5- Aurora Baker

Vinte dias depois…

— Aurora, acorda! — esbravejou minha mãe, enquanto invadia meu quarto. — Bora, o dia está sorrindo.

— Ah… — Bocejei. — Apaga essa luz, mãe, enlouqueceu?

— Aurora, acorda, temos que aproveitar o sábado!

— Não, senhora, o sábado foi feito pra dormir — murmurei me embalando embaixo do edredom. — Adeus!Não esquece de apagar a luz.

— Anda, menina.

Toc toc toc, seu sapato começou a sapatear todo o piso, endoidando meus tímpanos, adeus soninho.

Argh!

Soltei uma lufada de ar e cobri minha cabeça com o travesseiro, na tentativa de ignorá-la. Estava exausta e minha mãe sabia disso, então por que diabos ela estava me atormentando? Nunca estudei tanto na vida, os vinte dias de treinamento foram intensos e só ressaltaram o título de número um do mundo. Passei a admirar ainda mais a universidade que preza pelo crescimento profissional dos seus colaboradores. O sistema deles era único e exclusivo, desenvolvido na Califórnia, sede de Berkeley. E sim!!! Eu teria um MacBook à minha disposição na minha mesa, porque eu também teria uma mesa, canetas e agenda. Afinal, uma nova Aurora nasceu quando pisou na WUC.

Eu finalmente abri a guarda, surpresa com os novos amigos, quase sempre almoçávamos juntos e nunca, nem em sonho, chegamos atrasados novamente, visto que o primeiro incidente havia sido esquecido, não voltamos a vacilar. Infelizmente tive que me despedir de dois deles, Lucca e Renan não ficariam no mesmo setor que eu, a área deles era outra. Em festa ganhei a Raica, que considero uma das pessoas mais fantásticas com quem já convivi.

Confesso que pensei no David, pois esse nome nunca mais saiu da minha cabeça, assim como seu rosto, seu cheiro e seus olhos castanhos e quentes, no entanto, como uma miragem, o homem nunca mais apareceu. Tá legal, dei uma de maluca algumas vezes e passeei no saguão como quem não quer nada à espera de que, quem sabe, o príncipe moreno ressurgisse com sua carruagem — nada luxuosa, o Porsche preto — e olhasse para mim e eu olhasse para ele, e hum… sei lá: a magia acontecesse.

Só que não passou de sonhos e expectativas.

Na véspera, último dia de treinamento, recebemos das mãos da Ellen Castiel, a mulher linda e poderosa que passei a admirar, as cartas de bolsa para a universidade, sem dúvidas o momento mais especial de todo o processo, sendo que, se eu não entrasse como bolsista, jamais estudaria naquela universidade. Provavelmente seria necessário vender um rim para garantir o pagamento de seis meses de estudo.

Depois desses vinte dias ralando, eu estava moída, querendo um final de semana largada da cama pro sofá, e vice e versa. Só que dona encrenca resolveu me azucrinar.

— Vamos ao shopping fazer compras!

Isso estava longe de ser um convite, estava mais para um mandato.

— Hein? — falei, saindo do refúgio e sentindo o sol incomodar meu rosto. Ela abriu as cortinas e, consequentemente as janelas, deixando a luz do dia entrar e acabar com meu sossego. — Não, negativo… nem pensar.

— Auroraaaaa… — A mulher a quem eu chamo de mãe tem a voz mais estridente e perturbadora do mundo. — Levanta agora! — Ela parou, porém, na minha frente.

Não tenho estrutura para competir, dona Ana é teimosa, portanto, obedecer às suasordens era o mais sensato a se fazer.

— Tá boooooom… — Sentei-me na cama. Espera! Manhã de sábado, salão lotado, onde encaixa passear no shopping? — Hey, empresária, não devia estar no salão? O que houve, faliu?

Ela forçou um sorriso e se sentou na beirada da cama.

— Hoje, exclusivamente, é dia das meninas. Precisamos de um tempo juntas. — Pousou as mãos sobre a minha cabeça deslizando-as até o início da minha trança improvisada e, delicadamente, começou a destrançar o meu cabelo. — Você iniciou um novo ciclo, universidade e trabalho. — Levemente seu dedo tocou meu rosto e o girou ao encontro do seu. — Estou muito orgulhosa de você, filha.

— Mãe, sabe que sem você nada seria real.

— Meu tesouro, você merece cada conquista.

— Te amo, mãe.

Nos abraçamos, e claro, as lágrimas vieram só para lembrar que somos duas choronas tolas.

— Então hoje sou sua, pode abusar. — A mulher que amo mais que a minha própria vida, se afastou oferecendo espaço para que eu sumisse da sua frente. — Agora, banho!

Pulei da cama e corri para o banheiro. Meu banho foi rápido, em trinta minutos já estava a caminho da sala, aguçada com o cheiro de café que pairava no ar. Enquanto entornava o líquido na xícara, reparei na elegância de mamãe, ela não conseguia ser básica, mesmo num simples passeio ao shopping. Independente de todo o sofrimento que suportou, permaneceu linda, tudo em cima, com pernas torneadas sempre guiadas por um salto alto.

— Temos que fazer compras, você agora é uma universitária e funcionária da WUC. Precisa estar apresentável — disse, sorrindo. — Você sabe que é minha vida, certo?

— Sei, mãe.

— Então é hora de amadurecer, virar uma mulher e olhar para o seu futuro com mais responsabilidade. Nunca se esqueça de sempre usar… camisinha…

Quase cuspi no ar todo o café que acabei de sorver.

— É assim que inicia uma conversa sobre sexo?

— Só quero saber se está transando, Aurora! — a curiosa indagou, dramática, com braços cruzados e cara preocupada.

— Por que esse papo agora? Estou com cara de quem está transando?

Apesar de ter me tocado com frequência nos dias anteriores, o cara estimulou muito a minha imaginação pervertida, até batizei meu vibrador de Davidzinho.

— Quem sabe. Vocês jovem camuflam tudo. Sim ou não?

— Talvez... Pode ser! — Joguei no ar, só para deixá-la puta da vida, pois o grito viria a qualquer momento.

— Difícil responder.

Minha mãe não era a mulher mais liberal do mundo, mas também não me criou com regras rígidas, confiança sempre foi nosso enredo. Não há segredos entre nós, nunca houve.

— Aurora, não me faça comer todos os seus chocolates — ela ameaçou, colocando em risco toda a confiança construída até então. — Sabe que sou capaz.

— Pode ficar tranquila, não estou transando — confessei rápido, verificando em seguida os meus lindinhos no armário. — Esqueceu que não tenho namorado?

— Namorado também fora de questão, pelo menos nesse momento. Foque na faculdade.

— Sim, capitão! — Finalizei o café quase frio, concordando com ela, namorar estava fora de questão, mas não aguentei e soltei a pérola do dia. — E a senhora, está transando?

Ela esbugalhou tantos os olhos que pensei que saltariam para fora.

— Shopping, garota. Aguardo você no carro. — A danada fugiu como o diabo foge da cruz, gargalhei, vendo suas bochechas corar enquanto partia.

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