Assim que entramos, inalei o cheiro divino de carne e a fome movimentou o meu estômago, seguimos em fila para o fundo da hamburgueria lotada, sendo difícil não apreciar cada detalhe, uma decoração retrô dos anos oitenta compunha cada pedacinho do lugar… SENSACIONAL!
Como assim, morava em São Paulo, passeei diversas vezes pelo centro e nunca havia entrado ali? Aurora, sua distraída!
Deixei a turma continuar e parei para olhar as fotos de um chinês abraçado a alguns artistas, o dono do lugar parecia ser importante.
— Nossa, que lugar legal! — exclamei e me juntei ao grupo, admirada com tudo.
Raica escolheu um cantinho bem ao fundo, onde não havia uma concentração muito grande de pessoas famintas.
— Vocês já são muito bem-vindos! — sucateou um baixinho de olhos puxados e bandeja embaixo do braço. — Chill, Chill, vai rolar aquela porção de fritas grátis? — Raica esperta, tentou descaradamente.
Chill fingiu se espantar, mas saquei que estava acostumado com o pedido.
— Já querem falir o Chill aqui, é? — O chinês fez uma careta teatral e colocou a bandeja sobre a mesa em sinal de protesto.
— Ô, chinês miserável — resmungou Renan.
— Eduarda, atende a turminha extorquista aqui — Chill falou debochado, enquanto girava a bandeja em seu dedo.
Concentrei-me na agilidade do homem com o objeto, ele era muuuuito bom, praticamente um equilibrista profissional.
— Olá, Eduarda! — saudou Raica, sorrindo para uma loira com uniforme de garçonete e crachá com logo de hambúrguer.
— Pode ir, Chill, eu cuido deles. — A garçonete deu dois tapinhas no ombro do patrão. Chill por sua vez atingiu o balcão a passos curtos com seu show de equilíbrio.
Ele era craque mesmo.
— Ei, Eduarda, você topa um encontro?
— Com você? — Apontou para Renan. — O Théo vem junto? Ele cerrou os olhos para a loira.
— Gulosa!
— Egoísta!
Rimos com a interação.
Legal, todos eram amigos de longa data, íntimos e divertidos.
— Façam seus pedidos — Duda interrompeu a gozação e nos entregou os cardápios. — Estamos lotados hoje, sejam práticos.
Sem rodeios.
— Eu quero o combo número quatro com Coca — Lucca falou logo.
E todos fizeram o mesmo. Eduarda colheu os pedidos e deixou a mesa às pressas. Nosso horário de almoço era calculado, não podíamos vacilar e chegarmos atrasados no primeiro dia.
— Vou colocar uma música. — Do nada o garoto se levantou, driblou algumas mesas até alcançar uma máquina que reconheci assim que as luzes led em torno se acenderam, era uma Jukebox. O irmão de Raica depositou uma moeda, apertou uns dos botões que não consegui identificar com a distância e retornou radiante. A canção dançante ganhou vida no espaço.
— Música latina, Aurora, você curte? — Raica perguntou, remexendo os ombros.
Sorri para ela, surpreendida com a intimidade conquistada no curto período. A preta era linda, alta e possuía olhos de expressão forte. Fora que seu cabelo tinha um volume impressionante, assim que tivesse oportunidade iria pedir algumas dicas de como domar os meus cachos que nunca me obedeciam.
— Não basta ouvir, temos que sentir o ritmo. — Renan começou a dançar no pouco espaço que tinha próximo à mesa. — Vem, preta! — chamou a irmã, que não pensou duas vezes antes de juntar seu corpo ao dele.
Achei muito maluco aquilo, eles realmente dançavam bem, mas não era um costume para mim, dançar assim do nada e, principalmente, numa hamburgueria em pleno meio-dia. Geralmente saía para dançar à noite — se bem que não fazia isso há um tempão. Por fim, olhei ao redor, curiosa, e todos permaneciam em seus próprios mundos, desfrutando da refeição, sem se importarem com o rebolado dos irmãos.
