4- Aurora Baker

Aproveitei e voltei a respirar…

Nossa, o que foi aquilo?

Tentei raciocinar à medida que a máquina subia, só que as sensações que fluíam no meu corpo me confundiram um pouco. Era um misto de curiosidade com fascínio — estupidamente interessante.

— Acho que você arrumou um fã — Lucca cochichou no meu ouvido.

— Como? — sussurrei temendo que alguém o ouvisse.

— Você viu como ele estava te olhando?

— Quem?

— O executivo bonitão.

— Não… eu…

— Chegamos — falou Renan, aliviado.

A turma passou por mim, apressados, intrépidos, ao passo que minha mente abusada processava aquele rosto — intenso, atraente e sinuoso. Havia alguma coisa incomum ali, não sei explicar, ou compreender, só sei que aquele cara acordou algo adormecido em mim. Não levamos nenhuma bronca, pelo contrário, o supervisor Maico foi até compreensivo com o fato de o elevador ter dado pau.

No segundo período as horas passaram rápido, o treinamento fluiu com uma preciosa lição: raciocínio rápido. Eles eram exigentes com cada detalhe, isso explicava o nível da empresa e uma leve dor de cabeça que me atingiu com a quantidade de informações para um primeiro dia.

Fomos dispensados.

Demorei um pouco para guardar as coisas na bolsa, por isso fui a última a deixar a sala, já havia combinado com Lucca de irmos juntos para o metrô. Portanto, não foi surpresa encontrá-lo no hall.

— Lucca, desculpe, me atrapalhei um pouco…

— Tudo bem, garota.

Aproveitamos aquele tempinho de espera para dar risada de algumas gafes cometidas no treinamento. Novamente o elevador demorou a chegar, já estava pegando ranço, pois o cansaço do dia começou a bater.

O painel exibiu o número do andar, e as portas deslizaram…

Puta que pariu!

Tudo que tinha que fazer, como entrar, por exemplo, fugiu, e sem ação estagnei como uma tola.

O cara… ele inteiro.

Lucca entendeu, entrando primeiro e me puxando depois. Fora que o amigo recém-conquistado deu lugar para que eu me encaixasse no espaço, ou melhor, entre os homens. O perfume diabólico consumiu minhas narinas, delicioso, provocante. Devia, mas não me atrevi a lhe lançar um olhar, apesar do meu rosto queimar com o seu em conquista.

Elevador, quem sabe você não quebre agora? Pensei. Seria uma ótima ideia.

Nem tanto, o Lucca estava presente, o que poderia acontecer? Suspirei frustrada.

A máquina parou, infeliz, obrigando-nos a descer. Lucca se adiantou, constatei estar sem crachá quando ele pressionou o seu na catraca, detive os passos com intuito de procurar a liberação na bolsa e ele passou por mim, falando ao telefone.

Timbre rouco.

— Sim, é o David… — Interrompi a minha procura. Então, o nome dele é David! — Pode falar… Claro…

Agilizei o crachá o mais rápido que pude para acompanhar sua saída, seguindo-o de longe ainda dentro do saguão, empaquei como uma boba, enquanto assistia um funcionário uniformizado entregar a chave a ele, que ainda falava no celular, parecia ser uma conversa formal pela seriedade do seu rosto que apreciei mesmo de longe. Logo que finalizou a ligação, colocou o aparelho no bolso e desprendeu o único botão do terno azul de corte fino, sumindo ao entrar no seu Porsche.

— Aurora! Você está bem? — meu novo amigo perguntou, aparentemente preocupado.

Virei para ele e tentei sorrir.

— Sim, eu… euuu… — gaguejei estúpida.

Tolice, Aurora… tolice.

A pergunta era: por que ainda permanecia parada como se precisasse de algo para seguir?

Inspirei e expirei, buscando a sanidade que perdi em algum momento.

Porra, enlouqueci!

— Você se encantou pelo executivo misterioso, certo? — insinuou o guru.

— Não… eu! Nãooooooo… Claro que não! Não, nem pensar! — Esforcei-me em disfarçar, bobagem. Ele percebeu, claro que percebeu! Quem não perceberia, afinal?

Peguei um elástico no bolsinho lateral da bolsa e prendi o cabelo num coque bagunçado.

— Claro que sim! — reforçou Lucca, brincando comigo.

Não, não, sem brincadeira, o assunto é sério. Eu praticamente fui hipnotizada pela cara, ou… David.

— Até parece que…. Esquece! — dispensei a insinuação do meu amigo. — Estou muito cansada, vertigem, só isso.

Ele sorriu desconfiado, não persistindo na questão.

Quem diria que um primeiro dia me traria tantas sensações novas, ou talvez irresistíveis.

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