Capítulo Nove

Meu primeiro vislumbre toda manhã costumava ser uma mancha no teto. Eu devia ter dez anos de idade quando uma infiltração havia se espalhado pela parede do quarto, dando origem a manchas de umidade por toda parte. Durante meses, meu pai prometera cobri-las de tinta e impermeabilizar tudo, mas essa sempre se tornava "a tarefa da semana que vem", portanto meus irmãos e eu convivêramos com os borrões por mais de dois anos e meio. Para ser sincero, isso nunca foi um incômodo, achava divertido tentar identificar formas nas nódoas enegrecidas. Por vezes, sentava-me ao lado de Lena, ainda tão pequena que nem tinha pronunciado suas primeiras palavras, e apontava para a parede, estimulando-a a distinguir silhuetas. Passáramos a tratar as manchas como gravuras bem-humoradas, como se fossem estampas num papel de parede. Surpreendentemente, elas se mostraram muito úteis: vez ou outra, alguém perguntava algo como "

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