Os pássaros da manhã acordando Azura mais cedo do que fantasiado, com uma cigana assustada ou fato de no ter acordado com a barriga virando a cabeça doendo. A verdade é que ainda não há certeza de que estará sonhando ou que o que vai acontecer na noite anterior não tenha sido real. Chegou a descobrir que talvez você não tenha bebido ou o suficiente.
O guerreiro helênico espera no salão, e não fez nenhum comentário sobre o que será entre vocês dois. Heitor apresentou para seu companheiro de viagem.
- Aqui é Climenides, enviado pelo nosso governador para investigar a pompa de que nos tinha falado.
Ou o homem fez uma medida curta, obviamente tentando imitar o povo trejeito local.
- Parece que meu amigo e capitão Heitor falhou muito com a nossa saudade. Chaire*, Miss Azura, é uma honra e uma alegria conhecê-la.
O grego nobre tinha um tom de autoridade em voz grave,
- Malaka*! – exclamou o marinheiro empolgado. - Você se preocupa muito. Nossa missão não é bem um segredo, além disso nós nem sabemos exatamente o que estamos procurando. Um jovem aqui diz conhecer os antros da caverna e pode ser de grande ajuda.
Azura se sentiu um pouco presa. Ainda não conseguiu extrair nenhuma informação do grupo que pretendia invadir ou covil da matrona goblin. Tinha se distraído demais na noite anterior com recepções inesperadas. Ele precisava se mover rápido.
- Claro sim, obviamente sem graça de emprego, mas posso ajudar-los certo preço do cabelo.
- Uma misthios* bem sério Devo dizer com franqueza, mais claramente do que qualquer informação concreta será recebida.
- Saiba que essa é uma missão bem perigosa e que o próprio rei está interessado no fim deste covil. Ofereço um trato. Vocês ficam com seu artefato e o que encontrarem na caverna e eu levo a cabeça da matrona goblin para receber a recompensa do rei.
Heitor riu com gosto.
- Você sabe conduzir uma negociação misthios! Eu aceito o trato, não temos interesse nas recompensas do seu reinado.
- Está feito então! Me encontrem no fim da tarde aqui mesmo na taverna, farei os preparativos para a missão.
Azura não havia notado a presença da garota que acompanhava Climenides. Ela parecia estar ali já a um tempo, mas ao notar que Azura a viu, fingiu descaradamente chegar naquele exato momento.
- O que eu perdi? – Indagou ela, demonstrando uma preguiça forçada na voz.
- Não muito. – respondeu Climenides. – Somente que temos uma nova integrante no nosso grupo de pesquisa, uma misthios que serve ao rei local.
A garota com sua pele alva e rosto afogueado pela bebida, não escondeu o seu desdém pela cigana. Seu cumprimento polido e seco, demonstrou claramente isso.
- Sou Sareena de Eeia e você deve ser Azura. – Ela segurou o braço de Heitor com uma intimidade insinuante. – Meu amado falou de você durante todo o resto da noite.
- Seu amado? – Azura não conseguiu esconder sua surpresa.
- Sareena tem a mania de chamar a todos de amado. Adoradores de Afrodite, acham que o amor é promíscuo.
- Você sabe que eu não sou adoradora de Afrodite, apenas a respeito como deusa. Minha fé maior é em Hera, e o que seria do amor se não houvesse vários envolvidos? Tudo seria tão monótono e chato.
Os gestos da garota eram quase teatrais e Azura não estava entendendo mais nada que eles falavam. Heitor se desvencilhou do abraço dela com uma certa rispidez e Climenides riu.
- Nosso capitão gosta de coisas mais sérias, Sareena. Ele não te dará a atenção que você merece. Eu por outro lado estou disponível a qualquer momento para falar sobre os laços familiares de Hera.
A garota sorriu matreiramente.
- Já teve a sua cota ontem, meu senhor. Preciso de ares diferentes agora.
Azura já não aguentava aquela situação. Não sabia se estava enciumada por causa de Heitor, ou se simplesmente estava furiosa pela garota ser tão ousadamente atrevida. Ela se despediu, ansiosa por resolver logo aquela situação. Precisava ir ao acampamento dos mercenários e descobrir onde era o ninho da matrona e só tinha até o fim da tarde para resolver isso.
Os aventureiros tinham se reunido um pouco mais afastados do vilarejo, a meio caminho do monte. Montaram uma espécie de boma, bem protegido com galhos e arbustos espinhosos, para se proteger caso algum grupo de goblins batedores resolvesse sair a caça. Eram seis no total. De longe, Azura os observava com a sua luneta. Não pareciam em nada estar preparados. O medo deles era visível mesmo de longe. Ela resolveu se aproximar, na esperança de achar algo que a ajudasse. Enquanto era dia os homens afiavam as espadas e as lanças em pedras gastas que adquiriram com o ferreiro do vilarejo.
