Um pouco depois voltamos para casa, exaustas, me refugiei logo no meu quarto com a desculpa de guardar as roupas novas que compramos. Minha mãe, que de boba não tinha nada, percebeu minha mudança de humor brusca assim que saímos do restaurante. Achei estranho tudo aquilo e não consegui entender por que me sentia brava pelo fato de ter visto David — alguém que nunca falei —, encontrar casualmente —esperava em Deus —, minha chefe direta.
Que homem lindo, fiz questão de lembrar, estava tão casual com aquela malha branca.
Qual será a relação daqueles dois? Namorados? Questionava. Encaixei uma peça no cabide.
E qual será a ligação dele com a WUC? Talvez um cliente ou executivo?
Embora não o tenha visto no prédio administrativo, tudo me levava a crer que David era envolvido de alguma forma com a empresa, ou melhor, com a Ellen. Provavelmente namorados, ou estavam se conhecendo, já que se cumprimentaram com um simples beijo no rosto.
Eram perfeitos juntos.
— Aurora… — Não tem jeito, ela entrou sem bater. — Tudo bem?
— Ahaaa! — respondi e encaixei o cabide no suporte esperando dona Ana dizer o motivo de interromper meu raciocínio. — Qual o problema? — Quis entender o silêncio e o semblante apático. — Esse olhar pidão… Quer dinheiro? Já digo, tô zerada, a empresária aqui é a senhora — brinquei, ela sorriu brevemente, me encarando séria depois. — Fala, mãe, o que tá pegando?
Ela escorou na cômoda antes de falar, ou melhor, me irritar.
— Seus tios convidaram a gente para um jantar, amanhã — falou devagar e arqueei a sobrancelha. — Eu aceitei..., por nós duas.
— Eu não vou, sabe disso, né?
— Aurora, chega desse ódio, evolua…
— Oi? Tá gozando com a minha cara, mãe?
— Não, somos família!
— Somos o quê? Faltava ar no espaço.
— Filha, eu sei que a Melissa errou, todos erramos e…
Larguei na cama a blusinha que ia pendurar no próximo cabide.
— Querem que eu a perdoe? — A voz soou ferida. — Esse é o motivo do jantar?
— Não! Ela quer apresentar o namorado para a família.
— EU NÃO SOU A FAMÍLIA DELA! — berrei e fui para o banheiro.
— Não grite comigo, Aurora! — Ela não pediu. — Chega dessa merda!
Revirei os olhos que já ardiam e liguei o chuveiro antes de tirar a roupa e jogá-la no cesto.
Os desgraçados não se contentaram com a humilhação e queriam me esfregar um namorado na cara, como se isso apagasse o que a vadia fez comigo. Não engolia. Não aceitava. Mergulhei a cabeça na água quente para aliviar a tensão, mas não, a cena voltava nítida.Melissa e eu fomos criadas praticamente juntas, não com as mesmas regalias, pois meu tio era um grande empresário, já minha mãe, uma ferrada. A princesa sempre teve tudo que quis: viagens, roupas de grife, uma bela casa, enquanto eu tinha o que era cabível ter e nunca reclamei. Independente da diferença social tínhamos uma amizade que considerava sincera, até encontrá-la nua na cama do Caio, meu namorado.
— Aurora, apague isso, você superou as dificuldades. — Ouvi minha mãe falar. — Agora se mostre superior.
Esse ponto me fez pensar: superior. Talvez precisasse mostrar que estava bem, que não era mais a coitada que eles podiam pisar, a ressentida por conta de um deslize da princesa.
Foda-se!
Finalizei meu banho e voltei para o quarto com a minha mãe de prontidão, se tinha algo que me levava ao inferno era a insistência de dona Ana, impossível competir com o poder de persuasão da baixinha. Vesti um pijama e me deitei com o ruído impaciente próximo à porta.
— Tudo bem, eu vou — declarei e desliguei o abajur.
(...)
Paula, esposa do tio Jorge, nos recebeu e não sei o que me irritou mais, se foi seu sorriso falso ou o cabelo cheio de laquê que tornou sua cabeleira uma nave espacial bizarra. A chata nos guiou até a sala de estar, lindamente decorada — tinha que admitir —, e começou a falar igual a um papagaio grotesco, demonstrando o quanto era fútil e ridícula. Não permaneci junto delas, me afastei sentando numa poltrona próxima à janela, ocupando-me com o celular.
