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A ESTRADA ATÉ AGORA...

Salazar era um bom cavalo, estava habituado a longas e loucas cavalgadas, que Azura procurava sempre buscar o máximo de velocidade que ele poderia dar. Ele conhecia a maioria dos caminhos que ela gostava de fazer e por vezes se guiava sozinho dependendo do estado de humor da garota. Mas o que ele não entendia era o batimento acelerado e o caminho totalmente diferente e perigosamente longo que ela fazia. Foi forçado a correr e saltar por entre touceiras espinhosas e cheias de carrapichos grudentos, terrenos pedregosos e irregulares e riachos de águas geladas. Estava exausto ao final do dia, seu pelo negro sem brilho, arrepiado, sujo e suado quando pararam em um assentamento de caçadores para descansar.

Apesar de Azura seguir um caminho em linha reta na medida do possível, Salazar tinha certeza que ela não sabia pra onde ir. Ouviu a garota conversar com os caçadores sobre a cidade mais próxima que era a quilômetros dali. Antes de o sol atingir o ápice eles chegaram às portas da cidade de Vanahim, a última cidade menor, antes da principal cidadela portuária do reinado de Álvar.

Era uma cidade pequena e simples. Muito limpa e organizada Vanahim oferecia um bom ponto de descanso a aventureiros exaustos. De fato, a alguns quilômetros a oeste uma pequena serra era o local de cria de grupos de goblins saqueadores. Já haviam organizado diversas operações para eliminar completamente as criaturas daquela área, já que frequentemente saqueavam e matavam caravaneiros incautos e camponeses de passagem. O problema nunca era sanado completamente porque o líder era um goblin sorrateiro e inteligente que sempre conseguia esconder a matrona criadeira em algum lugar bem mais a fundo naquele monte. Os aventureiros que iam para lá ficavam contentes com os tesouros achados nos níveis conhecidos e não se esmeravam em uma busca mais sucinta a não ser que a recompensa oferecida fosse alta.

Azura foi até a taverna próxima. Era a primeira vez que Salazar via a garota séria. Mas estava satisfeito por finalmente descansar adequadamente quando um criado veio o levar a um estábulo nos fundos da taverna, onde se deleitou no feno e na água fresca oferecida. Isso também foi a primeira coisa que Azura buscou. Depois de um bom banho e uma troca de roupa adequada ela se sentiu outra. O ânimo voltou a florescer e ela foi ao salão da taverna perguntar sobre as ocorrências locais.

Desceu as escadas como se estivesse em um castelo de nobre. O seu perfume se sobressaiu ao aroma geral do lugar, um misto de almíscar e lavanda. O vestido de couro justo e curto, com o generoso decote de sempre fez com que todos os olhares da taverna se voltassem para ela. O taverneiro em pessoa foi atendê-la, deixando os afazeres do balcão para seus ajudantes.

- Senhorita, é uma honra atender-te em meu humilde estabelecimento. – disse ele fazendo uma mesura desajeitada. - Agrar a seu dispor.

Ele a levou até uma mesa no canto do salão, oferecendo uma bebida por conta da casa. Azura sorriu. Felizmente graças aos seus dotes e encanto natural não precisava de esforço algum para que os homens dessem a ela o que queria.

Demorou até que as atenções dos frequentadores do local se voltassem para suas respectivas bebidas. Azura depois de beber sua caneca de hidromel em um só gole, se levantou e foi até o balcão. Ela se debruçou preguiçosamente sobre a bancada onde o taverneiro servia alguns rapazes de aparência exausta. Em uma rápida olhada ela notou que eles estavam bem debilitados, as armaduras de couro, gastas e batidas, parecendo recém saídas do combate. Não pareciam estar seriamente machucados, mas tinham passado por maus bocados. Azura ardeu de curiosidade.

- Gostaria muito de saber o que poderia ter deixado tão nobres guerreiros nesse estado lastimável.

Apesar de tentar disfarçar, não deu pra esconder totalmente o sarcasmo na sua voz.

O que parecia ser mais jovem respondeu primeiro.

- Fomos até o Monte Dorso, que a agora só é chamado de Monte de Goblins. Há um pedido com uma enorme quantia oferecida pelo próprio rei Álvar para quem encontrar e matar o líder e a matrona goblin e pôr um fim ao criadouro daquela raça miserável. Fomos até lá, mas não estávamos preparados para o que viria a seguir. Aquelas pragas procriam de modo rápido e logo formam exércitos debaixo da terra. Conseguimos nos esquivar de várias ninhadas, achando um caminho diferente de todos.

O mais velho deu-lhe uma cotovelada discreta o interrompendo.

- Para resumir a história pegamos a missão e vamos reunir um grupo para poder atacar diretamente a matrona e seu líder de bando.

- Então vocês sabem onde está o local secreto onde eles se escondem?

Poderia não parecer, mas Azura era uma aluna exemplar e sempre estudou com sua mãe e professores dos diversos lugares que passavam. Ela estava por dentro de praticamente toda a história do Reinado, política e geograficamente. Os pontos de interesse, boatos e fatos estranhos tudo ficava gravado em sua mente perspicaz. Sua verdadeira saga poderia começar agora. Tudo que precisava era descobrir onde era o ponto exato da matrona goblin.

Se tornar confiável, obter informações e se misturar não era algo que fosse difícil pra ela. Sua simpatia e beleza natural, atraia olhares, não somente de homens, mas de mulheres também, o que poderia ser um misto de desejo ou inveja. Tinha que tomar cuidado para que as coisas não acabassem como acabara nas ultimas aldeias em que esteve. Não pretendia ser banida, expulsa ou até mesmo presa. Não teria seu pai para resolver seus problemas agora, mas pensava que com dinheiro e um joguinho de sedução, poderia resolver quase qualquer dificuldade de interação.

Teve a tarde toda para traçar seus planos e preparar terreno. Conheceu o ferreiro, o alfaiate e o coveiro da cidade. Esse ultimo tinha bastante trabalho ultimamente, devido as mortes que ocorriam toda vez que os goblins resolviam sair do seu covil. Com ele, Azura soube de várias informações sobre os mercenários que mais frequentavam a taverna local, inclusive onde os dois que diziam saber onde estava o ninho e seu grupo tinham montado acampamento.

Era como ela pensava, com sua simpatia era fácil obter qualquer informação.

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