Capítulo 03

Nova Iorque. 22:35

A minha presença não o incomodou, era como se eu não estivesse lá. Fiquei ali analisando como quem não quer nada, observando o governador Howard entupir suas narinas de cocaína junto com mais alguns colombianos, estes que mais pareciam um aspirador de pó! Meu chefe ia adorar ver isso. Tive vontade de filmar tudo, mas eu poderia pôr tudo a perder.

Desvio o olhar fingindo demência. Maximiliano me convida para sentar ao seu lado, em um assento separado dos demais que se divertiam com as garotas. Eu não o encarei nos olhos pois estava em uma situação não muito agradável, senti vontade de acabar com tudo, queria algemá-lo e socar sem piedade os outros que estavam com ele. Eu estava extremamente dividida em um lado oposto do meu. Senti raiva do meu próprio corpo por ter sido traiçoeiro comigo. Senti-me confusa, perdida e suja por ter ficado tão vulnerável aos toques do inimigo.

— A dama mais bonita da noite tem nome? — perguntou-me com seu sotaque arrastado.

— Mia. Mia Clark — falei forçando um sorriso. Na área vip onde estávamos o barulho estrondoso da música era amena, o que facilitou nossa conversa.

— Você estava sozinha. É solteira, Mia? — Enquanto espera minha resposta ele pega dois copos e os serve com uísque.

— Viúva. — respondi e provei a bebida observando-o esvaziar o copo em um só gole, como se estivesse bebendo água.

— Desculpe se fui espontâneo — fitou seus amigos que estavam próximos.

— Sem problemas, já faz muito tempo — sorri.

Maximiliano retirou seu braço que estava apoiado na borda do sofá. Apoiou os cotovelos em suas coxas, cruzando suas duas mãos, parecia que ele estava perdido em seus pensamentos, mas se tratando dele aposto que estava planejando algo.

— E você é Maximiliano Lopez, certo? Vi você na TV apoiando o governador e fiquei encantada com sua entrevista sobre ajudar, fazer doações para ONGs de idosos e crianças carentes — fingi interesse nas suas ações de fachada.

— Maximiliano, mas pode me chamar de Max e obrigado pelo elogio. Ajudar os mais vulneráveis é uma das coisas que faço com maior prazer — falou cheio de si e para me deixar ainda mais nervosa, sorriu passando a língua em seu lábio inferior.

Nem lembro quanto tempo fazia que não ficava tão próxima assim de um homem. Ele continuava me observando calculista, os pelinhos dos meus braços que estavam de pé não eram capazes de esconder meu nervosismo. Novamente ele estava deixando-me completamente confusa.

— E você, no que trabalha?

— Trabalho com jornalismo e nesse momento estou trabalhando em uma matéria sobre as comunidades em seu país.

— Então não foi por acaso que você me encontrou aqui, não é mesmo, Mia Clark? — pareceu frustrado em suas palavras, mas mantive firme minha postura.

— Não é isso. Na verdade, eu vim sim sabendo que lhe encontraria por aqui, mas não se trata só de trabalho. Eu...

Ficou em silêncio por uns segundos encarando minha boca enquanto eu falava. E antes que eu terminasse, Maxi avança para mais perto de forma predadora, toma meus lábios com gana em um beijo avassalador, eu contribuo abrindo minha boca para que nossas línguas pudessem duelar. Solto um gemido abafado ao sentir sua mão em minha nuca aprofundando nosso beijo e com a outra ele massageia fazendo círculos possessivos em minhas costas, expostas por causa da abertura do vestido.

Senti um calor crescente intensificando a cada segundo em que ele sugava meus lábios loucamente, causando uma dor viciante ao chupar e mordê-los. O gosto do álcool era inebriante e sua mão, que ora estava em meu ombro, não perdeu tempo, desliza sorrateiramente causando formigamento em minhas pernas.