— Boa noite! — Meu tio chegou falando. — Que prazer tê-la aqui na minha humilde casa, amada irmã.
Porra!
Revirei os olhos, enjoada com a falsa modéstia.
Aquela casa estava longe de ser humilde, tínhamos ali quilômetros de terreno muito bem aproveitado, com direito a um jardim extenso, piscina, área para empregados, sauna e muito mais que nem lembro por não frequentar mais o lugar. Agora humilde não era. O homem me cumprimentou com um beijo na testa, que limpei assim que se afastou para juntar-se às mulheres e ficaram conversando sobre a dama da noite, até a infeliz aparecer.
— Boa noite, gente! — A voz soou macia, quase de algodão. Melissa estava vestida com um lindo vestido preto e sandálias altas. — Demorei? — Sorriu indo encontrar a tia, que já estava de pé para abraçá-la.
— Tá linda, Mel.
Quase vomitei.
Avaliando o quadro, me arrependi amargamente de ter ido. Afinal, o que eu queria provar? Que havia esquecido tudo? Que se foda ela ter transado com o filho da puta do Caio? Que não ligava? Queria convencer quem, se eu mesma ainda sentia o azedo na boca? Esse fingimento não fazia meu gênero, a vaca permaneceu conversando com os mais velhos, enquanto eu saí sem disfarçar o abandono para o jardim.
Caminhei morosa na grama aparada, respirando ar puro e implorando a Deus uma dose extra de paciência, precisava suportar o jantar, a arrogância, e ir embora como uma bela dama.
Longe de tudo estava sendo até fácil superar, mas estando ali de volta, principalmente naquele jardim que brinquei muitas vezes quando criança, era impossível.— Aurora…
Voltei-me para a entrada, lá estava ela.
Cínica.
Um passo, dois… neguei a aproximação, mas a garota nada inocente quis me encontrar.
— Podemos conversar?
— Conversar, Melissa? Quer falar sobre o quê? Esmalte?! Ela apertou os olhos e se esquivou.
Nada que fosse dito apagaria a revolta que movimentava meu peito.
Não havia palavras, por mais sinceras que fossem, capazes de superar a imagem, a cena, o instante que permaneci parada, imersa ao choque do cenário desleal.
— Eu errei, tá legal? Me iludi com aquele cretino, mas…
— Mas…?
Ah, o interesse no mas esticou meus lábios, talvez um motivo ilustre explicasse as razões da minha prima e amiga ter me apunhalado pelas costas.
— Eu amo você, Aurora. Sinto sua falta e nada é o mesmo sem a sua amizade.
Segurei a gargalhada e só sorri com ironia, é claro! Amor... A garota reafirmava minha burrice. Jesus! Achava mesmo que as lágrimas que escorriam poderiam apagar a foda daquela noite?
— Melissa, vai se foder!
— Como pode ser tão dura?
— Como pôde ser tão vaca!?!
O olhar duelou e a fúria muito bem representada estava a ponto de esmagá-la.
— Meninas, os convidados chegaram. — Paula nos interrompeu, ainda assim o contato visual permaneceu queimando. — Mel, o Ruben está na sala com o primo, venha recebê-lo.
Ela quebrou aquilo a tempo de a merda não respingar no jantar, busquei controle do âmago, pois chorar não era o que pretendia fazer, me sentir frágil, ferida diante deles, estava longe de demonstrar que superei a traição. Ignoraram meus sentimentos, pisotearam minha dignidade como se tivesse que sentir calada a navalha ferindo meu coração.
Tapei a boca e engoli o pranto. Não!
— Dane-se, não suporto nenhum deles, não faz sentido minha presença…
Alcancei o ambiente em tempo recorde, disposta a mandar todos à merda e retrucar qualquer protesto, só que o destino, como um leviano, desarmou seja qual fosse o armamento que estivesse em punho. Meu sangue pulsou diferente assim que reconheci um dos convidados.
