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Capítulo 5 - Um café ou um passado?

O café estava vazio naquela manhã, exceto por Aurora. Desta vez, ela não trazia o livro de Dante, mas um caderno pequeno, usado, com a capa marcada pelo tempo e o cheiro antigo de páginas esquecidas. Sentada na mesma mesa de sempre, escrevia com intensidade, como se estivesse exorcizando seus demônios através da tinta. E, na verdade, era isso mesmo que fazia. 

Na noite anterior, algo havia mudado. O som dos pesadelos cortou a tranquilidade ilusória que ela mantinha. Uma voz do passado grave, familiar, perigosa trouxe memórias que Aurora lutava para manter enterradas. Palavras ecoavam em sua mente desde então, desconexas, mas pesadas: "Você não pode fugir para sempre." E que problemas uma ruivinha, bailarina e bonitinha teria para lhe causar tantas aflições?

Todos lutamos contra nossos demônios, isso é uma realidade da vida, mas o preço das escolhas que você faz é o que vai definir o real peso dos seus problemas.  

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Do outro lado da cidade, Peter começava a se aprofundar em outra investigação. O caso do agressor parecia resolvido, mas algo não encaixava completamente. Era como olhar para um quebra-cabeça montado com peças ligeiramente erradas – a imagem geral fazia sentido, mas os detalhes gritavam por atenção.

Transferências bancárias suspeitas surgiram de repente, e todas apontavam para um homem desaparecido há meses. Não era coincidência. O padrão era tão deliberado, tão meticulosamente calculado, que parecia um convite. Como se alguém quisesse que as peças fossem vistas, mas nunca tocadas. Peter sentia um desconforto crescente no peito, uma intuição aguda de que essa investigação o levaria a territórios perigosos. Algo que ele sempre dizia a si mesmo que não temia. Mas seria verdade?

Enquanto dirigia para o café, Peter percebeu que seus pensamentos frequentemente vagavam para Aurora, e isso era estranho. Mesmo sem querer, ele sempre a comparava a seus casos um mistério denso e fascinante, que ele nunca sabia se seria capaz de resolver. Ele não podia negar que havia algo nela que o intrigava além do que seria prudente para alguém como ele. 

Quando Peter entrou no café, o sino na porta soou suave, interrompendo Aurora de sua concentração. Ele parou por um momento ao vê-la. A luz da manhã delineava seu rosto, mas não conseguia suavizar os traços de cansaço e a rigidez da sua postura. A caneta em sua mão parecia uma arma, escrevendo com um foco tão intenso que ele quase se sentiu culpado por interromper.

O caderno chamou sua atenção pequeno, desgastado, e claramente importante para ela. Ele sabia que perguntar sobre isso seria um erro. Aurora tinha a habilidade de transformar curiosidade inocente em uma barreira intransponível. Ele não sabe disso, mas certos detalhes são obvio que precisamos deixar que o outro conte por livre e espontanea vontade. 

Com passos decididos, ele puxou uma cadeira, o som das pernas arrastando no chão ecoando no ambiente vazio. Ele sabia que a abordagem exigia leveza, então tentou com humor.

— Pensei que hoje fosse dia de Dante, não de reflexões profundas. — Ele disse, forçando um sorriso.

Aurora levantou os olhos, e Peter sentiu como se tivesse sido medido e pesado. Era mais do que uma troca de olhares  era um exame. Ela estava decidindo algo. Ele tentou sustentar o olhar, mas era difícil não se sentir vulnerável diante da intensidade dela.

— Às vezes, nem só o inferno é suficiente para afastar os fantasmas. — A resposta veio sem hesitação, mas o tom carregava uma melancolia que ele nunca havia ouvido antes.

Antes que Peter pudesse replicar, ela fechou o caderno com firmeza e o guardou na bolsa. O gesto foi definitivo, como se ela estivesse encerrando não apenas a conversa, mas o acesso a uma parte de si mesma.

Peter arqueou uma sobrancelha, sentindo que algo estava errado. Aurora sempre fora enigmática, mas dessa vez parecia diferente. Como se ela estivesse carregando um fardo maior do que qualquer pessoa deveria suportar sozinha.

— Fantasmas, hein? — Ele comentou casualmente, tentando quebrar o gelo. — São do tipo legais ou do tipo que fazem a gente correr?

Aurora soltou um riso curto, quase involuntário.

— Um pouco dos dois, talvez.

O silêncio que se seguiu era pesado, mas não desconfortável. Era como um campo de batalha onde ambos esperavam o próximo movimento do outro. Para Peter, Aurora era como uma dessas transferências bancárias: um mistério que implorava para ser resolvido, mas com armadilhas espalhadas pelo caminho.

Por fim, ele optou por mudar a abordagem. Sabia que empurrá-la seria inútil . Aurora era como um passo de dança complicado, e ele ainda não sabia a coreografia. Afinal, se levar ao literal do pensamento, ele não sabe coreografia nenhuma.

— Você está bem? — Ele perguntou, a voz mais séria agora.

Aurora hesitou. A pergunta a desarmou por um segundo, mas ela rapidamente recuperou o controle. Não podia ser honesta, não com Peter. Não com ninguém. Afinal, não era honesta com ela mesma. 

— Estou, sim. — Sua resposta veio rápida demais, como um reflexo, o que só reforçou a dúvida em Peter.

Ele sabia que havia mais ali, algo que ela não estava pronta para compartilhar. Mas também sabia que, com Aurora, a paciência era sua melhor aliada.

— Bem, se precisar de um fantasma para assustar os seus, estou à disposição. — Ele brincou, erguendo uma sobrancelha em um sorriso travesso.

Dessa vez, Aurora riu de verdade. Não era apenas um riso educado, mas algo mais genuíno, embora breve. Algo dentro de Peter relaxou. Ele sentiu que, pelo menos naquele momento, havia conseguido o que ela precisava: uma pausa, um alívio.

Mas, enquanto conversavam, Peter percebeu algo sutil: a forma como Aurora o observava. Não era apenas cautela ou desconfiança havia um calor discreto ali, uma vulnerabilidade que ela tentava esconder. Era o tipo de olhar que fazia o coração dele bater um pouco mais rápido, mesmo que ele tentasse não admitir. Afinal, nem sempre se admite uma paixão a primeira vista.

Quando Aurora desviou o olhar para a janela, o momento se quebrou. O sorriso dela desapareceu, e seus olhos se perderam na paisagem. Peter não sabia o que ela estava vendo, mas estava claro que ela estava em outro lugar talvez em outro tempo.

Naquele caderno que ela guardava com tanto cuidado, estavam escritas não apenas palavras, mas confissões. Linhas que falavam de um passado que Aurora queria esquecer, mas que, como todas as verdades sombrias, se recusava a permanecer enterrado.

E, no fundo, Aurora sabia que era apenas questão de tempo até que Peter entrasse nesse turbilhão. Afinal, ele já estava mais envolvido do que imaginava e, quando descobrisse, seria tarde demais para voltar atrás.

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