Seus dedos brincavam em um sobe e desce resvalando minhas costas, causando-me um arrepio na nuca, no entanto quando sua mão se aproxima da minha coxa eu o interrompo. De certo seria uma tragédia se Max encontrasse minha Magnum presa em um coldre exatamente onde ia por sua mão boba, ela estava carregada de bala, pronta para ser usada caso fosse preciso.

Olhei em nossa volta e vi seus homens nos olhando como se estivessem visto um fantasma, um estava tapando a boca com a mão e os olhos arregalados. Não entendi a surpresa. Até onde eu sabia, Maximiliano Lopez tinha fama de pegador e fazia sucesso entre as mulheres, deste modo não seria novidade para ninguém ver o chefe do tráfico beijando uma mulher.

"E o filho da mãe beija bem para caralho!"

O safado do governador Howard já não estava mais lá quando eu abri os olhos.

— Mia, por que parou? Você não gosta que a toquem? — Seus olhos misteriosos penetraram os meus profundamente, substituindo aquela nuvem negra que havia há poucos minutos por um brilho flamejante.

— Não, não é isso, é que... eu tenho que ir embora, minha amiga já deve estar preocupada comigo. E amanhã tenho que viajar bem cedo — expliquei.

Sua expressão mudou rapidamente, Max me olhou como se eu tivesse três cabeças, ficou totalmente confuso com minha reação repentina. Com a fama de pegador que tinha, presumo que minha recusa tenha causado algum impacto ao seu ego superior.

— Eu posso deixar você em casa — assegurou. — Vamos? — Ficou de pé decidido em ir comigo enquanto eu pensava em uma forma de sair dali sem ele.

"Droga, ele não pode me deixar em casa."

— Não precisa, Max.

— Eu não aceito um não como resposta — reprimo a vontade de mandá-lo se foder e acabar de vez com o disfarce.

— Então comece aprendendo por hoje a ouvir um não, porque eu vou sozinha — falei calmamente vendo sua expressão endurecer, mas acredito que a resposta ficou bem clara e mesmo se sentindo contrariado, Max não insistiu, respeitando meu limite.

Continuei sentada no sofá avaliando seu físico, assim tive uma visão mais ampla do homem que estava me arrancando um lado que até eu me assustei.

Tinha que admitir que aparentemente era um homem bonito. Quem visse aquele rostinho lindo não imaginaria que o conjunto de aparência esculpido pelos deuses tirava vidas de outras pessoas a sangue frio.

Sua camisa vermelho carmim manga longa dava um contraste perfeito em seus braços definidos e seu peitoral másculo. Max não era um homem cheio de músculos, no entanto posso afirmar que seu corpo era muito atrativo. A cor escura da sua calça jeans não foi suficiente para esconder sua ereção. Ele estava excitado e eu fiquei constrangida e ao mesmo tempo levei isso como uma vantagem a mais na operação.

— Mia. — Fui interrompida do meu devaneio por sua voz rigorosa. Pisquei os olhos por várias vezes, reprimindo-me. Ergui meus olhos e vi seu sorriso perturbador se formar no canto de sua boca como se ele estivesse ouvindo meus pensamentos.

— Foi um prazer, Max, eu preciso ir e vou sozinha mesmo, não se preocupe comigo.

Seus olhos se estreitam negativamente, ele continuava a me observar em busca de algo mais. Fiz menção de me levantar quando ele estendeu o braço para meu apoio. Segurei sua mão e, foi muito rápido, sem demonstrar um mínimo de delicadeza, puxou-me com força propositalmente deixando nossos corpos praticamente colados com uma mínima distância entre nós.

— Eu quero ver você amanhã — insistiu incisivo.

— Amanhã irei viajar a trabalho. Lembra? — ressaltei, ele tirou o celular do bolso e pediu meu telefone. Passei o número para ele do meu celular pré-pago.

— Colômbia?

— Sim — respondo.

