Athos
— Senhor Mazza, aqui está a tradução do documento que pediu. — Barbara, minha assistente avisa assim que entra na minha sala. Contudo, faço um gesto para ela pedindo-a para esperar um pouco e continuo falando no telefone.
— Senhor Eron, essa cláusula não existe no nosso contrato. Você não pode me cobrar, porque não tem esse direito.
— Athos, eu exijo uma retratação imediatamente!
— Eu não vou me retratar nada, porque o erro não foi meu!
— Que droga, Athos!
— Eron, faça o seguinte. Peça para o seu advogado lhe explicar detalhadamente essa situação. Eu não tenho tempo para ensinar um leigo idiota como você.
— Ora, seu... não ouse...
— Já chega, Eron! Se quiser fique à vontade para me processar, mas eu garanto que se fizer isso, posso tirar tudo de você, até mesmo as suas calças se assim desejar. Pense bem, Eron! — bufo irritado e encerro a ligação. E após soltar uma respiração audível fito a minha secretária que me olha um tanto apreensiva. No entanto, pego o papel que acabara de colocar em cima da minha mesa e começo a ler. O meu olhar rígido a encara com dureza em seguida e no ato, amasso o documento bem diante dos seus olhos. — Chama essa droga de tradição? — rosno entre dentes. Ela balbucia nitidamente nervosa. — Demita a idiota que fez essa porcaria de trabalho!
— Mas, Senhora Mazza...
— Estou indo para uma reunião agora, Barbara. Encontre uma pessoa adequada para esse cargo, alguém com capacidade de fazer isso direito. — A interrompo e saio logo em seguida do escritório. No corredor observo um pequeno tumulto em um canto, uma jovem que está sendo confortada por seus companheiros de trabalho e paro, olhando-os com repreensão. — O que pensam que estão fazendo? — Eles me fitam com uma apreensão palpável. — Vocês não têm um trabalho para fazer aqui? — rosno e imediatamente eles se espalham. Contudo, a garota continua lá para e me olhando. Ao dar alguns passos em sua direção ela resfolega algumas vezes. — Imagino que foi você quem fez aquela tradução? — Em resposta ela engole em seco. — Lágrimas não consertam os seus erros, menina. Sugiro que estude mais para se qualificar para uma empresa de grande porte como essa. Eu não quero vê-la aqui quando voltar, entendeu? — Após deixar bem claro a minha posição, deixando-a para trás e entro no elevador olhando para o relógio no meu pulso. Reger um escritório de advocacia renomado como o Mazza Law & Order não é algo tão fácil como se imagina. Acredite, eu não cheguei até aqui levando tapinhas amigáveis nos meus ombros, ou ouvindo dos empresários o quanto sou bom no que faço. É preciso exigir a ordem e a disciplina, mas principalmente a competência para nos manter topo, e isso tem acontecido desde que assumi a presidência, logo após a morte do meu pai. E desde então assumi todos os seus afazeres, inclusive o sustento da nossa família.
— Mazza! — Felipe Bragança diz antes que as portas se fechem, adentrando o pequeno e apertado cômodo.
— Felipe! — O cumprimento de maneira formal e encaro s números no painel.
— Espero que esteja pronto par aceitar a nossa proposta. Essa será a nossa última oferta.
— Você me conhece bem, Bragança. Não sou homem de aceitar acordos.
— Athos, você não tem outra saída.
— Eu sempre encontro uma. Aconselho falar para o seu cliente preparar os bolsos, porque eu não hesitarei em arrancar um valor acima do que ele usurpou da minha cliente — rosno e saio assim que as portas voltam a se abrir.
— Mazza, por favor...
— Não tem por favor, Bragança! — Entro no meu carro e ponho a minha pasta do meu lado. — Para o fórum, Roger! — ordeno para o meu motorista.
***
Logo mais à noite...
— Olha o cara aí! — Escuto Romão dizer assim que entro no bar, fazendo os rapazes se animarem. Não sou o tipo de homem que faz muitos amigos, mas os poucos que tenho confio a minha vida a eles. O Romão por exemplo é um grande amigo de infância. Ele conhece os meus segredos e sabe da minha história. Já o Enrico conheci na faculdade de direito e desde que nos formamos ele trabalha para mim. Para esse eu reservo os meus problemas de trabalho e costumo ouvir os seus conselhos. E tem o Andreas, esse é um amigo de todas as farras que costuma me levar para o mal caminho.
