Na sombra da árvore havia riqueza.
Sublime, cresceu com enorme beleza.
Mas a paz não existe na guerra,
Logo, espírito alegre, o brilho se encerra.
De duas rivalidades é a herdeira,
Sina de viver ou morrer guerreira.
***
Nada mais que um dia para o envenenamento levá-la deste mundo. Depois de escapar de diversas formas, muitas das quais a faziam perder uma batida no peito ao lembrar, sua morte chegaria da forma menos digna possível. Não pensou bem antes de me desafiar, Christine, disse uma voz. Uma voz que ela estava habituada a ouvir. Todos os dias pela manhã a fazia ver uma tênue luz, tão pálida e distante... uma luz chamada esperança. Era uma voz que ela amava.
Queria agora tê-la odiado desde o princípio, quando o pior ainda podia ser evitado. Uma guerra não eclodiria, inocentes não morreriam, seu coração não estaria em pedaços. O veneno esverdeado que escorria pela ferida na sua perna jamais haveria penetrado seu sangue e se arrastado como vidro em suas veias, queimando-a, destruindo-a. Reduzindo-a aos poucos a mais um aperitivo para os corvos.
Malditas aves negras, prenúncio do que não é bom, planando pelo céu. Espiralando para mais perto do solo enquanto a batalha corria para o seu fim.
Um dia. Agonizaria por um dia até que o lençol da despedida a cobrisse e a levasse para os campos dos descansos, o campo dos guerreiros, pois ela morreria como uma. Considerariam os deuses ela merecedora com essa morte indigna? O veneno de uma serpente teria o mesmo valor que uma lança ou uma flecha no meio da batalha?
— Não...— ela respondeu a si mesma, sua voz soando rouca como uma espada a ser amolada de maneira insistente contra uma pedra.— Meu fim não será cantado, pois não será lembrado. Não serei enaltecida por amar o traidor de Ris-Einder. Minha entrada no Justo Descanso será negada... eu caí por uma maldita serpente...
Sentada nos seixos, Christine tossiu até seu corpo dolorido a fazer espasmar e perder o apoio da rocha às suas costas. Ela caiu em direção ao vau do rio a sua direita, mas usou as mãos antes da sua face encontrar as pedras no fundo da água rasa.
Matem todos, gritava um homem no campo de batalha a vários metros de distância, além da floresta em que ela entrou para assassinar o traidor Dieven. Uma perseguição terminada em uma armadilha do maldito. Como pude ser tola?, ela se perguntava. Não a encontrariam naquele vale até dois dias quando o desespero por encontrarem a general os forçasse. Estava próxima do Urzal dos Venenos, terras amaldiçoadas. Ah, os homens... não tinham medo da guerra, mas corriam das plantas.
O canglor de metal, zunir de flechas e tropel de guerreiros pareciam cada vez mais distantes dos seus sentidos e uma lágrima percorria seu rosto. Não desistam, façam isso por Ris-Einder!, mais um grito de guerra se destacou.
— Farei isso por Ris-Einder...
A lágrima caiu na água e formou círculos concêntricos. Na agitação das ondas, o seu reflexo ironicamente ficou mais claro. Não se lembrou de um dia sentir medo da própria imagem, mas o que era isso? Que os deuses a perdoassem, mas ela se viu como uma deusa leoa, um ser mítico inabalável.
Determinação brilhava em seus olhos escuros, seus cabelos loiros pareciam uma juba cacheada, libertos de qualquer laço assim como ela passou a se sentir livre das correntes do veneno que a queimavam. Sua pele bronzeada estava suada e refletia a luz do dia precedendo o ocaso. Sua mandíbula estava firme em sua seriedade e observação perplexa.
Ela não morreria perto do Urzal. Não sem lutar.
— Eu sou Christine Deingvar— disse ela, sua voz estava carregada de poder dessa vez.— General de Ris-Einder, Reino do Leste. Não me entregarei de novo. Nem por amor, nem por ódio.
O esforço que fez em seguida foi o mais doloroso da sua vida. Entre levantar-se e continuar de pé, ela venceu a própria morte. Ela matou vários demônios naquele simples ato, o enxofre do sangue deles a circulavam. Ou talvez fosse apenas o cheiro do veneno na ferida aberta e destacada da coxa, mas não importava.
