Vinte dias depois…
— Aurora, acorda! — esbravejou minha mãe, enquanto invadia meu quarto. — Bora, o dia está sorrindo.
— Ah… — Bocejei. — Apaga essa luz, mãe, enlouqueceu?
— Aurora, acorda, temos que aproveitar o sábado!
— Não, senhora, o sábado foi feito pra dormir — murmurei me embalando embaixo do edredom. — Adeus!Não esquece de apagar a luz.
— Anda, menina.
Toc toc toc, seu sapato começou a sapatear todo o piso, endoidando meus tímpanos, adeus soninho.
Argh!
Soltei uma lufada de ar e cobri minha cabeça com o travesseiro, na tentativa de ignorá-la. Estava exausta e minha mãe sabia disso, então por que diabos ela estava me atormentando? Nunca estudei tanto na vida, os vinte dias de treinamento foram intensos e só ressaltaram o título de número um do mundo. Passei a admirar ainda mais a universidade que preza pelo crescimento profissional dos seus colaboradores. O sistema deles era único e exclusivo, desenvolvido na Califórnia, sede de Berkeley. E sim!!! Eu teria um MacBook à minha disposição na minha mesa, porque eu também teria uma mesa, canetas e agenda. Afinal, uma nova Aurora nasceu quando pisou na WUC.
Eu finalmente abri a guarda, surpresa com os novos amigos, quase sempre almoçávamos juntos e nunca, nem em sonho, chegamos atrasados novamente, visto que o primeiro incidente havia sido esquecido, não voltamos a vacilar. Infelizmente tive que me despedir de dois deles, Lucca e Renan não ficariam no mesmo setor que eu, a área deles era outra. Em festa ganhei a Raica, que considero uma das pessoas mais fantásticas com quem já convivi.
Confesso que pensei no David, pois esse nome nunca mais saiu da minha cabeça, assim como seu rosto, seu cheiro e seus olhos castanhos e quentes, no entanto, como uma miragem, o homem nunca mais apareceu. Tá legal, dei uma de maluca algumas vezes e passeei no saguão como quem não quer nada à espera de que, quem sabe, o príncipe moreno ressurgisse com sua carruagem — nada luxuosa, o Porsche preto — e olhasse para mim e eu olhasse para ele, e hum… sei lá: a magia acontecesse.
Só que não passou de sonhos e expectativas.
Na véspera, último dia de treinamento, recebemos das mãos da Ellen Castiel, a mulher linda e poderosa que passei a admirar, as cartas de bolsa para a universidade, sem dúvidas o momento mais especial de todo o processo, sendo que, se eu não entrasse como bolsista, jamais estudaria naquela universidade. Provavelmente seria necessário vender um rim para garantir o pagamento de seis meses de estudo.
Depois desses vinte dias ralando, eu estava moída, querendo um final de semana largada da cama pro sofá, e vice e versa. Só que dona encrenca resolveu me azucrinar.— Vamos ao shopping fazer compras!
Isso estava longe de ser um convite, estava mais para um mandato.
— Hein? — falei, saindo do refúgio e sentindo o sol incomodar meu rosto. Ela abriu as cortinas e, consequentemente as janelas, deixando a luz do dia entrar e acabar com meu sossego. — Não, negativo… nem pensar.
— Auroraaaaa… — A mulher a quem eu chamo de mãe tem a voz mais estridente e perturbadora do mundo. — Levanta agora! — Ela parou, porém, na minha frente.
Não tenho estrutura para competir, dona Ana é teimosa, portanto, obedecer às suasordens era o mais sensato a se fazer.
— Tá boooooom… — Sentei-me na cama. Espera! Manhã de sábado, salão lotado, onde encaixa passear no shopping? — Hey, empresária, não devia estar no salão? O que houve, faliu?
Ela forçou um sorriso e se sentou na beirada da cama.
