Olivia.
— Olivia?! Querida, o que está fazendo aqui? — Pois é, a minha única solução nesse momento foi atravessar a cidade e recorrer a única pessoa que poderia me acolher nesse momento. Tia Ju. A minha reação nesse instante foi de correr para os seus braços de chorar por longos minutos, enquanto ela tentava me acalmar e arrancar de mim tudo que precisava saber, mas era praticamente impossível.
— Tome, querida, beba. Isso vai te acalmar. — Ela me estende uma xícara de chá que eu bebo calmamente e logo o meu corpo agitado sente o efeito tranquilizante do líquido morno e adocicado. — Me conte o que aconteceu, Olivia? — Respiro fundo e penso por onde começar toda essa história.
— Eu estou grávida, tia.
— Santo Deus! — Ela resmunga com um resfolegar.
— E o papai me expulsou de casa.
— É claro que aquele ogro dos infernos fez isso! — Irritada, ela se levanta do sofá e anda pela sala.
— Eu preciso de um lugar para ficar só até conseguir um empreg...
— Você ficará comigo essa noite, Olívia. — Engulo em seco quando ela me interrompe. — Se o seu pai souber que você está aqui comigo, ele não nos deixará em paz.
— Tia...
— Escute, querida, eu quero que tome um banho morno agora. Isso irá ajudá-la a relaxar um pouco. Depois, vamos comer algo e eu quero de durma. Quando acordar a levarei para o sul.
— Para o sul? O que tem lá no Sul?
— Uma grande amiga em quem confio a minha própria vida. Ela vai cuidar de vocês por mim. — Deus, como é bom ouvir essas palavras! Por um instante pensei que estaria sozinha outra vez. Emocionada, volto a abraçá-la.
— Obrigada, tia, eu tenho algumas economias e prometo arrumar um emprego logo...
— Nada disso, mocinha. Deixe tudo comigo. Eu sempre quis cuidar de você e da Kim. Deus sabe o quanto quis livrar vocês daqueles lunáticos, mas o seu pai me expulsou de casa quando bati de frente com ele. Agora você está bem aqui. — Sorrio. — Agora vá fazer o que te pedi. Eu vou pedir para preparar-me um quarto para você. — Tia Ju deixa um beijo cálido no meu rosto e se afasta. Só então percebo a elegância desse lugar e o quão a sua casa é grande e luxuosa.
— Senhorita, pode vir comigo? — Uma empregada pede, seguindo para uma escadaria de mármore branco e com alguns detalhes dourados, e eu me pergunto como ela conseguiu chegar até aqui. Dentro de um quarto de hóspedes não consigo me concentrar no quanto ele é espaçoso, nem mesmo na elegância dos seus móveis, ou na cama grande e macia no seu centro, pois as lágrimas voltaram e as palavras que ouvi da minha mãe me deixaram em desespero. Uma vagabunda, ela disse. Céus, eu me perdi em algum momento, fiz a pior loucura da minha vida e destruí todas as oportunidades que eu poderia ter. Kim. Oh Deus, ela deve estar em lágrimas dentro do nosso quarto agora e sozinha, e eu não posso confortá-la como sempre fez comigo.
— Oh, querida, você está aí. — A voz de tia Ju preenche o cómodo, mas eu não consigo parar de chorar. Portanto, ela se senta na cama e eu deito a minha cabeça na sua perna. — Ollie, você não está mais sozinha. — Ela diz mexendo nos meus cabelos. — Tem um ser humaninho crescendo aí dentro de você e é nele que você tem que pensar agora, querida.
— A Kim, ela ficou lá...
— Eu sei, eu sei. Tudo a seu tempo, certo? Primeiro eu preciso cuidar de você e depois, veremos como ajudar a sua irmã.
— Eu deveria tê-la protegido.
— Os seus pais são como chicletes derretidos na calçada. Quanto mais lutamos para nos livrar deles, mais eles grudam em nós. Você é só uma garota sonhadora, lutando pela sua liberdade. Não tem experiência alguma com pessoas como eles. Mas veja o lado bom disso tudo.
— Não consigo ver um lado bom, tia Ju.
— Você saiu de casa, Ollie. Vai ter o seu filho e quando estiver tudo bem, poderá ajudá-la. — Meneio a cabeça fazendo não.
— Não posso demorar tanto assim...
