Olívia
Um ano e meio depois...
— Bom dia meus amores, como vocês estão essa manhã? — A voz animada de Victória me faz abrir um sorriso e após encostar-me no espaldar da porta, levo a xícara de café fumegante a boca, a assistindo brincar com os meus filhos durante a troca das fraudas. Eu não podia imaginar que um encontro casual com um estranho fosse mudar a minha vida tão radicalmente assim. Em um ano muita coisa aconteceu na minha vida, porém, a melhor de todas foi trazer Liam e Levi para esse mundo. Contudo, o fato de não conseguir falar com a minha irmã ao longo desses meses está me inquietando muito.
— Desse jeito você vai estragá-los — Decido alertar sobre a minha presença no quarto e adentro o cômodo que divido com os meus filhos.
— Ora, o que eu posso fazer se eles são uns fofos, não é meus amores? — Ela ralha diretamente para eles me fazendo sorrir e me aproximo do berço, recebendo os sorrisos dos meus bebês.
— Mamã. — Levi fala estendendo os seus bracinhos para mim e eu não seguro o impulso de atender o seu desejo, segurando-o no meu colo e o beijo em seguida.
— Tem certeza de que quer fazer isso, Ollie? — Victória questiona tirando Liam do berço e logo saímos do quarto.
— Você sabe que eu preciso, Victoria.
— Na verdade, você não precisa. Você tem o apoio de todos, principalmente da sua tia Julian.
— Eu não posso viver para sempre a sua sombra, Victória, nem da minha tia. Não foi para isso que eu me esforcei tanto e essa não sou eu. Eu quero trabalhar e conquistar o meu espaço. Quero trazer a Kim para perto de mim. Esse sempre foi o meu objetivo, nada mudou.
— Tudo bem, querida. A Anne e eu estaremos sempre aqui por você.
— Eu sei disso e sou muito grata por isso.
— Não tem o que agradecer, querida. Eu ajudei a trazer essas belezinhas ao mundo e vou amar cuidar deles enquanto você estiver trabalhando.
— Obrigada, Victória!
— O carro já chegou, vamos? — Anne avisa na entrada da casa e antes de pôr o Liam dentro do carrinho de bebê, beijo demoradamente a sua bochecha gordinha, e faço o mesmo com o seu irmão saindo em seguida. Quando Anne me falou sobre a possibilidade de ir trabalhar no grupo Mazza não pensei duas vezes em aceitar a sua proposta. Contudo, ainda não estou definitivamente dentro dessa empresa. Eu preciso fazer uma entrevista com o CEO e pelo que ouvi dizer o homem não é nada fácil de lidar. Mal-humorado, intolerante, intransigente e obcecado pela perfeição e pelo horário. Bufo por antecipação. Eu nunca trabalhei na vida e pensar que terei que lidar com um chefe severo na minha primeira experiência está me deixando um tanto aflita.
— Você consegue, querida! — Anne diz docemente segurando na minha mão que está no meu colo e abrindo um sorriso encorajador para mim. Definitivamente eu não tenho tanta certeza assim, mas eu preciso tentar, certo? Portanto, retribuo o seu sorriso e respiro fundo. Não demora para o carro parar em frente a um prédio suntuoso e após a Anne sair do veículo, eu me forço a sair também. — Ok, agora respire fundo e mantenha o pensamento positivo. Faça o seu melhor, garota. Nos vemos em alguns minutos.
— Obrigada, Anne! — Os minutos seguintes parecem acontecer em câmera lenta diante dos meus olhos. Entramos no elevador, mas a minha amiga desce um andar antes do meu e quando as portas se abrem para mim, encontro um enorme salão preenchido por várias mesas e uma enorme quantidade de pessoas trabalhando com afinco em seus computadores, ou com a cara enfiada em documentos. Sem saber exatamente para onde ir paro bem no meio desse caos e me perco em observações.
— Você deve ser a Olívia? — Uma voz feminina diz atraindo a minha atenção. — Eu me chamo Barbara e sou a assistente do Senhor Mazza.
— Ah, é um prazer, Barbara! — digo apertando a sua mão. — Quando farei a entrevista com o Senhor Mazza?
— Com certeza não será hoje, Olívia.
— Oh, então eu dei viagem perdida?
— Não exatamente. Você disse que fala inglês, certo?
— Sim e espanhol também. E estou estudando francês.