— Hoje, exclusivamente, é dia das meninas. Precisamos de um tempo juntas. — Pousou as mãos sobre a minha cabeça deslizando-as até o início da minha trança improvisada e, delicadamente, começou a destrançar o meu cabelo. — Você iniciou um novo ciclo, universidade e trabalho. — Levemente seu dedo tocou meu rosto e o girou ao encontro do seu. — Estou muito orgulhosa de você, filha.
— Mãe, sabe que sem você nada seria real.
— Meu tesouro, você merece cada conquista.
— Te amo, mãe.
Nos abraçamos, e claro, as lágrimas vieram só para lembrar que somos duas choronas tolas.
— Então hoje sou sua, pode abusar. — A mulher que amo mais que a minha própria vida, se afastou oferecendo espaço para que eu sumisse da sua frente. — Agora, banho!
Pulei da cama e corri para o banheiro. Meu banho foi rápido, em trinta minutos já estava a caminho da sala, aguçada com o cheiro de café que pairava no ar. Enquanto entornava o líquido na xícara, reparei na elegância de mamãe, ela não conseguia ser básica, mesmo num simples passeio ao shopping. Independente de todo o sofrimento que suportou, permaneceu linda, tudo em cima, com pernas torneadas sempre guiadas por um salto alto.
— Temos que fazer compras, você agora é uma universitária e funcionária da WUC. Precisa estar apresentável — disse, sorrindo. — Você sabe que é minha vida, certo?
— Sei, mãe.
— Então é hora de amadurecer, virar uma mulher e olhar para o seu futuro com mais responsabilidade. Nunca se esqueça de sempre usar… camisinha…
Quase cuspi no ar todo o café que acabei de sorver.
— É assim que inicia uma conversa sobre sexo?
— Só quero saber se está transando, Aurora! — a curiosa indagou, dramática, com braços cruzados e cara preocupada.
— Por que esse papo agora? Estou com cara de quem está transando?
Apesar de ter me tocado com frequência nos dias anteriores, o cara estimulou muito a minha imaginação pervertida, até batizei meu vibrador de Davidzinho.
— Quem sabe. Vocês jovem camuflam tudo. Sim ou não?
— Talvez... Pode ser! — Joguei no ar, só para deixá-la puta da vida, pois o grito viria a qualquer momento.
— Difícil responder.
Minha mãe não era a mulher mais liberal do mundo, mas também não me criou com regras rígidas, confiança sempre foi nosso enredo. Não há segredos entre nós, nunca houve.
— Aurora, não me faça comer todos os seus chocolates — ela ameaçou, colocando em risco toda a confiança construída até então. — Sabe que sou capaz.
— Pode ficar tranquila, não estou transando — confessei rápido, verificando em seguida os meus lindinhos no armário. — Esqueceu que não tenho namorado?
— Namorado também fora de questão, pelo menos nesse momento. Foque na faculdade.
— Sim, capitão! — Finalizei o café quase frio, concordando com ela, namorar estava fora de questão, mas não aguentei e soltei a pérola do dia. — E a senhora, está transando?
Ela esbugalhou tantos os olhos que pensei que saltariam para fora.
— Shopping, garota. Aguardo você no carro. — A danada fugiu como o diabo foge da cruz, gargalhei, vendo suas bochechas corar enquanto partia.