— E se... eu te ajudar com sua matéria? — Franziu o cenho, enterrando as mãos nos bolsos da calça.

— Seria incrível — ampliei um sorriso.

— Interessante. Nos vemos em breve, Mia Clark! — falou piscando um olho para mim.

Sorri em resposta e desci as escadas. Saí atravessando em meio à multidão que dançava ao som do DJ. Chegando no meio do salão olhei para trás, ele ainda estava lá parado de pé, me observando com sua pose imponente, com os braços apoiados na mureta que servia de proteção ao camarote que estávamos.

Fico imersa no caminho de volta para casa. Precisava me concentrar na missão, mas o beijo que Maximiliano me deu não saía da minha cabeça. "Droga!" Era realmente assustador o que aquele ser estava fazendo comigo.

Abro ansiosamente a porta do meu apartamento à procura de Alice, tendo certeza que ela tiraria aquele homem da minha cabeça. Entro a passos leves, caminhando direto ao que me interessa. Entro em meu quarto e o encontro vazio.

Foi frustrante, Alice não estava lá, não estava em canto algum do meu apartamento. Bufando de raiva, vou para o banheiro tomar um banho quente. Isso ajudaria a relaxar meus músculos tensos. Depois de me despir, ligo o chuveiro e entro em baixo do jato quente.

Fecho meus olhos enquanto massageio meus cabelos, vejo aquele par de olhos quentes me queimando, me secando, ele invadiu meus pensamentos. Sacudi minha cabeça e abri meus olhos na tentativa em vão de tirá-lo da minha cabeça. Como podia aquele ser desconhecido e desprezível se instalar em minha mente? Envergonhava-me.

Fujo das lembranças quando aquelas imagens que meu chefe me mostrou vem como badaladas de sino em minha mente e me deixam em alerta máximo. Drogas, vidas ceifadas, pessoas sendo traficadas. Isso me fez voltar para realidade e manter o foco.

Ao sair do banheiro, no caminho para meu quarto, meus olhos captaram algo minúsculo e brilhante. Estava próximo à minha cama, era o colar de Alice, mas ela nunca tirava aquela corrente do pescoço. Isso me deixou intrigada. Rapidamente pego meu celular e ligo para ela.

Depois de chamar algumas vezes, acabei por desistir e desliguei o celular, talvez ela o tivesse deixado cair quando voltava do banho. A melhor coisa a se fazer era esperar, ela teria que vir para meu apartamento, pois ela quem iria tomar conta da Tiffany enquanto eu estivesse viajando. Após por meu pijama, fui para sala e levei minha bola de pelos para assistir comigo enquanto aguardávamos nossa loira chegar.

*****

Nova Iorque, 07h:00

Eu estava correndo assustada, usando todas as forças que eu tinha, mas algo me puxava de volta como uma onda magnética, como se eu estivesse correndo dentro da água sei lá. Para onde? Eu não sei, ao redor havia apenas árvores e mais árvores. Eu corria ofegante, cansada, sabia que tinha alguém logo atrás correndo também, tentando me pegar, dava para ouvir as passadas fortes, os galhos secos quebrando, no entanto eu não conseguia parar e nem olhar para trás. Eu fugia desesperada, sem rumo.

No caminho acabei encontrando uma trilha e tinha uma placa indicando que ali era área de perigo, mas eu não parei, segui correndo assustada.

Só parei de correr quando percebi que a uns cinco passos à minha frente havia um penhasco. Quase caí, não tinha como continuar. Os barulhos horripilantes das corridas atrás de mim ainda continuavam e estavam cada vez mais próximos, mas o medo me assolava e não tinha coragem de olhar para trás. Me aproximei devagar, parando bem na beira do quase abismo, olhei bem no fundo, muito abaixo de onde eu estava e vi o carro da Alice caído bem no fim do penhasco, completamente destruído, como se estivesse tombado umas dez vezes, talvez.

— Alice!

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