Capítulo 04

Nova Iorque. 07h:01 AM

Novamente desperto com meus próprios gritos, coberta de suor e com o coração em um frenesi. Só que dessa vez foi diferente, foi com Alice. Levanto-me do sofá procurando por ela, mas não a vejo, e pelo visto ela não veio, o que é estranho, eu a esperei até a madrugada e acabei dormindo no sofá.

Sempre que viajava a trabalho Alice vinha dormir comigo, era como uma regra para nós duas, fizemos um pacto, de quando uma de nós fôssemos viajar, dormimos juntas como se fosse a última vez. Todas as nossas missões eram perigosas, não sabíamos se voltaríamos com vida.

Peguei o celular que descansava sobre a mesinha e liguei novamente, mas para aumentar minha preocupação, o celular dela se encontrava desligado.

Dali em uma hora teria que pegar meu voo para Colômbia, não queria ir de forma alguma sem me despedir da única pessoa que ainda tinha importância na minha vida. Primeiro o sonho e depois o sumiço, a única conclusão que tinha era que não conseguiria viajar sossegada. Precisava mesmo vê-la.

Após fazer minha higiene matinal, saí do banheiro ainda enrolada num roupão felpudo, fui até meu closet e escolhi algumas peças de roupas e as coloquei dentro de uma mala. Fiz tudo rapidamente para não perder tempo.

Depois de pronta, desci imediatamente de elevador, ao chegar no estacionamento subterrâneo do edifício deposito minha mala no banco de trás, odeio lidar com o bagageiro do meu carro, quase não o usava e por esse motivo ele travava e às vezes prendia a chave, o que seria mais um obstáculo para me atrasar além do trânsito. Coloquei no banco ao meu lado a caixa de transporte com a Tiffany dentro, a deixaria no hotel pet até que nossa amiguinha aparecesse por lá e a levasse para casa.

Aproveitei que estava parada no sinal e continuei na tentativa inútil de falar com Alice.

— O maldito celular ainda está desligado! — reclamo. Mentalmente torço para que eu a encontre na agência.

Bom, eu tinha mesmo que ir lá pegar meu material de trabalho, aproveito e certifico se ela está trabalhando. Depois de deixar minha gata no hotel, chego na agência e vou diretamente falar com os agentes. No percurso encontrei com o agente Colin Dickson, caminhando em minha direção entretido com alguns papéis nas mãos.

— Bom dia, Colin — o fiz parar no caminho.

— Bom dia, Aisha. Ei, você sabe onde se meteu a Alice? Ela saiu para trabalhar ontem e desde então não a vimos. O chefe está furioso - fez uma careta.

Senti uma pontada forte rasgando meu peito ao ouvir aquelas palavras. "Droga!" Aquilo não podia estar acontecendo, eu não me permitiria ficar sem a Alice, não suportaria perdê-la. Ela era tudo que tinha naquela cidade, não só por sermos amantes, nossa amizade ia muito além.

— Você está bem, Aisha? — Colin perguntou preocupado ao perceber minha reação.

— E... Eu, desculpe, Colin, eu preciso falar com Dener. — Ele ficou me olhando confuso e eu saí em disparada diretamente para sala do chefe Dener, tentando manter o equilíbrio das minhas pernas trêmulas.

Atravesso o corredor parando em frente à porta e bato algumas vezes.

— Entre — a voz rouca do meu chefe ressoa do outro lado da parede.

— Licença chefe — fecho a porta atrás de mim. Meu chefe continua concentrado em seu laptop.

— Achei que você já estivesse no aeroporto. Ele tirou os óculos, os depositou em sua mesa e me encarou com a expressão severa.

— Sim, quer dizer... era para eu estar lá, mas vim buscar os equipamentos, lembra? E também saber sobre essa missão que Alice foi e não mais voltou. — Cruzei os braços enquanto o questionava esperando a resposta.

— A questão aqui não é essa, agente Johnson. Alice fez o trabalho dela e depois disso não deu mais notícias, ela foi vista ontem a noite no High bar. Eu também estou à procura dela e — apontou uma caneta para mim — se caso ela entrar em contato com você, me avise, preciso que ela venha depressa, pois ainda não me passou o relatório.

Não sabia o que era pior, arriscar minha pele indo para Colômbia, ou sair dali sem ao menos ver minha amiga, as dúvidas martelam em minha cabeça. "O que aconteceu com ela?" Alice não sumiria assim, sem ao menos me ligar ou se despedir de mim.

— Espero que estejam todos procurando por ela, eu a conheço como ninguém e sei que ela não ia desaparecer assim. — Senti as lágrimas formarem-se em meus olhos, ameaçando a caírem a qualquer momento, no entanto engoli em seco cada palavra para não chorar na frente do meu chefe.

— Eu sei Aisha, mas eu acredito que a agente Anderson passou dos limites ontem no bar, você não acha? Mesmo assim, irei mandar uns garotos buscarem por ela e por favor, não se atrase para o seu voo que sai em meia hora. — olhou para seu relógio de pulso. — Boa viagem Johnson.

A saliva desce pela minha garganta como pedaços de vidro. Preferi não dizer mais uma palavra, peguei meu equipamento e deixei a agência tomada pela angustia. Meus passos, mesmo que trôpegos e incertos, não importavam mais para mim, sigo ciente meu caminho sem saber o que vou enfrentar mais adiante, eu apenas estava indo sem saber se voltaria viva.

Após alguns minutos na espera pelo meu voo, finalmente embarco rumo à Colômbia. A aflição, o medo e a ansiedade se fizeram presente, eu definitivamente não sabia o que estava acontecendo, mas o fato era que tinha algo muito errado naquela história toda e eu tinha que descobrir o que era.

