Capítulo 08

Aisha Johnson

                                             Cali Colômbia. 08h:20 AM

 

— Eu. Eu... estou cansada e preciso ir, Max. — Os cantos de sua boca foram se curvando e aos poucos seu sorriso presunçoso foi crescendo. Eu não pude sustentar seu olhar por muito tempo.

Depois de me preparar psicologicamente, saí do carro do Max praticamente em fuga. Suas palavras não saiam da minha cabeça e eu me xingo mentalmente por perceber o caminho que isso estava me levando.

Que inferno! M*****a seja a hora que eu aceitei essa missão absurda, que eu aprenda a lição e que tudo isso me sirva de aprendizado.

Por um lado, sua abordagem me deixou mais tranquila, sim, pois ele não desconfiava que eu era uma agente especial, mas por outro lado, a forma como ele falou, mesmo com toda sutileza, eu entendi como um aviso. A advertência foi bem implícita em suas últimas palavras. Todo o cuidado que eu já tinha seria redobrado, pois se tratava de Maximiliano Lopez!

Jogo minha mala sobre a cama e retiro minhas roupas na sequência. Despida, entro na banheira que estava incrivelmente preparada para me receber. Senti meus músculos relaxarem conforme meu corpo foi afundando na água perfumada.

Era tudo que eu precisava no momento, pois sinto meu corpo todo pegajoso devido ao suor que secou em minha pele. O clima abafado dali me fez suar muito, fazendo com que eu me sentisse estranha e incomodada, esperava que meu corpo se adaptasse rápido, porque não sabia quantos dias infernais ainda teria que ficar por ali naquela cidade frágua.

Enquanto relaxo na banheira, meus pensamentos estão voltados para Alice. “Onde você está, amiga?” Assim que eu saísse do banheiro, o primeiro celular para o qual pretendia ligar era o dela.

Mais tarde, após um banho maravilhoso e relaxante, pego meu celular na bolsa e começo a ligar para minha amiga. Minha frustração só aumenta quando novamente percebo que o celular dela continua desligado. Tinha algo errado nisso e eu iria descobrir o que era. Minha segunda opção é o chefe. Começo a ligar para ele.

— Até que enfim, já estava preocupado. O que aconteceu Aisha, por que você não pegou o helicóptero da agência? — Ouço sua respiração pesada do outro lado da linha.

— Boa noite chefe! Maximiliano se adiantou e insistiu que eu fosse com seus homens, em seu próprio helicóptero. — Dener solta uma gargalhada estrondosa do outro lado da linha em sinal de vitória.

— Filho da mãe, ele está nas suas mãos, Aisha. O idiota está apaixonado por você, isso será mais fácil do que pensei.

— Uma pergunta chefe, quem é Santiago González? Você sabe de alguma coisa que eu ainda não sei? — Ele ficou em silêncio por um breve instante. — Chefe?

— Eu não sei nada sobre isso, agente Johnson — respondeu deixando um mistério no ar — mas por que essa pergunta?

— Ele me colocou na defensiva, achando que estou trabalhando para esse tal Santiago.

— Droga! Toma cuidado, eu não quero perder minha melhor agente. — Reviro os olhos com seu comentário.

— Deixa comigo, Sr. Dener. E então, a Alice foi trabalhar hoje?

— Não, ela ainda não apareceu e já vasculhamos tudo, nós não a encontramos em lugar nenhum — novamente contenho as lágrimas que ameaçam cair.

Dessa vez sou eu quem resmungo sozinha em pensamentos, pois o péssimo sentimento de perda se apodera de mim. Aquilo era horrível, ninguém some assim do nada e eu conhecia a agente Anderson como a palma da minha mão, ela quase não bebia e não costumava desaparecer sem me avisar. Minhas suspeitas só aumentavam e cada vez mais eu queria esclarecer aquele desaparecimento.

Antes de encerrar a ligação, deixei meu chefe avisado de que se eles não a encontrassem eu voltaria para Nova Iorque e eu mesma a procuraria. Lógico que ele ficou uma fera comigo, mesmo assim percebeu que eu estava falando sério, então me prometeu encontrá-la e me dar notícias em breve, assim eu esperava. Depois de vestir meu pijama, durmo instantaneamente, vencida pelo desgaste emocional e o cansaço.

Cali Colômbia 06h:25 AM

 

Repleta de suor por todo meu corpo, levanto-me da cama e vejo que já passam das cinco horas da manhã, o que me faz bufar de raiva. As diferenças de horários estavam me deixando impaciente e confusa.

"Preciso me adaptar o mais rápido possível, meu tempo aqui nesta cidade vale ouro", repito essas palavras mentalmente como um mantra.

Após o alongamento, faço uma sessão de cinquenta flexões enquanto penso por onde começar minhas atividades por ali e em seguida vou para o banheiro fazer minha higiene matinal. Antes mesmo de me vestir, ouço um bip no meu celular.

"Bom dia! A dama gostaria de começar o dia conhecendo a cidade, mais precisamente as comunidades que tanto lhe interessa?" Estranhamente sorrio lendo a mensagem do Maximiliano, enviada às 06 horas da manhã. "Estou aqui para isso, Max", respondi sua mensagem de imediato.

Depois de pronta, caminho para o elevador checando minha bolsa para saber se eu não havia esquecido nada no hotel e bom, pelo menos parte dos equipamentos que meu chefe me passou, como escutas e mini câmeras estavam lá dentro.