Sua adrenalina a anestesiava, poderia fazer qualquer coisa. Mataria aquele homem em armadura prateada. Suas botas faziam ruídos nas pedras da margem do riacho, ele andava sem pressa, sem nem olhar para trás. Pegaria a trilha da floresta e voltaria ao campo de batalha. Qualquer que fosse o resultado da contenda, ele sobreviveria. Retornaria ao Império e prepararia um novo assalto, Ris-Einder não resistiria se Dieven saísse vivo... seria culpa de Christine.
Ela o mataria, a tamanha convicção em seu pensamento a fez sorrir. Mataria Dieven, mas seu coração partido estava fora dessa motivação. Faria isso em nome do seu povo, pois ele quem mais sofreu com a traição do Algoz Prateado.
— Dieven!— Bradou ela.
Façam isso por nosso povo, gritava a voz potente além do seu alcance. Dieven fez seus passos estacarem e o vento pareceu congelar para assistir ao que viria. O Algoz Prateado virou-se e sorriu, suas covinhas afundando sob a barba rala, fios acobreados reluzindo. Os olhos azuis como o céu do dia em que se conheceram. Seus cabelos bem cortados de soldado quase tinham aquele cheiro agradável, mesmo de longe, mesmo com o ar estagnado. Ela se concentrou para não trazer as boas lembranças à tona.
— General Deingvar— disse ele, a chamava assim enquanto faziam da cama um portal para o paraíso, com a mesma entonação de bom moço. Christine ignorou a provocação do assassino sádico enquanto ele prosseguia:— Sempre me pareceu um absurdo alguém ser capaz de ficar sobre as próprias pernas com Veneno Sertínico nas veias. Agora eu vejo você me surpreender. Eu deveria aplaudir?
Christine empunhou o cabo da espada e a desembainhou, o retinir de metal se prolongando no espaço entre eles.
— Considere retornar ao seu lugar no chão antes que as coisas fiquem piores sem necessidade— alertou Dieven.
A general gritou em fúria e investiu no ataque. Dieven invocou a cobra do nada e a criatura voou na direção de Christine com as presas esverdeadas à mostra, um bote bem sucedido e aquela boca escancarada seria uma última imagem dolorosa antes das suas almas engressarem em um misterioso caminho. A general se esquivou para a direita e, enquanto a serpente passava, cortou-lhe ao meio com um golpe na horizontal.
Sangue e veneno espirraram e caíram nas pedras, uma mistura grotesca de preto azeviche e verde musgo. A lâmina de Christine agora era tão mortal para si quanto para Dieven, poderia matar a si mesma em um deslize, com a facilidade que não teria para fazer o mesmo ao oponente. Mesmo com aquela coisa já no seu sangue, todo cuidado era pouco.
Ela golpeou uma segunda vez quando se aproximou do traidor, Dieven, em um segundo, muniu-se de sua espada e defendeu-se. Uma sequência de ataques da general se seguiu, cortes rápidos e em vários ângulos.
A explosão de energia de combate incendiou cada membro seu. A habilidade aprimorada através de treinos incansáveis ao longo dos anos para torná-la a guerreira que queria se mostrou sem inibição, sem o medo insistente do erro. A despeito disso, Dieven era um guerreiro formidável. Defendia-se no tempo certo, adivinhava os golpes mais inesperados, fazendo tudo parecer uma singela dança ensaiada. A suavidade dele era fantástica. Já foi um motivo pra admirá-lo, agora não mais.
Ambos se afastaram com a respiração pesada depois do que pareceu um século. Os ombros de Christine pesavam e suas pernas doíam, mas era bom. Suas mãos queimavam, mas ela queria mais. O cheiro de enxofre na lâmina ainda encoberta dos resquícios da peçonha fazia seus olhos arderem, porém não era um problema maior que o veneno que já estava no seu corpo, ela insistia em pensar, circulando com mais pressa graças ao seu coração acelerado.
— Somos um ótimo dueto— disse Dieven, com guarda relaxada.— Tê-la ao meu lado seria esplêndido. No entanto, nossa harmonia não sobrevive na paz. Somos criaturas opostas, entendemo-nos temporariamente por conveniência. Nós somos o tipo de beleza que não se enxerga pelos olhos alheios, teme-se, isso sim. Nossa harmonia existe no caos.