Os homens se mostraram surpresos com a chegada da cigana. O homem mais velho, que interrompera a conversa dela com o mais jovem, que inclusive desempenhava o papel de faz tudo, polindo armaduras e arrumando o acampamento, se adiantou com cara de poucos amigos.
- Minha senhora, não há nada para você aqui.
Azura mostrou-se ofendida.
- Nossa, mas quanta grosseria! Eu estou aqui porque eu quero me voluntariar ao seu grupo.
A cigana analisou todos ali presentes em apenas alguns segundos. Era notório que ali, a maioria eram apenas de falastrões contando vantagem, na hora da ação iam sair correndo gritando pela mãe ou borrando as calças. Resolveu explorar esse ponto sensível, apenas o velho que a interpelara poderia saber algo sobre batalhas, ela precisava ganhar a confiança dele de alguma forma.
- Nosso grupo já está fechado, não temos espaço para mais ninguém.
O velho parecia resoluto.
- Me desculpe. – Azura adentrou audaciosamente no acampamento, ignorando os risos de desdém dos bonachões ali presentes. O único que se manteve quieto era o jovem que olhava de vez em quando sem interromper suas tarefas. – Qual é o seu nome, senhor? Eu sou Azura, creio ter sido meio deselegante ter chegado desta forma sem me apresentar.
- Meu nome é Lucos, mas não me leve a mal, não temos interesse em mais mercenários.
- Olha Lucos, vou ser bem sincera com você. Esse seu grupo não vai chegar nem perto do ninho da matrona. Esses caras que estão aqui, vão fugir na primeira oportunidade, isso se não pegarem o tesouro e largarem vocês no fundo da caverna.
Azura andava pelo acampamento, rondando os integrantes. Um deles, um homem extremamente corpulento, de cabelo ensebado e bigode mal formado, usando uma cota de malha e uma pesada clava, parecia quase incapaz de andar, suava como um porco e foi o primeiro a parar de rir para demonstrar a sua fúria.
- Olha como fala mocinha! – Guinchou ele, com voz aguda. – Nós somos mestres estrategos e peritos em batalha. Não vamos tolerar a sua insolência.
Os demais se aproximaram da garota. Pareciam bombas perto de explodir. O companheiro do balofo, um homem alto com uma careca brilhante, usando roupas grossas de pele, provavelmente para disfarçar a sua falta de músculos, falou com voz fanhosa meio escondido atras do seu amigo corpulento:
- Quem você pensa que é garotinha? Se veio com intenção de humilhar-nos vamos te dar uma lição que não vai esquecer nunca mais.
O jovem finalmente largou os seus afazeres, preocupado com o rumo que as coisas estavam começando a tomar, tentou se aproximar, mas um dos mercenários o impediu, apontando a espada para ele e fazendo-o voltar ao trabalho. O velho cruzou os braços mantendo-se em silencio e observando a cena.
- Está vendo meu caro Lucos, todos valentões, mas vamos ver como se saem. Se julgam poderosos achando que eu sou uma simples garotinha.
Azura sacou a espada. O corpulento avançou para ela. Parecia estar se mover como uma lesma, toda a sua gordura balançando por baixo da cota. A cigana quase o havia subestimado, apesar de extremamente lento ele balançou a clava com uma força incrível e avassaladora. Azura se moveu majestosamente como uma serpente, se curvando para trás em uma ponte habilidosa e gingando o corpo para o lado encaixou a ponta da lâmina de sua espada entre os dedos do seu atacante, obrigando- o a soltar a pesada clava com um guincho de dor. Ele tentou recuar, mas Azura, se antecipando ao seu movimento calçou-o com uma jogada de perna, fazendo-o cair totalmente estabanado ao chão, com um estrondo. O outro com as roupas de pele deu um salto assustado, se recompondo logo em seguida. Com a sua lança ele tentou atingi-la de uma distância segura, mas a cigana estava preparada para ele também. Ela jogou a cintura para o lado, desviando da lâmina e com um rápido movimento girou sobre o cabo da lança, desferindo um duro golpe com o punho da sua espada no estomago do seu atacante. O seu terceiro agressor, o homem que havia ameaçado o mais jovem, veio correndo e gritando como um louco. Azura somente deu um passo para o lado desferindo um golpe direto na cabeça dele com o pomo da espada. O homem caiu como uma saca de merda ao chão, completamente apagado. O último olhou em tom de ameaça, mas não ousou atacar. Ele ajudou seus companheiros a se levantar, resmungando duras e ininteligíveis ameaças. O grupo saiu do acampamento com o rabo entre as pernas, prometendo para a cigana que iria ter volta.