— Isso é ótimo! Eu tenho um trabalho para você. Na verdade, é mais um teste que o próprio Senhor Mazza irá avaliar em breve, portanto, dê o seu melhor, querida.
— Pode deixar. — Imediatamente Barbara me leva para uma sala a parte e põe algumas pastas em cima de uma mesa. Os detalhes da pequena sala que mais se parece uma caixa de vidro transparente me chamam atenção por seu requinte e bom gosto.
— Esses são os contratos que você precisa traduzir, Olívia. Cada um deles tem o total de cinco páginas e você tem duas horas para traduzi-los.
— Duas horas, certo.
— Assim que terminar venho pegar os arquivos para serem analisados, ok? Se você conseguir passar dessa fase, então terá a sua entrevista. Se não...
— Eu entendi.
— Ótimo, e boa sorte! — Por essa eu realmente não esperava e apesar de fazer um curso tão desestruturado, fazer a tradução até que não está sendo tão difícil assim. Três horas com pausar mínimas para beber uma água ou uma xícara de café. Tempos depois, a porta da sala volta a se abrir e Debora para ao lado da minha mesa. — Tudo pronto?
— Só um instante, eu estou na última frase — peço e digito o mais rápido que posso. — Agora sim, tudo pronto! — Aperto o botão de enter e a impressora começa a fazer o seu trabalho. Debora me ajuda a pôr as páginas em ordem e depois organiza tudo dentro de algumas pastas, para sair logo em seguida.
— Senhor Mazza aqui estão os contratos traduzidos que pediu. — Ela diz quando um homem de terno extremamente alto sai de sua sala. Curiosa, tento ver o tal Mazza, mas o CEO está de costas para mim e a única coisa que consigo visualizar são os poucos cachos dos cabelos escuros e cheios que adornam a sua cabeça, além das costas largas revestidas com um terno caro.
— Ótimo, Barbara! Ponha-os em cima da minha mesa, eu estou saindo para uma reunião agora. — Ele diz e sai rapidamente, deixando uma trilha de funcionários que pedem a sua atenção, mas eles são estupidamente ignorados.
***
Horas mais tarde...
— Vocês precisavam ver, as pessoas de lá pareciam apreensivas o tempo todo e ninguém dizia uma parava para ninguém se não tivesse relação com o trabalho — digo assim que me acomodo em uma cadeira da mesa de jantar.
— Ouvi dizer que esse Senhor Mazza é um demônio, que ele grita e massacra as pessoas com as suas palavras ferinas.
— Por favor, não exagere, mamãe! — Anne a repreende. Contudo ela me lança um olhar sério. — Olívia, Athos Mazza é um homem muito poderoso e bem exigente só isso. Se fizer tudo direitinho tenho certeza de que conseguirá esse cargo.
— Eu só estou dizendo. — Victória insiste dando de ombros.
— Mamãe, por favor! Assim vai deixar a Olívia com medo.
— Tudo bem, Anne, deixe-a falar. De qualquer forma eu vou tentar e se der certo, eu saio.
— Isso, garota!
***
No dia seguinte...
— Bom dia, Olívia, que bom vê-la aqui outra vez! — Barbara diz assim que entro no escritório do Mazza Law & Order. Curiosa, olho ao meu redor a procura do meu possível chefe, mas não o vejo em lugar algum.
— Bom dia, Barbara, o Senhor Mazza irá me atender agora?
— Infelizmente o Senhor Mazza teve que fazer uma vigem de urgência, Olívia, mas eu tenho novos testes aqui pra você.
— Ah!
— Venha comigo. Esse são novos arquivos que precisam ser traduzidos. São processos em andamento, então por favor tenha bastante atenção com os detalhes. Como são arquivos grandes, te darei cinco horas para fazê-los.
— Cinco?
— Infelizmente preciso de agilidade também, então não posso aumentar esse tempo para você. Acha que consegue dar contar? — Respiro fundo, porém, assinto.
— Eu vou dar o meu melhor.
— Ótimo, querida! — Ela diz me deixando sozinha e eu procuro me concentrar no meu árduo trabalho. Em algum momento a exaustão parece querer me abalar e decido ir tomar uma xícara de café.
— Você deve ser a garota que está concorrendo ao cargo de secretária do Senhor Mazza. — Uma garota fala quando adentro a copa.
— Sim, o meu nome é Olívia. — Lhe estendo a minha mão. Contudo, a garota apenas olha para a minha mão estendida e me dá as costas para mexer na cafeteira.
