Olívia
— Não acha que deveria ir a um médico? — Kim pergunta preocupada andando de um lado para o outro. No entanto, não tenho condições de respondê-la, porque a ânsia não me permite. — Que droga Olie, algo está se passando dentro da minha cabeça e eu não estou gostando dos meus pensamentos! — Ela respira alto e profundo, se encostando em uma parede e se arrasta por ela, até sentar-se no chão. — Me diga, quando menstruou pela última vez? ok, essa foi a pergunta do século e sinceramente eu não entendo por que não me atentei a esse detalhe antes. Quer dizer, eu não tenho uma menstruação regulada com dia e hora marcados para descer. No entanto, ela nunca falha. Seja no início, no meio ou no final do mês ela sempre surge, mas não esse mês.
— Por Deus, Olívia por que você não exigiu que ele usasse a droga da camisinha?! — Minha irmã ralha sem conter o seu desespero e volta a andar dentro do banheiro, onde continuo prostrada, esperando uma nova onda de ânsia de vômito me acometer.
— Estávamos tão afobados com o momento que nem se passou pela minha cabeça...
— Ah claro, vocês estavam afobados! — Ela me interrompe. — E agora, o que vamos fazer?
— Eu não sei, Kim. Só sei que tenho mais um motivo para sair dessa casa e procurar um emprego.
— E quem vai te empregar nessas condições, Olie, me diz? — Desanimada, minha irmã volta a se sentar no chão e eu faço o mesmo, me encostando na parede atrás de mim. O pior é que ela tem razão. Ninguém em sã consciência vai querer me empregar sabendo que estou grávida. E como farei quando o bebê vier ao mundo? Céus, eu estraguei tudo, todos os nossos planos e sonhos estão escapando por entre os meus dedos e eu não sei o que fazer para evitar que isso aconteça!
— O que vamos fazer, Olie?
— Eu vou dar um jeito, querida. Eu prometo — digo indo para perto dela e a abraço demoradamente.
Os dias seguintes ficaram cada vez mais difíceis para controlar os sintomas dessa gravidez completamente inesperada, pois além dos enjoos, vieram também a fraqueza que roubava todas as forças do meu corpo e a sensação de sono que parecia não querer me largar nunca. Os dias estavam se passando e consequentemente o meu tempo estava se acabando, e eu já não podia mais esconder essa situação dos olhos perspicazes dos meus pais. Contudo, não demorou para Edie colocar uma aliança de noivado no meu dedo e todos já estão falando em casamento. Droga, eu não consigo mais dormir e me alimentar é quase uma tormenta, porque o cheiro da comida me faz enjoar. No meio da noite eu já estava pronta para ir para o quarto quando fiquei tonta e a minha vista escureceu. Nervosa, Kim me segurou como pode e me ajudou a ir para a cama. Entretanto, na manhã seguinte, mesmo desanimada desci para tomar o meu desjejum e estranhamente a minha irmã não estava na mesa. Os meus pais estavam sérios demais e isso era um péssimo sinal.
— Bom dia! — digo forçadamente normal e desconfiada, me acomodando em uma cadeira, sem olhá-los direto nos olhos. — Onde está a Kim?
— Ela foi buscar algo que pedi. — O tom seco da minha mãe não passou despercebido, porém, procurei me concentrar em servir uma xícara de café para mim. — Você está grávida, Olivia? — A indagação surge repentina e de susto, erro a borda da porcelana branca.
— Aí, droga! — rosnou quando parte do café quente entorna na minha roupa e trêmula, pego um pano para me secar.
— Pensa que não tenho percebido? Os enjoos matinais, a fome excessiva e o excesso de sono? E você nem me pediu para comprar o absorvente desse mês! — Fecho os meus olhos, me repreendendo por esse mínimo detalhe. Uma pancada forte na mesa me faz sobressaltar e eu finalmente olho nos olhos dos dois.
— Responda a sua mãe, garota! — Papai ordena e eu engulo em seco.
— E não minta pra mim, porque eu saberei se estiver mentindo, Olivia Martín! — Respiro fundo, talvez tentando ganhar tempo, mas eu bem sei que não terei como escapar dessa conversa.
— Eu estou. — As palavras passam receosas pela minha boca. Papai se põe de pé com um rompante e com medo, fico de pé também.
— Por Deus, Olivia, como isso aconteceu?! — Mamãe inquire, porém, estou com os olhos fixos nos movimentos do meu pai, que começa a desafivelar o seu cinto da sua calça. _ COMO?! _ Ela grita e eu estremeço, afastando-me um pouco mais.
— E-eu não sei.
