Algo alertava a Eleanor que sua dor de cabeça iria piorar.
— Essa noite— disse Margot—, horas atrás. Alguém com o conhecimento dos nossos objetivos invadiu a casa de Viggo e matou sua esposa e sua filha. Um desgraçado mascarado que já sabia da nossa missão!
— Sinto muito, mas é impossível ter sido um de nós— argumentou Álibi.— Se eu saísse daqui e matasse a família dele, com certeza não voltaria para cá, querida.
— Filho da puta— ela agarrou as barras da cela dele e chutou.— Arrancarei sua língua. Podem não ter feito isso diretamente, mas podem ter contatado alguém de fora.
— Impossível, acha que nunca tentei enviar mensagens para fora daqui? Não tem como, nem mesmo se eu criar um clone de mosca, esses guardas.
Na sombra da árvore havia riqueza.Sublime, cresceu com enorme beleza.Mas a paz não existe na guerra,Logo, espírito alegre, o brilho se encerra.De duas rivalidades é a herdeira,Sina de viver ou morrer guerreira.***Nada mais que um dia para o envenenamento levá-la deste mundo. Depois de escapar de diversas formas, muitas das quais a faziam perder uma batida no peito ao lembrar, sua morte chegaria da forma menos digna possível. Não pensou bem antes de me desafiar, Christine, disse uma voz. Uma voz que ela estava habituada a ouvir. Todos os dias pela manhã a fazia ver uma tênue luz, tão pálida e distante... uma luz chamada esperança. Era uma voz que ela amava.Queria agora tê-la odiado desde o princípio, quando o pior ainda podia ser evitado. Uma guerra não eclodiria, inocentes não morreriam, seu coração não estaria em pedaços. O veneno esverdeado que escorria pela ferida na sua perna jamais haveria
O mundo era uma cordilheira branca sob seus pés. O céu parecida uma valiosa cúpula azul tão bela quanto intocável, tão distante quanto podia ser próxima. Margot não pôde evitar o sentimento de se sentir invencível. Seus ossos eram inquebráveis, eram as rochas e contrafortes que sustentavam a montanha. Seus músculos, resistentes, feitos das cordas que a auxiliaram em sua escalada. Seu sangue, incessante, era a água que seguia o fluxo do degelo até encontrar as terras de primavera a mais de sete quilômetros abaixo.Suas mãos e seus pés doíam como se pretendessem se partir, o frio angustiante impedia seu cansaço de se manifestar como deveria, seu pulmão quase ganhava um edema. Isso tudo parecia pouco, muitas das dificuldades eram irrelevantes agora, pois ela alcançara o topo da montanha mais alta conhecida. Isso fazia bem para sua mente, pois não pensara em desistir por um segundo durante todo o percurso.Sua mente podia ser sua maior aliada ou sua pri
O verde da floresta invadia seu peito, aromas de plantas e ervas estranhas que irritavam mais do que o esperado. Um espirro o fez desejar ter trazido alguns panos para o nariz, esquecera-se de última hora devido a pressa para sair e deixar de ouvir as reclamações da irmã. Pisava devagar sobre as folhas e afastava com cautela os arbustos que surgiam a frente. O silêncio reinava, importante em sua caçada. Sombras diáfanas do fim da tarde repousavam sobre onde ele pisava. As folhas das copas das árvores se moviam lentas, deixando crescer a preguiça do encerrar do dia.Damien era de família rica, amigada de famílias da corte, podia-se dizer próxima do próprio rei. Caçar não era necessidade, mas esporte. Quando não se fazia por seu bel-prazer, Damien caçava para arrebatar a curiosidade dos seus pais pelo gosto de animais silvestres.Sobre os ombros, sentia o peso de um arco de teixo e uma aljava com meia dúzia de flechas de cedro com penas negras de gans
— As luzes da noite são sempre mais belas no norte— disse o imperador.— São como rios que correm acima das montanhas, colorindo um mundo de escuridão e frio, criaturas das mais vis se escondem. Abre-se passagem para o ardor do meu peito, pois posso encontrar meus filhos. Queima minha solidão, sangra o meu coração. Derrama-se o amor, do jeito que um rio possa encontrar o outro. Ó, amados filhos, estou indo alimentá-los da minha própria boca.O imperador ajustou-se no seu trono de madeira velha e corroída por cupins, fazendo estalos soarem. Com o barulho, ele aproveitou para soltar um pum com o falho intuito de sair disfarçado. Alguns risos seguiram o ato solene.— Ó, marido— sua esposa veio e pegou suas mãos amarelas, os dedos repletos de anéis de brilhantes falsos.— A guerra só piora. Temos que comer minhocas para não morrer de fome, agora elas devem estar comendo seus miolos!