— Como vocês estão? — Como veem, é só quando estou com eles que me sinto descontraído e relaxado.
— Eu falo por mim quando digo que estou a fim de pegar uma certa morena. — Andreas fala um tanto debochado, erguendo o seu copo para um brinde mundo para uma linda e exuberante estranha sentada no banco alto do outro lado do salão. Rio da sua pretensão e faço um sinal para o barman trazer uma bebida para mim.
— E aí, como estão as coisas? — Romão questiona assim que me acomodo no banco do seu lado. Contudo, dou de ombros e bebo um pouco da minha bebida.
— Você sabe, nada nunca muda — resmungo com descaso e esvazio o meu copo, pedindo outro em seguida.
— Você precisa se perdoar, Athos...
— Não me venha com essa de novo, Romão e essa não é uma noite para desabafos, certo? Você vai se casar, meu amigo! — Ele abre um sorriso largo e aproveito para abraçá-lo com direito a tapinhas nas costas. — Meus parabéns!
— Obrigado! Nesse caso, VAMOS BEBER TODAS!!! — Ele grita agitando a todos dentro do bar.
Era exatamente disso que eu estava precisando. Uma noitada com muita bebida e algumas mulheres, mas essa última parte irei dispensar. Sério, comum certo dia se aproximando a minha cabeça está cheia de pensamentos que eu queria jogar no fogo e simplesmente assisti-las virar cinzas. Portanto, após acomodarmos em mesa apenas observo os meus amigos se deleitarem nos braços das garotas enquanto encho a cara. A final, quando voltar para casa depois isso eu quero simplesmente cair na minha cama e apagar sem ter tempo de sonhar.
***
No dia seguinte...
— Bom dia, Senhor Mazza!
— Bom dia! Barbara, pode me trazer um comprimido para dor de cabeça e um pouco de água?
— Claro, Senhor Mazza! — Dou-lhe as costas, acomodando-me na minha cadeira e massageio as minhas têmporas. No mesmo minuto o meu telefone começa a tocar e o nome Andreas surge na tela.
— Aqui está, Senhor Mazza. — Barbara me estende um copo e um comprimido assim que seguro o parelho e engulo o remédio e a dispenso em seguida.
— Fala, Andreas!
— Preciso da sua ajuda!
— Como assim, o que houve?
— Aquela vadia roubou todo o meu dinheiro e agora não tenho como pagar a droga do quarto de hotel. — Inevitavelmente começo a rir.
— Você dormiu com ela?! — O repreendo com um certo humor negro e ele bufa do outro lado da linha. — Quais sãos as regras para noites como essas, Senhor Rocha?
— Ah, vai se foder, Senhor fodão! Vai me ajudar ou não?
— Talvez!
— Athos Mazza, não se atreva a me deixar na mão!
— Tenho uma reunião em poucos minutos, Andreas, mas mandarei alguém aí te socorrer.
— Muito obrigado, eu fico te devendo essa!
— Só não durma da próxima vez! — ralho um tanto irritado.
— Pode deixar, papai! — Ele rebate debochado e eu reviro os olhos.
— Idiota!
— Senhor Mazza, aqui estão os arquivos que pediu para separar para a reunião.
— Ótimo, Barbara!
— As novas traduções já estão prontas e a nova estagiária aguardando pela sua entrevista.
— Certo. Avise-a que irei recebê-la após a reunião. Eu preciso ir.
— Sim, Senhor! — Reúno a documentação e saio imediatamente para a reunião em uma sala no quinto andar do prédio. Uma secretária nova. Nunca foi tão difícil encontrar a pessoa adequada para trabalhar comigo. Na verdade, a Barbara seria suficiente para esse serviço, mas o fato de estar se formando em direito por esses dias lhe dará um cargo que faz jus ao seu diploma. Uma garota bonita, esforçada e inteligente. Definitivamente essa transição não será nada fácil e até encontra e outra aluna aplicada como ela, a sugestão de uma secretária me pareceu bem atraente.
— Ah, Barbara, peça para o meu motorista levar o meu cartão para o Senhor Rocha no hotel Royal.
— Claro, Senhor Mazza. — Ela sai da minha sala e assim que eu saio, sinto um forte impacto que me faz derrubar as pastas e uma ardência incômoda no meu abdômen me faz olhar na mesma direção.
