Aproveitei e voltei a respirar…
Nossa, o que foi aquilo?
Tentei raciocinar à medida que a máquina subia, só que as sensações que fluíam no meu corpo me confundiram um pouco. Era um misto de curiosidade com fascínio — estupidamente interessante.
— Acho que você arrumou um fã — Lucca cochichou no meu ouvido.
— Como? — sussurrei temendo que alguém o ouvisse.
— Você viu como ele estava te olhando?
— Quem?
— O executivo bonitão.
— Não… eu…
— Chegamos — falou Renan, aliviado.
A turma passou por mim, apressados, intrépidos, ao passo que minha mente abusada processava aquele rosto — intenso, atraente e sinuoso. Havia alguma coisa incomum ali, não sei explicar, ou compreender, só sei que aquele cara acordou algo adormecido em mim. Não levamos nenhuma bronca, pelo contrário, o supervisor Maico foi até compreensivo com o fato de o elevador ter dado pau.
No segundo período as horas passaram rápido, o treinamento fluiu com uma preciosa lição: raciocínio rápido. Eles eram exigentes com cada detalhe, isso explicava o nível da empresa e uma leve dor de cabeça que me atingiu com a quantidade de informações para um primeiro dia.
Fomos dispensados.Demorei um pouco para guardar as coisas na bolsa, por isso fui a última a deixar a sala, já havia combinado com Lucca de irmos juntos para o metrô. Portanto, não foi surpresa encontrá-lo no hall.
— Lucca, desculpe, me atrapalhei um pouco…
— Tudo bem, garota.
Aproveitamos aquele tempinho de espera para dar risada de algumas gafes cometidas no treinamento. Novamente o elevador demorou a chegar, já estava pegando ranço, pois o cansaço do dia começou a bater.
O painel exibiu o número do andar, e as portas deslizaram…
Puta que pariu!
Tudo que tinha que fazer, como entrar, por exemplo, fugiu, e sem ação estagnei como uma tola.
O cara… ele inteiro.
Lucca entendeu, entrando primeiro e me puxando depois. Fora que o amigo recém-conquistado deu lugar para que eu me encaixasse no espaço, ou melhor, entre os homens. O perfume diabólico consumiu minhas narinas, delicioso, provocante. Devia, mas não me atrevi a lhe lançar um olhar, apesar do meu rosto queimar com o seu em conquista.
Elevador, quem sabe você não quebre agora? Pensei. Seria uma ótima ideia.
Nem tanto, o Lucca estava presente, o que poderia acontecer? Suspirei frustrada.A máquina parou, infeliz, obrigando-nos a descer. Lucca se adiantou, constatei estar sem crachá quando ele pressionou o seu na catraca, detive os passos com intuito de procurar a liberação na bolsa e ele passou por mim, falando ao telefone.
Timbre rouco.
— Sim, é o David… — Interrompi a minha procura. Então, o nome dele é David! — Pode falar… Claro…
Agilizei o crachá o mais rápido que pude para acompanhar sua saída, seguindo-o de longe ainda dentro do saguão, empaquei como uma boba, enquanto assistia um funcionário uniformizado entregar a chave a ele, que ainda falava no celular, parecia ser uma conversa formal pela seriedade do seu rosto que apreciei mesmo de longe. Logo que finalizou a ligação, colocou o aparelho no bolso e desprendeu o único botão do terno azul de corte fino, sumindo ao entrar no seu Porsche.
— Aurora! Você está bem? — meu novo amigo perguntou, aparentemente preocupado.
Virei para ele e tentei sorrir.
— Sim, eu… euuu… — gaguejei estúpida.
Tolice, Aurora… tolice.
A pergunta era: por que ainda permanecia parada como se precisasse de algo para seguir?
Inspirei e expirei, buscando a sanidade que perdi em algum momento.Porra, enlouqueci!
— Você se encantou pelo executivo misterioso, certo? — insinuou o guru.
— Não… eu! Nãooooooo… Claro que não! Não, nem pensar! — Esforcei-me em disfarçar, bobagem. Ele percebeu, claro que percebeu! Quem não perceberia, afinal?
Peguei um elástico no bolsinho lateral da bolsa e prendi o cabelo num coque bagunçado.
— Claro que sim! — reforçou Lucca, brincando comigo.
Não, não, sem brincadeira, o assunto é sério. Eu praticamente fui hipnotizada pela cara, ou… David.
