberava contra o chão, como um eco que parecia amplificar-se apenas em seus ouvidos. Talvez fosse o nervosismo. "Respira fundo, Rose, você consegue", repetia para si mesma em silêncio. Mas uma pergunta insistente martelava em sua mente: "Eu realmente preciso fazer isso?"Claro que precisava. Não agora, mas em algum momento deveria parar. Não esta noite, no entanto. O momento não permitia hesitações. Sua roupa estava impecável, e as botas de salto pretas adicionavam uma confiança que ela sabia ser essencial. Era como vestir outra pele, uma máscara que escondia a si mesma de tudo, inclusive de suas dúvidas.Seu coração batia em um ritmo frenético, tão acelerado quanto na primeira vez. Uma pequena voz interior tentava acalmá-la: o alvo não era uma boa pessoa. Ele merecia o que estava por vir. Rose aproximou-se, planejando cada passo com precisão calculada. Em um movimento ensaiado, esbarrou propositalmente no homem.— Me desculpe! Não olhei para frente, acab
Se pudesse descrever Peter, talvez ele fosse um clichê ambulante de alguém que acredita na justiça acima de tudo. Formado em direito, mas com alma de policial, ele jamais aceitaria se trancar em um escritório e viver à base de processos e audiências. Não, o cara precisava de ação, precisava sentir que fazia diferença, mesmo que isso significasse ganhar menos e carregar as marcas de sua escolha na pele. Para ele, o trabalho era mais que um emprego; era uma forma de garantir que ninguém passasse pelo que Clara e Luna, as pessoas que ele mais amou, sofreram. E se isso não soa nobre o suficiente, então você claramente não o conhece.Agora, veja só o destino: Peter estava voltando para sua cidade natal. Isso mesmo, aquele lugar que ele fugiu durante anos e que agora o acolheria novamente, mas com um detalhe intrigante. Ele havia pedido a transferência. Por quê? Nem ele sabia ao certo. Talvez fosse nostalgia, ou talvez uma necessidade de encarar os fantasmas do passado. Seja qual fosse o mo
Corpos em sincronia, num ritmo intenso. Sobe, desce, rebola devagar... uma mistura de esforço e leveza, dor e prazer. Não, antes que alguém se apresse a pensar besteiras, estamos falando de dança! E não qualquer dança, mas uma aula de contemporâneo liderada por Aurora, uma mulher que parecia encarnar a arte em cada movimento. Hoje era um dia especial: a turma havia finalizado pela primeira vez uma sequência inteira das músicas para o festival do bairro. Um marco, diga-se de passagem, considerando que algumas alunas estavam ali havia poucos meses e outras, menos de trinta dias.Aurora, formada em dança e balé clássico, vivia para momentos como esse. Quando dançava, parecia flutuar. Era como se, por alguns instantes, nada pudesse abalar sua paz, como se o mundo inteiro se dissolvesse e tudo que restasse fosse o ritmo e sua liberdade. Porque dançar é isso: muito mais do que mexer o corpo em um palco, é encontrar um jeito de gritar em silêncio, transmitir sentimentos com movimentos singel