Bem-vindo ao shopping, era o que estava escrito na placa prateada no alto da entrada. O lugar onde eu podia me passar por rica sem que ninguém duvidasse — ou me chamasse de louca —, estava lotado de famílias e pessoas desocupadas como eu e minha mãe. Confesso que meu sonho era um dia entrar na Gallerist e gastar alguns reais sem me preocupar que o mundo ia cair na minha cabeça depois. Mas como todos os shoppings de luxo, também tinha lojas populares como C&A e Riachuelo que reuniam diversos estilos a preço acessível.Era exatamente nelas que faria compras.Ainda receosa em acabar com o limite do cartão de crédito da mamãe, escolhi poucas peças, digamos que fui estratégica, peguei roupas que combinassem com o que já tinha no guarda-roupa. Porém, dona Ana me surpreendeu quando encheu meus braços com as peças escolhidas por ela, não fiz cerimônia e aceitei o presente.Passeamos pelo andar sem pressa, observando vitrines, só curtindo uma à outra — como há muito tempo não fazíamos. A mulhe
Um pouco depois voltamos para casa, exaustas, me refugiei logo no meu quarto com a desculpa de guardar as roupas novas que compramos. Minha mãe, que de boba não tinha nada, percebeu minha mudança de humor brusca assim que saímos do restaurante. Achei estranho tudo aquilo e não consegui entender por que me sentia brava pelo fato de ter visto David — alguém que nunca falei —, encontrar casualmente —esperava em Deus —, minha chefe direta.Que homem lindo, fiz questão de lembrar, estava tão casual com aquela malha branca.Qual será a relação daqueles dois? Namorados? Questionava. Encaixei uma peça no cabide.E qual será a ligação dele com a WUC? Talvez um cliente ou executivo?Embora não o tenha visto no prédio administrativo, tudo me levava a crer que David era envolvido de alguma forma com a empresa, ou melhor, com a Ellen. Provavelmente namorados, ou estavam se conhecendo, já que se cumprimentaram com um simples beijo no rosto.Eram perfeitos juntos.— Aurora… — Não tem jeito,
— Acorda, dorminhoco! Hoje é domingo.Ignorei a voz melódica no ouvido e seus carinhos no pescoço e virei para o lado oposto, me desvencilhando e retomando meu sono. A noite intensa e o sexo selvagem me esgotaram, precisava descansar. A contar dos dias que desembarquei no Brasil até a véspera, não houve sequer um momento de sossego, mesmo estando acostumado à rotina de trabalho fatigante e a noitada com mulheres fogosas, caso acontecesse, não dispensaria um tempo sozinho.— Vou chupar seu pau gostoso…E pelo visto não ia acontecer tão cedo, Ellen não ponderava as artimanhas para transformar o silêncio em gemidos.— Depois vamos trepar… — suas unhas arranharam minhas costas —, meu dia tem um upgrade com essa dinâmica.A diabinha persistente já havia me colocado duro para o seu deleite.— Jamais recusaria foder a sua boca pela manhã. — Busquei o rosto ordinário. — Ajoelha pra mim, bem vagabunda como eu gosto.Ela mordeu os lábios e deslizou para fora da cama, se posicionando, obediente.
Arfei e não me dei ao trabalho de responder.Mesmo com o tempo, nada foi esclarecido e um mundo de incertezas se instalou mutuamente.Praticamente dois estranhos, escusos, quase inimigos. Infelizmente, o laço terno que tínhamos findou e não havia mais resquícios de sentimentos leais, só farpas e provocações. Não era feliz com a situação. Antes de toda aquela merda éramos um só, eu: seu herói por ser o irmão mais velho, mesmo com pouco diferença de idade, e ele: o mano querido e companheiro, sempre ao meu lado.Tomei o resto da água que sobrou na garrafa, descartando a embalagem no reciclável ao lado e teria seguido para a cobertura, livre de tantas reflexões fodidas, no entanto, outra ligação me manteve ali e, daquela vez, um sorriso alegre apareceu ao atender.— Fala, Ruben…— Tudo bem, David?— Tudo certo, estava correndo. Como vai tia Ester e seu pai?— Viajando, provavelmente estão na Itália agora.— Podemos almoçar, o que acha?Encontros como esses aliviavam a carga que muitas ve