— Mas o que... — rosno irritado encarando a mancha de café quente na minha camisa branca. No mesmo instante ergo o meu olhar furioso, encontrando um par de olhos castanhos fitando a mesma mancha com extrema surpresa. — Quem é você?!
Olívia — Bom dia, Senhor Mazza!Escuto Barbara dizer para o seu chefe assim que as portas do elevador se abrem. Curiosa, tiro os meus olhos de cima do arquivo e me viro. Quem sabe dessa vez consigo ver a face do meu futuro chefe? Devo dizer que o seu olhar rígido é realmente impactante. A barba cerrada que adorna seu maxilar quadrado faz um contraste exacerbado com o semblante extremamente fechado e as sobrancelhas grossas, e firmes indicam que ele não parece nem um pouco paciente essa manhã. Ou esse seria esse o seu normal? A final os funcionários que estavam trabalhando relaxadamente de repente transformaram-se em robôs e enfiaram as suas caras nas pilhas de papéis sobre suas mesas.— Bom dia! Barbara, pode me trazer um comprimido para dor de cabeça e um pouco de água? — A voz imponente que surgiu logo em seguida, misturou-se a uma voz dentro da minha cabeça....O que você acha de sairmos desse barulho?— Não é possível! — sibilo sentindo o meu coração frear bruscamente dentro do m
AthosAlgumas semanas...— Bom dia, Senhores e me desculpem pelo meu atraso. Eu tive um pequeno inconveniente.— Tudo bem, Mazza! Agora me diga que tem boas notícias para mim?— Ótimas, na verdade — falo com orgulho para Igor Caruso, meu cliente. — A causa já está ganha, então se prepare para receber as suas empresas de volta. Cada uma delas. — O homem abre um sorriso largo e vitorioso.— Eu sabia que você conseguiria!— Eu sempre consigo o que quero, Igor.— E eu nunca duvidei disso, meu advogado. Agora me diga, quando esse tormento se acabará de vez?— Nossa última audiência será em três dias. Depois, virão os tramites legais e você poderá assumir o seu lugar de direito na presidência das indústrias.— Você foi o meu melhor empreendimento, Senhor Mazza!— Só fiz o meu trabalho, Senhor Caruso.— E além de tudo, o homem é modesto. — Meu cliente comenta fazendo a minha pequena equipe rir.— Encerramos por hoje, certo?— Antes, gostaria de convidá-lo para comemorar a minha vitória em um
Olívia— Bom dia, querido Liam! Bom dia, meu pequeno Levi! — falo para os dois bebês sorridentes e sorrio também. — Dormiram bem, hã? A mamãe teve uma péssima noite, mas não fiquem preocupados, isso nunca vai abalar a minha alegria de vê-los assim todas as manhãs.— Mamã!— Sim, meu amor! Está na hora do banho e a tia Anne vai passar por aquela porta em... três, dois, um.— Onde estão os bebês mais lindos desse mundo?— Viram, a mamãe sabe de tudo.— Hora do banho seus fedorentinhos fofinhos e depois, nós vamos papa. A tia Victória já está fazendo uma comida deliciosa para vocês. — Logo eles se agitam com a alegria esfuziante da Anne e enquanto a ajudo, aprecio a animação dos garotos dentro da banheira cheia de água e espuma perfumada.— Prontinho. — Ela diz satisfeita depois de um tempo, fechando o último botão do macacão de Liam, enquanto eu termino de pentear os cabelos finos de Levi. Uma batida leve na porta nos faz olhar na mesma direção e Victória passa por ela. No entanto, espe
Olívia— O que vocês acham, terninho ou macacão? — pergunto para os meus filhos colocando as opções de vestuário na frente do meu corpo. Em resposta, recebo dois sorrisos com poucos dentes miúdos e sorrio. — Terninho então. Hoje é o segundo dia da mamãe na empresa. Até que não é tão ruim. O que acham, cabelos soltos ou presos? — Liam me responde fazendo um barulho engraçado com a boca, mas Levi me olha com curiosidade.— A mamãe está enchendo vocês outra vez? — Victória invade o nosso quarto e os meninos fazem a sua festa para recebê-la. — Na minha opinião você fica linda de cabelos soltos. — Ela pisca um olho para mim e tira os meninos de dentro do berço, saindo do cômodo em seguida.— Cabelos presos então — digo contrariando a sugestão da minha amiga e faço um coque severo atrás da minha cabeça. Dou uma breve olhada no espelho e gosto do que vejo. Minutos depois, jogo meu celular dentro da bolsa, minha carteira e um batom para sair do meu quarto. Com esse novo ritmo, resolvi acordar
