O povo nômade de Khan Shamur era considerado um povo livre e independente, mesmo devendo alguns “favores” ao Reinado. Tinham a liberdade de se moverem para onde bem entendiam, desde que não interferissem no governo local e não causassem confusões em demasia.
O povo de Khan era liderado por Samul Zatter, um homem dedicado a família, sábio e forte. Sua esposa Emília Erin era considerada a mulher mais bela entre os nômades e também a pérola do Reinado, cobiçada pelo próprio rei Álvar, o mesmo que juntou todos os povos que lutavam para dominar as terras de Alderon em um único, causando obviamente, a revolta de alguns clãs, mas foi considerado um ato de sabedoria e heroísmo pela maioria, pois foi graças a isso que conseguiram defender Alderon dos bárbaros chegando em grandes números nos seus poderosos navios de batalha, vindos do além mar desconhecido. O que poucos sabem, inclusive Emília, foi o terrível duelo travado por Samul e o próprio rei em prol de quem ficaria com ela. Samul venceu o rei oferecendo misericórdia em troca de uma vida pacifica para ele e também para seu povo. Álvar era inteligente e aceitou a barganha, e seguiu com sua vida, se casando com uma nobre de algum clã conhecido.
A verdade era que o povo de Khan começou a se mudar com mais frequência que de costume e não era devido a terra ruim ou aceitação da população local, pelo contrário, sempre eram bem vindos em qualquer lugar. O povo era alegre e sempre levava algum tipo de festival para onde fossem. Dança, jogos e sua famosa bebida feita de frutinhas que se assemelhavam aos olhos negros de demônio, com uma casca amarga e escura, mas por dentro, branca e doce, que chamavam de Licor do Olho Negro. Tudo isso era seu cartão de entrada em qualquer lugar. O problema começava quando sua filha rebelde Azura, começava a frequentar as tabernas locais, seduzindo homens tolos, jogando dados e roubando suas moedas, não que ela precisasse. Ela sempre chegava em casa embriagada, fugida, as vezes com hematomas de alguma briga. As vezes as coisas eram tão serias, que o povo vinha pedir a retirada dos nômades em nome da amizade geral para evitar maiores problemas.
Azura tinha toda a beleza e inteligência da mãe, a força e a resiliência do pai. Juntava tudo isso com a teimosia de um adolescente e temos nas mãos uma bomba de confusão prestes a explodir. Com seus cabelos longos e ondulados, de um negro profundo e brilhante, seu rosto se encaixava perfeito, como a obra prima de um escultor inspirado pelos deuses. Com seus lábios carnudos e da cor de uma rosa, olhos grandes e completamente negros, não deixavam pistas para saber o que pensava. De estatura mediana, suas roupas não foram feitas para ocultar os seus dotes físicos. Seu busto avantajado, mas não exagerado estava sempre exposto em um decote perigoso para os homens de vontade fraca. Sua cintura era moldada pela dança que executava com maestria e por sempre correr e montar suas pernas eram fortes e grossas, seguindo o contorno perfeito de seu corpo. Para azar dos incautos que ousavam ir mais além, Samul ensinara a sua filha a arte da esgrima e a garota se mostrara uma aluna talentosa, aprendendo técnicas avançadas e perigosas, muito além do que seu pai esperava. Seria a filha perfeita, motivo de orgulho para todo o clã. Belíssima, poderosa e inteligente. Mas a sua teimosia, curiosidade e os vícios causavam problemas sem fim, não somente para sua família, mas para todo o clã. Sua beleza era o veneno que deixava os homens perturbados e sua dança os hipnotizava, deixando para trás qualquer virtude que possuíam. Quando estavam nesse ponto, Azura conseguia o que pedisse. Era como magia.
Com dezesseis anos já tinha trago mais problemas do que um grupo de jovens delinquentes. Em seu quarto, um baú enorme e trancado, escondia os tesouros que arrancava dos tolos. Colares, pulseiras, ouro, pedras preciosas, estatuetas estranhas, itens mágicos e até mesmo armas e não foi somente uma vez que apareceu alguém reclamando algo que ela roubara ou que tivesse sido enganado no jogo pela garota.