A general não respondeu ao seu discurso, então ele atacou. Foi a vez de Christine lutar na defensiva. Cada golpe do Algoz Prateado não tinha apenas o cuidado e a destreza dos comandantes do Império, como também o peso e a força de dez homens. A espada de duas mãos que ele empunhava era inteiramente sua, tão ameaçadora quanto o espadachim. Obediente até a última grama de aço, indiferente se a pegasse desprevinida. Era veloz como uma flecha, um terror em ventos cinzas.
Aliás, era esse o nome da espada. Kahirluot, o vento cinzento.
Cansada de recuar, Christine contra-atacou e esse foi seu erro. Esqueceu-se de aplicar maior resistência, então Dieven expulsou a sua arma para o lado com o impacto e pôs Kahirluot diante de um corte iminente. A espada do oponente teria atravessado seu peito se ela não tivesse se jogado ao chão na hora certa. O golpe mortal se tornou apenas um novo ferimento próximo a clavícula.
— Que descuido, minha amada— zombou Dieven.— Veja, quase a matei sem querer! Insista nisso novamente e o veneno vai matá-la mais rápido, pare de se mexer e sua morte talvez seja menos dolorosa.
Christine olhou as marcas da mordida da serpente sob o tecido rasgado da sua calça e deixou a cabeça abaixada, permitindo sua espada se deitar sobre os seixos com um estrépito.
— Perfeito— disse o Algoz Prateado e olhou para o céu, suspirou como se o cobiçasse.— Hoje não será o dia do Império, mas é apenas uma batalha. A guerra será longa, o imperador será próspero.
Mas a general começou a rir. Ele voltou o olhar para ela.
— Compartilhe a piada, qual é a graça?
— A graça— disse Christine Deingvar— é que somos seres opostos, a harmonia no caos, e apenas um de nós deveria permanecer.
— E?
— E a verdade é que... estamos ambos condenados. Você e eu, no mesmo destino, juntos.
Dieven sentiu uma umidade na lateral da sua panturrilha, havia um corte mínimo através do tecido quando olhou. A espada da sua adversária não estava mais no mesmo lugar, e sim deitada às costas dele, como se tivesse sido arremessada com precisão meticulosa. Seus olhos confusos encararam a general.
— O que você fez?— Demandou.
— O nome da minha espada é Kahirdeinaz, não se lembra? Você mesmo a nomeou, significa vento sereno, você dizia que era capaz de matar alguém sem que a vítima percebesse. Veremos então.
O olhar de Dieven se inflamou em furor.
— Eu a condeno.
Ele desceu Kahirluot na direção de Christine, mas ela chutou seu joelho e rolou para a direita no segundo em que a espada se cravou no chão. Christine ergueu-se e alcançou sua espada, virando-se para defender o golpe seguinte de Dieven que àquela altura recuperara o equilíbrio. Dieven recuou com a respiração pesada, o veneno começava a afetá-lo.
Era impossível saber se ele teria a mesma explosão de adrenalina que ela milagrosamente despertou, mas ele faria de tudo para matá-la antes que sua condição se tornasse crítica. O Algoz Prateado avançou e investiu com ainda mais empenho que antes. Faíscas voavam no contato de metal contra metal. Aos poucos, o fio da espada de Christine se danificava.
A fúria e a habilidade de Dieven seriam o fim dela. Christine não conseguiria segurá-lo por muito mais tempo, porém ela poderia fazer bom uso daquela raiva e pressa pela vitória.
Christine contra-atacou uma, duas vezes e correu em direção à floresta quando foi o instante favorável. Ela esmagou ervas daninhas e flores, o cheiro do bosque a pegou de surpresa: aroma de zimbro e morangos silvestres, pinheiros e jasmins distantes. Ela correu e atravessou dois carvalhos frondosos, a sombra proporcionada pelo dossel das árvores desapareceu. Estava numa grande clareira, onde ninguém ia. O tapete violeta do Urzal dos Venenos repousava numa angulosa declividade.
Dieven saiu do meio das árvores e a encarou enojado.
— Covarde— cuspiu ele.— Enfrente-me!
— Você é o covarde dessa história— retorquiu a general—, por tudo que fez.
— Por que resiste tanto? Como? Você deveria estar agonizando no chão!— O suor em sua testa e a careta em seu rosto sugeria que logo ele estaria na condição descrita.
— Os deuses conspiram para o que é certo, eles estão do meu lado. Então venha, toda harmonia tem seu fim.
