3- Aurora Baker

Assim que entramos, inalei o cheiro divino de carne e a fome movimentou o meu estômago, seguimos em fila para o fundo da hamburgueria lotada, sendo difícil não apreciar cada detalhe, uma decoração retrô dos anos oitenta compunha cada pedacinho do lugar… SENSACIONAL!

Como assim, morava em São Paulo, passeei diversas vezes pelo centro e nunca havia entrado ali? Aurora, sua distraída!

Deixei a turma continuar e parei para olhar as fotos de um chinês abraçado a alguns artistas, o dono do lugar parecia ser importante.

— Nossa, que lugar legal! — exclamei e me juntei ao grupo, admirada com tudo.

Raica escolheu um cantinho bem ao fundo, onde não havia uma concentração muito grande de pessoas famintas.

— Vocês já são muito bem-vindos! — sucateou um baixinho de olhos puxados e bandeja embaixo do braço. — Chill, Chill, vai rolar aquela porção de fritas grátis? — Raica esperta, tentou descaradamente.

Chill fingiu se espantar, mas saquei que estava acostumado com o pedido.

— Já querem falir o Chill aqui, é? — O chinês fez uma careta teatral e colocou a bandeja sobre a mesa em sinal de protesto.

— Ô, chinês miserável — resmungou Renan.

— Eduarda, atende a turminha extorquista aqui — Chill falou debochado, enquanto girava a bandeja em seu dedo.

Concentrei-me na agilidade do homem com o objeto, ele era muuuuito bom, praticamente um equilibrista profissional.

— Olá, Eduarda! — saudou Raica, sorrindo para uma loira com uniforme de garçonete e crachá com logo de hambúrguer.

— Pode ir, Chill, eu cuido deles. — A garçonete deu dois tapinhas no ombro do patrão. Chill por sua vez atingiu o balcão a passos curtos com seu show de equilíbrio.

Ele era craque mesmo.

— Ei, Eduarda, você topa um encontro?

— Com você? — Apontou para Renan. — O Théo vem junto? Ele cerrou os olhos para a loira.

— Gulosa!

— Egoísta!

Rimos com a interação.

Legal, todos eram amigos de longa data, íntimos e divertidos.

— Façam seus pedidos — Duda interrompeu a gozação e nos entregou os cardápios. — Estamos lotados hoje, sejam práticos.

Sem rodeios.

— Eu quero o combo número quatro com Coca — Lucca falou logo.

E todos fizeram o mesmo. Eduarda colheu os pedidos e deixou a mesa às pressas. Nosso horário de almoço era calculado, não podíamos vacilar e chegarmos atrasados no primeiro dia.

— Vou colocar uma música. — Do nada o garoto se levantou, driblou algumas mesas até alcançar uma máquina que reconheci assim que as luzes led em torno se acenderam, era uma Jukebox. O irmão de Raica depositou uma moeda, apertou uns dos botões que não consegui identificar com a distância e retornou radiante. A canção dançante ganhou vida no espaço.

— Música latina, Aurora, você curte? — Raica perguntou, remexendo os ombros.

Sorri para ela, surpreendida com a intimidade conquistada no curto período. A preta era linda, alta e possuía olhos de expressão forte. Fora que seu cabelo tinha um volume impressionante, assim que tivesse oportunidade iria pedir algumas dicas de como domar os meus cachos que nunca me obedeciam.

— Não basta ouvir, temos que sentir o ritmo. — Renan começou a dançar no pouco espaço que tinha próximo à mesa. — Vem, preta! — chamou a irmã, que não pensou duas vezes antes de juntar seu corpo ao dele.

Achei muito maluco aquilo, eles realmente dançavam bem, mas não era um costume para mim, dançar assim do nada e, principalmente, numa hamburgueria em pleno meio-dia. Geralmente saía para dançar à noite — se bem que não fazia isso há um tempão. Por fim, olhei ao redor, curiosa, e todos permaneciam em seus próprios mundos, desfrutando da refeição, sem se importarem com o rebolado dos irmãos.

Uma música satisfez o tempo e logo todo o conteúdo delicioso foi depositado com agilidade sobre a mesa.

— Obrigada, Duda — Raica agradeceu.

— Bom apetite. — Ela já estava longe, atarefada com outras mesas.

— Nossa, que fome! — Raica comentou assim que se sentou.

Renan copiou a irmã. — Parece delicioso.

— Vocês dançam bem — elogiei, tentando segurar o enorme sanduíche nas mãos.

— Vamos marcar na sexta, Aurora. A Tricy, uma cantora pop, faz um show incrível aqui — falou Renan antes de morder um bom pedaço do lanche, desperdiçando algumas folhas de alface no prato. — Mora aonde?

— Zona sul.

— Tranquilo, o metrô é aqui do lado.

— Mudando de assunto — disse Lucca —, vocês estão ansiosos para começar?

— Muitoooooo, eu praticamente não dormi até receber o e-mail de confirmação — ressaltou Raica. — Vão cursar o quê?

— Publicidade e Marketing — respondi, com os olhos por cima do hambúrguer gigante.

— Gestão Financeira, e vocês?

— Relações Públicas, adoro me relacionar com as pessoas — Renan respondeu para o Lucca.

— Sim, não temos dúvidas — afirmou a irmã, balançando a cabeça.

— Eu vou contigo, Aurora. Vou cursar Marketing.

— No campus da Paulista?

— Isso! Então seremos colegas de turma, girl. Aquiesci entusiasmada.

— Por conta da casa. — O equilibrista chinês nos surpreendeu com uma porção de fritas. — Só porque são clientes fiéis e trouxeram uma convidada.

— Chill, tudo estava uma delícia.

— Ganhei uma nova cliente, saboreiem as fritas, turminha. — E assim ele voltou para o comando do balcão.

Batucamos na mesa em conjunto, agradecendo a gentileza.

Em poucos segundos não havia mais nenhuma batata para contar história, recolhemos a sujeira, pagamos a conta e corremos para a WUC, com o horário de almoço bem apertado.

A entrada para os elevadores estava impossível, todos resolveram voltar do almoço ao mesmo tempo, deixando o hall uma loucura.

— Agora é oficial, estamos atrasados! — Lucca fez questão de avisar nos apavorando um pouco mais.

Não era possível que nos atrasaríamos no primeiro dia, isso era praticamente inaceitável. Permanecemos ali, esperando que nossa vez chegasse, inquietos, aflitos. Até que finalmente a m*****a porta metálica se abriu, pulamos para dentro e Raica apressou-se em apertar o botão, mas o elevador não subiu.

Podia ficar pior? E ficou.

— Será que está quebrado? — Raica resmungou, apertando os botões como se valessem sua vida. —

Gente, não funciona!

Chequei o relógio de pulso, sofrendo um pouco mais, tínhamos cinco minutos para subir e o negócio não funcionava. Inclinei a cabeça disposta a quebrar o painel, quando um par de olhos castanhos me manteve paralisada, tentei desviar do magnetismo, no entanto, não foi possível, a atração daquele olhar quente me prendeu.

Meu Deus, quem é ele? Pensei.

Meus olhos percorreram meio que tímidos, toda a obra à minha frente. Jesus… Voltei a encará-lo, meio zonza, meio besta e um sorriso sugestivo apareceu naqueles lábios que quis pra mim. Enquanto tudo ao nosso redor parecia afoito, ficamos nos saboreando como aperitivos, até que o elevador resolveu funcionar.

Cacete!

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