— COMO NÃO SABE, OLÍVIA?! COMO NÃO SABE QUE ENGRAVIDOU? POR ONDE ANDOU, COM QUEM?! Oh meu Deus, todos vão falar dessa sua promiscuidade, minha filha! Todos vão nos apontar como pais irresponsáveis. Oh, Deus onde foi que eu errei? ONDE EU ERREI COM VOCÊ, OLÍVIA?! — Seus gritos parecem fazer as paredes da casa estremecerem.
— Mãe, eu não...
— Não me chame de mãe, sua vagabunda! — Ela rosna em um misto de decepção e raiva, acertando uma tapa forte no meu rosto e depois, uma sequência de t***s que eu procuro evitar, até ela se afastar e chorar copiosamente em um canto de parede. As lágrimas descem quentes no mesmo instante.
— Quem é o pai dessa criança, Olívia? — Papai inquire rudemente e os meus olhos correm agitados para o couro escuro enrolado em uma de suas mãos.
— Eu não sei. Papai, por favor!
— NÃO MINTA PRA MIM SUA INSOLENTE! EU QUERO O NOME DESSE DESGRAÇADO, OLÍVIA! Ele terá que ser homem para aceitar o que fez e se casar com você!
— Por Deus, eu não estou mentindo! — rebato em um misto de medo e impertinência. — Eu não sei o nome dele...
— Ora, sua... — Ele ergue o cinturão e eu fecho os olhos esperando o couro estralar na minha pele.
— Papai, não faça isso! _ Kim interpele, parando entre ele e eu.
— Kimberly, saia da frente agora!
— Não! Papai, ela está grávida e o senhor não pode bater nela assim!
— Se você não sair daí eu vou bater nas duas! — Ele berra, erguendo o cinto outra vez e novamente fecho os meus olhos, esperando pela ardência cortante na minha pele. Contudo, ela não veio e mesmo sem coragem resolvo abri-los. Para a minha surpresa mamãe está segurando no braço do meu pai e esperançosa procuro os seus olhos.
— Quero que saia da minha casa, Olívia.
— Mamãe, por favor...
— Saia da minha casa agora! _ Ela ordena com um tom baixo, porém, imperativo. Kim me lança um olhar piedoso. Entretanto, olho para os meus pais em uma suplica muda.
— Por favor, para onde eu irei?
— Isso não me importa. Eu não vou acolher aqui uma vagabunda promíscua dentro da minha casa. Quero que arrume as suas coisas e suma daqui!
— Mamãe... — Tento pedir por sua misericórdia, mas ela me dá as costas e a única coisa que sobrou para mim foi o olhar rígido do meu pai.
— Kimberly, vá para o seu quarto.
— Mas, papai...
— MANDEI SUBIR, VÁ AGORA!
— Eu sinto muito, Ollie! — Minha irmã sibila sem emitir som e corre para as escadarias.
— E você, esqueça que tem uma família aqui, porque a partir de hoje você não tem mais um pai e nem uma mãe. Eu estou saindo agora e quando voltar não quero vê-la aqui. — Ele me dá as costas e arrasada, eu volto a me sentar na cadeira e começo a chorar. Não foi assim que planejei a minha saída dessa casa. Eu deveria estar trabalhando, ganhando o meu próprio sustento e escolhido uma casa aconchegante para acolher a mim e a minha irmã. No entanto, estou arrumando algumas roupas dentro de uma bolsa e entre lágrimas dolorosas, me despeço da minha irmã.
— Quero que leve isso com você. — Ela me estende um pano colorido como se ele fosse um embrulho.
— O que é?
— São as minhas economias, Ollie. É pouca coisa, mas vai te ajudar.
— Ah não, Kim, eu não posso aceitar isso!
— Por favor, Olívia, leve consigo, você vai precisar, minha irmã. — Ela insiste e emocionada, recebo o pequeno embrulho de suas mãos e volto a abraçá-la. Dessa vez forte e demoradamente, e por fim, olho ao meu redor. Para cada canto desse quarto que guarda boa parte da minha história.
— Eu volto para te buscar — prometo fitando-a com esperança de conseguir vencer lá fora.
— E eu estarei esperando por você bem aqui. — Faço um sim com a cabeça e forço um sorriso para ela.
— Eu te amo, não esqueça disso.
— Também te amo, Ollie, mas você precisa ir antes que eles...
— Eu sei, eu sei. — Respiro fundo. — Eu não sei como, Kim, mas vou conseguir vencer por mim, por nós duas. Não pensei que seria tão difícil sair, mas é. De qualquer forma eu nasci nessa casa e me criei nela também. E tenho muitas, muitas lembranças nesse lugar. Do lado de fora, olho para os lados da rua sem saber para onde ir realmente e quando começo a caminhar pela calçada, decido ir até o Edie e pedir-lhe que me ajude.