— Infelizmente não podemos abraçar o mundo e resolver tudo ao mesmo tempo, Olívia. E eles são os pais dela, não há nada que possamos fazer. Kimberly é maior de idade, embora os seus pais não aceitem isso. Ela também pode se libertar se quiser.
— Não é tão fácil.
— E quem disse isso que o preço da liberdade é fácil? — bufo contrariada, saindo da cama. O pior é que ela está certa. Vivemos tão sufocadas dentro daquela casa que não percebemos isso. Somos adultas, embora eles não aceitem e por que permitimos que nos façam suas prisioneiras? Por que simplesmente não saímos de lá? Eu respondo. Éramos dependentes financeiramente e sem qualquer experiência de trabalho. Por isso tomei a decisão de fazer um curso as escondidas. Céus, faltava tão pouco!
— Tome um banho, Olivia e vamos comer algo na varanda. O dia está lindo lá fora.
— Está bem. — É tudo que digo após secar as lágrimas e entrar no banheiro. Tia Ju tinha razão. Um banho morno deixou o meu corpo molenga e agora a sonolência estava prestes a me afundar no mundo dos sonhos... isso, ou ela pôs algo no meu chá. Minutos depois, estávamos na varanda no mais completo silêncio tomando um café da manhã tardio, já que são quase onze do dia. O silêncio me fez pensar no estranho que virou a minha vida de cabeça para baixo e rio debochadamente de mim quando penso o quanto fui burra.
Logo na primeira vez, Ollie? Isso tudo é uma droga!
***
— Olívia, acorde querida! — A voz de tia Ju me embala e eu me forço a abrir uma brecha de olhos, encarando um céu alaranjado através das largas janelas de vidros transparentes. — Você precisa ir.
— O que?
— Seu pai me ligou e está vindo pra cá. — Atordoada, me sento no colchão e esfrego os olhos. — Minha amiga já está aqui e eu quero que vá com ela.
— Mas, agora? — Ela segura na minha mão e me guia para fora da cama.
— Não quero que se preocupe com dinheiro, está bem? Eu vou cuidar de tudo. Você vai ficar bem. Venha, quero que conheça alguém especial entre de ir. — Ela diz assim que chegamos ao topo da escadaria e eu fito duas mulheres no centro da enorme sala de visitas, e uma delas está segurando a minha bolsa. — Essa é a Lara, ela é a minha esposa. — Não consigo evitar a minha surpresa. Esposa? — Foi por causa dela que o seu pai me pôs para fora de casa.
— Eu não... sabia.
— É claro que não. Ele jamais assumiria que tem uma irmã lésbica. Aquele preconceituoso dos infernos abominaria o mundo se fosse preciso. Naquela cabeça doentia apenas ele é perfeito e a louca da sua mãe não ajuda muito.
— É um prazer conhecê-la, Olivia. A sua tia falou muito de você e de sua irmã ao longo desses anos.
— O prazer é meu, Lara! — digo, abraçando-a fortemente.
— E essa é a Anne, a amiga de que te falei mais cedo. Você vai ficar na casa dela até que o bebê nasça e após isso, faremos o que você quiser.
— Prazer, Anne!
Não demora para nós despedirmos e logo estamos na estrada. Ainda no começo da nossa viagem a noite cai e eu olho pela janela, mas não dá para ver nada lá fora, então os meus pensamentos voltam a me assombrar, mas dessa vez sem lágrimas. Preciso ser forte agora por nós dois. O meu filho precisa de mim e eu tenho que cuidar dele. O que me conforta é que temos onde ficar agora e com um tempo tudo vai se ajeitar.
— Eu vou te buscar, Kim. Posso demorar um pouco, mas eu vou te buscar.
— Na nossa cidade tem apenas um hospital. — Anne diz me tirando dos meus devaneios. — Mas não se preocupe, a minha mãe é uma parteira de mão cheia e ela sabe cuidar muito bem das grávidas.
Parteira? Céus, onde estou me metendo. — A Julian me disse que fez um curso de secretária.
— Eu fiz.
— Temos ótimas empresas por lá e quem sabe depois que o bebê nascer, você pode realizar o seu sonho?
— Isso seria perfeito, Anne!
— Conheço algumas pessoas que podem nos ajudar com isso, mas quero que saiba que tanto a Julian quanto eu queremos dar a você e ao seu bebê todo conforto que precisar. — Não comento sobre o que acabou de falar, pois a minha cabeça está girando o tempo todo. De certo que não mudarei os meus planos e com certeza não permitirei que mais ninguém dite os meus passos ou os meus pensamentos. Após o nascimento do meu bebê, darei sim um tempo para enfim, ir trabalhar. Nossos planos não mudaram, Kim, eles só foram adiados. Digo em pensamentos e volto a olhar para o lado de fora do veículo.
