No dia seguinte, Aria selou Ganis, pegou sua espada, arco e aljava com flechas e as amarrou à sela. Águia não estava lá, talvez tivesse saído para esticar um pouco as asas, pensou Aria. Já era quase uma hora quando tirou Ganis do celeiro. Vendo que Aria estava para sair, tia Célia foi até ela.
– Aria, onde está indo? – tia Célia perguntou.
– Estou indo a Thoronbar – respondeu Aria. – A senhora vai precisar de mim hoje?
– Não, não – disse tia Célia. – Pode ir, não vou precisar de ajuda hoje. Divirta-se!
– Até mais tarde! – disse Aria e saiu.
Montou em Ganis e foi até a cidade. Tumen já a aguardava na fonte. O rapaz fitava a inscrição com olhos tristes. Aria aproximou-se dele, observando-o.
– Você sempre chega cedo ou estou atrasada? – pergunta Aria.
Tumen se virou na direção de Aria, a expressão de seu rosto mudando rapidamente, sorrindo ao olhá-la.
– Não – respondeu Tumen –, você chegou na hora certa.
– Se estiver pronto já podemos ir – disse Aria.
– Estou pronto – Tumen montou em seu cavalo, um belo e forte corcel de pelo negro. – Vamos indo.
Os movimentos do rapaz eram de alguém que já cavalgava há anos, de alguém que havia sido treinado para cavalgar com graciosidade. “Ele é um cavaleiro afinal, é claro que ele sabe montar muito bem”, pensou Aria.
– Siga-me – disse a garota.
Aria foi à frente guiando Tumen. Quando saíram da cidade e entraram na floresta, Tumen alcançou Aria e começaram a cavalgar lado a lado. A garota olhou o cavalo negro.
– Qual é o nome do seu cavalo?
– O nome dele é Rohalak – disse Tumen. – E o seu?
– É Ganis – responde Aria.
– Onde estamos indo? – perguntou Tumen.
– Estamos indo para Thoronbar. – disse Aria – Tenho certeza que você vai gostar.
– O que é Thoronbar?
– Thoronbar é a morada das águias – explicou Aria. – Poucas pessoas em Armendor conhecem esse lugar. É difícil chegar até lá. Muitos se perdem no caminho. Outros já chegaram até aqui, mas quando tentam voltar não se lembram mais do caminho.
– Mas você sabe o caminho, não é? – perguntou Tumen desconfiado. – Quero dizer, nós não estamos perdidos?
– Não se preocupe – Aria tentou acalmá-lo. – Eu conheço esse lugar melhor que qualquer um. E já estamos chegando.
Tumen de vez em quando olhava Aria pelo canto do olho. Ele estava encantado com ela e não deixava escapar nenhum detalhe. A pele bronzeada, o cabelo ondulado e castanho, quase preto, os olhos castanho-claros, as mãos que embora calejadas, eram pequenas e delicadas e armavam o arco com perfeição, a estatura mediana e a boca rosada com desenho perfeito. Sem dúvida uma menina linda.
Aria olhou para ele de repente e Tumen desviou o olhar.
– O que foi? – ela perguntou.
– Na-nada – ele respondeu. – Eu estava reparando na espada que você trouxe.
Aria olhou para sua espada que estava presa à sela.
– É uma espada muito bonita – ele continuou a falar já que Aria não disse nada. – Cheia de detalhes, nunca vi uma como essa. O botão da espada é bem diferente. O que é?
– Uma águia – respondeu Aria.
Continuaram cavalgando por mais alguns minutos até que Aria fez Ganis parar.
– Chegamos! Venha ver Tumen, que lugar maravilhoso!
Aria contornou um arvoredo e entrou em uma clareira, que se estendia por centenas de metros. No chão, um tapete de flores do campo de várias cores. Mas no céu estava o que mais chamava a atenção. Dezenas de águias voavam em círculo. Uma coisa rara de se ver. Aria olhou para Tumen. Ele olhava boquiaberto para o céu, então, se virou para Aria.
– É realmente uma maravilha! Nunca tinha visto tantas águias voando juntas em um só lugar. Isso é incrível.
– Elas se acasalam e constroem os ninhos aqui. Elas se sentem seguras, sabem que ninguém virá perturbá-las.
A garota desmontou de Ganis e o levou até um gramado para o cavalo descansar. Tumen fez o mesmo com seu corcel. Aria foi até um grande cedro, sentou-se no chão e encostou-se à árvore, Tumen sentou-se ao lado dela. Na mesma hora, uma águia chegou à clareira, pousou entre os dois e Aria começou a acariciar suas penas. Tumen se assustou com o ato tão natural da garota.