Lucos olhou para seu grupo indo embora em direção do vilarejo.
- Parece que você me livrou de um grupo inúteis. E agora estamos sozinhos para enfrentar aquele monstro no monte.
- Olha, sinceramente, minha intenção era somente invadir o acampamento de vocês e roubar a informação de onde se encontrava a matrona. Mas quando eu vi os seus companheiros eu mudei de ideia. Se fossem para lá, seriam mortos pela matrona ou talvez vocês dois seriam traídos. Acho que o ideal agora seria vocês dois se juntarem a mim.
O jovem escudeiro olhava para ela com cara de espanto, nunca em sua vida tinha visto tanta habilidade reunida em uma pessoa só.
- Agora aconselho você a não ir para o vilarejo, aqueles homens podem querer te emboscar. – Disse o velho.
- Não tenho medo deles, posso escorraçá-los novamente.
- Não seja arrogante, foram inúteis, mais dez posses e podemos contratar mercenários habilidosos para fazerem ou servir.
Azura foi forçada a concordar, ela não era uma criança no final.
- Então vá até a cidade e contrate dois estrangeiros de aparência exótica, um deles cuida do nome de Heitor, andorinha-ou até aqui. Amanhã bem cedo teremos muito trabalho e muito dinheiro para carregar.
Os arredores do monte não se mostraram um lugar agradável como era de se esperar. A campina estava repleta de restos de animais e cadáveres de pessoas incautas que, sem saber do perigo, eram emboscadas pelos goblins batedores. O cheiro de carne podre invadia as narinas como veneno, deixando os mais sensíveis com o estomago revirado. Azura não pode deixar de se surpreender com o estrago causado pelas criaturas. Lucos tinha na memoria todo o caminho percorrido para alcançar o ninho secreto da matrona. Mas para isso teriam que avançar pela porta da frente da caverna. A poucos metros do chão, uma abertura natural, feita talvez pelo tempo ou por algum tipo de criatura grande em busca de abrigo, revelava a entrada da primeira parte da caverna. O grupo alcançou essa entrada que não era muito grande. O que era notório na verdade, era que os tuneis em boa parte, foram escavados por Vermes de Rocha, criando para o interior do monte, uma rede intrincada de caminhos que se cruzavam e po
A queda vertiginosa durou quase um minuto. Um minuto de queda brusca em um buraco estreito e escuro, úmido e quase completamente liso. De repente uma luz bruxuleante, proveniente do brilho da água ao fundo da caverna, surgiu inesperadamente cegando-os por um momento e logo em seguida o impacto violento e desordenado na água gelada e transparente. Alguns dos goblins mais atrevidos os seguiram na queda, guinchando desesperados, visto que não conseguiam frear e voltar atrás, caíram na água, esfacelando os ossos frágeis ou se afogando no grande e profundo poço. Azura não se arrependia de estar ali. A adrenalina a fazia se sentir muito viva e seus sentidos estavam mais alertas do que nunca. A aspereza da rocha solida, puíra sua escarcela de couro, danificando-a irremediavelmente. Acabou perdendo a espada na água, mas por sorte possuía uma boa adaga presa na fivela da bota. Sua atenção se voltou para Heitor no momento em que ele conseguiu vir à tona. De fato, era a
Heitor era um combatente experiente. Seus anos no mar serviram para refinar sua técnica de combate e sua visão estratégica. Ele avançou como um felino por entre as pilhas de fetos goblins, ignorando o cheiro pungente de merda e sangue misturados. O goblin mais próximo caiu sem um ruido sequer, com a lâmina do seu punhal cravado na garganta. Ele puxou o cadáver da criatura, escondendo-a da visão dos demais. Climenides o seguia de perto e enquanto Heitor apagava da existência o primeiro goblin macho, ele avançou como uma serpente silenciosa, assassinando o próximo goblin com a precisão de um mestre. O restante do grupo o seguiu, tentando ser tão silenciosos quanto eles. Lucos ficou para trás fazendo um rastro com um liquido grosso e viscoso que trouxera consigo em um coldre de pele.Azura observava a postura e o movimento de pés dos dois guerreiros que iam na frente, abrindo c
