Íris estava exausta quando seu turno chegou ao fim. Aquele dia foi definitivamente corrido e cheio de contratempos e seria muita sorte se conseguisse chegar a tempo para o jantar em família que seus pais faziam questão de manter todos os finais de semana — era uma tradição sagrada. Temendo chegar mais atrasada do que o habitual, ela dirigiu-se apressadamente para o estacionamento. Seu pai provavelmente ficaria chateado com a demora dela, mas o atraso de Íris era perfeitamente justificável: ela era médica e uma emergência de última hora a prendeu por mais tempo no hospital.Como médica, ela sabia que sua vocação exigia sacrifícios, porém isso era o de menos frente a sua grande paixão. A medicina sempre foi o maior dos sonhos dela, e para conseguir realizá-lo, ela teve que abrir mão de muita coisa: inclusive de si própria. Íris aprendeu na prática que sua carreira requer muita dedicação e muita renúncia, porém ela não se arrependeu das escolhas que fez. Aos vinte e cinco anos, ela já
A grosseria de seu pai não tinha limite quanto tratava-se dela e para evitar mais aborrecimentos, ela engoliu sua indignação entre uma taça de vinho e outra.Ainda revoltada com o modo resoluto que ele a interpelou, ela o observou discretamente. Konstantinos era um homem atraente, apesar de seus sessenta anos. De cabelos grisalhos e olhos escuros, ele emanava uma vitalidade surpreendente e nem mesmo o acidente que sofrera anos atrás tirou-lhe o vigor: pai, avó e marido dedicado, somavam as características que distinguiam-no de tantos outros. Ele era o tipo de pai que fazia de tudo pelo bom nome da família. Mesmo diante de tanto vigor, uma parte dele fora perdida no dia do acidente, e ele passou de um homem alegre e amável para um senhor mal-humorado e ranzinza. Lembra-se daquele acidente acionava memórias dolorosas de um dia de horror, onde ambos, quase perderam a vida. Nostálgica, ela decidiu afogar as lembranças assombrosas no vinho tinto que bebericava.Para Íris aquele jantar p
Íris acordou pela manhã com o som insistente do despertador buzinando em seus ouvidos. Embora quisesse aproveitar um pouco mais do calor de seu cobertor, ela não podia, pois tinha suas responsabilidades como médica. Mais que depressa, pulou da cama e correu para o banheiro. Ao sair do banho pegou a primeira roupa que viu pela frente e vestiu-se. Seu traje era simples: uma camisa branca de algodão e calça pantalona de alfaiataria. Como ainda tinha alguns minutos a seu favor, maquiou-se rapidamente e desceu apressada para o café da manhã. Assim que chegou ao terraço o encontrou vazio, e pelo silêncio da casa, ela tinha quase certeza de que todos ainda estavam na cama. Íris fez a refeição sozinha e quando preparava-se para sair, seus pais apareceram de supetão. Sua mãe a cumprimentou sonolenta, enquanto acomodava-se ao lado de seu esposo. — Bom dia! — Respondeu sorrindo para sua mãe ainda aturdida e acrescentou. — Desejo um ótimo desjejum para os dois. Konstantinos, no entanto,
Alexandro saiu do hospital pensativo. O encontro com a bela Dra. Íris mexeu demasiadamente com suas emoções e isso o estava incomodando. Depois de Ágata, nunca sentira uma atração tão forte por alguém como a que estava sentindo naquele momento pela senhorita antipatia. Em seu íntimo ele sentia-se culpado por está pensando em outra mulher já que sua viuvez ainda era muito recente. Por outro lado, o relacionamento dele com Ágata nunca foi dos melhores, e depois do nascimento de Damon — o primeiro filho deles — o casamento foi de mal a pior e o que já era morno, esfriou de vez. Zoe — segundo sua esposa —, foi um acidente de percurso e depois desse dia, ela afastou-se definitivamente dele. Ágata não queria nenhum tipo de contado físico, nem com ele nem com Zoe. Para os que os conheciam; eles pareciam ser o casal mais perfeito e harmonioso do mundo, porém por trás das cortinas, a história era bem diferente: eles viviam como se fossem dois estranhos: ela tentando adaptar-se com a presenç