OlíviaUm ano e meio depois... — Bom dia meus amores, como vocês estão essa manhã? — A voz animada de Victória me faz abrir um sorriso e após encostar-me no espaldar da porta, levo a xícara de café fumegante a boca, a assistindo brincar com os meus filhos durante a troca das fraudas. Eu não podia imaginar que um encontro casual com um estranho fosse mudar a minha vida tão radicalmente assim. Em um ano muita coisa aconteceu na minha vida, porém, a melhor de todas foi trazer Liam e Levi para esse mundo. Contudo, o fato de não conseguir falar com a minha irmã ao longo desses meses está me inquietando muito.— Desse jeito você vai estragá-los — Decido alertar sobre a minha presença no quarto e adentro o cômodo que divido com os meus filhos.— Ora, o que eu posso fazer se eles são uns fofos, não é meus amores? — Ela ralha diretamente para eles me fazendo sorrir e me aproximo do berço, recebendo os sorrisos dos meus bebês.— Mamã. — Levi fala estendendo os seus bracinhos para mim e eu não
Athos— Senhor Mazza, aqui está a tradução do documento que pediu. — Barbara, minha assistente avisa assim que entra na minha sala. Contudo, faço um gesto para ela pedindo-a para esperar um pouco e continuo falando no telefone.— Senhor Eron, essa cláusula não existe no nosso contrato. Você não pode me cobrar, porque não tem esse direito.— Athos, eu exijo uma retratação imediatamente!— Eu não vou me retratar nada, porque o erro não foi meu!— Que droga, Athos!— Eron, faça o seguinte. Peça para o seu advogado lhe explicar detalhadamente essa situação. Eu não tenho tempo para ensinar um leigo idiota como você.— Ora, seu... não ouse...— Já chega, Eron! Se quiser fique à vontade para me processar, mas eu garanto que se fizer isso, posso tirar tudo de você, até mesmo as suas calças se assim desejar. Pense bem, Eron! — bufo irritado e encerro a ligação. E após soltar uma respiração audível fito a minha secretária que me olha um tanto apreensiva. No entanto, pego o papel que acabara de
Olívia — Bom dia, Senhor Mazza!Escuto Barbara dizer para o seu chefe assim que as portas do elevador se abrem. Curiosa, tiro os meus olhos de cima do arquivo e me viro. Quem sabe dessa vez consigo ver a face do meu futuro chefe? Devo dizer que o seu olhar rígido é realmente impactante. A barba cerrada que adorna seu maxilar quadrado faz um contraste exacerbado com o semblante extremamente fechado e as sobrancelhas grossas, e firmes indicam que ele não parece nem um pouco paciente essa manhã. Ou esse seria esse o seu normal? A final os funcionários que estavam trabalhando relaxadamente de repente transformaram-se em robôs e enfiaram as suas caras nas pilhas de papéis sobre suas mesas.— Bom dia! Barbara, pode me trazer um comprimido para dor de cabeça e um pouco de água? — A voz imponente que surgiu logo em seguida, misturou-se a uma voz dentro da minha cabeça....O que você acha de sairmos desse barulho?— Não é possível! — sibilo sentindo o meu coração frear bruscamente dentro do m
AthosAlgumas semanas...— Bom dia, Senhores e me desculpem pelo meu atraso. Eu tive um pequeno inconveniente.— Tudo bem, Mazza! Agora me diga que tem boas notícias para mim?— Ótimas, na verdade — falo com orgulho para Igor Caruso, meu cliente. — A causa já está ganha, então se prepare para receber as suas empresas de volta. Cada uma delas. — O homem abre um sorriso largo e vitorioso.— Eu sabia que você conseguiria!— Eu sempre consigo o que quero, Igor.— E eu nunca duvidei disso, meu advogado. Agora me diga, quando esse tormento se acabará de vez?— Nossa última audiência será em três dias. Depois, virão os tramites legais e você poderá assumir o seu lugar de direito na presidência das indústrias.— Você foi o meu melhor empreendimento, Senhor Mazza!— Só fiz o meu trabalho, Senhor Caruso.— E além de tudo, o homem é modesto. — Meu cliente comenta fazendo a minha pequena equipe rir.— Encerramos por hoje, certo?— Antes, gostaria de convidá-lo para comemorar a minha vitória em um