— Eu só preciso de um quarto por alguns dias. Preciso procurar um emprego e um lugar seguro para ficar. — Ele bufa audivelmente.
— Eu não posso, Ollie. O seu pai me destruiria se fizesse isso.
— Edie, por favor, prometo que será alguns dias apenas. E ele não precisa ficar sabendo. — O rapaz força um sorriso.
— Você o conhece mais do que ninguém, Olivia. O seu pai me deixaria sem clientes do dia para noite. Você sabe da influência dele sobre todos aqui. — Apenas confirmo balançando a cabeça.
— Tudo bem! — Largo a bolsa no chão para retirar do meu dedo o anel que me deu há alguns dias. — Isso lhe pertence. Eu nunca seria uma boa esposa pra você, Edie. Não nunca me encaixaria nesse padrão idiota que vocês insistem em manter nessa cidade.
— Olivia, eu...
— Até um dia, Edie!
Olivia.— Olivia?! Querida, o que está fazendo aqui? — Pois é, a minha única solução nesse momento foi atravessar a cidade e recorrer a única pessoa que poderia me acolher nesse momento. Tia Ju. A minha reação nesse instante foi de correr para os seus braços de chorar por longos minutos, enquanto ela tentava me acalmar e arrancar de mim tudo que precisava saber, mas era praticamente impossível.— Tome, querida, beba. Isso vai te acalmar. — Ela me estende uma xícara de chá que eu bebo calmamente e logo o meu corpo agitado sente o efeito tranquilizante do líquido morno e adocicado. — Me conte o que aconteceu, Olivia? — Respiro fundo e penso por onde começar toda essa história.— Eu estou grávida, tia.— Santo Deus! — Ela resmunga com um resfolegar.— E o papai me expulsou de casa.— É claro que aquele ogro dos infernos fez isso! — Irritada, ela se levanta do sofá e anda pela sala.— Eu preciso de um lugar para ficar só até conseguir um empreg...— Você ficará comigo essa noite, Olívia.
OlíviaUm ano e meio depois... — Bom dia meus amores, como vocês estão essa manhã? — A voz animada de Victória me faz abrir um sorriso e após encostar-me no espaldar da porta, levo a xícara de café fumegante a boca, a assistindo brincar com os meus filhos durante a troca das fraudas. Eu não podia imaginar que um encontro casual com um estranho fosse mudar a minha vida tão radicalmente assim. Em um ano muita coisa aconteceu na minha vida, porém, a melhor de todas foi trazer Liam e Levi para esse mundo. Contudo, o fato de não conseguir falar com a minha irmã ao longo desses meses está me inquietando muito.— Desse jeito você vai estragá-los — Decido alertar sobre a minha presença no quarto e adentro o cômodo que divido com os meus filhos.— Ora, o que eu posso fazer se eles são uns fofos, não é meus amores? — Ela ralha diretamente para eles me fazendo sorrir e me aproximo do berço, recebendo os sorrisos dos meus bebês.— Mamã. — Levi fala estendendo os seus bracinhos para mim e eu não
Athos— Senhor Mazza, aqui está a tradução do documento que pediu. — Barbara, minha assistente avisa assim que entra na minha sala. Contudo, faço um gesto para ela pedindo-a para esperar um pouco e continuo falando no telefone.— Senhor Eron, essa cláusula não existe no nosso contrato. Você não pode me cobrar, porque não tem esse direito.— Athos, eu exijo uma retratação imediatamente!— Eu não vou me retratar nada, porque o erro não foi meu!— Que droga, Athos!— Eron, faça o seguinte. Peça para o seu advogado lhe explicar detalhadamente essa situação. Eu não tenho tempo para ensinar um leigo idiota como você.— Ora, seu... não ouse...— Já chega, Eron! Se quiser fique à vontade para me processar, mas eu garanto que se fizer isso, posso tirar tudo de você, até mesmo as suas calças se assim desejar. Pense bem, Eron! — bufo irritado e encerro a ligação. E após soltar uma respiração audível fito a minha secretária que me olha um tanto apreensiva. No entanto, pego o papel que acabara de
Olívia — Bom dia, Senhor Mazza!Escuto Barbara dizer para o seu chefe assim que as portas do elevador se abrem. Curiosa, tiro os meus olhos de cima do arquivo e me viro. Quem sabe dessa vez consigo ver a face do meu futuro chefe? Devo dizer que o seu olhar rígido é realmente impactante. A barba cerrada que adorna seu maxilar quadrado faz um contraste exacerbado com o semblante extremamente fechado e as sobrancelhas grossas, e firmes indicam que ele não parece nem um pouco paciente essa manhã. Ou esse seria esse o seu normal? A final os funcionários que estavam trabalhando relaxadamente de repente transformaram-se em robôs e enfiaram as suas caras nas pilhas de papéis sobre suas mesas.— Bom dia! Barbara, pode me trazer um comprimido para dor de cabeça e um pouco de água? — A voz imponente que surgiu logo em seguida, misturou-se a uma voz dentro da minha cabeça....O que você acha de sairmos desse barulho?— Não é possível! — sibilo sentindo o meu coração frear bruscamente dentro do m