O cansaço de um dia longo de trabalho e a insônia da noite anterior estava refletindo diretamente em Íris e ela chegou em casa no final de seu expediente, aos cacos.Saber que ainda teria que enfrentar um jantar longo pela frente só aumentava a indisposição dela, contudo não teria como fugir dele: o segundo ato do espetáculo “Leandro” iria dar continuidade a uma nova onda de desconfiança e decepção, e como membro da família, ela não tinha como ficar de fora dessa cena.Disposta ou não, Íris arrumou-se com capricho: suas irmãs e suas cunhadas eram muito elegantes e ela teria que se apresentar à altura, embora a ocasião não fosse favorável.Jogando seu desânimo no fundo de um baú, ela desceu um lance de escadas e em pouco tempo se encontrava no hall. O olhar analítico de Catarina e Thais — esposa de Nikos —, sobre ela era sinal que Íris tinha sido feliz na escolha do traje. Catarina, diante da elegância da gêmea caçula, esboçou um sorriso forçado e a elogiou a contragosto. — Finalment
Mesmo diante do acontecido da noite anterior, Íris não poderia ter tido uma noite de sono tão agradável, como a que teve. Ela acordou bem-disposta e determinada, e nada ou ninguém ia estragar o seu dia: isso se ela fosse mais rápida que seu pai e saísse antes que ele a visse.Como nenhum dinheiro do mundo era capaz de comprar a paz de espírito dela; Íris se apressou e correu para tomar banho. Depois da ducha relaxante, ela arrumou-se apressada, saiu sorrateiramente da mansão e pegou a estrada que a levaria para o hospital: seu desjejum, ela deixaria para fazer em uma confeitaria próxima ao Hospital Santo André.A passagem dela pela confeitaria não demorou muito e isso deu a ela, alguns minutos a seu favor: ela pretendia, então, usar o tempo livre que ainda lhe restava para sondar Nikos a respeito do que ficou decidido na reunião de família. Assim que entrou no hospital se dirigiu a recepção e perguntou ansiosa.— O doutor Nikos já chegou?— Sim, e está bem atrás de você. — Nikos resp
Passaram-se uma semana e nada de Alexandro esquecer o encontro que tivera com Íris Varvakis. Desde a primeira vez que a vira, não conseguia tirá-la do pensamento: ela povoava sua mente dia e noite. Os sonhos que perdia ao dormir, agora eram nítidos à imagem curvilínea dela. Em alguns momentos, ele se sentia um tonto por permitir que seus pensamentos fossem ludibriados por sua falta de senso; somente mesmo um desavisado como ele para acreditar que algum dia ela o olharia diferente. Íris era a filha do dono do estaleiro, e ele, um simples engenheiro naval. Eles viviam em mundos diferentes, e era mais fácil ele conseguir pegar o sol com as mãos, do que fazer com que ela o olhasse: Íris era inalcançável para ele.Perdido em meio a tantos desatinos negativos, ele não percebeu a aproximação de Irini Petrakis, secretária de Dionísio Andreas. — Sr. Lykaios, o senhor Andreas o espera na sala de reuniões. — A secretária o avisou e observou em tom de reprimenda. — Estou há horas ligand
Revolta não era exatamente a palavra certa para definir o estado atual de Alexandro ao deixar a sala de reuniões; ele estava possesso de raiva. Seus filhos não eram brinquedos para serem jogados em um tabuleiro de xadrez e conduzidos de forma desumana à boa vontade de um velho medíocre com desejos de ser vovô. Konstantinos não tinha tino para conduzir nada além da empresa. Mesmo sabendo que relutar contra os desatinos daquele homem poderoso, seria perda de tempo, Alexandro não estava disposto a se deixar ludibriar e nem se curvar aos desmandos dele. Ele não iria permitir que aquela raposa velha lhe passasse a perna, e na hora certa, Konstantinos Varvakis teria uma grande e desagradável surpresa.Deixar a sala de reuniões para trás foi fácil, o difícil mesmo seria conseguir dar continuidade ao trabalho com aquele peso imenso nas costas. Ele não era o tipo de homem que levava problema para o trabalho, no entanto, o grande contraste era que o problema que estava enfrentando estava intri