De fato, Azura não precisava de nada disso. Os nômades não eram propriamente ricos, mas eram autossuficientes e tinham posses consideráveis e até mesmo ouro para casos de emergência. Samul não entendia essas atitudes, mas relevava na maioria das vezes porque se lembrava de quando era jovem e quanta besteira fizera na vida. Não adiantava proibir sua filha de ir as tavernas, trancá-la e muito menos colocar alguém para vigiá-la. Ela simplesmente conseguia burlar qualquer segurança e abrir qualquer fechadura. As vezes se arrependia de a ter mimado demais.
Foi no fim do verão que as atitudes da garota chegaram ao ápice. O Khan estava acampado bem ao sul, próximo ao vilarejo de Gremoire, um vilarejo praticamente sem importância, meio esquecido pelo reinado, mas eles produziam um ótimo vinho de frutas cítricas. Azura havia fugido no meio da noite para a taverna local e na tentativa de trapacear nos dados foi descoberta por um aprendiz de mago que morava ali. Obviamente só foi descoberta depois de ter “limpado” os bolsos de vários na taverna. Os aldeões furiosos tentaram reaver o seu dinheiro, mas a garota se recusou a devolver sem lutar, desafiando quem estivesse disposto. Logo os homens ali, subestimando a garota, avançaram ao ataque. Antes de recuar diante dos números de atacantes a garota deixou vários feridos.
O vilarejo em peso foi até o acampamento dos nômades, pedindo sua retirada imediata pagando o prejuízo dos homens feridos ou que entregassem a garota para julgamento.
Samul, pagou a dívida, acalmando os ânimos com bastante licor e ouro. No amanhecer do dia, levantaram acampamento e partiram. Ainda não tinham destino certo, mas o líder do Khan havia tomado uma decisão. Deixou o acampamento avançar e ficou para trás para conversar com a sua filha rebelde.
- Olha, Azura. Seus atos estão prejudicando todo o nosso povo. Não entendo a real dos seus motivos de agir dessa forma, mas isso tem que parar.
Ele estava furioso e preocupado, mas tentava conversar com a garota não somente como pai, mas como líder de um clã.
- O que eu posso fazer? Eu estou cansada dessa vida monótona, eu quero mais, quero tudo que esse mundo tem a oferecer a mim e um pouco mais. Não posso ser recriminada por isso. – Respondeu a garota em tom altivo.
- Entendo perfeitamente isso que você quer dizer. Já tive minha época assim também, mas tenha cuidado, não deixe que a ganância te suba a cabeça, isso pode ser perigoso e também nunca subestime a vida ou ela pode lhe dar-lhe uma rasteira.
A garota ouviu calada. Samul olhou para o acampamento que avançava lentamente e pensou na fera que sua esposa ficaria depois do que estava prestes a fazer.
- Eu pensei muito sobre isso e creio que já está passando da hora.
Samul parou o cavalo na frente do de Azura, a obrigando a parar também.
- A partir de hoje, você Azura Zatter, detentora do meu nome, não pertence mais ao Khan Shamur, você está banida, até que encontre o que procura, satisfaça suas vontades e cresça como mulher e ser humano.
Azura arregalou os olhos, espantada. Esperava algum tipo de castigo, mas, ser banida era algo duro de aguentar. Ela não disse nada ao pai. Nem ao menos reclamou. Samul foi novamente de encontro a caravana, fazendo com que a carroça onde os pertences da filha estavam parasse. A deixou pegar o que seu cavalo pudesse carregar. A garota pegou algumas joias, ouro e uma boa espada curta que roubara recentemente. Levou também a maioria de suas roupas, afinal não poderia andar por ai, maltrapilha. Seu cavalo Salazar reclamou do peso extra, não estava acostumado a carregar nada mais pesado que sua dona, mas resignou-se ao fardo depois de receber uns tapinhas carinhosos no focinho.