As dúvidas começavam a martelar em minha cabeça, e eu me perguntei, será que Maximiliano ajudava mesmo aquelas ONGs? E essas comunidades pobres que ele sustentava financeiramente, existiam? Isso não fazia o perfil de um homem que comandava o tráfico em quase todo país e muito menos fazia o perfil de um homem que traficava mulheres. Só de pensar nisso meu sangue fervia nas veias fazendo meu corpo esquentar em puro ódio.

Ao sair do edifício vejo o carro do indivíduo parado em frente ao hotel. "Muito rápido, o poderoso Max". As janelas do carro continuavam fechadas, apenas os faróis piscando me fizeram entender que era um sinal de que ele me aguardava.

Solto uma grande respiração pesada e pondero por alguns minutos se devo ou não entrar naquele carro, porém sem desfazer meu sorriso para ele não perceber minha reação duvidosa. Tinha certeza que Max estava me olhando por trás dos vidros escuros da sua Ferrari, pois era impossível não sentir a irradiação que seus olhares perversos causavam em cada pedaço meu. Por sorte estava usando óculos escuros, devido ao intenso calor colombiano. Ando até o carro e abro a porta do carona, me sento ao lado dele.

— ¡Chévere! Está muito bonita, senhorita Mia. — Ao me virar para cumprimentá-lo, ele desvia da minha bochecha e beija o canto da minha boca. — Muito cheirosa também — acrescenta. Seu perfume amadeirado alcançou meu olfato, aguçando uma curiosidade de provar seu aroma sutil diretamente do seu pescoço exposto.

— Obrigada pelo elogio — suspiro aliviando a tensão. — Você cumprimenta todas as mulheres assim? — o adverti.

— Não! — Me olhou como se estivesse vendo uma criança inocente. — Você não sabe nada sobre mim, Mia. Então vamos? — colocou o cinto de segurança e eu fiz o mesmo. Em seguida Max ligou o motor do carro, nos tirando da via principal.

Retiro da minha bolsa o meu caderno, caneta e um mini gravador, o que fez Max me olhar franzindo a testa enquanto dirigia. Certamente isso o incomodava. Ainda que os Narcos tentassem ser transparentes, eram bem cautelosos quando o assunto era gravar o que faziam.

— Mia Clark, o que pretende com este gravador? — faz a pergunta curvarndo o canto dos lábios, diabolicamente. Seu sorriso e seu olhar questionador me faziam sentir aquelas sensações estranhas se emaranharem em meu estômago.

— Eu só preciso gravar o básico. Fale somente o necessário sobre você e sobre o que faz.

— Ok. Somente o básico? — Me encarou esperando a resposta.

— Prometo — assegurei em meio a um sorriso.

— Hmm... Eu posso pedir algo em troca? — Suas palavras me pegaram de surpresa, eu não tinha me preparado para isso. Penso em silêncio em uma resposta à altura para sua pergunta capciosa.

— Depende do que você quer de mim — fecho os olhos e sorrio. — Se não for me levar para conhecer sua cama, por mim está tudo bem — completo as palavras fazendo Max afagar, frustrado.

— Tudo bem... pode começar — sua voz sai praticamente arrastada.

— Vou começar agora em 3, 2, 1. Sou a jornalista Mia Clark e estou aqui com o grande empresário Maximiliano Lopez, diretamente de Cali, Colômbia. Max me fale um pouco sobre você.

— Como já ouviram, me chamo Maximiliano Lopez, tenho trinta anos, sou dono da empresa Couros' Lopez, a maior fábrica de couros da Colômbia. Exportamos nossos produtos para vários países como os Estados Unidos e toda a Europa, entre outros.

Enquanto Max falava mantendo sua atenção na estrada, eu percebo que estamos sendo seguidos desde que saímos do hotel. Apreensiva, eu desligo o gravador no mesmo instante.

— Por quê desligou, Mia? Eu ainda não terminei minha entrevista.

— Tem um carro na nossa cola desde que saímos do hotel. — falo e ele parece não se preocupar nem um pouco, manteve sua atenção no volante.

— É para nossa segurança, senhorita Clark. Isto a incomoda?

— Oh, não! Achei que era outra coisa — continuo séria.

Ligo o gravador novamente e Max continua dando sua entrevista. Falou um pouco sobre o cotidiano da região. Até que Maximiliano era tão bom ator quanto eu. Reprimi uma risada, mas por dentro estava gargalhando. Depois de alguns minutos gravando suas preciosas palavras, eu desligo o gravador.

— Obrigada, você foi incrível! — Guardo o pequeno aparelho na bolsa. Ele pega seu celular no bolso do seu jeans e inicia uma ligação. Fico atenta a tudo e percebo que estamos entrando numa cidadezinha que na placa diz "Los pombos".

— Pierre, fique aí por trinta minutos.

— Ele não vai fazer nossa segurança na comunidade? — o indaguei vendo um sorriso sombrio ampliando em seu rosto. Tremi sobre ele.

Nada me respondeu e continuou dirigindo por um curto tempo, até que parou o automóvel embaixo de uma árvore enorme. Olhei para trás e não vi nem a cor do carro que nos seguia.

— Trato é trato, Clark. — Retirou seu cinto de segurança e virou-se para mim, apoiando seu braço no volante.

— O que você quer? — Me pego ofegante e estico a barra da minha saia um pouco mais até que cubra meus joelhos. Enquanto isso, ele me analisa estrategicamente, com uma expressão travessa estampada em seu rosto cínico.

— Me dê sua calcinha, Clark. — Fecho os olhos momentaneamente, mordo o lábio sentindo meu coração ensurdecer em meu peito.

 

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