— Então você é a que chamam de Lábios Escarlate?— Perguntou, observando a mulher que apontava a espada com mãos trêmulas em sua direção, encarando-a como uma inimiga.— Estou impressionada. Não esperava que mexesse com magia. Foi assim que conseguiu escapar do Subsolo?
A expressão dela disse tudo.
— Acho que entendi, está descobrindo esse dom agora.
— Não é um dom.
— Se considera ou não, o fato é que agora ganhará uma cela em um nível mais profundo.
— O que significa?— Parecia ter dificuldade em continuar segurando a arma.
— Você verá— Margot apontou para o corpo de Héder.— Esse daí não era o mais querido por todos, então talvez ninguém a assassine, mas longos anos a esperam. Quer se render normal ou lutando? Caso p
Sandir estava no seu salão secreto de armas. O mesmo em que três pares de asas, suas maiores relíquias, foram levadas. O mesmo em que encontrara o corpo de Eudora mutilado. A marca do seu sangue ainda maculava o piso de lajotas de pedras. Ele formou um círculo com mais de cem velas e ficou no centro, recebendo a iluminação bruxuleante de cada uma delas. As únicas sombras que o circulavam, mesmo que quase inexistentes, eram as dele mesmo. Colocou armas no espaço que o distanciava das velas, um arsenal pronto para quando o demônio viesse, ele viria. Sabia que estava certo.— Matarei o desgraçado— dizia enquanto segurava uma besta, aquela que estava ao lado da sua filha quando a encontrou.— Será com a mesma flecha que não conseguiu disparar. Eu o...Libertou um grito de dor, lágrimas escorriam do seu rosto, mas a sua mente trazia de volta a lembrança do sangue
Sua cabeça girava, a visão embaçada não permitia ver onde estava e aonde ia, a dor de cabeça mal permitia abrir os olhos, mas ela conseguia ouvir e entender o que falavam.— Se esse corte descesse mais um pouco, significaria a morte dela— alguém a tocava no ombro, onde antes sentia uma dor absurda, agora sentia um leve formigamento.— Menos uma para salvarmos— uma segunda voz fez escárnio.— Que desperdício de talento nosso, curá-los para apodrecerem no Subsolo. Seria mais prudente se seguíssemos a linha do Império, pena de morte àqueles que nada valem.— Silêncio! Continue seu trabalho.Poderiam ter se passado horas ou segundos sem que sua consciência fragmentada percebesse, porém quando recuperou parte dos seus sentidos, escutou portões se abrindo e chaves se chocando de maneira irritante.— Olha, Donnie, é ela. Tentou arrancar o meu braço, a assassina.— Estou vendo, Rick. Pensei
— Um prazer revê-lo, Cian— disse Margot.— Agora entendo porque veio até mim aquela noite nos campos de treinamento, sabia que estávamos caçando você. Pretendia me matar?— Se eu pretendesse, teria conseguido— sorriu para ela.— Cretino convencido, adoraria eu tirar essa expressão presunçosa da sua cara. Pensei que tivesse sido sincero em tudo que disse, uma luz no presente... Por quanto tempo ensaiou aquele discurso mentiroso?— Não costumo sair à noite para contar mentiras, não sempre.— Namorados— disse Álibi.— A tensão tá tão grande que se déssemos tempo e espaço a eles, fariam como dois animais no cio.— Cala a boca— Ordenaram em uníssono, Margot foi até a cela de Bill:— Esse aqui é quem estou pensando?— Seu pai, querida? Sou, me tire daqui, estou com saudades da sua mãe.— Viggo, onde está as chaves?— ela perguntou, sem tirar os olhos do infeliz.— Vou matar es
Eles foram traídos. Era a forma mais simples de dizer. O reino de Naglyacxa era um dos primeiros no caminho do Império para conquistar terras que levassem ao acesso do mar navegável de Druk'malor. Era onde se concentrava a maior magia do continente, era onde vivia a maior sociedade unida dos da sua raça. Cian lembrava, as cidades eram belas e prósperas, não podia se esquecer da primeira vez que pôde voar de verdade. Ele odiava o vento por julgar que o iludia, dizia que a força invisível via sua vontade de se unir ao céu e o derrubava de cara no chão para se fartar de rir. No dia que usou suas pequenas asas com sucesso, todavia, aprendeu a amar o ar. Aprendeu a amar seu lar. Era perfeito, Cian era feliz. Uma sombra o cobriu, viu seu pai ao olhar para cima, sorrindo orgulhoso para ele. Um movimento rápido do seu lado roubou sua atenção, era sua mãe. O assistia com graça, porém mais preparada para pegá-lo se começasse a cair.Por que estava pensando nisso? Por que rele
Algo alertava a Eleanor que sua dor de cabeça iria piorar.— Essa noite— disse Margot—, horas atrás. Alguém com o conhecimento dos nossos objetivos invadiu a casa de Viggo e matou sua esposa e sua filha. Um desgraçado mascarado que já sabia da nossa missão!— Sinto muito, mas é impossível ter sido um de nós— argumentou Álibi.— Se eu saísse daqui e matasse a família dele, com certeza não voltaria para cá, querida.— Filho da puta— ela agarrou as barras da cela dele e chutou.— Arrancarei sua língua. Podem não ter feito isso diretamente, mas podem ter contatado alguém de fora.— Impossível, acha que nunca tentei enviar mensagens para fora daqui? Não tem como, nem mesmo se eu criar um clone de mosca, esses guardas.