Olívia— Acho que encontrei algo aqui, Senhor Mazza! — Marli, nossa advogada Sênior diz erguendo um papel, o balançando diante dos meus olhos. Confesso que estou desejando que esse tenha algo proveitoso. Já está bem tarde e estamos todos cansados. Ansioso, aproximo da moça e pego o papel da sua mão abrindo um sorriso vitorioso em seguida.— Yes! — Vibro e a minha funcionária sorri. — Estão todos dispensados e não se preocupem, no final do mês todos terão a merecida recompensa por essas horas desgastantes, mas foi você quem ganhou o prêmio, minha querida Marli. — Seu sorriso se amplia e eu beijo avidamente o papel. Não demora para os meus funcionários começarem a se dissipar da empresa e eu resolvo voltar para a minha sala. Preciso rever tudo que encontramos e formular uma defesa irrevogável. — Conseguimos! — digo sem tirar os meus olhos do documento e me acomodo em minha cadeira. — Vou pedir para o meu motorista levá-la em casa, Senhorita Martin — falo concentrando-me no documento. Co
OlíviaSuas mãos seguraram firmes em cada lado do meu rosto e antes que eu tivesse qualquer pensamento coerente a sua boca tomou posse da minha. A sua língua invadiu a minha boca e o seu gosto se espalhou pelo meu paladar. Por um instante sou absorvida pela intensidade desse homem e sequer tive o bom senso de lutar contra o seu ataque repentino, de afastá-lo de mim. Contudo, quando o beijo chegou a fim nos encaramos ofegantes. Eu, completamente aturdida e ele... com raiva? De que? De mim?— Você pode ir, Martin! — Seu tom seco e rude me deixou nublada. O que foi tudo isso? Por que ele está agindo como se eu fosse a culpada pelo que acabou de acontecer? — Vai, agora! — Athos ordenou ligando o motor do carro e puta da vida saí batendo a porta com força, e andei apressada para dentro de casa.— Sua idiota, imbecil! — rosno enfurecida para mim mesma, encostando-me na madeira atrás de mim e encaro o teto por alguns instantes. Meu corpo está fervendo de raiva, de ódio e impulsionada pela mi
Athos— Fala, Athos?— Está muito ocupado agora?— Na verdade, estou indo para o aeroporto. Está tudo bem?— Está...— Não senti muita firmeza, meu amigo. O Artêmis está bem?— Eu beijei a minha secretária — digo de uma vez ignorando a sua pergunta e solto um suspiro em seguida.— Porra, onde você está agora?— Dirigindo. Estou indo para a empresa.— Ótimo, eu te encontro lá.— E a viagem?— Você precisa de mim, meu amigo e eu preciso saber mais sobre a história desse beijo. — Com uma respiração profunda encerro a ligação e minutos depois estaciono o meu carro na garagem privativa da empresa. No entanto, não vou direto para o escritório como havia dito e sim, para um restaurante dentro do prédio. Envio uma mensagem para Romão informando onde estou e o aguardo me perguntando por que contei sobre o beijo para ele. Mas a pergunta correta é, por que a beijei daquela maneira? Agoniado com os meus pensamentos, levo uma mão atrás da cabeça e massageio a minha nuca.— Vai fazer o seu pedido a
Olívia— Droga, a minha bolsa! Será que o Senhor pode voltar? — peço para o motorista que retorna sem pestanejar. — Eu volto logo! — aviso, saindo rapidamente do carro e retorno com pressa para o escritório. Vou direto para o almoxarifado onde com certeza deixei a minha bolsa. Um sinal de mensagem me faz olhar para o meu celular e sorrio para a foto dos meus bebês que surgem sorridentes.... Mamãe estamos com saudades de você! Quando vai voltar para casa?A mensagem vem logo abaixo e o meu sorriso se amplia. Penso em responder quando um barulho estrepitoso me faz parar completamente tensa e cuidadosamente saio da sala a procura de quem quer que seja. Um ladrão? Meu coração estremece só de pensar nisso. Contudo, abro a minha agenda no contato da polícia, enquanto me aventuro pelo longo corredor, mas todos os meus medos caem por terra quando o vejo. Athos Mazza está de costas para mim e o seu corpo inteiro balança com os soluços de um choro violento. Em silêncio, guardo o aparelho no bo