A brisa leve movia de forma lenta os seus cachos, mãos invisíveis a acariciá-los. Olhando o reflexo na água, via dois sóis; aquele que nascia todas as manhãs e seus cabelos, loiros como se banhados ao mais puro ouro. Círculos concêntricos nasciam de onde as folhas dos salgueiros caíam, logo apagados pelas ondas criadas pelo avançar do barco.Apoiada na amurada, Margot já podia sentir o odor de esgoto e fumaça de Quinärte, detritos apodrecidos atirados ao rio Bórni. Peixes mortos boiavam próximos às margens, espuma de sujeira os envolvia, branca tal como a neve que se cansara de ver na montanha.Suspirou ao pensar em chegar em casa e notar que os cheiros que mais amava não estariam mais presentes. Nunca mais estariam. Afastou os pensamentos ao desviar o olhar do rio, tinha que superar seu luto. Nada mais a prendia em lugar algum e essa podia ser uma boa perspectiva para ser capaz de seguir em frente, ir onde sempre desejara.Dainilia
As janelas tremulavam, o fogo da lareira era refletido de forma tênue no vidro que não experimentava o seu calor, apenas a gélida madrugada do lado de fora, onde o vento era soprado por inalcançáveis lábios frios. O crepitar da madeira respeitava o ritmo regido pelo vidro, um dueto de gelo e fogo ignorado por ouvidos humanos. Sandir Viella estava impaciente na sua cadeira, seu estômago revirava-se incomodado desde o jantar, a escrivaninha quase vazia recebia um tamborilar nervoso de dedos. Os golpes cadenciados pelo seu nervosismo foram interrompidos quando o tão aguardado bater na porta soou, sobressaltando-o. Ergueu-se e girou a maçaneta de prata para receber o seu convidado.— Por favor, entre— apertaram as mãos.— Vamos, sente-se aqui, detetive.— Não será necessário— respondeu de forma lacônica, dobrando as abas de um chapéu nas mãos calçadas de luvas de couro.— Desculpe a demora por tão curta pa
Ela escutava os passos e fingia dormir no catre duro de metal, o colchão de palhas pinicando, lembrando gotas de chuva fria de uma liberdade que não mais tinha: sua infância. Eleanor entrara para o circo aos seis anos, fora abandonada pelos pais e deixada à própria sorte como várias outras crianças. Porém o fato da sua situação ser comum não significa que era menos triste. Cerehrin a adotou, um colo inesperado, bondoso, um lugar quente para sua esperança. Ela era uma acrobata, ensinou o que Eleanor precisava para viver entre eles, O Circo Farlic Azul.— Responda— pediu a mulher uma manhã, após acordá-la antes do primeiro cantar dos pássaros.— De quem é o seu corpo?— O quê?— Questionou de volta, pois se distraíra observando as duas cortinas azuis presas em um suporte no alto, tão grandes que quase alcançavam o chão.— Fiz uma pergunta, perguntas não se respondem com outras, considere essa a primeira lição. Repetirei e você responder
Margot desceu do cavalo e abraçou a garotinha, os cabelos negros e lisos macios ao toque. O cheiro de óleos era maravilhoso, espalhava-se pelo vento enquanto ela se movia.— Você se foi sem se despedir— cobrou ela.— Perdoe-me, Suzana— Margot ajoelhou-se.— Talvez isso compense um pouco a minha falta de delicadeza.Estendeu o punho fechado e pôs um monte de doces nas mãos da garota, que mal pôde segurar entre os dedos, seu sorriso encantava na tarde que crescia.— Você sabe negociar— a garota piscou e riu.— Um pouco de doce e ela se esquece que não vê o pai há dias— lançou Viggo e pegou-a no colo.— Incrível. Por que você não me dá esse de caramelo?— Não tem nenhum de caramelo.— Estava falando do seu beijo.— Ah!— Suzana inclinou-se de forma desajeitada e beijou-lhe o rosto.— Não espere essa mesma recepção da minha parte— a esposa de Viggo apareceu à porta, encarando-o.— Você disse três dias no máxim