Uma música satisfez o tempo e logo todo o conteúdo delicioso foi depositado com agilidade sobre a mesa.
— Obrigada, Duda — Raica agradeceu.
— Bom apetite. — Ela já estava longe, atarefada com outras mesas.
— Nossa, que fome! — Raica comentou assim que se sentou.
Renan copiou a irmã. — Parece delicioso.
— Vocês dançam bem — elogiei, tentando segurar o enorme sanduíche nas mãos.
— Vamos marcar na sexta, Aurora. A Tricy, uma cantora pop, faz um show incrível aqui — falou Renan antes de morder um bom pedaço do lanche, desperdiçando algumas folhas de alface no prato. — Mora aonde?
— Zona sul.
— Tranquilo, o metrô é aqui do lado.
— Mudando de assunto — disse Lucca —, vocês estão ansiosos para começar?
— Muitoooooo, eu praticamente não dormi até receber o e-mail de confirmação — ressaltou Raica. — Vão cursar o quê?
— Publicidade e Marketing — respondi, com os olhos por cima do hambúrguer gigante.
— Gestão Financeira, e vocês?
— Relações Públicas, adoro me relacionar com as pessoas — Renan respondeu para o Lucca.
— Sim, não temos dúvidas — afirmou a irmã, balançando a cabeça.
— Eu vou contigo, Aurora. Vou cursar Marketing.
— No campus da Paulista?
— Isso! Então seremos colegas de turma, girl. Aquiesci entusiasmada.
— Por conta da casa. — O equilibrista chinês nos surpreendeu com uma porção de fritas. — Só porque são clientes fiéis e trouxeram uma convidada.
— Chill, tudo estava uma delícia.
— Ganhei uma nova cliente, saboreiem as fritas, turminha. — E assim ele voltou para o comando do balcão.
Batucamos na mesa em conjunto, agradecendo a gentileza.
Em poucos segundos não havia mais nenhuma batata para contar história, recolhemos a sujeira, pagamos a conta e corremos para a WUC, com o horário de almoço bem apertado.
A entrada para os elevadores estava impossível, todos resolveram voltar do almoço ao mesmo tempo, deixando o hall uma loucura.— Agora é oficial, estamos atrasados! — Lucca fez questão de avisar nos apavorando um pouco mais.
Não era possível que nos atrasaríamos no primeiro dia, isso era praticamente inaceitável. Permanecemos ali, esperando que nossa vez chegasse, inquietos, aflitos. Até que finalmente a m*****a porta metálica se abriu, pulamos para dentro e Raica apressou-se em apertar o botão, mas o elevador não subiu.
Podia ficar pior? E ficou.— Será que está quebrado? — Raica resmungou, apertando os botões como se valessem sua vida. —
Gente, não funciona!
Chequei o relógio de pulso, sofrendo um pouco mais, tínhamos cinco minutos para subir e o negócio não funcionava. Inclinei a cabeça disposta a quebrar o painel, quando um par de olhos castanhos me manteve paralisada, tentei desviar do magnetismo, no entanto, não foi possível, a atração daquele olhar quente me prendeu.
Meu Deus, quem é ele? Pensei.
Meus olhos percorreram meio que tímidos, toda a obra à minha frente. Jesus… Voltei a encará-lo, meio zonza, meio besta e um sorriso sugestivo apareceu naqueles lábios que quis pra mim. Enquanto tudo ao nosso redor parecia afoito, ficamos nos saboreando como aperitivos, até que o elevador resolveu funcionar.
Cacete!