Azura partiu sem dizer nada nem olhar para trás. Cavalgou o mais rápido que podia, rumo a aventura que sonhara a muito tempo para si. Do alto de uma colina, Samul observava com lagrimas nos olhos a sua filha partir, orando para os deuses que a protegessem e a guiassem nessa nova jornada.
Salazar era um bom cavalo, estava habituado a longas e loucas cavalgadas, que Azura procurava sempre buscar o máximo de velocidade que ele poderia dar. Ele conhecia a maioria dos caminhos que ela gostava de fazer e por vezes se guiava sozinho dependendo do estado de humor da garota. Mas o que ele não entendia era o batimento acelerado e o caminho totalmente diferente e perigosamente longo que ela fazia. Foi forçado a correr e saltar por entre touceiras espinhosas e cheias de carrapichos grudentos, terrenos pedregosos e irregulares e riachos de águas geladas. Estava exausto ao final do dia, seu pelo negro sem brilho, arrepiado, sujo e suado quando pararam em um assentamento de caçadores para descansar.Apesar de Azura seguir um caminho em linha reta na medida do possível, Salazar tinha certeza que ela não sabia pra onde ir. Ouviu a garota conversar com os caçadores sobre a cidade mais próxima que era a quilôm
A noite a taberna se transformava no antro de diversão que ela sempre gostou e estava acostumada a lidar. Os aventureiros cansados que vinham de outras regiões, buscavam na cerveja, hidromel e nas canções do bardo ali presente, o merecido sossego e a alegria da jogatina. A nômade se sentia em casa, mas não deixou de sentir uma certa saudade da antiga caravana e dos rostos conhecidos dos vilarejos visitados. sentada em uma das mesas no meio da taverna, a chegada de um grupo barulhento chamou sua atenção. Dois homens de aparência peculiar, cabelos longos e ondulados amarrados para trás, usando um aro fino e dourado prendendo os cabelos. Eles eram altos e corados de sol, o corpo musculoso e definido, narizes aquilinos e rosto quadrado. Os olhos castanho-claros, brilhavam sob as grossas sobrancelhas. As roupas eram bem peculiares, diferentes de tudo que Azura já havia visto. Um único tecido de um azul vibr
Os pássaros da manhã acordando Azura mais cedo do que fantasiado, com uma cigana assustada ou fato de no ter acordado com a barriga virando a cabeça doendo. A verdade é que ainda não há certeza de que estará sonhando ou que o que vai acontecer na noite anterior não tenha sido real. Chegou a descobrir que talvez você não tenha bebido ou o suficiente. O guerreiro helênico espera no salão, e não fez nenhum comentário sobre o que será entre vocês dois. Heitor apresentou para seu companheiro de viagem. - Aqui é Climenides, enviado pelo nosso governador para investigar a pompa de
Os arredores do monte não se mostraram um lugar agradável como era de se esperar. A campina estava repleta de restos de animais e cadáveres de pessoas incautas que, sem saber do perigo, eram emboscadas pelos goblins batedores. O cheiro de carne podre invadia as narinas como veneno, deixando os mais sensíveis com o estomago revirado. Azura não pode deixar de se surpreender com o estrago causado pelas criaturas. Lucos tinha na memoria todo o caminho percorrido para alcançar o ninho secreto da matrona. Mas para isso teriam que avançar pela porta da frente da caverna. A poucos metros do chão, uma abertura natural, feita talvez pelo tempo ou por algum tipo de criatura grande em busca de abrigo, revelava a entrada da primeira parte da caverna. O grupo alcançou essa entrada que não era muito grande. O que era notório na verdade, era que os tuneis em boa parte, foram escavados por Vermes de Rocha, criando para o interior do monte, uma rede intrincada de caminhos que se cruzavam e po