Olívia— Bom dia, querido Liam! Bom dia, meu pequeno Levi! — falo para os dois bebês sorridentes e sorrio também. — Dormiram bem, hã? A mamãe teve uma péssima noite, mas não fiquem preocupados, isso nunca vai abalar a minha alegria de vê-los assim todas as manhãs.— Mamã!— Sim, meu amor! Está na hora do banho e a tia Anne vai passar por aquela porta em... três, dois, um.— Onde estão os bebês mais lindos desse mundo?— Viram, a mamãe sabe de tudo.— Hora do banho seus fedorentinhos fofinhos e depois, nós vamos papa. A tia Victória já está fazendo uma comida deliciosa para vocês. — Logo eles se agitam com a alegria esfuziante da Anne e enquanto a ajudo, aprecio a animação dos garotos dentro da banheira cheia de água e espuma perfumada.— Prontinho. — Ela diz satisfeita depois de um tempo, fechando o último botão do macacão de Liam, enquanto eu termino de pentear os cabelos finos de Levi. Uma batida leve na porta nos faz olhar na mesma direção e Victória passa por ela. No entanto, espe
Olívia— O que vocês acham, terninho ou macacão? — pergunto para os meus filhos colocando as opções de vestuário na frente do meu corpo. Em resposta, recebo dois sorrisos com poucos dentes miúdos e sorrio. — Terninho então. Hoje é o segundo dia da mamãe na empresa. Até que não é tão ruim. O que acham, cabelos soltos ou presos? — Liam me responde fazendo um barulho engraçado com a boca, mas Levi me olha com curiosidade.— A mamãe está enchendo vocês outra vez? — Victória invade o nosso quarto e os meninos fazem a sua festa para recebê-la. — Na minha opinião você fica linda de cabelos soltos. — Ela pisca um olho para mim e tira os meninos de dentro do berço, saindo do cômodo em seguida.— Cabelos presos então — digo contrariando a sugestão da minha amiga e faço um coque severo atrás da minha cabeça. Dou uma breve olhada no espelho e gosto do que vejo. Minutos depois, jogo meu celular dentro da bolsa, minha carteira e um batom para sair do meu quarto. Com esse novo ritmo, resolvi acordar
Olívia— Acho que encontrei algo aqui, Senhor Mazza! — Marli, nossa advogada Sênior diz erguendo um papel, o balançando diante dos meus olhos. Confesso que estou desejando que esse tenha algo proveitoso. Já está bem tarde e estamos todos cansados. Ansioso, aproximo da moça e pego o papel da sua mão abrindo um sorriso vitorioso em seguida.— Yes! — Vibro e a minha funcionária sorri. — Estão todos dispensados e não se preocupem, no final do mês todos terão a merecida recompensa por essas horas desgastantes, mas foi você quem ganhou o prêmio, minha querida Marli. — Seu sorriso se amplia e eu beijo avidamente o papel. Não demora para os meus funcionários começarem a se dissipar da empresa e eu resolvo voltar para a minha sala. Preciso rever tudo que encontramos e formular uma defesa irrevogável. — Conseguimos! — digo sem tirar os meus olhos do documento e me acomodo em minha cadeira. — Vou pedir para o meu motorista levá-la em casa, Senhorita Martin — falo concentrando-me no documento. Co
OlíviaSuas mãos seguraram firmes em cada lado do meu rosto e antes que eu tivesse qualquer pensamento coerente a sua boca tomou posse da minha. A sua língua invadiu a minha boca e o seu gosto se espalhou pelo meu paladar. Por um instante sou absorvida pela intensidade desse homem e sequer tive o bom senso de lutar contra o seu ataque repentino, de afastá-lo de mim. Contudo, quando o beijo chegou a fim nos encaramos ofegantes. Eu, completamente aturdida e ele... com raiva? De que? De mim?— Você pode ir, Martin! — Seu tom seco e rude me deixou nublada. O que foi tudo isso? Por que ele está agindo como se eu fosse a culpada pelo que acabou de acontecer? — Vai, agora! — Athos ordenou ligando o motor do carro e puta da vida saí batendo a porta com força, e andei apressada para dentro de casa.— Sua idiota, imbecil! — rosno enfurecida para mim mesma, encostando-me na madeira atrás de mim e encaro o teto por alguns instantes. Meu corpo está fervendo de raiva, de ódio e impulsionada pela mi