Aproveitei e voltei a respirar…Nossa, o que foi aquilo?Tentei raciocinar à medida que a máquina subia, só que as sensações que fluíam no meu corpo me confundiram um pouco. Era um misto de curiosidade com fascínio — estupidamente interessante.— Acho que você arrumou um fã — Lucca cochichou no meu ouvido.— Como? — sussurrei temendo que alguém o ouvisse.— Você viu como ele estava te olhando?— Quem?— O executivo bonitão.— Não… eu…— Chegamos — falou Renan, aliviado.A turma passou por mim, apressados, intrépidos, ao passo que minha mente abusada processava aquele rosto — intenso, atraente e sinuoso. Havia alguma coisa incomum ali, não sei explicar, ou compreender, só sei que aquele cara acordou algo adormecido em mim. Não levamos nenhuma bronca, pelo contrário, o supervisor Maico foi até compreensivo com o fato de o elevador ter dado pau.No segundo período as horas passaram rápido, o treinamento fluiu com uma preciosa lição: raciocínio rápido. Eles eram exigentes com cada detalhe
Vinte dias depois…— Aurora, acorda! — esbravejou minha mãe, enquanto invadia meu quarto. — Bora, o dia está sorrindo.— Ah… — Bocejei. — Apaga essa luz, mãe, enlouqueceu?— Aurora, acorda, temos que aproveitar o sábado!— Não, senhora, o sábado foi feito pra dormir — murmurei me embalando embaixo do edredom. — Adeus!Não esquece de apagar a luz.— Anda, menina.Toc toc toc, seu sapato começou a sapatear todo o piso, endoidando meus tímpanos, adeus soninho.Argh!Soltei uma lufada de ar e cobri minha cabeça com o travesseiro, na tentativa de ignorá-la. Estava exausta e minha mãe sabia disso, então por que diabos ela estava me atormentando? Nunca estudei tanto na vida, os vinte dias de treinamento foram intensos e só ressaltaram o título de número um do mundo. Passei a admirar ainda mais a universidade que preza pelo crescimento profissional dos seus colaboradores. O sistema deles era único e exclusivo, desenvolvido na Califórnia, sede de Berkeley. E sim!!! Eu teria um MacBook à minha d
Bem-vindo ao shopping, era o que estava escrito na placa prateada no alto da entrada. O lugar onde eu podia me passar por rica sem que ninguém duvidasse — ou me chamasse de louca —, estava lotado de famílias e pessoas desocupadas como eu e minha mãe. Confesso que meu sonho era um dia entrar na Gallerist e gastar alguns reais sem me preocupar que o mundo ia cair na minha cabeça depois. Mas como todos os shoppings de luxo, também tinha lojas populares como C&A e Riachuelo que reuniam diversos estilos a preço acessível.Era exatamente nelas que faria compras.Ainda receosa em acabar com o limite do cartão de crédito da mamãe, escolhi poucas peças, digamos que fui estratégica, peguei roupas que combinassem com o que já tinha no guarda-roupa. Porém, dona Ana me surpreendeu quando encheu meus braços com as peças escolhidas por ela, não fiz cerimônia e aceitei o presente.Passeamos pelo andar sem pressa, observando vitrines, só curtindo uma à outra — como há muito tempo não fazíamos. A mulhe
Um pouco depois voltamos para casa, exaustas, me refugiei logo no meu quarto com a desculpa de guardar as roupas novas que compramos. Minha mãe, que de boba não tinha nada, percebeu minha mudança de humor brusca assim que saímos do restaurante. Achei estranho tudo aquilo e não consegui entender por que me sentia brava pelo fato de ter visto David — alguém que nunca falei —, encontrar casualmente —esperava em Deus —, minha chefe direta.Que homem lindo, fiz questão de lembrar, estava tão casual com aquela malha branca.Qual será a relação daqueles dois? Namorados? Questionava. Encaixei uma peça no cabide.E qual será a ligação dele com a WUC? Talvez um cliente ou executivo?Embora não o tenha visto no prédio administrativo, tudo me levava a crer que David era envolvido de alguma forma com a empresa, ou melhor, com a Ellen. Provavelmente namorados, ou estavam se conhecendo, já que se cumprimentaram com um simples beijo no rosto.Eram perfeitos juntos.— Aurora… — Não tem jeito,
— Acorda, dorminhoco! Hoje é domingo.Ignorei a voz melódica no ouvido e seus carinhos no pescoço e virei para o lado oposto, me desvencilhando e retomando meu sono. A noite intensa e o sexo selvagem me esgotaram, precisava descansar. A contar dos dias que desembarquei no Brasil até a véspera, não houve sequer um momento de sossego, mesmo estando acostumado à rotina de trabalho fatigante e a noitada com mulheres fogosas, caso acontecesse, não dispensaria um tempo sozinho.— Vou chupar seu pau gostoso…E pelo visto não ia acontecer tão cedo, Ellen não ponderava as artimanhas para transformar o silêncio em gemidos.— Depois vamos trepar… — suas unhas arranharam minhas costas —, meu dia tem um upgrade com essa dinâmica.A diabinha persistente já havia me colocado duro para o seu deleite.— Jamais recusaria foder a sua boca pela manhã. — Busquei o rosto ordinário. — Ajoelha pra mim, bem vagabunda como eu gosto.Ela mordeu os lábios e deslizou para fora da cama, se posicionando, obediente.