Às vezes me pegava pensando que eu não nasci para ser feliz, que devia ter sido maldiçoada quando bebê, porque tudo aquilo que eu amava morria. Meus pais biológicos, minha mãe que me criou desde os meus sete anos de idade, enfim, todos aqueles que eu mais amei se foram e a agente Anderson era tudo que eu tinha no momento.

***

Guardo meu livro na minha bolsa quando ouço a comissária avisando que íamos pousar. A viagem foi entediante, as horas pareciam durar uma vida inteira. A vontade de fumar estava me deixando agoniada, não via a hora de sair do aeroporto, acender um cigarro e dar aquela longa tragada.

A viagem de Nova Iorque terminava em Bogotá, teria que pegar um helicóptero direto para Cali. Retiro minha jaqueta de couro quando sinto um calor intenso esquentar minha pele, o clima ali era morno e abafado devido a época do ano em que estávamos, em compensação a cidade era encantadora. Eu gosto de regiões tropicais, o cheiro é diferente, tem um aroma de árvores mortas misturadas às outras vivas, elas formam uma essência que me traz paz e tranquilidade.

Assim que pego meu celular para ajustar as diferenças de horário, ele começa a tocar em minha mão e o DDD é do país, então suponho que seja Maximiliano Lopez.

— Olá, guapa. É Max. Você já chegou na Colômbia?

A sua voz rouca me faz lembrar da noite passada, quando ele tomou meus lábios loucamente. Eu odiei meu corpo naquele exato momento, que reagiu estranhamente só em ouvir o potencial grave da voz dele.

— Você cumpre mesmo o que promete, disse que ia ligar e aqui estamos nos falando. Sim, estou em Bogotá. - Ouço sua risada abafada do outro lado da linha. - Vou pegar um voo para ir para Cali.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos.

- Nos vemos em breve! - decretou, encerrando a ligação.

"Será que ele está desconfiado de alguma coisa?" Pude sentir cada músculo do meu corpo ficando tenso no exato momento, Max não pareceu nem um pouco surpreso em seu tom de voz quando eu disse que estava ali.

Certamente Maximiliano sabia de tudo que acontecia dentro da Colômbia inteira, de cada passo dado, de quem entrava e saía. Sinto calafrios quando olho à minha volta e me dou conta que estou longe de casa, muito longe e para piorar tenho uma sensação esquisita de estar sendo observada a cada passo que dou.

— Senhorita Mia Clark? — Um homem desconhecido me aborda do lado de fora do aeroporto enquanto eu fumava um cigarro. Guardo meu celular na bolsa e me viro para vê-lo.

— Sim, sou eu. Desculpa, eu o conheço?

— Me chamo Pierre e trabalho para o senhor Maximiliano Lopez. Estou aqui para levar a senhorita para onde quiser. — O observo falar de uma só vez, como se tivesse ensaiado essas falas a vida toda. O encaro confusa tentando processar tudo.

— Ah, obrigada — sorrio — mas eu vou sozinha. — Faço menção de sair quando sinto meu braço sendo puxado. Olho por cima do ombro e ao fitar sua mão espalmada em meu braço, ele percebe meu incômodo e a retira rapidamente.

— Desculpe, senhorita Clark, mas é uma ordem del patron.

— Oh... sim, seu patron. — Rilhando os dentes incomodada, continuei: — avise a seu patron que eu vou sozinha - joguei o cigarro no chão e apaguei a brasa com o solado da minha bota. Pierre retirou o celular do bolso e eu saí de lá, deixando-o só fazendo sua ligação.

Mais à frente avistei um táxi e caminhei depressa para não o perder de vista, mas antes que eu pudesse alcançá-lo, meu celular voltou a tocar dentro da bolsa. Bufei sabendo de quem se tratava, continuei andando a passos rápidos ignorando o toque do celular. Depois de encerrar a chamada, ouvi um bip avisando uma mensagem.

"Não estou forçando nada, apenas aceite minha cortesia de boas-vindas à cidade."

Ao ler sua mensagem, eu fiquei na dúvida se aceitaria ou não sua "cortesia", afinal eu estava ali e seria inevitável logo mais nos encontrarmos. Eu precisava arriscar. Olhei atrás de mim e vi que Pierre ainda estava lá parado, aguardando que eu mudasse de ideia.

No curto trajeto, eu checava meu celular ansiosamente e inquieta, na expectativa de receber algo de Alice, no entanto nada. Ela já deveria ter dado notícias.

Chegamos no heliporto, tinha um outro homem de prontidão nos aguardando ao lado do helicóptero. Continuei andando enquanto o calor se espalhava pelo meu rosto seguindo pelas minhas costas, me deixando pegajosa e com cheiro de suor misturado ao meu perfume.

— Obrigada! — Agradeço ao homem que me ajudou com a mala. Nos organizamos em nossos assentos e em poucos segundos decolamos.

Pierre estava no banco de trás digitando algo em seu celular. Presumi que estivesse falando com seu "patron", acho um tanto cômico os dialetos usados por eles. Às vezes tinha vontade de rir só imaginando a cara deles quando eu acabasse com toda aquela milícia.

Quase duas horas já haviam se passado e a primeira coisa que eu teria que fazer assim que pousasse em Cali era mandar uma mensagem para meu chefe avisando que tive que pegar outro helicóptero. Dener tinha deixado tudo reservado para minha viagem, mas Maximiliano foi mais rápido e se eu recusasse sua cortesia, talvez poderia dar tudo errado na operação.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo