A manhã já era diferente do que se espera de uma cidade pequena e pacata. Um assassinato na madrugada reuniu os investigadores da região. A cena do crime estava inquietantemente silenciosa, exceto pelo som de passos sobre a terra seca e murmúrios entre os agentes. Zé Castor, um nome que carregava medo e ameaça, agora jazia imóvel na saída da cidade. Peter observava o corpo, tentando encaixar as peças de um quebra-cabeça que ainda nem tinha bordas claras.A perfuração no peito era fatal, mas limpa. Não havia bagunça, não havia luta. Apenas a rosa vermelha repousando ao lado, como um lembrete silencioso de que aquilo não era obra do acaso.— Lembra alguma coisa, não acha? — Disse um dos agentes da perícia, mostrando a rosa com cuidado, sem tocá-la diretamente.Peter franziu o cenho. Claro que lembrava. Há meses, outro homem com um histórico sombrio fora encontrado morto em circunstâncias quase idênticas. Na época, a falta de pistas havia encerrado o caso antes mesmo de começar. Mas ago
A noite estava silenciosa no pequeno quarto que Rose chamava de lar. A única iluminação vinha da chama trêmula de uma vela, lançando sombras dançantes nas paredes. Sobre a mesa, uma rosa vermelha descansava dentro de um pequeno copo d'água, como um prêmio cuidadosamente escolhido.Rose segurava uma caneta, rabiscando em um caderno de capa preta. Cada página continha anotações organizadas, meticulosas, e, ao mesmo tempo, quase poéticas. Ela escreveu devagar, como se cada palavra fosse um ritual. Em outra página, havia recortes de jornais, manchetes sobre crimes que pareciam desconexos para os investigadores, mas que, para ela, seguiam um padrão. As fotos das vítimas estavam marcadas com círculos vermelhos, cada um indicando um ato necessário.No canto do quarto, uma caixa de madeira fechada por um cadeado continha algo que ninguém jamais deveria encontrar. Rose a olhou por um momento, mas não se aproximou. Não ainda. A rosa na mesa era a única companhia que ela precisava naquele moment
A pequena cidade parecia um palco em constante murmúrio. As conversas nos mercados e nos bares giravam em torno dos assassinatos, mas o tom não era de preocupação genuína, e sim de curiosidade mórbida. A falta de simpatia pelas vítimas fazia com que o burburinho tivesse um tom quase cínico. Era como se os moradores preferissem tratar os crimes como histórias de terror contadas ao anoitecer, e não como tragédias reais.No entanto, na delegacia, a atmosfera era completamente diferente. Peter e sua equipe estavam mergulhados na análise do caso. Havia detalhes demais para ignorar e lacunas que precisavam ser preenchidas.— Não é que eles não se importem — Álvaro comentou durante a reunião matinal. — É que, para eles, essa pessoa está fazendo o que ninguém teve coragem de fazer.Peter não respondeu. Ele entendia o raciocínio, mas isso não diminuía sua preocupação. O perfil do assassino era meticuloso e, em muitos sentidos, assustador. Ele sabia que, quanto mais sucesso a pessoa tivesse, ma
A noite havia se transformado em algo mais do que uma simples diversão. O ambiente em torno de Aurora e Peter estava carregado de algo que ambos sentiam, mas ainda não nomeavam. Eles se entreolharam enquanto a música ainda ecoava pela rua, mas foi o silêncio crescente entre eles que realmente falou. Não era mais sobre o que diziam, mas o que estava por vir.Chegaram à casa de Peter e, assim que a porta se fechou atrás deles, o calor que se espalhou no ar parecia palpável. Aurora, ainda ofegante, não tirou os olhos de Peter, que a observava com a intensidade de quem sabia exatamente o que queria. Max correu ao redor deles, mas isso foi apenas um detalhe passageiro. O que importava ali era a proximidade crescente entre os dois.Peter tomou a iniciativa, puxando-a para mais perto, e ela não hesitou, não tinha motivos. O toque dele era firme, mas não agressivo, como se tivesse total controle sobre a situação. Mas Aurora sabia que, naquele momento, não havia controle. Ela se entregava, se
O por do sol já abraçava a cidade quando Peter recebeu a ligação.— Temos outro corpo.O terceiro assassinato solidificava um padrão. A vítima era um empresário local, dono de uma imobiliária, envolvido em polêmicas e fraudes. Muitos o consideravam manipulador, outros o chamavam de predador financeiro. Mas, independentemente da reputação, alguém decidira que ele merecia morrer.A cena do crime, em um galpão abandonado, seguiu o mesmo padrão: estrangulamento, corpo posicionado cuidadosamente e a assinatura do assassino — uma rosa vermelha sobre o peito.Peter sentiu um arrepio frio na espinha. Era metódico. Precisão cirúrgica.— Isso não é um crime impulsivo. — comentou, enquanto estudava a cena.Álvaro, ao lado dele, assentiu.— É organizado. O assassino tem controle sobre o local e a vítima. Sem sinais de luta, sem vestígios.Peter olhou para a rosa.— E essa maldita assinatura…A equipe começou a traçar um perfil mais sólido:Método: Drogas, direto, silencioso, exige proximidade.As
Aurora, era uma presença forte e acolhedora que vinha ocupando a mente de Peter de maneira constante. Mas havia algo que antes o impedia de se entregar completamente. Algo que, na verdade, ele carregava consigo há anos e que nunca havia sido verdadeiramente confrontado.Era o passado, um passado que ele mantinha guardado, trancado, temendo que qualquer lembrança o fizesse perder o controle. Mas o afeto crescente por Aurora o estava forçando a olhar para aquilo que ele tentava evitar.Clara e Luna. As lembranças de Clara e Luna haviam se tornado uma parte dolorosa e inseparável de Peter. A morte delas não era algo que ele poderia simplesmente deixar para trás. Clara, com seu sorriso brincalhão e jeito protetor, sempre foi a irmã que o acompanhava em todos os momentos, desde a infância até aquele ponto sombrio de sua vida. Luna, com seu olhar terno e sua risada suave, era o tipo de mulher que ele acreditava ser sua alma gêmea. Juntas, as duas formavam um laço que parecia inquebrável. E
Aviso de Gatilho:A presente obra contém cenas explícitas de violência, tortura, e atos de agressão física e psicológica. As descrições detalhadas de assassinatos, crimes violentos, e o uso de termos policiais podem ser perturbadoras e são exploradas de forma crua e gráfica ao longo da narrativa. Tais cenas visam mostrar a intensidade do enredo e as complexidades psicológicas dos personagens, mas é fundamental que os leitores estejam cientes de que essas representações podem ser desconfortáveis para algumas pessoas.A trama também lida com temas sensíveis, como manipulação psicológica, traumas não resolvidos, e relações destrutivas. Esses elementos, apesar de essenciais para o desenvolvimento da história e do conflito dos personagens, podem tocar em experiências pessoais dolorosas ou reviver memórias traumáticas para aqueles que já vivenciaram situações semelhantes. É importante que o leitor seja avisado de antemão para que possa tomar uma decisão consciente sobre a continuidade da le
O som dos saltos de Rose reverberava contra o chão, como um eco que parecia amplificar-se apenas em seus ouvidos. Talvez fosse o nervosismo. "Respira fundo, Rose, você consegue", repetia para si mesma em silêncio. Mas uma pergunta insistente martelava em sua mente: "Eu realmente preciso fazer isso?"Claro que precisava. Não agora, mas em algum momento deveria parar. Não esta noite, no entanto. O momento não permitia hesitações. Sua roupa estava impecável, e as botas de salto pretas adicionavam uma confiança que ela sabia ser essencial. Era como vestir outra pele, uma máscara que escondia a si mesma de tudo, inclusive de suas dúvidas.Seu coração batia em um ritmo frenético, tão acelerado quanto na primeira vez. Uma pequena voz interior tentava acalmá-la: o alvo não era uma boa pessoa. Ele merecia o que estava por vir. Rose aproximou-se, planejando cada passo com precisão calculada. Em um movimento ensaiado, esbarrou propositalmente no homem.— Me desculpe! Não olhei para frente, acab