Passaram-se uma semana e nada de Alexandro esquecer o encontro que tivera com Íris Varvakis. Desde a primeira vez que a vira, não conseguia tirá-la do pensamento: ela povoava sua mente dia e noite. Os sonhos que perdia ao dormir, agora eram nítidos à imagem curvilínea dela. Em alguns momentos, ele se sentia um tonto por permitir que seus pensamentos fossem ludibriados por sua falta de senso; somente mesmo um desavisado como ele para acreditar que algum dia ela o olharia diferente. Íris era a filha do dono do estaleiro, e ele, um simples engenheiro naval. Eles viviam em mundos diferentes, e era mais fácil ele conseguir pegar o sol com as mãos, do que fazer com que ela o olhasse: Íris era inalcançável para ele.Perdido em meio a tantos desatinos negativos, ele não percebeu a aproximação de Irini Petrakis, secretária de Dionísio Andreas. — Sr. Lykaios, o senhor Andreas o espera na sala de reuniões. — A secretária o avisou e observou em tom de reprimenda. — Estou há horas ligand
Revolta não era exatamente a palavra certa para definir o estado atual de Alexandro ao deixar a sala de reuniões; ele estava possesso de raiva. Seus filhos não eram brinquedos para serem jogados em um tabuleiro de xadrez e conduzidos de forma desumana à boa vontade de um velho medíocre com desejos de ser vovô. Konstantinos não tinha tino para conduzir nada além da empresa. Mesmo sabendo que relutar contra os desatinos daquele homem poderoso, seria perda de tempo, Alexandro não estava disposto a se deixar ludibriar e nem se curvar aos desmandos dele. Ele não iria permitir que aquela raposa velha lhe passasse a perna, e na hora certa, Konstantinos Varvakis teria uma grande e desagradável surpresa.Deixar a sala de reuniões para trás foi fácil, o difícil mesmo seria conseguir dar continuidade ao trabalho com aquele peso imenso nas costas. Ele não era o tipo de homem que levava problema para o trabalho, no entanto, o grande contraste era que o problema que estava enfrentando estava intri
— O quê? Casar?! — Íris gritou desnorteada. — O senhor não pode está falando sério!O choque diante das palavras de seu pai era visível no rosto tenso dela, e um leve tremor era perceptível na sua voz ao se contrapor a proposta de Konstantinos. De todas as possíveis insanidades de seu pai, aquela com certeza não fazia parte delas. Seu pai não poderia estar levando o contrato de Michaels a sério. Ela jamais se submeteria a um casamento forçado só para reparar um erro que nunca fora dela.A expressão de incredulidade de Íris era uma forte evidência que ela ainda não tinha-se dado conta que o casamento, no momento, ainda era a melhor solução para os problemas de sua família. Diante dessa quase relutância em aceitar os fatos, Konstantinos disse resoluto. — Não estou falando nenhum disparate. Você sabe tão bem quanto eu, que aqui na Grécia, muitos casamentos ainda são arranjados.— Não na nossa família. — O lembrou consternada. Refeita do impacto inicial das palavras de seu pai, disse cau
A resistência de Íris não era nenhuma novidade para Michaelis. Era óbvio que a irmã não ia facilitar para eles, e isso o abrigaria a usar uma abordagem mais dura com ela, que, consequentemente, a machucaria e poderia até se tornar letal, caso ela não estivesse equilibrada emocionalmente. Era chegada a hora do tudo ou nada. Assim como Íris; Michaelis não se dava por vencido tão facilmente, e naquele momento, dobrar Íris para ele era questão de honra.Já saturado da teimosa dela, disse sarcástico.— Ora, ora! A mocinha só vai se casar por amor! — Depois de um breve riso debochado, vociferou. — Não seja ridícula. O que é que você sabe de amor? ... Nada! Desde a tua adolescência, até agora, posso contar os teus namorados a dedo; se tivestes três foi muito. As chances de você vir a escolher e casar-se por amor, são mínimas. — Acrescentou atiçando a fúria dela.— Você é muito cruel. — Disse entredentes, enquanto lutava para controlar a mão que queria alcançar o rosto de Michaelis com um ta