AthosAlgumas semanas...— Bom dia, Senhores e me desculpem pelo meu atraso. Eu tive um pequeno inconveniente.— Tudo bem, Mazza! Agora me diga que tem boas notícias para mim?— Ótimas, na verdade — falo com orgulho para Igor Caruso, meu cliente. — A causa já está ganha, então se prepare para receber as suas empresas de volta. Cada uma delas. — O homem abre um sorriso largo e vitorioso.— Eu sabia que você conseguiria!— Eu sempre consigo o que quero, Igor.— E eu nunca duvidei disso, meu advogado. Agora me diga, quando esse tormento se acabará de vez?— Nossa última audiência será em três dias. Depois, virão os tramites legais e você poderá assumir o seu lugar de direito na presidência das indústrias.— Você foi o meu melhor empreendimento, Senhor Mazza!— Só fiz o meu trabalho, Senhor Caruso.— E além de tudo, o homem é modesto. — Meu cliente comenta fazendo a minha pequena equipe rir.— Encerramos por hoje, certo?— Antes, gostaria de convidá-lo para comemorar a minha vitória em um
Olívia— Bom dia, querido Liam! Bom dia, meu pequeno Levi! — falo para os dois bebês sorridentes e sorrio também. — Dormiram bem, hã? A mamãe teve uma péssima noite, mas não fiquem preocupados, isso nunca vai abalar a minha alegria de vê-los assim todas as manhãs.— Mamã!— Sim, meu amor! Está na hora do banho e a tia Anne vai passar por aquela porta em... três, dois, um.— Onde estão os bebês mais lindos desse mundo?— Viram, a mamãe sabe de tudo.— Hora do banho seus fedorentinhos fofinhos e depois, nós vamos papa. A tia Victória já está fazendo uma comida deliciosa para vocês. — Logo eles se agitam com a alegria esfuziante da Anne e enquanto a ajudo, aprecio a animação dos garotos dentro da banheira cheia de água e espuma perfumada.— Prontinho. — Ela diz satisfeita depois de um tempo, fechando o último botão do macacão de Liam, enquanto eu termino de pentear os cabelos finos de Levi. Uma batida leve na porta nos faz olhar na mesma direção e Victória passa por ela. No entanto, espe
Olívia— O que vocês acham, terninho ou macacão? — pergunto para os meus filhos colocando as opções de vestuário na frente do meu corpo. Em resposta, recebo dois sorrisos com poucos dentes miúdos e sorrio. — Terninho então. Hoje é o segundo dia da mamãe na empresa. Até que não é tão ruim. O que acham, cabelos soltos ou presos? — Liam me responde fazendo um barulho engraçado com a boca, mas Levi me olha com curiosidade.— A mamãe está enchendo vocês outra vez? — Victória invade o nosso quarto e os meninos fazem a sua festa para recebê-la. — Na minha opinião você fica linda de cabelos soltos. — Ela pisca um olho para mim e tira os meninos de dentro do berço, saindo do cômodo em seguida.— Cabelos presos então — digo contrariando a sugestão da minha amiga e faço um coque severo atrás da minha cabeça. Dou uma breve olhada no espelho e gosto do que vejo. Minutos depois, jogo meu celular dentro da bolsa, minha carteira e um batom para sair do meu quarto. Com esse novo ritmo, resolvi acordar
Olívia— Acho que encontrei algo aqui, Senhor Mazza! — Marli, nossa advogada Sênior diz erguendo um papel, o balançando diante dos meus olhos. Confesso que estou desejando que esse tenha algo proveitoso. Já está bem tarde e estamos todos cansados. Ansioso, aproximo da moça e pego o papel da sua mão abrindo um sorriso vitorioso em seguida.— Yes! — Vibro e a minha funcionária sorri. — Estão todos dispensados e não se preocupem, no final do mês todos terão a merecida recompensa por essas horas desgastantes, mas foi você quem ganhou o prêmio, minha querida Marli. — Seu sorriso se amplia e eu beijo avidamente o papel. Não demora para os meus funcionários começarem a se dissipar da empresa e eu resolvo voltar para a minha sala. Preciso rever tudo que encontramos e formular uma defesa irrevogável. — Conseguimos! — digo sem tirar os meus olhos do documento e me acomodo em minha cadeira. — Vou pedir para o meu motorista levá-la em casa, Senhorita Martin — falo concentrando-me no documento. Co