Arfei e não me dei ao trabalho de responder.Mesmo com o tempo, nada foi esclarecido e um mundo de incertezas se instalou mutuamente.Praticamente dois estranhos, escusos, quase inimigos. Infelizmente, o laço terno que tínhamos findou e não havia mais resquícios de sentimentos leais, só farpas e provocações. Não era feliz com a situação. Antes de toda aquela merda éramos um só, eu: seu herói por ser o irmão mais velho, mesmo com pouco diferença de idade, e ele: o mano querido e companheiro, sempre ao meu lado.Tomei o resto da água que sobrou na garrafa, descartando a embalagem no reciclável ao lado e teria seguido para a cobertura, livre de tantas reflexões fodidas, no entanto, outra ligação me manteve ali e, daquela vez, um sorriso alegre apareceu ao atender.— Fala, Ruben…— Tudo bem, David?— Tudo certo, estava correndo. Como vai tia Ester e seu pai?— Viajando, provavelmente estão na Itália agora.— Podemos almoçar, o que acha?Encontros como esses aliviavam a carga que muitas ve
— Ah, claro! — A curiosa me trouxe de volta. — Aurora trabalha lá, que coincidência.— Sim, muita coincidência… — Ele não conseguiu esconder a surpresa, nem eu. Mais um pouco e não esconderia nem os burburinhos do meu estômago.— Minha sobrinha linda é muito esforçada, ganhou uma bolsa de estudos, né, querida? — A megera que se casou com meu tio não perdeu a oportunidade e frisou a palavra bolsa, como se houvesse da minha parte um pingo de vergonha na conquista. — David, querido, WIS UNIVERSITY não é a universidade da sua família? Mel comentou alguma coisa sobre…Hein?Meus olhos saltaram.Tenho certeza absoluta de que todo o sangue do meu corpo subiu para o meu cérebro. Esperava qualquer coisa, até que David tivesse laços familiares em Marte, tudo, menos que aquele cara… Puta merda!!! Comonão associei? David Queen, herdeiro e CMO[2] da WIS. Tudo passou a fazer sentido. O encontro fez sentido.A elegância fez sentido. A gostosura fez sentido. O único ponto sem sentido na história era
Não poderia esquecer de agradecer ao Ruben por aquele convite, jamais imaginei que reencontraria aquela garota daquela forma, que mundo pequeno....Obviamente que desconfiava se tratar de uma funcionária, ela não estaria lá se não fosse. A garota de olhos atrevidos atraiu meus instintos naquela tarde, além de um flerte diferente, inusitado, me fissurei nos lábios de um tom rosa natural, saltados e suculentos, e um corpo curvilíneo, delicado, puro pecado. Maluco esse primeiro contato, dado aos dias exorbitantes que estava vivendo, algo novo me estimulando, como havia tempos que não acontecia, me excitou.Só que assim que as portas se fecharam, voltei à consciência de que funcionárias são problemas, ainda mais trabalhando no mesmo prédio da Ellen. Portanto, apaguei a bela imagem da mente, e segui, até revê-la no restaurante, um brilho diferente me atraiu e esqueci facilmente dos alertas que me fizeram recuar. Até aquele momento.Aurora era uma tentação: jovial, linda, inteligente. Capta