— Acorda, dorminhoco! Hoje é domingo.Ignorei a voz melódica no ouvido e seus carinhos no pescoço e virei para o lado oposto, me desvencilhando e retomando meu sono. A noite intensa e o sexo selvagem me esgotaram, precisava descansar. A contar dos dias que desembarquei no Brasil até a véspera, não houve sequer um momento de sossego, mesmo estando acostumado à rotina de trabalho fatigante e a noitada com mulheres fogosas, caso acontecesse, não dispensaria um tempo sozinho.— Vou chupar seu pau gostoso…E pelo visto não ia acontecer tão cedo, Ellen não ponderava as artimanhas para transformar o silêncio em gemidos.— Depois vamos trepar… — suas unhas arranharam minhas costas —, meu dia tem um upgrade com essa dinâmica.A diabinha persistente já havia me colocado duro para o seu deleite.— Jamais recusaria foder a sua boca pela manhã. — Busquei o rosto ordinário. — Ajoelha pra mim, bem vagabunda como eu gosto.Ela mordeu os lábios e deslizou para fora da cama, se posicionando, obediente.
Arfei e não me dei ao trabalho de responder.Mesmo com o tempo, nada foi esclarecido e um mundo de incertezas se instalou mutuamente.Praticamente dois estranhos, escusos, quase inimigos. Infelizmente, o laço terno que tínhamos findou e não havia mais resquícios de sentimentos leais, só farpas e provocações. Não era feliz com a situação. Antes de toda aquela merda éramos um só, eu: seu herói por ser o irmão mais velho, mesmo com pouco diferença de idade, e ele: o mano querido e companheiro, sempre ao meu lado.Tomei o resto da água que sobrou na garrafa, descartando a embalagem no reciclável ao lado e teria seguido para a cobertura, livre de tantas reflexões fodidas, no entanto, outra ligação me manteve ali e, daquela vez, um sorriso alegre apareceu ao atender.— Fala, Ruben…— Tudo bem, David?— Tudo certo, estava correndo. Como vai tia Ester e seu pai?— Viajando, provavelmente estão na Itália agora.— Podemos almoçar, o que acha?Encontros como esses aliviavam a carga que muitas ve
— Ah, claro! — A curiosa me trouxe de volta. — Aurora trabalha lá, que coincidência.— Sim, muita coincidência… — Ele não conseguiu esconder a surpresa, nem eu. Mais um pouco e não esconderia nem os burburinhos do meu estômago.— Minha sobrinha linda é muito esforçada, ganhou uma bolsa de estudos, né, querida? — A megera que se casou com meu tio não perdeu a oportunidade e frisou a palavra bolsa, como se houvesse da minha parte um pingo de vergonha na conquista. — David, querido, WIS UNIVERSITY não é a universidade da sua família? Mel comentou alguma coisa sobre…Hein?Meus olhos saltaram.Tenho certeza absoluta de que todo o sangue do meu corpo subiu para o meu cérebro. Esperava qualquer coisa, até que David tivesse laços familiares em Marte, tudo, menos que aquele cara… Puta merda!!! Comonão associei? David Queen, herdeiro e CMO[2] da WIS. Tudo passou a fazer sentido. O encontro fez sentido.A elegância fez sentido. A gostosura fez sentido. O único ponto sem sentido na história era
Não poderia esquecer de agradecer ao Ruben por aquele convite, jamais imaginei que reencontraria aquela garota daquela forma, que mundo pequeno....Obviamente que desconfiava se tratar de uma funcionária, ela não estaria lá se não fosse. A garota de olhos atrevidos atraiu meus instintos naquela tarde, além de um flerte diferente, inusitado, me fissurei nos lábios de um tom rosa natural, saltados e suculentos, e um corpo curvilíneo, delicado, puro pecado. Maluco esse primeiro contato, dado aos dias exorbitantes que estava vivendo, algo novo me estimulando, como havia tempos que não acontecia, me excitou.Só que assim que as portas se fecharam, voltei à consciência de que funcionárias são problemas, ainda mais trabalhando no mesmo prédio da Ellen. Portanto, apaguei a bela imagem da mente, e segui, até revê-la no restaurante, um brilho diferente me atraiu e esqueci facilmente dos alertas que me fizeram recuar. Até aquele momento.Aurora era uma tentação: jovial, linda, inteligente. Capta