Dieven atacou, Christine estava preparada como se cada fibra sua houvesse treinado para aquele momento. Ela fez uma finta e desviou no momento certo para a esquerda de Dieven, fazendo um corte fundo no tornozelo do traidor. Dieven virou-se para ela na beirada da ladeira, seu equilíbrio comprometido, sua voz muda de surpresa.
— Somos seres opostos, sim. Agora que me ergo, você cai.
Os braços de Dieven procuraram desesperadamente por algo para impedir seu destino, encontraram nada além do vazio. O Algoz Prateado caiu no instante em que as tropas do Império tocaram as cornetas de bater em retirada e os gritos de vitória de Ris-Einder ecoaram a distância.
Christine retornou a pé para os seus companheiros e desmaiou nos braços de alguém que confiava. O Veneno Sertínico não a matou aquele dia, nem no próximo. Ou qualquer outro que veio.
O mundo era uma cordilheira branca sob seus pés. O céu parecida uma valiosa cúpula azul tão bela quanto intocável, tão distante quanto podia ser próxima. Margot não pôde evitar o sentimento de se sentir invencível. Seus ossos eram inquebráveis, eram as rochas e contrafortes que sustentavam a montanha. Seus músculos, resistentes, feitos das cordas que a auxiliaram em sua escalada. Seu sangue, incessante, era a água que seguia o fluxo do degelo até encontrar as terras de primavera a mais de sete quilômetros abaixo.Suas mãos e seus pés doíam como se pretendessem se partir, o frio angustiante impedia seu cansaço de se manifestar como deveria, seu pulmão quase ganhava um edema. Isso tudo parecia pouco, muitas das dificuldades eram irrelevantes agora, pois ela alcançara o topo da montanha mais alta conhecida. Isso fazia bem para sua mente, pois não pensara em desistir por um segundo durante todo o percurso.Sua mente podia ser sua maior aliada ou sua pri
O verde da floresta invadia seu peito, aromas de plantas e ervas estranhas que irritavam mais do que o esperado. Um espirro o fez desejar ter trazido alguns panos para o nariz, esquecera-se de última hora devido a pressa para sair e deixar de ouvir as reclamações da irmã. Pisava devagar sobre as folhas e afastava com cautela os arbustos que surgiam a frente. O silêncio reinava, importante em sua caçada. Sombras diáfanas do fim da tarde repousavam sobre onde ele pisava. As folhas das copas das árvores se moviam lentas, deixando crescer a preguiça do encerrar do dia.Damien era de família rica, amigada de famílias da corte, podia-se dizer próxima do próprio rei. Caçar não era necessidade, mas esporte. Quando não se fazia por seu bel-prazer, Damien caçava para arrebatar a curiosidade dos seus pais pelo gosto de animais silvestres.Sobre os ombros, sentia o peso de um arco de teixo e uma aljava com meia dúzia de flechas de cedro com penas negras de gans
— As luzes da noite são sempre mais belas no norte— disse o imperador.— São como rios que correm acima das montanhas, colorindo um mundo de escuridão e frio, criaturas das mais vis se escondem. Abre-se passagem para o ardor do meu peito, pois posso encontrar meus filhos. Queima minha solidão, sangra o meu coração. Derrama-se o amor, do jeito que um rio possa encontrar o outro. Ó, amados filhos, estou indo alimentá-los da minha própria boca.O imperador ajustou-se no seu trono de madeira velha e corroída por cupins, fazendo estalos soarem. Com o barulho, ele aproveitou para soltar um pum com o falho intuito de sair disfarçado. Alguns risos seguiram o ato solene.— Ó, marido— sua esposa veio e pegou suas mãos amarelas, os dedos repletos de anéis de brilhantes falsos.— A guerra só piora. Temos que comer minhocas para não morrer de fome, agora elas devem estar comendo seus miolos!