— Te desejo boa sorte. A última garota que tentou esse cargo saiu daqui muito arrasada. — Não sei o que dizer. Então ela se vira de frente para mim e beberica o seu café. — Ele não é nada fácil. — Ela bufa e parece irritada, porém, sai logo em seguida.
Athos— Senhor Mazza, aqui está a tradução do documento que pediu. — Barbara, minha assistente avisa assim que entra na minha sala. Contudo, faço um gesto para ela pedindo-a para esperar um pouco e continuo falando no telefone.— Senhor Eron, essa cláusula não existe no nosso contrato. Você não pode me cobrar, porque não tem esse direito.— Athos, eu exijo uma retratação imediatamente!— Eu não vou me retratar nada, porque o erro não foi meu!— Que droga, Athos!— Eron, faça o seguinte. Peça para o seu advogado lhe explicar detalhadamente essa situação. Eu não tenho tempo para ensinar um leigo idiota como você.— Ora, seu... não ouse...— Já chega, Eron! Se quiser fique à vontade para me processar, mas eu garanto que se fizer isso, posso tirar tudo de você, até mesmo as suas calças se assim desejar. Pense bem, Eron! — bufo irritado e encerro a ligação. E após soltar uma respiração audível fito a minha secretária que me olha um tanto apreensiva. No entanto, pego o papel que acabara de
Olívia — Bom dia, Senhor Mazza!Escuto Barbara dizer para o seu chefe assim que as portas do elevador se abrem. Curiosa, tiro os meus olhos de cima do arquivo e me viro. Quem sabe dessa vez consigo ver a face do meu futuro chefe? Devo dizer que o seu olhar rígido é realmente impactante. A barba cerrada que adorna seu maxilar quadrado faz um contraste exacerbado com o semblante extremamente fechado e as sobrancelhas grossas, e firmes indicam que ele não parece nem um pouco paciente essa manhã. Ou esse seria esse o seu normal? A final os funcionários que estavam trabalhando relaxadamente de repente transformaram-se em robôs e enfiaram as suas caras nas pilhas de papéis sobre suas mesas.— Bom dia! Barbara, pode me trazer um comprimido para dor de cabeça e um pouco de água? — A voz imponente que surgiu logo em seguida, misturou-se a uma voz dentro da minha cabeça....O que você acha de sairmos desse barulho?— Não é possível! — sibilo sentindo o meu coração frear bruscamente dentro do m
AthosAlgumas semanas...— Bom dia, Senhores e me desculpem pelo meu atraso. Eu tive um pequeno inconveniente.— Tudo bem, Mazza! Agora me diga que tem boas notícias para mim?— Ótimas, na verdade — falo com orgulho para Igor Caruso, meu cliente. — A causa já está ganha, então se prepare para receber as suas empresas de volta. Cada uma delas. — O homem abre um sorriso largo e vitorioso.— Eu sabia que você conseguiria!— Eu sempre consigo o que quero, Igor.— E eu nunca duvidei disso, meu advogado. Agora me diga, quando esse tormento se acabará de vez?— Nossa última audiência será em três dias. Depois, virão os tramites legais e você poderá assumir o seu lugar de direito na presidência das indústrias.— Você foi o meu melhor empreendimento, Senhor Mazza!— Só fiz o meu trabalho, Senhor Caruso.— E além de tudo, o homem é modesto. — Meu cliente comenta fazendo a minha pequena equipe rir.— Encerramos por hoje, certo?— Antes, gostaria de convidá-lo para comemorar a minha vitória em um
Olívia— Bom dia, querido Liam! Bom dia, meu pequeno Levi! — falo para os dois bebês sorridentes e sorrio também. — Dormiram bem, hã? A mamãe teve uma péssima noite, mas não fiquem preocupados, isso nunca vai abalar a minha alegria de vê-los assim todas as manhãs.— Mamã!— Sim, meu amor! Está na hora do banho e a tia Anne vai passar por aquela porta em... três, dois, um.— Onde estão os bebês mais lindos desse mundo?— Viram, a mamãe sabe de tudo.— Hora do banho seus fedorentinhos fofinhos e depois, nós vamos papa. A tia Victória já está fazendo uma comida deliciosa para vocês. — Logo eles se agitam com a alegria esfuziante da Anne e enquanto a ajudo, aprecio a animação dos garotos dentro da banheira cheia de água e espuma perfumada.— Prontinho. — Ela diz satisfeita depois de um tempo, fechando o último botão do macacão de Liam, enquanto eu termino de pentear os cabelos finos de Levi. Uma batida leve na porta nos faz olhar na mesma direção e Victória passa por ela. No entanto, espe