– Como você fez isso? A águia pousou ao seu lado sem nem ser chamada, e não levantou voo quando você a tocou!
Aria riu da reação do rapaz.
– Lembra-se quando você me perguntou sobre o botão de minha espada – disse Aria ainda rindo. – Bom, é isso que significa. Águia é o nome dela, pode parecer estranho, mas ela só responde a esse nome.
– Mas como você conseguiu domesticá-la? – perguntou Tumen indo sentar-se ao lado de Aria.
– Ela não é domesticada – respondeu Aria. – Ela vem a mim sem ser chamada, me entende melhor que qualquer outra pessoa. Sabe quando estou triste, quando estou feliz. Ela é incrível.
– Onde você a encontrou? – pergunta Tumen.
– Essa é uma boa história para contar – disse Aria. – Eu descobri Thoronbar por acaso quando era criança. Naquele dia, debaixo dessa mesma árvore, encontrei um ninho derrubado. Encolhida sob o ninho havia uma águia morta. Tinha muitas feridas pelo corpo, as asas estavam quebradas. Percebi um gorjeio vindo debaixo de umas das asas, quando olhei melhor tinha um filhote escondido sob a asa. Estava muito fraco, não iria sobreviver sozinho.
Aria parou para respirar e continuou.
– Então levei o filhote para casa. Desde aquele dia eu cuido de Águia. Ela aprendeu tudo o que sabe sozinha, talvez por instinto.
– Posso tocá-la? – pergunta Tumen apontando para Águia.
– Você pode tentar – disse Aria –, mas não garanto que vai conseguir. Ela nunca deixou alguém chegar perto. Venha, tente, não tenha medo, ela não vai lhe fazer mal.
Tumen se aproximou de Águia e estendeu a mão. A ave virou-se para ele com curiosidade. Então Tumen tocou a cabeça dela e alisou as penas. Águia nem se mexeu, estava gostando do carinho.
– Ela gostou de você! – exclamou Aria impressionada.
– Surpresa? – perguntou Tumen rindo.
– Sim – assentiu Aria retribuindo o sorriso. – É a primeira vez que Águia deixa alguém além de mim tocá-la.
Passaram o resto da tarde em Thoronbar conversando, caminhando e vendo as águias dando voos rasantes procurando suas presas, construindo seus ninhos nos galhos das árvores. O sol estava quase se pondo quando Aria se levantou.
– Preciso voltar para casa! Daqui a pouco vai escurecer! – disse Aria.
– Também preciso ir – disse Tumen.
Tomaram o caminho de volta à Cidade das Árvores, Aria guiando pela trilha confusa e cheia de ramificações de Taurdin. Quando chegaram à orla da floresta Aria parou.
– Vou deixá-lo aqui – ela se virou para Tumen. – A partir daqui você conhece o caminho.
Tumen assentiu.
– Espero que tenha gostado de conhecer Thoronbar.
– Gostei muito, é um lugar muito bonito.
Aria sorriu em concordância.
– Podemos nos ver amanhã outra vez? – perguntou Tumen.
– Vou à Thoronbar novamente amanhã – disse Aria. – Se quiser ir, vou esperá-lo aqui no mesmo horário para irmos juntos. Taurdin é perigosa para quem se perde.
– Tudo bem – disse Tumen. – Encontro você aqui amanhã. Até mais, Aria.
– Até mais, Tumen – disse Aria.
Viraram-se e seguiram cada um para casa.