A brisa leve movia de forma lenta os seus cachos, mãos invisíveis a acariciá-los. Olhando o reflexo na água, via dois sóis; aquele que nascia todas as manhãs e seus cabelos, loiros como se banhados ao mais puro ouro. Círculos concêntricos nasciam de onde as folhas dos salgueiros caíam, logo apagados pelas ondas criadas pelo avançar do barco.Apoiada na amurada, Margot já podia sentir o odor de esgoto e fumaça de Quinärte, detritos apodrecidos atirados ao rio Bórni. Peixes mortos boiavam próximos às margens, espuma de sujeira os envolvia, branca tal como a neve que se cansara de ver na montanha.Suspirou ao pensar em chegar em casa e notar que os cheiros que mais amava não estariam mais presentes. Nunca mais estariam. Afastou os pensamentos ao desviar o olhar do rio, tinha que superar seu luto. Nada mais a prendia em lugar algum e essa podia ser uma boa perspectiva para ser capaz de seguir em frente, ir onde sempre desejara.Dainilia
As janelas tremulavam, o fogo da lareira era refletido de forma tênue no vidro que não experimentava o seu calor, apenas a gélida madrugada do lado de fora, onde o vento era soprado por inalcançáveis lábios frios. O crepitar da madeira respeitava o ritmo regido pelo vidro, um dueto de gelo e fogo ignorado por ouvidos humanos. Sandir Viella estava impaciente na sua cadeira, seu estômago revirava-se incomodado desde o jantar, a escrivaninha quase vazia recebia um tamborilar nervoso de dedos. Os golpes cadenciados pelo seu nervosismo foram interrompidos quando o tão aguardado bater na porta soou, sobressaltando-o. Ergueu-se e girou a maçaneta de prata para receber o seu convidado.— Por favor, entre— apertaram as mãos.— Vamos, sente-se aqui, detetive.— Não será necessário— respondeu de forma lacônica, dobrando as abas de um chapéu nas mãos calçadas de luvas de couro.— Desculpe a demora por tão curta pa
Ela escutava os passos e fingia dormir no catre duro de metal, o colchão de palhas pinicando, lembrando gotas de chuva fria de uma liberdade que não mais tinha: sua infância. Eleanor entrara para o circo aos seis anos, fora abandonada pelos pais e deixada à própria sorte como várias outras crianças. Porém o fato da sua situação ser comum não significa que era menos triste. Cerehrin a adotou, um colo inesperado, bondoso, um lugar quente para sua esperança. Ela era uma acrobata, ensinou o que Eleanor precisava para viver entre eles, O Circo Farlic Azul.— Responda— pediu a mulher uma manhã, após acordá-la antes do primeiro cantar dos pássaros.— De quem é o seu corpo?— O quê?— Questionou de volta, pois se distraíra observando as duas cortinas azuis presas em um suporte no alto, tão grandes que quase alcançavam o chão.— Fiz uma pergunta, perguntas não se respondem com outras, considere essa a primeira lição. Repetirei e você responder
Margot desceu do cavalo e abraçou a garotinha, os cabelos negros e lisos macios ao toque. O cheiro de óleos era maravilhoso, espalhava-se pelo vento enquanto ela se movia.— Você se foi sem se despedir— cobrou ela.— Perdoe-me, Suzana— Margot ajoelhou-se.— Talvez isso compense um pouco a minha falta de delicadeza.Estendeu o punho fechado e pôs um monte de doces nas mãos da garota, que mal pôde segurar entre os dedos, seu sorriso encantava na tarde que crescia.— Você sabe negociar— a garota piscou e riu.— Um pouco de doce e ela se esquece que não vê o pai há dias— lançou Viggo e pegou-a no colo.— Incrível. Por que você não me dá esse de caramelo?— Não tem nenhum de caramelo.— Estava falando do seu beijo.— Ah!— Suzana inclinou-se de forma desajeitada e beijou-lhe o rosto.— Não espere essa mesma recepção da minha parte— a esposa de Viggo apareceu à porta, encarando-o.— Você disse três dias no máxim
Agnes despertou envolta em cobertores de seda, sobre travesseiros macios de penas de ganso e um colchão tão fofo que era como se o maior algodão do mundo tivesse brotado sob ela. Tamanho conforto destoava com o que sentia por dentro, se um dia um castelo ruísse e despencasse a sua frente, a mulher saberia que a devastação de mais cem como aqueles não se compararia às rachaduras que se abriam em seu peito. Tateou com a mão e não sentiu o pelo macio de Acerbel, o seu gato de estimação, muitas vezes a única criatura que parecia gostar da sua companhia.Chamou por ele cinco vezes antes de se levantar e procurá-lo pelo quarto. Olhou no seu banheiro, na varanda, no compartimento de roupas e não viu uma sombra do felino.Deixou o quarto com suas roupas de dormir e decidiu procurá-lo pelos outros cômodos. Passou pelo escritório de Sandir e encontrou o lugar inalterado, era onde sempre podia encontrar o marido lendo livros ou escrevendo cartas para suas amantes. Ela sabia dos cas