Olívia— O que vocês acham, terninho ou macacão? — pergunto para os meus filhos colocando as opções de vestuário na frente do meu corpo. Em resposta, recebo dois sorrisos com poucos dentes miúdos e sorrio. — Terninho então. Hoje é o segundo dia da mamãe na empresa. Até que não é tão ruim. O que acham, cabelos soltos ou presos? — Liam me responde fazendo um barulho engraçado com a boca, mas Levi me olha com curiosidade.— A mamãe está enchendo vocês outra vez? — Victória invade o nosso quarto e os meninos fazem a sua festa para recebê-la. — Na minha opinião você fica linda de cabelos soltos. — Ela pisca um olho para mim e tira os meninos de dentro do berço, saindo do cômodo em seguida.— Cabelos presos então — digo contrariando a sugestão da minha amiga e faço um coque severo atrás da minha cabeça. Dou uma breve olhada no espelho e gosto do que vejo. Minutos depois, jogo meu celular dentro da bolsa, minha carteira e um batom para sair do meu quarto. Com esse novo ritmo, resolvi acordar
Olívia— Acho que encontrei algo aqui, Senhor Mazza! — Marli, nossa advogada Sênior diz erguendo um papel, o balançando diante dos meus olhos. Confesso que estou desejando que esse tenha algo proveitoso. Já está bem tarde e estamos todos cansados. Ansioso, aproximo da moça e pego o papel da sua mão abrindo um sorriso vitorioso em seguida.— Yes! — Vibro e a minha funcionária sorri. — Estão todos dispensados e não se preocupem, no final do mês todos terão a merecida recompensa por essas horas desgastantes, mas foi você quem ganhou o prêmio, minha querida Marli. — Seu sorriso se amplia e eu beijo avidamente o papel. Não demora para os meus funcionários começarem a se dissipar da empresa e eu resolvo voltar para a minha sala. Preciso rever tudo que encontramos e formular uma defesa irrevogável. — Conseguimos! — digo sem tirar os meus olhos do documento e me acomodo em minha cadeira. — Vou pedir para o meu motorista levá-la em casa, Senhorita Martin — falo concentrando-me no documento. Co
OlíviaSuas mãos seguraram firmes em cada lado do meu rosto e antes que eu tivesse qualquer pensamento coerente a sua boca tomou posse da minha. A sua língua invadiu a minha boca e o seu gosto se espalhou pelo meu paladar. Por um instante sou absorvida pela intensidade desse homem e sequer tive o bom senso de lutar contra o seu ataque repentino, de afastá-lo de mim. Contudo, quando o beijo chegou a fim nos encaramos ofegantes. Eu, completamente aturdida e ele... com raiva? De que? De mim?— Você pode ir, Martin! — Seu tom seco e rude me deixou nublada. O que foi tudo isso? Por que ele está agindo como se eu fosse a culpada pelo que acabou de acontecer? — Vai, agora! — Athos ordenou ligando o motor do carro e puta da vida saí batendo a porta com força, e andei apressada para dentro de casa.— Sua idiota, imbecil! — rosno enfurecida para mim mesma, encostando-me na madeira atrás de mim e encaro o teto por alguns instantes. Meu corpo está fervendo de raiva, de ódio e impulsionada pela mi
Athos— Fala, Athos?— Está muito ocupado agora?— Na verdade, estou indo para o aeroporto. Está tudo bem?— Está...— Não senti muita firmeza, meu amigo. O Artêmis está bem?— Eu beijei a minha secretária — digo de uma vez ignorando a sua pergunta e solto um suspiro em seguida.— Porra, onde você está agora?— Dirigindo. Estou indo para a empresa.— Ótimo, eu te encontro lá.— E a viagem?— Você precisa de mim, meu amigo e eu preciso saber mais sobre a história desse beijo. — Com uma respiração profunda encerro a ligação e minutos depois estaciono o meu carro na garagem privativa da empresa. No entanto, não vou direto para o escritório como havia dito e sim, para um restaurante dentro do prédio. Envio uma mensagem para Romão informando onde estou e o aguardo me perguntando por que contei sobre o beijo para ele. Mas a pergunta correta é, por que a beijei daquela maneira? Agoniado com os meus pensamentos, levo uma mão atrás da cabeça e massageio a minha nuca.— Vai fazer o seu pedido a