A queda vertiginosa durou quase um minuto. Um minuto de queda brusca em um buraco estreito e escuro, úmido e quase completamente liso. De repente uma luz bruxuleante, proveniente do brilho da água ao fundo da caverna, surgiu inesperadamente cegando-os por um momento e logo em seguida o impacto violento e desordenado na água gelada e transparente. Alguns dos goblins mais atrevidos os seguiram na queda, guinchando desesperados, visto que não conseguiam frear e voltar atrás, caíram na água, esfacelando os ossos frágeis ou se afogando no grande e profundo poço. Azura não se arrependia de estar ali. A adrenalina a fazia se sentir muito viva e seus sentidos estavam mais alertas do que nunca. A aspereza da rocha solida, puíra sua escarcela de couro, danificando-a irremediavelmente. Acabou perdendo a espada na água, mas por sorte possuía uma boa adaga presa na fivela da bota. Sua atenção se voltou para Heitor no momento em que ele conseguiu vir à tona. De fato, era a
Heitor era um combatente experiente. Seus anos no mar serviram para refinar sua técnica de combate e sua visão estratégica. Ele avançou como um felino por entre as pilhas de fetos goblins, ignorando o cheiro pungente de merda e sangue misturados. O goblin mais próximo caiu sem um ruido sequer, com a lâmina do seu punhal cravado na garganta. Ele puxou o cadáver da criatura, escondendo-a da visão dos demais. Climenides o seguia de perto e enquanto Heitor apagava da existência o primeiro goblin macho, ele avançou como uma serpente silenciosa, assassinando o próximo goblin com a precisão de um mestre. O restante do grupo o seguiu, tentando ser tão silenciosos quanto eles. Lucos ficou para trás fazendo um rastro com um liquido grosso e viscoso que trouxera consigo em um coldre de pele.Azura observava a postura e o movimento de pés dos dois guerreiros que iam na frente, abrindo c
O Trôgon estava ancorado no Porto de Álvar, um dos principais portos do reinado. As montanhas faziam uma extensa e calma baia, permitindo que mesmo os navios maiores, pudessem atracar com segurança e tranquilidade. Esse peculiar navio era muito semelhante ao trirreme tradicional, mas em escala menor seu tipo era conhecido como Eikosoros ou eikontoros, por ter vinte remos, dez a menos que seu irmão maior. Outra diferença era que o navio possuía uma espécie de cabine e um pequeno porão de carga, onde os marinheiros armazenavam os alimentos. Na proa do navio no lugar do tradicional olho que tradicionalmente dava uma aparência feroz aos navios de guerra de sua terra, uma cabeça de pássaro pintado em um tom azul escuro. O bico saliente e grosso fazia o pássaro parecer uma ave de rapina e seu olhar habilidosamente desenhado na madeira lhe dava um ar sério, porem taciturno. Logo abaixo o poderoso aríete de bronze, a principal de ataque frontal do navio, brilhava a sua cor acobreada e recém p
Ciente de tamanho poder sombrio que os elfos possuíam, Sareena, após a sua fuga da caverna da matrona e ver que não possuía mais nada a não ser o ódio pela cigana que havia lhe roubado um possível amor e que, dentro da sua deturpada visão, fora a causa de morte do seu Climenides, vagou como uma sombra pelas fazendas e vilarejos que seguiam vivos com dificuldade por entre os montes e pradarias. Esperta o suficiente para se manter abrigada durante a noite e longe das estradas para evitar os bandidos e saqueadores. Sareena usava sua simpatia, ganhando a confiança por onde passava, reunindo informações sobre o país e sobre seus habitantes. Em uma destas feitas ela ouviu as histórias sobre as caravanas de Khan Shamur e presumiu ser de lá que a m*****a cigana havia saído. Seu plano de vingança parecia simples, mas ela ainda precisava dos meios para executá-lo. O poder negro de criação dos elfos era muito atrativo e serviria bem ao seu propósito, se conseguisse achar um meio de entrar em sua