Na sombra da árvore havia riqueza.Sublime, cresceu com enorme beleza.Mas a paz não existe na guerra,Logo, espírito alegre, o brilho se encerra.De duas rivalidades é a herdeira,Sina de viver ou morrer guerreira.***Nada mais que um dia para o envenenamento levá-la deste mundo. Depois de escapar de diversas formas, muitas das quais a faziam perder uma batida no peito ao lembrar, sua morte chegaria da forma menos digna possível. Não pensou bem antes de me desafiar, Christine, disse uma voz. Uma voz que ela estava habituada a ouvir. Todos os dias pela manhã a fazia ver uma tênue luz, tão pálida e distante... uma luz chamada esperança. Era uma voz que ela amava.Queria agora tê-la odiado desde o princípio, quando o pior ainda podia ser evitado. Uma guerra não eclodiria, inocentes não morreriam, seu coração não estaria em pedaços. O veneno esverdeado que escorria pela ferida na sua perna jamais haveria
O mundo era uma cordilheira branca sob seus pés. O céu parecida uma valiosa cúpula azul tão bela quanto intocável, tão distante quanto podia ser próxima. Margot não pôde evitar o sentimento de se sentir invencível. Seus ossos eram inquebráveis, eram as rochas e contrafortes que sustentavam a montanha. Seus músculos, resistentes, feitos das cordas que a auxiliaram em sua escalada. Seu sangue, incessante, era a água que seguia o fluxo do degelo até encontrar as terras de primavera a mais de sete quilômetros abaixo.Suas mãos e seus pés doíam como se pretendessem se partir, o frio angustiante impedia seu cansaço de se manifestar como deveria, seu pulmão quase ganhava um edema. Isso tudo parecia pouco, muitas das dificuldades eram irrelevantes agora, pois ela alcançara o topo da montanha mais alta conhecida. Isso fazia bem para sua mente, pois não pensara em desistir por um segundo durante todo o percurso.Sua mente podia ser sua maior aliada ou sua pri
O verde da floresta invadia seu peito, aromas de plantas e ervas estranhas que irritavam mais do que o esperado. Um espirro o fez desejar ter trazido alguns panos para o nariz, esquecera-se de última hora devido a pressa para sair e deixar de ouvir as reclamações da irmã. Pisava devagar sobre as folhas e afastava com cautela os arbustos que surgiam a frente. O silêncio reinava, importante em sua caçada. Sombras diáfanas do fim da tarde repousavam sobre onde ele pisava. As folhas das copas das árvores se moviam lentas, deixando crescer a preguiça do encerrar do dia.Damien era de família rica, amigada de famílias da corte, podia-se dizer próxima do próprio rei. Caçar não era necessidade, mas esporte. Quando não se fazia por seu bel-prazer, Damien caçava para arrebatar a curiosidade dos seus pais pelo gosto de animais silvestres.Sobre os ombros, sentia o peso de um arco de teixo e uma aljava com meia dúzia de flechas de cedro com penas negras de gans