Indecência e luxúria, elementos necessários para aliviar o tesão.— Sejam bem-vindos, Sr. Queen e Sr. Garbo! Desejam algo especial para essa noite?— Diana…— Não — interferi no pedido particular de Garbo. — Quero uma gar… quer dizer, uma mulher que ainda não esteve conosco. De preferência com cabelos castanhos até o ombro, corpo… gostosa e… — Olhei rápido pra Garbo que arqueou uma sobrancelha sem entender o sentido daquilo. As mulheres do lugar eram lindas e por que justamente naquele momento eu queria um cardápio? Enlouqueci! Após me sentir um completo imbecil, continuei. — Esquece… queremos uma garota especial, só isso. Garbo?— Você quem manda, irmãozinho. — Ele se abstraiu indo na direção do bar.— Sei do que precisam, com licença.Virei para Athos, que rapidamente já estava em posse de uma cerveja.— Quero algo diferente hoje.— Estou vendo, que porra é essa de especificar o porte da mulher detalhadamente?Dei de ombro e recebi uma garrafa de cerveja para acompanhá-lo.— Culpa d
Caros leitores,Preparem-se para mergulhar em uma das minhas criações mais intensas e envolventes até hoje. Se você aprecia um romance ardente, de pegar fogo, linguajar improprio e um put@ desejo de querer se enfiar dentro dessa história, significa que chegou no lugar certo.Um beijo da sua autora, Darlla VI ♡XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXCom as vozes de Aurora Baker:— Chegamos! — disse minha mãe com empolgação, assim que estacionou em frente ao prédio azul.— Sim, chegamos — murmurei e virei para olhar através do vidro o prédio todo espelhado do lado de fora, calculei rapidamente quantos andares poderia ter o edifício luxuoso, talvez uns trinta, já que, mesmo me esforçando, ficou impossível ver seu topo.— Calma, bebê da mamãe, vai dar tudo certo.— Sim, vai. — Inspirei e joguei as costas para trás, ao encontro do banco. — Meu primeiro dia de estágio — lembrei num fio de voz o motivo célebre de eu estar ali.Dona Ana leu cada sinal que meu corpo transm
— Oi… — respondi confusa, tentando reconhecê-lo.— Você não se lembra de mim? Sou eu, Lucca! Estreitei os olhos, buscando seu rosto na memória. Não, não lembro!— Eu… — Tentei disfarçar a resposta que piscava na minha mente.— No dia da entrevista, no prédio da seleção, nos falamos brevemente na sala de espera — ele esclareceu. E eu quase gargalhei, pois realmente foi breve esse primeiro contato. Não lembro desse cara e sou péssima em memorizar fisionomia.Droga!— Claro! Como sou distraída. — Sorri, mentindo descaradamente.— Como vai?— Ansioso! Você não?Pude sentir sua empolgação, assim que ele colou as palmas das mãos e as esfregou freneticamente.— Sim, estou muito ansiosa.— Estou sentado bem ali. — Ele apontou para a primeira fileira. — Quer me fazer companhia?Condenei o lugar, primeira fileira não estava nos meus planos, geralmente quem se senta nos primeiros assentos é obrigado a expor suas opiniões, e francamente, pretendia me manter invisível tempo suficiente para não com
Assim que entramos, inalei o cheiro divino de carne e a fome movimentou o meu estômago, seguimos em fila para o fundo da hamburgueria lotada, sendo difícil não apreciar cada detalhe, uma decoração retrô dos anos oitenta compunha cada pedacinho do lugar… SENSACIONAL!Como assim, morava em São Paulo, passeei diversas vezes pelo centro e nunca havia entrado ali? Aurora, sua distraída!Deixei a turma continuar e parei para olhar as fotos de um chinês abraçado a alguns artistas, o dono do lugar parecia ser importante.— Nossa, que lugar legal! — exclamei e me juntei ao grupo, admirada com tudo.Raica escolheu um cantinho bem ao fundo, onde não havia uma concentração muito grande de pessoas famintas.— Vocês já são muito bem-vindos! — sucateou um baixinho de olhos puxados e bandeja embaixo do braço. — Chill, Chill, vai rolar aquela porção de fritas grátis? — Raica esperta, tentou descaradamente.Chill fingiu se espantar, mas saquei que estava acostumado com o pedido.— Já querem falir o Chi