— Ah, claro! — A curiosa me trouxe de volta. — Aurora trabalha lá, que coincidência.— Sim, muita coincidência… — Ele não conseguiu esconder a surpresa, nem eu. Mais um pouco e não esconderia nem os burburinhos do meu estômago.— Minha sobrinha linda é muito esforçada, ganhou uma bolsa de estudos, né, querida? — A megera que se casou com meu tio não perdeu a oportunidade e frisou a palavra bolsa, como se houvesse da minha parte um pingo de vergonha na conquista. — David, querido, WIS UNIVERSITY não é a universidade da sua família? Mel comentou alguma coisa sobre…Hein?Meus olhos saltaram.Tenho certeza absoluta de que todo o sangue do meu corpo subiu para o meu cérebro. Esperava qualquer coisa, até que David tivesse laços familiares em Marte, tudo, menos que aquele cara… Puta merda!!! Comonão associei? David Queen, herdeiro e CMO[2] da WIS. Tudo passou a fazer sentido. O encontro fez sentido.A elegância fez sentido. A gostosura fez sentido. O único ponto sem sentido na história era
Não poderia esquecer de agradecer ao Ruben por aquele convite, jamais imaginei que reencontraria aquela garota daquela forma, que mundo pequeno....Obviamente que desconfiava se tratar de uma funcionária, ela não estaria lá se não fosse. A garota de olhos atrevidos atraiu meus instintos naquela tarde, além de um flerte diferente, inusitado, me fissurei nos lábios de um tom rosa natural, saltados e suculentos, e um corpo curvilíneo, delicado, puro pecado. Maluco esse primeiro contato, dado aos dias exorbitantes que estava vivendo, algo novo me estimulando, como havia tempos que não acontecia, me excitou.Só que assim que as portas se fecharam, voltei à consciência de que funcionárias são problemas, ainda mais trabalhando no mesmo prédio da Ellen. Portanto, apaguei a bela imagem da mente, e segui, até revê-la no restaurante, um brilho diferente me atraiu e esqueci facilmente dos alertas que me fizeram recuar. Até aquele momento.Aurora era uma tentação: jovial, linda, inteligente. Capta
Indecência e luxúria, elementos necessários para aliviar o tesão.— Sejam bem-vindos, Sr. Queen e Sr. Garbo! Desejam algo especial para essa noite?— Diana…— Não — interferi no pedido particular de Garbo. — Quero uma gar… quer dizer, uma mulher que ainda não esteve conosco. De preferência com cabelos castanhos até o ombro, corpo… gostosa e… — Olhei rápido pra Garbo que arqueou uma sobrancelha sem entender o sentido daquilo. As mulheres do lugar eram lindas e por que justamente naquele momento eu queria um cardápio? Enlouqueci! Após me sentir um completo imbecil, continuei. — Esquece… queremos uma garota especial, só isso. Garbo?— Você quem manda, irmãozinho. — Ele se abstraiu indo na direção do bar.— Sei do que precisam, com licença.Virei para Athos, que rapidamente já estava em posse de uma cerveja.— Quero algo diferente hoje.— Estou vendo, que porra é essa de especificar o porte da mulher detalhadamente?Dei de ombro e recebi uma garrafa de cerveja para acompanhá-lo.— Culpa d
Caros leitores,Preparem-se para mergulhar em uma das minhas criações mais intensas e envolventes até hoje. Se você aprecia um romance ardente, de pegar fogo, linguajar improprio e um put@ desejo de querer se enfiar dentro dessa história, significa que chegou no lugar certo.Um beijo da sua autora, Darlla VI ♡XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXCom as vozes de Aurora Baker:— Chegamos! — disse minha mãe com empolgação, assim que estacionou em frente ao prédio azul.— Sim, chegamos — murmurei e virei para olhar através do vidro o prédio todo espelhado do lado de fora, calculei rapidamente quantos andares poderia ter o edifício luxuoso, talvez uns trinta, já que, mesmo me esforçando, ficou impossível ver seu topo.— Calma, bebê da mamãe, vai dar tudo certo.— Sim, vai. — Inspirei e joguei as costas para trás, ao encontro do banco. — Meu primeiro dia de estágio — lembrei num fio de voz o motivo célebre de eu estar ali.Dona Ana leu cada sinal que meu corpo transm