— Até parece que…. Esquece! — dispensei a insinuação do meu amigo. — Estou muito cansada, vertigem, só isso.
Ele sorriu desconfiado, não persistindo na questão.
Quem diria que um primeiro dia me traria tantas sensações novas, ou talvez irresistíveis.
Vinte dias depois…— Aurora, acorda! — esbravejou minha mãe, enquanto invadia meu quarto. — Bora, o dia está sorrindo.— Ah… — Bocejei. — Apaga essa luz, mãe, enlouqueceu?— Aurora, acorda, temos que aproveitar o sábado!— Não, senhora, o sábado foi feito pra dormir — murmurei me embalando embaixo do edredom. — Adeus!Não esquece de apagar a luz.— Anda, menina.Toc toc toc, seu sapato começou a sapatear todo o piso, endoidando meus tímpanos, adeus soninho.Argh!Soltei uma lufada de ar e cobri minha cabeça com o travesseiro, na tentativa de ignorá-la. Estava exausta e minha mãe sabia disso, então por que diabos ela estava me atormentando? Nunca estudei tanto na vida, os vinte dias de treinamento foram intensos e só ressaltaram o título de número um do mundo. Passei a admirar ainda mais a universidade que preza pelo crescimento profissional dos seus colaboradores. O sistema deles era único e exclusivo, desenvolvido na Califórnia, sede de Berkeley. E sim!!! Eu teria um MacBook à minha d
Bem-vindo ao shopping, era o que estava escrito na placa prateada no alto da entrada. O lugar onde eu podia me passar por rica sem que ninguém duvidasse — ou me chamasse de louca —, estava lotado de famílias e pessoas desocupadas como eu e minha mãe. Confesso que meu sonho era um dia entrar na Gallerist e gastar alguns reais sem me preocupar que o mundo ia cair na minha cabeça depois. Mas como todos os shoppings de luxo, também tinha lojas populares como C&A e Riachuelo que reuniam diversos estilos a preço acessível.Era exatamente nelas que faria compras.Ainda receosa em acabar com o limite do cartão de crédito da mamãe, escolhi poucas peças, digamos que fui estratégica, peguei roupas que combinassem com o que já tinha no guarda-roupa. Porém, dona Ana me surpreendeu quando encheu meus braços com as peças escolhidas por ela, não fiz cerimônia e aceitei o presente.Passeamos pelo andar sem pressa, observando vitrines, só curtindo uma à outra — como há muito tempo não fazíamos. A mulhe
Um pouco depois voltamos para casa, exaustas, me refugiei logo no meu quarto com a desculpa de guardar as roupas novas que compramos. Minha mãe, que de boba não tinha nada, percebeu minha mudança de humor brusca assim que saímos do restaurante. Achei estranho tudo aquilo e não consegui entender por que me sentia brava pelo fato de ter visto David — alguém que nunca falei —, encontrar casualmente —esperava em Deus —, minha chefe direta.Que homem lindo, fiz questão de lembrar, estava tão casual com aquela malha branca.Qual será a relação daqueles dois? Namorados? Questionava. Encaixei uma peça no cabide.E qual será a ligação dele com a WUC? Talvez um cliente ou executivo?Embora não o tenha visto no prédio administrativo, tudo me levava a crer que David era envolvido de alguma forma com a empresa, ou melhor, com a Ellen. Provavelmente namorados, ou estavam se conhecendo, já que se cumprimentaram com um simples beijo no rosto.Eram perfeitos juntos.— Aurora… — Não tem jeito,
— Acorda, dorminhoco! Hoje é domingo.Ignorei a voz melódica no ouvido e seus carinhos no pescoço e virei para o lado oposto, me desvencilhando e retomando meu sono. A noite intensa e o sexo selvagem me esgotaram, precisava descansar. A contar dos dias que desembarquei no Brasil até a véspera, não houve sequer um momento de sossego, mesmo estando acostumado à rotina de trabalho fatigante e a noitada com mulheres fogosas, caso acontecesse, não dispensaria um tempo sozinho.— Vou chupar seu pau gostoso…E pelo visto não ia acontecer tão cedo, Ellen não ponderava as artimanhas para transformar o silêncio em gemidos.— Depois vamos trepar… — suas unhas arranharam minhas costas —, meu dia tem um upgrade com essa dinâmica.A diabinha persistente já havia me colocado duro para o seu deleite.— Jamais recusaria foder a sua boca pela manhã. — Busquei o rosto ordinário. — Ajoelha pra mim, bem vagabunda como eu gosto.Ela mordeu os lábios e deslizou para fora da cama, se posicionando, obediente.