O Trôgon estava ancorado no Porto de Álvar, um dos principais portos do reinado. As montanhas faziam uma extensa e calma baia, permitindo que mesmo os navios maiores, pudessem atracar com segurança e tranquilidade. Esse peculiar navio era muito semelhante ao trirreme tradicional, mas em escala menor seu tipo era conhecido como Eikosoros ou eikontoros, por ter vinte remos, dez a menos que seu irmão maior. Outra diferença era que o navio possuía uma espécie de cabine e um pequeno porão de carga, onde os marinheiros armazenavam os alimentos. Na proa do navio no lugar do tradicional olho que tradicionalmente dava uma aparência feroz aos navios de guerra de sua terra, uma cabeça de pássaro pintado em um tom azul escuro. O bico saliente e grosso fazia o pássaro parecer uma ave de rapina e seu olhar habilidosamente desenhado na madeira lhe dava um ar sério, porem taciturno. Logo abaixo o poderoso aríete de bronze, a principal de ataque frontal do navio, brilhava a sua cor acobreada e recém p
Ciente de tamanho poder sombrio que os elfos possuíam, Sareena, após a sua fuga da caverna da matrona e ver que não possuía mais nada a não ser o ódio pela cigana que havia lhe roubado um possível amor e que, dentro da sua deturpada visão, fora a causa de morte do seu Climenides, vagou como uma sombra pelas fazendas e vilarejos que seguiam vivos com dificuldade por entre os montes e pradarias. Esperta o suficiente para se manter abrigada durante a noite e longe das estradas para evitar os bandidos e saqueadores. Sareena usava sua simpatia, ganhando a confiança por onde passava, reunindo informações sobre o país e sobre seus habitantes. Em uma destas feitas ela ouviu as histórias sobre as caravanas de Khan Shamur e presumiu ser de lá que a m*****a cigana havia saído. Seu plano de vingança parecia simples, mas ela ainda precisava dos meios para executá-lo. O poder negro de criação dos elfos era muito atrativo e serviria bem ao seu propósito, se conseguisse achar um meio de entrar em sua
A chegada de Azura ao palácio de Álvar, não foi exatamente como ela imaginara. O primeiro ponto negativo era que a fortaleza, que era para ser um arco do poderio do reinado parecia mais uma ruína. Parte do muro norte estava derrubado, vítima de um cerco recente. Duas das sete torres de vigília, também estavam destruídas, uma parte delas enegrecida pelo fogo. Até mesmo os soldados pareciam exaustos, cansados de lutas constantes e problemas da população quase faminta que envolviam saque, roubo e assassinato. Mas era notório que a coorte do rei, não sentia esses efeitos tenebrosos da guerra. Rechonchudos e corados, pareciam alheios aos problemas que os rodeavam. As Sentinelas do Rei, a guarda especial que fazia a proteção da família real, mantinham sua estrutura e ordem, sua disciplina era de dar inveja e por muitas vezes eles corriam em defesa da cidade auxiliando as tropas esgotadas do reinado. A maioria dos soldados da guarda real era selecionada em diversos lugares por onde o rein
Azura voltou a Vanahim em busca do seu cavalo. Salazar era praticamente da família e era um cavalo bom demais para ser deixado para trás. Ela estava mesmo com pressa. Seu coração palpitava de uma forma estranha. Uma palpitação que sentia sempre que se lembrava do calor do capitão helênico. Tentava deixar esses pensamentos para trás para se focar na missão que tinha a frente. Achava incrível o destino a ter colocado em uma missão que ate o momento tinha sido bastante “agradável” apesar da dificuldade em vencer a matrona goblin. A sua estadia em Vanahim não poderia ter sido mais agradável. A população local já ciente de tudo que ocorrera, aliviada porque os ataques dos goblins reduziram drasticamente, além de agora estarem desordenados, sem liderança. Os mercenários que se instalavam na cidade realizavam incursões organizadas até as partes mais rasas das cavernas eliminando os remanescentes e fugitivos. Com o pergaminho marcado com o selo real, Azura poderia passar livremente e sem cus
O animal era um tagarela e na pequena viagem até o porto, a cigana ficou sabendo de todos os detalhes de sua vida, desde quando era um potrinho e foi dado a ela até a jornada atual, inclusive o quanto ele ficara chateado por acabarem banidos da caravana. O fato de nunca ser realmente entendido pelos humanos, não o deixara ranzinza como alguns costumavam ficar, mas agora que ela poderia ouvi-lo ele não queria deixar passar nenhum detalhe, recuperando os anos em que as pessoas ignoravam suas vontades.O Porto de Álvar estava em alvoroço. O povo comentava sobre uma estranha nevoa escura que cobrira a Torre dos Infames, cujo topo era bem visível dali. Ninguém ousava ficar muito tempo nas proximidades da torre, pelo risco de ser atacados por bandidos ou alguma criatura sombria. A torre não era chamada de infame atoa.Heitor aguardava Azura ansioso. O Trôgon, já estava carregado e pronto para a viagem. No castelo de proa, os principais membros da tripulação aguardavam as ordens de seu capit