Mesmo consciente de que deveria ser forte para enfrentar os vendavais e remar contra a maré, Íris sentiu-se fraquejar frente as expectativas da família que esperava o consentimento dela para participar daquele jogo desumano — vidas seriam mudadas, principalmente a de seus sobrinhos, que não tinham a menor culpa disso.Amargurada, deixou o escritório de seu pai entre lágrimas. Cada palavra de Michaelis sobre si tinha o peso de uma tonelada e conscientemente ela sabia que não seria mais a mesma depois daquela noite. Com apenas algumas palavras, Michaelis conseguiu não apenas o seu “sim”, mas também derrota-la diante de toda a família.Contrariando sua decisão inicial de subir diretamente para o quarto, Íris pegou o carro e deixou a mansão sorrateiramente. Ficar em casa só iria aumentar o seu nível de estresse, e mais do que uma noite tranquila de sono, ela necessitava urgentemente respirar novos ares, espairecer, antes que sua cabeça entrasse em pane.Sem destino certo, ela percorreu al
A pequena fuga de Íris não contribuiu de maneira alguma para aliviar a tensão que a rodeava, pelo contrário, só trouxe-lhe mais aborrecimentos e o que era para ser uma noite restauradora, transformou-se em mais uma carga de estresse.O atrevimento daquele desconhecido a tirou do sério e por pouco ela não o mandou procurar alguém da laia dele para perturbar. Não era porque ela era mulher que iria deixar uma afronta daquelas passar em branco. Ele pode até considerar-se sortudo por ela não ter revidado a altura; se não fosse pela gama de problemas entulhando sua paciência, ela o teria colocado em seu devido lugar.Como de problemas já bastavam os seus, o estranho era o de menos. O dia seguinte certamente se encarregaria de arrancar a imagem daquele homem atrevido de sua mente e tudo voltaria a normalidade — pelo menos em relação àquele infortúnio.Depois de decidir esquecer aquela noite frustrada, ela deitou-se. Porém, o silêncio do quarto, ao invés de proporcionar-lhe calmaria, jogou so
Como nos dias anteriores, Íris acordou aturdida. Não saber o que a esperava mais adiante era assustador. A única coisa absurdamente certeira era que em pouco tempo ela estaria dividindo parte de seus dias com um total desconhecido, que aparentemente faria de tudo para levar a melhor as custas dela e dos filhos adotivos, dele.A vida não estava sendo justa com ela e só em pensar que teria sua rotina alterada por conta de um marido indesejado, dava-lhe vontade de jogar tudo para o alto e voltar atrás na palavra empenhada. Para aumentar ainda mais o seu desgosto em torno desse contrato de casamento; Íris descobriu que Ágata tinha uma irmã caçula e seu irmão poderia muito bem casar-se com ela, e tudo estaria resolvido. Mas, não; seu pai preferiu jogá-la aos lobos para puni-la, como forma de compensação pelos danos que ela causou a ele em sua infância, ao invés de forçar Leandro a assumir às consequências dos erros dele.Outra coisa que também a deixava furiosa era o fato de acreditar que
Íris chegou no hospital com os nervos à flor da pele, e o perfume do desconhecido impregnado em seu nariz. Ao contrário do que ela pensou na noite anterior, sua mente não o deletou no dia seguinte e isso de certo modo era preocupante, e por um momento, ela chegou a cogitar na possibilidade de o destino está armando uma armadilha para ela. Não era possível que depois de tanto tempo sozinha, aquele homem queria entrar em sua vida para tirar-lhe o pouco de sossego que ainda lhe restava. E se brincar com a cara dela já não fosse o suficiente, o mesmo destino estava se encarregando de jogar na vida dela, um marido que ela não fazia a menor ideia de quem fosse. Era muita falta de sorte para uma pessoa só. — Ela pensou ainda lutando contra o fantasma do perfume do desconhecido impregnado em suas narinas.Antes de descer do carro, ela foi invadida novamente pela vontade de jogar aquela peça de roupa fora, contudo, a imagem dele a despindo foi maior e, ao contrário de jogá-la, ela o agasalho