No horário combinado Aria foi até o local de encontro. Novamente Tumen já a aguardava lá, sorridente. Ela acenou pra ele. – Boa tarde – ele cumprimentou. – Podemos ir? – perguntou Aria. – Claro. Embrenharam-se na floresta e seguiram para Thoronbar. Tumen queria conversar, mas estava sem jeito de iniciar a conversa, não sabia o que dizer. Aria também não falou nada até chegarem à clareira. Ao desmontar de Ganis e amarrá-lo a uma árvore, Águia recebeu Aria em Thoronbar, voando ao redor dela. – Ainda estou impressionado com sua
O sino tilintava amarrado ao cinto de Tumen. Logo à frente, um sino semelhante ao dele também retinia preso ao alforje de Aria. Naquela tarde a garota os levava por um caminho diferente. Cavalgavam por uma parte da floresta que era bem próxima à Cidade das Árvores. – Hoje vou levá-lo a um lugar bastante conhecido – comentou Aria. – Podemos ter a sorte de o lugar estar vazio, pois caso encontremos alguém, teremos que voltar. – Por quê? – perguntou Tumen, curioso. – O lugar tem dono – foi tudo o que Aria disse. – Já estamos chegando. Eles entraram num local que parecia ser uma fazenda. Árvores frutíferas diversas haviam sido
Aria se sentou, apreensiva com o que seu tio tinha para lhe falar. Anne que preparava o jantar tentava não olhar nos olhos de Aria. Tia Célia estava com o rosto preocupado, mas tio Palomir tinha a expressão séria. “Será que ele descobriu que estou passando minhas tardes com um homem desconhecido? Ou será que contaram a ele que furtei o pomar real?” – Tio... – começou Aria, mas foi interrompida. – Aria, quero lhe dizer algo – disse tio Palomir. – Tio Palomir, eu juro que eu não farei de novo – tentou explicar Aria. Tio Palomir riu. “Como ele pode estar rindo se o assunto parece ser tão sério”, pensou Aria. &n
Aria acordou cedo. Vestiu-se, tomou seu desjejum e foi procurar tia Célia. Ela estava no celeiro olhando para um grande porco que não estava ali na noite passada. – Tia, onde conseguiu esse porco? – perguntou Aria. – E o que vai fazer com ele? – É para a festa do casamento de Anne – respondeu tia Célia. – Seu tio o comprou no mercado. Era o maior que havia lá. – A festa vai ser aqui? – perguntou Aria. – Não. Na casa de Julian – disse tia Célia. – Lá é maior, vamos levar tudo para lá hoje. Vou esperar seu tio chegar para matar o porco e depois nós vamos prepará-lo. &nb
Como havia prometido em seu último encontro, Aria foi para Thoronbar. A garota brincava com Águia quando ouviu um relincho perto da entrada da campina. Ao se virar deparou com Tumen que acenava sorridente para ela. Aria correu em direção a ele. Sentiu uma imensa vontade de abraçá-lo, mas achou que seria inadequada essa atitude, então apenas o tocou de leve no ombro. – Que bom vê-lo! – disse Aria, sorrindo. – Bom ver você também – disse Tumen. – Conte-me o que fez durante esses três dias – disse Aria, indo se sentar na grama. – Não fiz muita coisa – Tumen sentou-se ao lado dela. – Ajudei meu tio a resolver alguns problemas
Tumen já aguardava Aria na cachoeira, no horário de sempre. Quando ela chegou, o rapaz deu um abraço tão forte em Aria que os pés dela saíram do chão. Ele a beijou ternamente e a puxou até uma área sombreada sob as árvores. – Como está o corte? – perguntou Aria, passando a mão onde ela havia cortado – Está melhor? – Logo vai cicatrizar – disse Tumen. – Além de ter uma boa pontaria, também é boa na esgrima. Aria riu. – Luto bem – disse Aria. – Mas prometo que não vou lhe cortar nunca mais. – Não quer mais duelar comigo? – perguntou Tumen. &nb
Aria acordou animada e com disposição. Caçou coelhos na floresta e os levou para casa. À tarde, preparou tudo rapidamente e foi para a oficina. Só então se lembrou que não falara a Tumen onde estaria. Mas ele saberia onde encontrá-la. Estava guardando as ferramentas quando escutou alguém chegando a cavalo. Saiu para ver quem era e já abriu um enorme sorriso de felicidade e alívio. Tumen desmontou e correu para abraçá-la. Enquanto se abraçavam Aria sentiu que o aperto em seu coração havia desaparecido. Tumen estava bem, sem nenhum arranhão, Aria havia se preocupado à toa. – Que bom vê-lo! – sussurrou Aria no ouvido de Tumen. – Senti sua falta! – sussurrou Tumen de volta.
Aria não dormira bem, estava cansada, seu corpo todo doía. Ela trocou de roupa e foi tomar o desjejum. Tia Célia já estava acordada e tio Palomir já fora para o trabalho. – Você está bem, Aria? – perguntou tia Célia quando a garota entrou na cozinha. – Não – respondeu Aria, puxando uma cadeira para se sentar. – Não dormi muito bem. – Sim, dá para ver – disse tia Célia. Ela colocou um pedaço de pão e um copo de leite na frente da garota. Aria estava com fome, não almoçara nem jantara no dia anterior, rapidamente devorou o pão e já estava querendo mais. Estava nervosa também. Não queria ver Tumen, mas precisava vê-lo. <