Arfei e não me dei ao trabalho de responder.Mesmo com o tempo, nada foi esclarecido e um mundo de incertezas se instalou mutuamente.Praticamente dois estranhos, escusos, quase inimigos. Infelizmente, o laço terno que tínhamos findou e não havia mais resquícios de sentimentos leais, só farpas e provocações. Não era feliz com a situação. Antes de toda aquela merda éramos um só, eu: seu herói por ser o irmão mais velho, mesmo com pouco diferença de idade, e ele: o mano querido e companheiro, sempre ao meu lado.Tomei o resto da água que sobrou na garrafa, descartando a embalagem no reciclável ao lado e teria seguido para a cobertura, livre de tantas reflexões fodidas, no entanto, outra ligação me manteve ali e, daquela vez, um sorriso alegre apareceu ao atender.— Fala, Ruben…— Tudo bem, David?— Tudo certo, estava correndo. Como vai tia Ester e seu pai?— Viajando, provavelmente estão na Itália agora.— Podemos almoçar, o que acha?Encontros como esses aliviavam a carga que muitas ve
— Ah, claro! — A curiosa me trouxe de volta. — Aurora trabalha lá, que coincidência.— Sim, muita coincidência… — Ele não conseguiu esconder a surpresa, nem eu. Mais um pouco e não esconderia nem os burburinhos do meu estômago.— Minha sobrinha linda é muito esforçada, ganhou uma bolsa de estudos, né, querida? — A megera que se casou com meu tio não perdeu a oportunidade e frisou a palavra bolsa, como se houvesse da minha parte um pingo de vergonha na conquista. — David, querido, WIS UNIVERSITY não é a universidade da sua família? Mel comentou alguma coisa sobre…Hein?Meus olhos saltaram.Tenho certeza absoluta de que todo o sangue do meu corpo subiu para o meu cérebro. Esperava qualquer coisa, até que David tivesse laços familiares em Marte, tudo, menos que aquele cara… Puta merda!!! Comonão associei? David Queen, herdeiro e CMO[2] da WIS. Tudo passou a fazer sentido. O encontro fez sentido.A elegância fez sentido. A gostosura fez sentido. O único ponto sem sentido na história era
Não poderia esquecer de agradecer ao Ruben por aquele convite, jamais imaginei que reencontraria aquela garota daquela forma, que mundo pequeno....Obviamente que desconfiava se tratar de uma funcionária, ela não estaria lá se não fosse. A garota de olhos atrevidos atraiu meus instintos naquela tarde, além de um flerte diferente, inusitado, me fissurei nos lábios de um tom rosa natural, saltados e suculentos, e um corpo curvilíneo, delicado, puro pecado. Maluco esse primeiro contato, dado aos dias exorbitantes que estava vivendo, algo novo me estimulando, como havia tempos que não acontecia, me excitou.Só que assim que as portas se fecharam, voltei à consciência de que funcionárias são problemas, ainda mais trabalhando no mesmo prédio da Ellen. Portanto, apaguei a bela imagem da mente, e segui, até revê-la no restaurante, um brilho diferente me atraiu e esqueci facilmente dos alertas que me fizeram recuar. Até aquele momento.Aurora era uma tentação: jovial, linda, inteligente. Capta
Indecência e luxúria, elementos necessários para aliviar o tesão.— Sejam bem-vindos, Sr. Queen e Sr. Garbo! Desejam algo especial para essa noite?— Diana…— Não — interferi no pedido particular de Garbo. — Quero uma gar… quer dizer, uma mulher que ainda não esteve conosco. De preferência com cabelos castanhos até o ombro, corpo… gostosa e… — Olhei rápido pra Garbo que arqueou uma sobrancelha sem entender o sentido daquilo. As mulheres do lugar eram lindas e por que justamente naquele momento eu queria um cardápio? Enlouqueci! Após me sentir um completo imbecil, continuei. — Esquece… queremos uma garota especial, só isso. Garbo?— Você quem manda, irmãozinho. — Ele se abstraiu indo na direção do bar.— Sei do que precisam, com licença.Virei para Athos, que rapidamente já estava em posse de uma cerveja.— Quero algo diferente hoje.— Estou vendo, que porra é essa de especificar o porte da mulher detalhadamente?Dei de ombro e recebi uma garrafa de cerveja para acompanhá-lo.— Culpa d